Além da corrupção de agentes públicos ligados ao Ministério
da Agricultura, a "Operação Carne Fraca" deflagrada na sexta-feira
(17) também verificou irregularidades feitas por empresas para adulterar
alimentos. Entre elas, estava a utilização de carnes estragadas na composição
de salsichas e linguiças.
A operação, com foco na venda ilegal de carnes por
frigoríficos, deverá cumprir 38 mandados de prisão. Cerca de 1.100 agentes da
Polícia Federal participam das ações.
A operação visa desarticular uma organização criminosa
liderada por fiscais agropecuários federais do Ministério da Agricultura e
empresários do agronegócio. "Os agentes públicos, utilizando-se do poder fiscalizatório
do cargo, mediante pagamento de propina, atuavam para facilitar a produção de
alimentos adulterados, emitindo certificados sanitários sem qualquer
fiscalização efetiva", diz a PF.
Entre as empresas investigadas estão a JBS (maior
processadora de carne bovina do mundo), a BRF Foods (que surgiu da fusão da
Sadia com a Perdigão) e Seara.
Em nota, a JBS negou irregularidades na produção e venda de
carnes. Também em nota, a BRF diz que está colaborando com as autoridades e que
cumpre as normas e regulamentos referentes à produção e comercialização de seus
produtos.
CARNE COM ADITIVOS ELEVADOS
Segundo as investigações, a Peccin Agro Industrial, por
exemplo, "maquiava" os produtos com ácido ascórbico, substância
popularmente conhecida como vitamina C, mas que pode ser cancerígena quando
consumida em excesso.
O delegado da Polícia Federal Maurício Moscardi Grillo disse
que algumas das empresas investigadas usavam ácido e outros elementos químicos
muito acima do permitido por lei para maquiar o aspecto físico de alimento
vencidos e estragados. "Alguns são cancerígenos e usados para poder
maquiar a característica física", afirmou.
Além disso, a Peccin utilizava notas fiscais falsas de
produtos com SIF (Serviço de Inspeção Federal) para a compra de carne
estragada. Um laboratório responsável por analisar as amostras de produtos
alimentícios também estaria envolvido na fraude.
FRAUDE EM MERENDA ESCOLAR
De acordo com os investigadores, o frigorífico Souza Ramos estaria
envolvido num esquema de fraude, junto a outras duas empresas, no fornecimento
de merenda escolar no Estado do Paraná.
Os produtos oferecidos estariam em desacordo com as
exigências contratuais, como salsichas contendo carne de frango quando deveriam
ser compostas por carne de peru. O caso está já estava sendo investigado e
resultou na suspensão da entrega da merenda escolar e na abertura de um
processo administrativo.
CARNE ESTRAGADA
Outra empresa que teria vendido carne estragada é o
frigorífico Larissa. De acordo com as investigações, a companhia também seria
responsável por emitir notas fiscais falsas e transportar produtos fora da
temperatura adequada.
JUIZ DIZ QUE PRÁTICA É MODUS OPERANDI
Referindo-se ao grupo criminoso composto por proprietários e
representantes de frigoríficos, "incluindo grandes da indústria de
alimentos, como Seara e BRF", o juiz federal Marcos Josegrei da Silva, 14ª
Vara da Justiça Federal de Curitiba, afirmou que todos eles "têm como
modus operandi a prática de irregularidades nas empresas nas quais
trabalham".
"Algumas que foram observadas ao longo do tempo de
investigação, com certas variações entre os envolvidos (nem todos cometem todas
as irregularidades adiante): reembalagem de produtos vencidos; excesso de água;
inobservância da temperatura adequada das câmaras frigoríficas; assinaturas de
certificados para exportação fora da sede da empresa e do Mapa (Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento), sem checagem in loco; venda de carne
imprópria para o consumo humano; uso de produtos cancerígenos em doses altas
para ocultar as características que impediriam o consumo pelo consumidor",
resumiu. Fonte: UOL 17/03/2017
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