Muita gente acha que a maior diversão das eleições é acompanhar os candidatos “bizarros”. Nada de errado com isso, mas há um fator trágico por trás do cômico: eles acabam eleitos com esses mesmos votos de quem achou o slogan do Tiririca “genial”. Não, os bizarros não são divertidos. São tristes e mostram como a nossa política é feita do oportunismo mais rasteiro. Para mim, a maior diversão dessas eleições é acompanhar a extrema esquerda. No legislativo eles são até úteis, ao fiscalizar e constranger o governo (coisa que a oposição não faz). Já para cargos no executivo (caso eleitos), essas figuras conduziriam o país ao século 19. Em pleno século 21, não bastasse o fato de que ainda tenha gente que leva o socialismo a sério, essa meia dúzia de gatos pingados não consegue nem ao menos se unir em torno de uma única candidatura. Cada um ali parece ter o seu projeto de poder totalitário. O único consenso que os une é o de que o estado deve controlar tudo com mão de ferro…
Começando pelo PSOL. Gerado a partir de fósseis do PT, só o nome já causa estranheza: Partido Socialismo e Liberdade. Me corrijam se estiver errado, mas se o socialismo prega o pensamento coletivo em detrimento do individual, como pode haver liberdade? Seria aconselhável mudar de nome o mais rápido possível para que não haja ruído na mensagem do partido — que, apesar de minúsculo, conseguiu rachar nessas eleições. Heloísa Helena queria a aliança com Marina Silva, mas prevaleceu a facção (composta por três pessoas) que lançou Plínio Arruda Sampaio como candidato. Plínio que, aliás, é um socialista à moda Oscar Niemeyer: possui R$ 2,1 milhões em bens declarados na justiça eleitoral, sendo que R$ 1,7 milhão está investido no Credit Suisse… Opa, agora entendi onde o “socialismo e liberdade” do PSOL se encontram: precisamos construir um socialismo onde todos tenham contas milionárias no Credit Suisse!
Um pouco mais à esquerda do PSOL está o PSTU, do candidato Zé Maria. Dentre as diretrizes do partido está a estatização do sistema financeiro, a estatização de grandes empresas e a reestatização das estatais privatizadas. Podemos aproveitar o embalo e sugerir também a estatização dos R$ 300 mil de gastos previstos nessa campanha, assim como a própria sede do partido e os bens de todos os seus integrantes. Acho que só assim poderemos acreditar no PSTU e votar “16 contra burguês” nessas eleições.
Mais à esquerda (mais ainda!) ficou o PCB, do candidato Ivan Pinheiro — que tem como prioridade implantar um “programa anticapitalista e antiimperialista”. Nessa “construção revolucionária do socialismo”, além da estatização de todos os meios de produção, há também o reconhecimento das Farc como “organização política insurgente” (para desespero de Índio da Costa). Mas a cereja do bolo é a moratória da dívida interna. Genial. Se não há uma dívida externa para dar o calote, porque não dar calote na dívida interna? O importante é que conste a palavra “moratória” nas diretrizes do partido.
Mais à esquerda ainda — esse é o último, juro — ficou o PCO, onde o candidato Rui Costa Pimenta jamais cogitou aliança com a “esquerda pequeno-burguesa” (no caso, PSOL, PSTU e PCB). Segundo ele, esses partidos ficaram “completamente iludidos pelo circo eleitoral burguês”. À esquerda da extrema esquerda, o PCO não apresentou plano de governo, alegando que pretende seguir as demandas dos movimentos sociais. Ora, se é para ser pau-mandado dos movimentos sociais, então porque não lançam o João Pedro Stédile como candidato? Ou então criem logo o MSPG (Movimento dos Sem Programa de Governo)…
Fico aqui pensando se Marx estivesse vivo para ver isso. Talvez achasse esse pessoal muito “de esquerda”, vai saber… Lênin já não deve aguentar mais a exumação diária de seu corpo e Trotsky segue em seu exílio post-mortem. Acho que só o Stálin deve estar se divertindo. De qualquer maneira, os “programas de governo” do nosso esquerdismo caipira não deixam dúvidas: Fidel Castro é mesmo um velho reacionário, Hugo Chávez é um fascista de extrema direita, Rafael Correa é um burguesinho a serviço do imperialismo ianque e Evo Morales é um cocaleiro adepto do capitalismo selvagem.
Fonte: Jornal da Tarde - 29 de agosto de 2010
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