Nos Estados Unidos, 47,4 milhões de pessoas vivem na incerteza diária sobre a próxima refeição, segundo dados oficiais de 2023 e 2024.
Enquanto o Brasil tem 54,7
milhões de pessoas sem saber se terão o que comer, os EUA —com economia 13
vezes maior— exibem um contingente semelhante de vulneráveis.
De tamanho comparável ao
Bolsa Família, o Snap teve repasses afetados durante os 43 dias do
"shutdown", entre 1º de outubro e 12 de novembro, quando o governo
dos EUA parou por falta de acordo orçamentário no Congresso.
"Há uma polarização no
mercado de trabalho: há vagas que tornam alguém riquíssimo e muitos empregos
que pagam muito pouco diante custo de vida nos EUA", diz Luke Shaefer,
professor de políticas públicas da Universidade de Michigan e um dos principais
especialistas do país em pobreza e bem-estar social.
Segundo ele, até o ano
passado o Snap era um raro exemplo de programa social bem-sucedido em um país
conhecido pela precariedade de sua rede de proteção.
O salário mínimo federal está
congelado em US$ 7,25 a hora desde 2009. Nesse período, os custos básicos
dispararam. Entre 2011 e 2024, o preço médio das casas saltou mais de 86% —de
US$ 225 mil para US$ 419 mil…
A retomada dos repasses do Snap no último dia
12 não significa que o problema acabou para quem depende do benefício.
ESPECIALISTAS DIZEM QUE A
TENDÊNCIA NOS EUA É QUE MAIS PESSOAS DEPENDAM DO SNAP.
Hoje são cerca de 42 milhões
de beneficiários (1 a cada 8 americanos), a um custo de US$ 100 bilhões (cerca
de R$ 533 bilhões). Em média, o repasse foi de US$ 190 por mês (cerca de R$
1.000).
No Brasil, o Bolsa Família
atendeu em novembro 48,6 milhões de pessoas (cerca de 1 a cada 4 brasileiros)
—o menor patamar de participantes em três anos.
O benefício médio ficou em R$
683. O orçamento reservado para este ano é de R$ 158,6 bilhões.
Embora ambos visem reduzir
fome e pobreza, Snap e Bolsa Família têm critérios diferentes. Nos EUA, o
benefício só pode ser usado para comprar alimentos.
No Brasil, o objetivo é a
transferência de renda, e a família decide como gastar —em comida, remédios ou
material escolar, por exemplo.
O Bolsa Família cobra
contrapartidas de frequência escolar e acompanhamento de saúde, inexistentes no
programa americano.
Por outro lado, o Snap exige
que adultos beneficiários comprovem um certo período de horas mensais
trabalhadas, ainda que de modo voluntário.
Trump não esconde o interesse
em cortar o Snap, ação que já começou com a aprovação em julho da lei
orçamentária "One Big Beautiful Bill Act" (em tradução livre,
"Uma Grande e Bela Lei"), que impôs regras mais rígidas ao programa.
Os critérios para receber o
benefício variam de estado para estado, mas, basicamente, é preciso comprovar
renda abaixo de determinado limite.
O que muda no Snap com Trump
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Trabalho
obrigatório: adultos de 18 a 64 anos sem emprego ou atividade qualificada por
80h/mês só recebem benefício a cada período de três anos.
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Benefícios menores:
famílias sem idosos ou deficientes terão menos ajuda. Isenção para cuidadores
vale só para crianças menores de 14 anos.
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Imigrantes
afetados: refugiados, asilados e pessoas com proteção humanitária têm
elegibilidade limitada ou eliminada.
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Especialistas
consideram a exigência de 20 horas de trabalho por semana inexequível em
algumas regiões e estimam que milhões perderão o benefício.
Fonte: UOL, em Washington (EUA)-29/11/2025


