Num Brasil imperial de dimensões continentais e grandes
desafios logísticos, o primeiro levantamento populacional foi realizado com
sucesso em 1872, como parte das políticas inovadoras de D. Pedro II. O
recenseamento é considerado, mesmo para os padrões atuais, bastante completo:
traz o único registro oficial da população escrava nacional, os imigrantes
separados por nacionalidade e faz ainda um inventário inédito dos grupos
indígenas.
A análise dos números mostra um país essencialmente rural,
de população predominantemente negra e mestiça, com uma parcela ainda
significativa de escravos, 15,24% da população. Os estrangeiros somavam 3,8%, a
maioria deles portugueses, alemães, africanos livres e franceses.
Revela também o início da política de “embranquecimento” do
povo, com a entrada dos primeiros grupos de imigrantes europeus. Da população
total de 1872 (9.930.478), 1.510.806 ainda eram escravos a despeito do fim do
tráfico.
O censo de 1872 aponta o total da população de estrangeiros
no Brasil: 382.132. Separa os brancos por origem. São 125.876 portugueses,
40.056 alemães e 8.222 italianos, entre várias outras nacionalidades citadas.
Mas, no caso dos negros, coloca-os todos no mesmo grupo: africanos. São 176.057
africanos vivendo no país naquele momento, segundo o levantamento. Mas a única
divisão que eles mereceram foi entre escravos (138.358) e alforriados (37.699).
O censo apresenta, além da contagem da população,
informações específicas sobre pessoas com deficiência, acesso à escola e
profissões exercidas, entre outras. Na época, a profissão de lavrador era a que
tinha o maior número de trabalhadores, seguida por serviços domésticos. Das
profissões liberais, a de artista tinha mais representantes, inclusive entre a
população escrava.
Em 350 anos de tráfico negreiro, entraram no país cerca de 4
milhões de africanos; entre 1870 e 1930 vieram morar aqui praticamente 4
milhões de imigrantes europeus.
No fim do século XIX, aponta o levantamento, 58% dos
residentes no país se declaravam “pardos ou pretos”, contra 38% que se diziam
brancos.
Os motivos que levaram o governo imperial a se empenhar em
tão complexa tarefa são, até hoje, razão de debate entre especialistas.
— A visão mais clássica é de que, no Império, havia a
necessidade de saber mais sobre a população para conhecer sua base tributável e
também com fins militares, para pegar os jovens para o serviço militar — afirma
o demógrafo Mario Rodart, coordenador do Núcleo de Pesquisa Histórica Econômica
e Demográfica da UFMG, responsável pela digitalização do censo junto com
Clotilde Paiva e Marcelo Godoy . — Por conta disso, o foco das políticas
públicas era todo nesse sentido. Mapear quem estava vindo da Europa fazia todo
o sentido.
.
— Há um outro grupo,
no entanto, que acredita que já havia uma ideia de um governo mais técnico, que
precisava se balizar em números para instituir políticas públicas. Os números
eram necessários para organização do sistema eleitoral, e também do sistema
educacional. Já se difundia, por exemplo, a ideia da obrigatoriedade das
primeiras letras e os números ajudaram a organizar a oferta de escolas.
Na época, acabava de entrar em vigor, em 28 de setembro de
1871, a Lei do Ventre Livre, que tornava libertos todos os filhos e filhas de
mulheres escravas. Por pressões internacionais, o Brasil havia iniciado uma
campanha pelo fim da escravatura.
Em 1850, com a Lei Eusébio de Queiróz, foi estabelecido o
fim do tráfico negreiro. Em 1885 foi promulgada a Lei dos Sexagenários,
tornando libertos os escravos com mais de 60 anos. O fim da escravidão ocorreu
em 1888, no dia 13 de maio, quando a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea.
Os dados estão disponíveis na internet. Pelo programa
disponível é possível acessar as tabelas configuradas na época e combinar os
dados de acordo com o objetivo da busca. Fonte: O Globo - 12/01/2013
Comentário:
No mesmo período o censo dos EUA (1870) indicava uma
população de 39 milhões e uma população
de analfabeto de 26%, com 31% da população nas escolas.
Enquanto o Brasil tinha uma população de analfabeto de 85%.
A população escrava praticamente analfabeta, 99,98%.
Não levando em conta a ideologização do problema racial, o
Brasil só começou a se desenvolver, no final do século XIX e começo do século
XX.
Só através da imigração europeia que o país teve um salto no
modelo econômico de agrário para industrial. O país necessitava de mão de obra qualificada.
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