Uma briga em um elevador de um prédio residencial em Praia
Grande, no litoral sul paulista, terminou com um guarda municipal baleado.
Segundo o registro policial, a confusão envolveu três
guardas municipais e um comerciante. O tumulto ocorreu por volta das 0h30 do
dia 31 de dezembro (domingo).
Imagens de segurança do elevador mostram, primeiro, dois
guardas dentro do equipamento, quando, num dado momento, um comerciante, de 21
anos, e a mulher dele entram no elevador.
O registro da Polícia Civil não descreve o motivo da briga,
mas as imagens captam uma discussão entre os dois guardas e o comerciante. Um
terceiro colega dos guardas também participa da briga quando o elevador para no
terceiro andar do prédio.
Durante a troca de socos e pontapés, o comerciante consegue
pegar o revólver de um dos guardas que havia caído no chão.
Tiros são disparados e um deles atinge o guarda, de 34 anos,
na coxa direita. Ele foi levado para o pronto-socorro do Hospital Irmã Dulce,
onde passou por cirurgia para retirar a bala e já recebeu alta.
Uma equipe da Polícia Militar esteve no local e rendeu um
dos guardas e o comerciante, que mora em Jundiaí (Grande SP).
As armas dos profissionais de segurança foram apreendidas e
encaminhadas para perícia. O boletim que registrou a ocorrência não diz se
algum dos envolvidos foi preso, mas confirma que todos terão que prestar
depoimento à Polícia Civil. Os três guardas civis moram em Praia Grande. Um
inquérito sobre o caso foi instaurado na delegacia do município.
Folha de São Paulo - 02/01/2018 12h19 - Atualizado às 20h16
Comentário: Falta de civilidade
[...] CADA UM PROCURA SEUS DIREITOS, SUA FELICIDADE, SEU
PRAZER, SEM RECONHECER O OUTRO
Sofremos de um mal na atualidade: a incivilidade. A toda
hora, somos obrigados a testemunhar cenas de grosseria entre as pessoas, de
falta de respeito pelo espaço que usamos e de absoluta carência de cortesia nas
relações interpessoais. Os adultos perderam a vergonha de ofender publicamente
e em alto e bom som, de transgredir as normas da vida comum por quaisquer razões.
Parece mesmo que nossa vida segue um lema: cada um por si e, ao mesmo tempo,
contra todos.
Por isso, perdemos totalmente a sensibilidade pelo direito
do outro: cada um de nós procura, desesperadamente, seus direitos, sua
felicidade, seu poder de consumo, seu prazer, sem reconhecer o outro. E, claro,
isso gera intolerância, discriminação, ameaça. O pacto social parece ter sido
rompido e não tomamos nenhuma medida para reverter esse processo. As mídias,
por exemplo, comentam cenas de incivilidade ocorrida entre pessoas que ocupam
posição de destaque.
Virou moda e ganhou visibilidade dizer tudo o que se pensa,
agredir para se defender, fazer pouco do outro. Pessoas que ocupam cargos de
chefia expressam seu descontentamento com seus funcionários aos berros e assim
por diante.
Ao mesmo tempo, crescem entre os mais novos problemas como
falta de limites, indisciplina e falta de respeito pelo outro. O fenômeno
conhecido por "bullying" -intimidação física ou psicológica- assusta
crianças e adolescentes e preocupa pais e professores. Nas escolas do mundo
todo, o clima é de "falta de respeito" generalizado, mesmo que essa
expressão seja usada de modo impreciso.
Mas o fato é que as crianças e os adolescentes praticam o
conceito de cidadania do qual se apropriaram pela observação do mundo adulto.
Em uma conversa com crianças que frequentam o ensino fundamental, ouvi relatos
que me deixaram muito pensativa.
Um garoto disse que achava que os alunos maiores intimidavam
os menores porque a escola e os pais ensinam que se deve respeitar os mais
velhos. Veja você: o conceito de mais velho deixou de significar adulto ou
velho e passou a ser usado como de mais idade. Assim, revelou o garoto, uma
criança de um ou dois anos a mais que a outra se considera um "mais velho"
e, assim, pode explorar os de menos idade.
Podemos ampliar esse conceito apreendido pelas crianças e,
além da idade, pensar em poder, por exemplo. Isso nos faz pensar que o
"bullying" ocorre principalmente, mas não apenas, porque crianças e
adolescentes desenvolvem relações assimétricas entre eles, por causa da idade,
do tamanho, da força e do poder.
Talvez seja em casa e na escola que pais e professores
possam e devam repensar e reinventar o conceito de cidadania.Mas também temos
nós, os adultos, o dever de adotar boas maneiras na convivência social. Afinal,
praticar boas maneiras e ensinar aos mais novos o mesmo nada mais é do que
reconhecer o outro e buscar formas de boa convivência com ele. Disso depende a
sobrevivência da vida social porque somos todos interdependentes. Fonte: Rosely Sayão é psicóloga e autora de "Como Educar Meu
Filho?"
Saímos do sertão e não nos adaptamos ainda ao ritmo das
grandes urbes. Somos manadas de pessoas que não têm padrões de comportamento
coletivo. Professor de Filosofia e Ética Política na Unicamp, Roberto Romano
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