sábado, 30 de outubro de 2010

Argentina: Capital de um Império Imaginário

Atualmente a Argentina representa 10% do PIB latino-americano, e perdeu para o Brasil o posto de líder regional. Além disso, o país caiu para o quinquagésimo posto do PIB per capita mundial. Longe de aspirar um nível social “europeu” (que exibiu até o final dos anos 80), os sociólogos afirmam que a Argentina aproxima-se cada vez mais do padrão latino-americano de profundas divisões sociais. O porto de Buenos Aires, o segundo em movimento nas Américas atualmente corre o risco de ser superado pelo de Montevidéu.

Em 1910 a cidade de Buenos Aires tinha mais teatros que Paris. “Uma grande cidade da Europa”, categorizou o presidente francês Georges Clemenceau. Mas a melhor definição talvez seja a do brilhantemente cínico escritor francês André Malraux, que a definiu como “a capital de um império imaginário”.

Os economistas argentinos não conseguem consenso sobre o momento do início da decadência. Alguns sustentam que foi em 1930, com a quebra da institucionalidade; outros acreditam que a culpa foi do governo do intervencionista Juan Domingo Perón; enquanto que um terceiro grupo afirma que foi a política econômica caótica da ditadura de 1976-83. Mas, já em 1969 o país causava estupefação para o economista russo-americano Simon Kuznets, que tentou enquadrar o imprevisível país: “existem três tipos de países no mundo. Os normais, o Japão…e a Argentina!”.).

Enquanto que em 1910 o modelo a seguir era a Grã-Bretanha e a França, nos últimos anos políticos, empresários e de forma geral, a população, começou a encarar o Brasil como um modelo a seguir.

O ex-vice-ministro da Economia, Orlando Ferreres, disse que ao contrário do Brasil, a Argentina “careceu de estratégias de longo prazo”. Segundo o economista, por este motivo o país vive um cenário no qual até a carne – símbolo nacional – possui uma presença cada vez maior do Brasil: “frigoríficos argentinos são comprados por empresas brasileiras, com respaldo do BNDES, organismo que invejamos, sem similar na Argentina”.

O sociólogo Carlos Fara comentou que “há 50 anos o Brasil era um país rural, sem indústrias, enquanto que a Argentina já contava com uma classe média de segunda geração, além de prêmios Nobel. O Brasil cresce de forma persistente e representa hoje para a Argentina o sonho daquilo que podia ter sido e não foi”.

“Este é um país que no segundo século de independência, destruiu tudo o que fez no primeiro”, disse o think tank Rosendo Fraga, do Centro de Estudos Nueva Mayoría.

O analista, e muitos outros, tentam explicar o que aconteceu para que ocorresse este “grande fracasso nacional”, que tornou a Argentina um dos poucos países que passou do primeiro mundo ao terceiro em poucas décadas.

“Como pode ser que uma nação como esta, beneficiada com invejáveis recursos naturais e humanos, não consiga reverter este lento e melancólico declínio em direção à insignificância?”. Esta foi a pergunta feita há poucos anos por um dos principais estudiosos sobre o país, Nicholas Shumway, da Universidade de Austin, Texas.

Shumway tem a teoria de que existe um fator normalmente esquecido: “a peculiar mentalidade divisória”. O americano considera que o país fracassou na criação de um marco ideológico de união e consenso, caso contrário do Brasil.

O falecido escritor Jorge Luis Borges, costumava dizer que os argentinos eram “brilhantes individualmente, mas coletivamente são um fracasso”.  Além de individualistas incorrigíveis, segundo Borges (e outros analistas, ensaístas e historiadores) também padeceriam de outro problema, afirma o sociólogo Guillermo O’Donell: “temos um enorme talento autodestrutivo, somos o espetáculo mundial da auto-destruição”. Fonte: Estadão – Ariel Palácios

Comentário: O ex-presidente da Costa Rica, Oscar Arias disse uma verdade: Porque a America Latina é tão atrasada?

Não podemos esquecer que a América Latina teve universidades antes do que os Estados Unidos criassem Harvard e William & Mary, que são as primeiras universidades desse país. Não podemos esquecer que nesse continente, como no mundo inteiro, pelo menos até 1750 todos os americanos eram mais ou menos iguais: todos eram pobres.

Ao aparecer a Revolução Industrial na Inglaterra, outros países sobem nesse vagão: Alemanha, França, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e aqui a Revolução Industrial passou pela América Latina como um cometa, e não nos demos conta. Certamente perdemos a oportunidade.

Há também uma diferença muito grande. Lendo a história da América Latina, comparada com a história dos Estados Unidos, compreende-se que a América Latina não teve um John Winthrop espanhol, nem português, que viesse com a Bíblia em sua mão disposto a construir uma Cidade sobre uma Colina, uma cidade que brilhasse, como foi a pretensão dos peregrinos que chegaram aos Estados Unidos.

Vá alguém a uma universidade latino-americana e parece, no entanto, que estamos nos anos sessenta, setenta ou oitenta. Parece que nos esquecemos de que em 9 de novembro de 1989 aconteceu algo de muito importante, ao cair o Muro de Berlim, e que o mundo mudou. Temos que aceitar que este é um mundo diferente, e nisso francamente penso que os acadêmicos, que toda gente pensante, que todos os economistas, que todos os historiadores, quase concordam que o século XXI é um século dos asiáticos não dos latino-americanos. E eu, lamentavelmente, concordo com eles. Porque enquanto nós continuamos discutindo sobre ideologias, continuamos discutindo sobre todos os "ismos" (qual é o melhor? capitalismo, socialismo, comunismo, liberalismo, neoliberalismo, socialcristianismo...) os asiáticos encontraram um "ismo" muito realista para o século XXI e o final do século XX, que é o *pragmatismo*.

Recordemos que quando Deng Xiaoping visitou Cingapura e a Coréia do Sul, depois de ter-se dado conta de que seus próprios vizinhos estavam enriquecendo de uma maneira muito acelerada, regressou a Pequim e disse aos velhos camaradas maoístas que o haviam acompanhado na Grande Marcha: "Bem, a verdade, queridos camaradas, é que a mim não importa se o gato é branco ou negro, só o que me interessa é que cace ratos".

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