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terça-feira, 31 de dezembro de 2019

Alemanha está despreparada para combater o crime organizado

A criminalidade organizada é global e não conhece fronteiras, mas alguns países carecem de instrumentos para combatê-la. É um absurdo que nações não se unam para enfrentar juntas esse problema, escreve Anabel Hernández.
   
Como outros países da Europa, a Alemanha sofre ataque constante de vários grupos do crime organizado transnacional que se dedicam principalmente ao narcotráfico, introduzindo toneladas de drogas ilegais em território alemão, bem como grandes quantidades de dinheiro ilícito para que seja lavado na economia legal do país.

Ao contrário de países na América Central e na América do Sul, na Europa o crime organizado geralmente não é violento, não mata pessoas, não queima mulheres, bebês e crianças em seus veículos, não explode bombas. Ele não se deixa perceber; por não ser visível, há pouca consciência sobre sua periculosidade. A Espanha e a Holanda, por exemplo, vivem as consequências disso; a Alemanha também.

Uma das regiões onde a presença de tais organizações criminosas cresceu de maneira preocupante é a Renânia do Norte-Vestfália, um dos 16 estados alemães. Como na Espanha e na Holanda, um dos fatores que o tornam "atraente" é sua localização geográfica e seu desenvolvimento econômico.

O estado é vizinho à Holanda, um dos principais produtores de metanfetaminas do mundo, e à Bélgica. Através do rio Reno, ele tem conexão direta com o porto de Antuérpia. Sua forte economia produz mais de um quinto do PIB alemão e concentra mais de 17 milhões de habitantes, o que representa um mercado consumidor em potencial para os traficantes de drogas. Segundo fontes ligadas à Justiça e à segurança pública, é por essa região que a maior parte das drogas entra na Alemanha.

CRIME ORGANIZADO NA EUROPA
Em 2013, a Europol havia identificado 3,6 mil grupos de crime organizado na Europa; em 2018, a agência detectou ao menos 5 mil. O Relatório Mundial sobre Drogas, publicado em 2019 pelas Nações Unidas, informou sobre uma pesquisa realizada em 73 cidades da Europa, focada na análise de urina em busca de sinais de anfetaminas, cocaína, ecstasy e metanfetaminas.
Segundo os resultados do estudo, na Alemanha foi detectado o maior uso de metanfetaminas, ao lado de Holanda e Bélgica. As três cidades com maior consumo foram Erfurt, Chemnitz e Dresden.

Como outras nações da União Europeia, a Alemanha não possui instrumentos para combater organizações criminosas que traficam e distribuem drogas no país e efetuam operações de lavagem de dinheiro.

Quando, em 2011, a 'Ndrangheta, da Calábria, na Itália, assassinou seis pessoas em Duisburg, na Renânia do Norte-Vestfália, acendeu-se um sinal de alerta que ao longo dos anos se tornou um sinal vermelho. Foi um ajuste de contas entre clãs que operam na Alemanha.
Naquela época, as autoridades asseguraram que não haviam detectado "nenhuma atividade mafiosa". Hoje, o secretário de Justiça do estado, Peter Biesenbach, junto a promotores e autoridades policiais, tem como missão enfrentar organizações criminosas que operam em seu território: italianas, mexicanas e turcas, entre outras.

CARTÉIS MEXICANOS
Chama atenção dos investigadores o fato de que, quando conseguem deter "testemunhas colaboradoras", estas se mostram abertas a falar sobre as operações da 'Ndrangheta, mas quase nunca dos cartéis mexicanos, porque mesmo entre os criminosos eles são considerados os mais violentos. Através dessa difusão do terror, os cartéis mexicanos crescem mais rapidamente.
Principalmente o Cartel de Sinaloa, que é o mais antigo e mais experiente nesse ramo criminal.

GRUPO DE TRABALHO ANTIMÁFIA
No início de novembro, Biesenbach e uma equipe de colaboradores participaram em Palermo, na Sicília, de um grupo de trabalho antimáfia, chefiado pelo procurador-geral Roberto Scarpinato. Este é membro do primeiro pool mundial de especialistas criado na Itália nos anos 1980 para lutar de maneira especializada contra uma forma de crime organizado que eles chamavam de "máfia" e que estava se expandindo na Sicília, confrontando o Estado, assumindo o controle do cotidiano de seus cidadãos, distorcendo os valores sociais.

FALTAM INTERCEPTAÇÃO E INFILTRAÇÃO.
De acordo com conversas informais com membros da delegação alemã, Berlim tem três desvantagens para lidar com esse tipo de crime organizado: do ponto de vista cultural, é difícil para os alemães entenderem como são e como operam essas organizações.
O crime de associação criminal foi introduzido na legislação apenas em 2017, mas faltam outras reformas legais que facilitem a investigação dessas organizações. Há escassez de instrumentos legais mais fortes para a investigação de suas operações e de seu patrimônio: faltam interceptação e infiltração.
Outro fator negativo para o combate legal a essas organizações criminosas é que a lei criminal alemã é feita para punir crimes cometidos por indivíduos, não pelo crime organizado.
Crime organizado investe em países com menos riscos legais

LEI DE "PREVENÇÃO PATRIMONIAL"
Na década de 1980, o Estado italiano criou uma lei de "prevenção patrimonial" que permite confiscar bens quando há suspeita de origem ilegal, sem a necessidade de provar um crime específico. A legislação permite o confisco de bens quando se evidencia uma desproporção entre o patrimônio e os lucros declarados ao Fisco.
Segundo investigações da Justiça italiana, desde a adoção dessa lei, organizações criminosas como 'Ndrangheta, Cosanostra e La Camorra não deixam mais ativos ilegais na Itália, porque há uma alta probabilidade de serem confiscados.
É por isso que esses capitais migram para outros países, como a Alemanha, onde há falta de conhecimento do problema, de legislação correspondente e de treinamento específico de agentes da lei. São ativos sangrentos cuja geração custou milhares de vidas humanas no México, mas também são capitais perversos que só conhecem as regras de seus próprios benefícios sem nenhuma ética, consciência ou responsabilidade social.

CRIME ORGANIZADO É GLOBAL
Nos dois anos em que me aprofundei no modelo italiano de combate ao crime organizado, comparando-o também com outros esforços, incluindo o americano, o estilo italiano de enfrentar a máfia aparece, certamente, como um modelo que demonstrou sua eficácia: prenderam e condenaram centenas de membros de grupos mafiosos, mas também políticos, servidores públicos, comerciantes, empresários e profissionais que se aliaram a tais grupos do crime organizado.
Mas o modelo chega a um limite, o mesmo enfrentado pelo México, Espanha e Holanda: o crime organizado é global, não conhece fronteiras, interage rompendo barreiras.

O crime organizado transnacional sabe como se conectar globalmente, compartilhando seus ativos, infraestrutura e capital para crescer junto e contornar as fronteiras nacionais. É um absurdo que países do mundo não se unam pelo menos numa base continental para enfrentar essa ameaça com uma política comum e meios legais coordenados, compartilhando inteligência, infraestrutura e recursos. Fonte: Deutsche Welle-11.12.2019

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

A Holanda está se tornando um narco-Estado?

"Nós definitivamente temos as características de um narco-Estado", diz Jan Struijs, presidente do maior sindicato policial da Holanda.
"Claro que não somos o México. Não temos 14.400 assassinatos. Mas se você olhar para a infraestrutura, a quantidade de dinheiro arrecadada pelo crime organizado, a economia paralela... Sim, temos um narco-Estado."
As palavras dele ecoam em uma sociedade que se chocou com um assassinato que foi muito além da bolha do submundo do crime.
A morte de Derk Wiersum pôs em evidência um equívoco comum na Holanda: a ideia de que os carteis de drogas matam apenas entre eles. Com 44 anos, pai de dois filhos, Wiersum foi morto a tiros na frente de sua esposa, do lado de fora de sua casa em Amsterdã, em setembro.

'ISSO É PARA NOS ASSUSTAR'
Wiersum era o advogado de uma testemunha da acusação, Nabil Bakkali, que havia se tornado informante em um caso contra dois dos suspeitos mais procurados da Holanda.
Os tiros em plena luz do dia, em um bairro tranquilo, foram vistos como um ataque à sociedade civil, à democracia e ao Estado de Direito.
"Isso é para nos assustar", alertou o promotor público Fred Westerbeke. "Devemos continuar a usar testemunhas-chave, caso contrário não conseguiremos avançar."

De repente, explodiram os temores do paraíso dos usuários de drogas se transformando em um porto para crimes relacionados às drogas e uma economia minada.
"Alguns incidentes nos últimos anos foram como um sinal", explica Wouter Loumans, cujo best-seller, Mocro Mafia, é uma história que mostra a ascensão de uma nova geração de criminosos em Amsterdã.
"Havia sinais de que eles poderiam transitar do submundo para o 'mundo superior', e agora isso aconteceu."
Loumans lista uma série de incidentes como evidência da escalada da brutalidade: dois meninos mortos em um tiroteio com fuzis AK-47, com balas ricocheteando nas paredes; uma mãe assassinada na frente dos filhos; uma cabeça decepada do lado de fora de uma cafeteria; o assassinato do irmão de uma testemunha, Reduan Bakkali; e o assassinato de Derk Wiersum.

O QUE É A 'MOCRO MAFIA'?
"É uma gíria de rua. Os jovens marroquinos se chamam 'Mocro'", diz Loumans, que escreveu o livro com Marijn Schrijver.
"Nós criamos o termo 'Mocro Mafia' para resumir o que era o livro. Agora vejo que eles usam nos relatórios da polícia. Mas não são apenas os marroquinos. São garotos que crescem em áreas de Amsterdã onde os turistas nunca vão."
"Não são canais, o Rijksmuseum, o museu Van Gogh. São os conjuntos habitacionais. Eles não têm as mesmas oportunidades. Eles são ambiciosos, estão procurando uma carreira no submundo."

'SOCIEDADE APODRECIDA'
Mesmo antes do assassinato de Wiersum, um relatório encomendado pelo prefeito de Amsterdã em agosto descreveu a capital como um "Valhalla (enorme salão, na mitologia nórdica) para criminosos que atuam no ramo das drogas".
A Holanda ainda não era um narco-Estado, mas corria o risco de se tornar um, advertiu o ministro da Justiça, Ferd Grapperhaus.
"Sabíamos que estava chegando", disse Jan Struijs. "Advogados, prefeitos, policiais, todos nós fomos ameaçados pelo crime organizado. Todos os alarmes soaram, mas os políticos foram ingênuos. Agora, os alicerces da nossa sociedade estão apodrecendo."

Alguns dias depois, outro advogado holandês, Philippe Schol, foi baleado na perna em um tiroteio enquanto passeava com seu cachorro perto de casa, do outro lado da fronteira com a Alemanha.
Uma pesquisa de opinião apontou que 59% das pessoas acreditavam que a Holanda é agora um narco-Estado, ou seja, um país cuja economia depende do comércio de drogas ilegais.
Parece irônico que, em uma nação burocrática que envia rapidamente um lembrete sobre imposto sobre cães ou multa por pagamento atrasado no estacionamento, os gângsteres permaneçam em liberdade e os tiroteios de gangues ocorram regularmente.

PRISÃO DOS MAIS PROCURADOS DA HOLANDA
Então, aconteceu uma importante prisão no Golfo nesta semana. Ridouan Taghi, de 41 anos, foi detido entrando em Dubai com uma identidade falsa e mantido sob um mandado de prisão internacional por suspeita de vários assassinatos e tráfico de drogas.
Descrito pela polícia como um dos "homens mais perigosos" do mundo, suspeita-se que ele tenha ordenado uma série de execuções, incluindo o assassinato de Derk Wiersum.
Os promotores holandeses imediatamente buscaram a extradição dele, antes de um grande julgamento de gangues marcado para março de 2020, e ele foi levado de avião para a Holanda na quarta-feira.
O "caso Marengo" envolve cinco assassinatos e uma série de tentativas de assassinato, incluindo o irmão do informante Nabil Bakkali.
Acredita-se que Ridouan Taghi estava morando em Dubai com sua esposa e seis filhos.
A polícia holandesa disse que sua prisão foi resultado de intensa cooperação internacional, e não de uma denúncia. Cem detetives estavam envolvidos no caso e o chefe da polícia, Erik Akerboom, disse que a prisão era "de grande importância para a Holanda".
"Taghi e seus cúmplices representam uma ameaça ao Estado de Direito. É muito importante para nós, como policiais, remover as ameaças", disse ele.
No dia seguinte, seis pessoas foram presas em diferentes pontos da Holanda por suspeita de lavagem de dinheiro, posse de drogas e armas de fogo.
Embora a prisão de Ridouan Taghi tenha sido um sucesso para as autoridades holandesas, Wouter Loumans duvida que isso impeça os mais jovens de aspirar a seguir seus passos.
"É uma questão de oportunidades na sociedade. Eles não são diferentes de banqueiros ou jornalistas, eles querem ganhar dinheiro. Se você não é um bom jogador de futebol ou não tem cérebro para sair daquele mundo, esse é seu meio. Não é apenas um problema relacionado às drogas, é um problema social."

QUAL É O TAMANHO DO PROBLEMA DAS DROGAS NA HOLANDA?
De certa forma, a Holanda criou o ambiente perfeito para o comércio de drogas.
Com sua extensa rede de transporte, suas leis e penalidades brandas sobre drogas, e sua proximidade com vários mercados lucrativos, tornou-se um local óbvio para o fluxo global de drogas.
O renomado escritor Roberto Saviano, que narra o mundo do crime organizado da Camorra, em Nápoles, acredita que a influência da máfia em Amsterdã é ainda pior.
"Existem clãs de todo o mundo, porque a Holanda é um dos portos de trânsito mais importantes. Eles sabem que quem controla a Holanda tem uma das artérias do mercado global de drogas", disse ele ao jornal Volkskrant.

MERCADO CLANDESTINO
Bilhões e bilhões de euros circulam nesse mercado clandestino. Estima-se que, apenas em 2017, € 18,9 bilhões (R$ 85,6 bilhões) em drogas sintéticas tenham sido produzidos na Holanda. O país é considerado um líder mundial na produção desses entorpecentes.
O chefe do sindicato da polícia, Jan Struijs, destaca a velocidade com que essas drogas são transportadas ao redor do mundo.
"No dia em que Donald Trump se tornou presidente, os primeiros comprimidos 'Trumpies' laranja de ecstasy foram encontrados em Schiphol. 24 horas depois já estavam à venda na Austrália", disse.
"Há muitos mexicanos ajudando a produzir metanfetamina na Holanda. Você vê um despejo de cocaína na Venezuela e no Suriname, vê preços muito baixos em Amsterdã, Liverpool e Manchester. (O dinheiro de) cada grama que você compra vai para o crime organizado e para financiar carteis de drogas."

ONDE A HOLANDA SE ENCAIXA NO MAPA DAS DROGAS
Os "chefes" da droga da América do Sul começaram enviando seus produtos para a África Ocidental. As drogas foram para o norte por antigas linhas de contrabando do Marrocos, e os jovens marroquinos cujos pais haviam se mudado para a Holanda ainda tinham conexões familiares e rotas de migração para explorar.
Foi assim que a polícia alegou que Ridouan Taghi fez fortuna. Ele herdou ou "ganhou controle" de uma rota de contrabando e começou a traficar cocaína em vez de maconha - o que gerou mais dinheiro e violência.
Embora os líderes operem internacionalmente, a polícia teme que eles usem sua influência interna para "contratar" capangas cada vez mais jovens.
"A polícia entende, mas não tem como intervir", diz Jan Struijs. "Não são apenas os cortes no orçamento. As equipes de prevenção que trabalham com jovens também desapareceram. Então, os jovens estão no radar (dos chefões) e. de repente, os vemos cometendo assassinatos."
Mas isso significa que a Holanda se transformou em um narco-Estado?
"Não temos corpos pendurados nas pontes", afirma Wouter Loumans, "mas temos corrupção nos portos, violência contra advogados, ameaças a jornalistas. Definitivamente, isso é característico de um narco-Estado."
A economia holandesa pode não ser dependente ou definida pela indústria das drogas, mas essa indústria está exercendo uma influência crescente na sociedade. Fonte: BBC News, The Hague,- 19 December 2019

sábado, 29 de julho de 2017

EUA começam a responsabilizar traficantes pelas mortes por overdose

O traficante conhecido como EZ estacionou diante do ponto de seu fornecedor em Staten Island, voltou-se ao freguês ao seu lado e, segundo promotores, lhe disse em tom de quem se gaba que eles estavam prestes a comprar a heroína mais potente do mercado. Tão forte que um saquinho usado pouco tempo antes pelo pai de um amigo dele havia matado o homem.

"Não é tudo ótimo", disse o traficante, cujo nome real é Stephen Cummings, aludindo à potência da heroína "batizada" com fentanil.

O freguês era um policial à paisana que trabalhava com a promotoria pública do condado de Richmond para tentar prender um grupo de traficantes em atividade na costa norte da ilha. O policial usava microfone escondido, e a conversa entre ele e o traficante gravada em 3 de janeiro, falando da morte por overdose de Richard P. Zeifert, virou a prova número um usada no indiciamento de um suspeito traficante de Nova York que é alvo de várias acusações criminais, incluindo homicídio, o que é raro no caso de traficantes.

Enquanto a heroína e seu "primo" sintético, o fentanil, levam cada vez mais vítimas ao necrotério, os promotores estão se aventurando em território legal nunca antes navegado, como fizeram na década de 1970, para combater o flagelo.

As acusações criminais de homicídio doloso agravado e homicídio por negligência criminal registradas contra Cummings seguem os moldes de estratégias semelhantes empregadas recentemente por promotores no interior de Nova York e em Long Island. E também emulam uma ação movida há três anos pela promotora especial de narcóticos de Nova York Bridget G. Brennan, contra um médico especialista em controle da dor, Stan Xuhui Li, sentenciado a mais de dez anos de prisão.

Condenar um médico por provocar a morte por negligência de seus pacientes vai muito além de provar que um traficante de drogas fez o mesmo com um freguês, mas reflete a mesma abordagem, em que promotores combinam as leis atuais com novas ferramentas investigativas para combater a maré crescente de mortes ligadas a opiáceos. O promotor público do condado de Richmond, Michael E. McMahon, já aplicou essa tática em mais de 240 casos de overdose.

"Não estamos vencendo esta guerra", disse Brennan. "Precisamos fazer mais."

Os casos são difíceis de processar. Os promotores precisam vincular as provas médicas relativas às drogas consumidas a uma overdose fatal, algo que exige uma dissecação cuidadosa dos resultados dos exames de toxicologia. E precisam apresentar provas de que o traficante tinha conhecimento dos riscos associados às drogas mas as vendeu assim mesmo, algo que, segundo advogados de defesa, contraria o objetivo dos traficantes, que é angariar mais fregueses, e não matá-los.

Pesando essas táticas, os júris precisam levar em conta questões espinhosas, diferenciando entre dependentes químicos e predadores nas fileiras dos traficantes e decidindo se um traficante deve ser responsabilizado pela morte de uma pessoa que ingeriu drogas sabidamente perigosas.
Fonte: Folha de Sao Paulo - 26/07/2017  

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Morte Cinza, o novo coquetel de opiáceos

Morte Cinza, o novo coquetel de opiáceos que se alastra pelos Estados Unidos
Autoridades fazem alerta sobre combinação fatal de drogas

Desde o boom da heroína do último terço do século passado os Estados Unidos não viviam uma epidemia de opiáceos tão devastadora como a atual. Em 2015 foram registradas 33.000 overdoses mortais por consumo de coquetéis de heroína e outros derivados do ópio. E a ameaça se renova confundindo polícia, cientistas e usuários, que têm cada vez menos segurança sobre o que estão comprando e colocando no corpo. A última novidade nefasta é uma mistura conhecida com o apelido de Morte Cinza.

A substância, de aspecto similar ao cimento, às vezes compacta, às vezes em pó, inclui heroína, fentanil, carfentanil – um tranquilizante tão potente que é usado em tigres e elefantes – e um opiáceo sintético denominado U-47700 ou Pink [Rosa] ou O-4. Os consumidores a injetam, engolem, fumam ou cheiram. A toxicidade é tão alta que os pesquisadores afirmam que o simples toque representa um perigo real para a saúde, já que o composto é absorvido pela pele.

Por enquanto sua presença não é nacional. Foi detectado nos estados de Alabama, Geórgia e Ohio. Na Geórgia foram registradas 50 overdoses ligadas à Morte Cinza nos últimos três meses. “É uma das combinações mais terríveis que vi em 20 anos de análise forense”, disse à Associated Press a perita Deneen Kilcrease, do Governo da Geórgia.

Apesar de o mercado da droga estar sempre um passo à frente da polícia e da ciência em sua capacidade de inovar, a nova geração de coquetéis de opiáceos promoveu uma corrida química voraz que se metamorfoseia cada vez mais rápido e com maior perigo. Os usuários, convencidos de que estão comprando heroína ou outras misturas conhecidas, expõem-se a substâncias desconhecidas e para as quais não existe o mínimo padrão de segurança de consumo. São cobaias dos laboratórios do narcotráfico.

O promotor Mike De Wine, do estado de Ohio, declarou que os cientistas costumavam dar uma resposta certeira quando analisavam essas drogas: “Diziam: ‘Isto é heroína’, ou ‘isto é fentanil’, mas agora acontece que, às vezes, pelo menos inicialmente, dizem: ‘Não sabemos o que é’”. Ohio foi o estado com mais mortes por overdose de opiáceos em 2016, com mais de 3.000.

Uma dose dessas misturas mortais pode ser comprada na rua por menos de 20 dólares.

A epidemia tem suas raízes na explosão de dependentes de opiáceos farmacêuticos na primeira década dos anos 2000. Os controles para a compra dessas substâncias eram frágeis. Quando o Governo dos Estados Unidos reconheceu a gravidade do problema e estabeleceu normas mais rigorosas para a venda desses fármacos, grande quantidade de consumidores migrou para o mercado clandestino em busca de efeitos similares na heroína e nas novas misturas.

Essa onda de mortes afeta sobretudo a população branca trabalhadora. Dos 33.000 falecidos em 2015, 27.000 eram brancos, 2.700 eram negros e 2.500 latinos. Ligada socialmente à depressão socioeconômica da classe média branca tradicional, a epidemia é conhecida nos Estados Unidos como deaths of despair (mortes por desespero). Fonte: El Pais - 10 MAI 2017  

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Uruguai dá início à venda de maconha em farmácias

País sul-americano passar a ser o primeiro do mundo a distribuir a substância legalmente por meio de rede autorizada. Mecanismo estatal irá controlar todo o processo, desde o cultivo até o consumidor final.
A partir de quarta-feira (19/07) tem início no Uruguai a venda legalizada de maconha para fins recreativos. Com isso, o país sul-americano se torna o primeiro do mundo onde o próprio Estado distribui a substância legalmente por meio de uma rede de farmácias autorizadas, em um mecanismo que deverá controlar todo o processo, desde o cultivo até o consumidor final.
De acordo com a nova regra, interessados poderão adquirir a substância em 16 farmácias registradas pelo país a um custo de 187 pesos uruguaios (cerca de 20 reais) por cinco gramas, informou nesta terça-feira o Instituto de Regulação e Controle de Cannabis (IRCCA).
Até o momento, duas variedades da droga foram registradas: a Alfa I e a Beta I, ambas com uma concentração de cerca de 2% de tetrahidrocanabinol (THC), componente psicoativo da planta.

LIMITE DE COMPRA
O acesso à erva se dará com a impressão digital do usuário, que assim não precisará divulgar suas informações pessoais. Haverá, no entanto, um limite de compra de 10 gramas semanais e 40 mensais, e os consumidores deverão ter mais de 18 anos, cidadania uruguaia ou residência no país há mais de um ano. Para se ter acesso à maconha legal também será necessário se registrar nas agências dos correios do país. De acordo com os últimos dados da IRCCA, o número de pessoas já habilitadas é de 4.959.

VENDA EM FARMÁCIAS
A venda em farmácias ainda é limitada e não cobre todo o território do Uruguai, mas as autoridades acreditam que, pouco a pouco, irão adicionar mais estabelecimentos e registrar mais consumidores, pois isso fará com que o produto possa ser adquirido por meios legais sem exposição do usuário aos riscos de comércio ilegal.
A liberação da venda de maconha em farmácias estava prevista na lei que regulou a produção, comercialização e distribuição da droga. A regra havia sido aprovada em dezembro de 2013durante o governo do então presidente José Mujica (2010-2015).
Simultaneamente à distribuição em farmácias, operam no Uruguai outros dois mecanismos legais para aquisição de maconha: os clubes de cannabis (63 autorizados) e os chamados autocultivadores (6.948).  Fonte: Deutsche Welle – 18.07.2017

sábado, 11 de março de 2017

Não existe droga segura

Entrevista extremamente interessante publicada na revista Veja, da psiquiatra mexicana Nora Volkow, 54 anos, é uma das mais importantes pesquisadoras sobre drogas do mundo.

A diretora do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas afirma  que nem mesmo a maconha nem muito menos a DMT, presente  no chá do Santo Daime, podem ser consideradas inofensivas
"Há quem veja a maconha como uma droga inofensiva. Trata-se de um erro. Comprovadamente, ela tem efeitos bastante danosos"
A psiquiatra mexicana Nora Volkow, 54 anos, é uma das mais importantes pesquisadoras sobre drogas no mundo. Quando, porém, o assunto são os danos neurobiológicos que essas substâncias causam, Volkow pode ser considerada a número 1. Foi a psiquiatra quem primeiro usou a tomografia para comprovar as consequências do uso de drogas no cérebro e foi também ela quem, nos anos 80, mostrou que, ao contrário do que se pensava até então, a cocaína é, sim, capaz de viciar. Desde 2003 na direção do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas, nos Estados Unidos, Volkow esteve no Brasil na semana passada para uma palestra na Universidade Federal de São Paulo. Dias antes de chegar, falou a VEJA, por telefone, de seu escritório em Rockville, próximo a Washington.

1-Há quinze dias, um cartunista brasileiro e seu filho foram mortos por um jovem com sintomas de esquizofrenia e que usava constantemente maconha e dimetiltriptamina (DMT), na forma de um chá conhecido como Santo Daime. Que efeitos essas drogas têm sobre um cérebro esquizofrênico?
Portadores de esquizofrenia têm propensão à paranoia, e tanto a maconha quanto a DMT (presente no chá do Santo Daime) agravam esse sintoma, além de aumentar a profundidade e a frequência das alucinações. Drogas que produzem psicoses por si próprias, como metanfetamina, maconha e LSD, podem piorar a doença mental de uma forma abrupta e veloz.

2-Que efeitos essas drogas produzem em um cérebro saudável?
Em alguém que não tenha esquizofrenia, os efeitos relacionados com a ansiedade e com a paranoia serão, provavelmente, mais moderados. Não é incomum, porém, que pessoas saudáveis, mas com suscetibilidade maior a tais substâncias, possam vir a desenvolver psicoses.
Estudos conduzidos pela senhora nos anos 80 provaram que a cocaína tinha, sim, a capacidade de viciar o usuário e de causar danos permanentes ao cérebro. Até então, ela era considerada uma droga relativamente "segura".

3-Existe alguma droga que seja segura no que diz respeito à capacidade de viciar e de causar danos à saúde?
Não existe droga segura, a não ser a cafeína. Como ela é estimulante e produz efeitos farmacológicos nos receptores de adenosina, é, sim, uma droga. Mas não há evidências de que vicie nem de que seja tóxica - a não ser que você tenha problemas cardiovasculares. Ainda não sabemos se é prejudicial a crianças e adolescentes, mas para adultos não há nenhum problema.

4-E a maconha?
Há quem veja a maconha como uma droga inofensiva. Trata-se de um erro. Comprovadamente, a maconha tem efeitos bastante danosos. Ela pode bloquear receptores neurais muito importantes. Estudos feitos em animais mostraram que, expostos ao componente ativo da maconha, o tetraidrocanabinol (THC), eles deixam de produzir seus próprios canabinoides naturais (associados ao controle do apetite, memória e humor). Isso causa desde aumento da ansiedade até perda de memória e depressão. Claro que há pessoas que fumam maconha diariamente por toda a vida sem que sofram consequências negativas, assim como há quem fume cigarros até os 100 anos de idade e não desenvolva câncer de pulmão. Mas até agora não temos como saber quem é tolerante à droga e quem não é. Então, a maconha é, sim, perigosa.

5-A senhora concorda que ela seja a porta de entrada para outras drogas?
Se você olhar os dados, verá que a maior parte dos usuários de cocaína começou com a maconha. Mas, ao olharmos os dados de quem fuma maconha, veremos que essas pessoas geralmente começaram com cigarros ou álcool. Qual seria a verdadeira droga de entrada, então? Uma das leituras sobre essa questão é que, durante a adolescência, as pessoas bebem e fumam cigarros porque esses produtos estão disponíveis e são legais e, quando crescem, elas se tornam propensas a usar drogas mais pesadas. Uma leitura alternativa é que a exposição à nicotina e ao álcool na juventude faz com que as pessoas fiquem mais vulneráveis aos efeitos de outras drogas. Para mim, essa é a hipótese correta. A exposição precoce às drogas muda a sensibilidade do sistema de recompensa do cérebro. Como esse sistema se torna menos sensível, os dependentes químicos buscam uma compensação nas drogas.

6-Por que em geral as pessoas começam a usar drogas na adolescência?
O cérebro do adolescente é muito menos conectado do que o de um adulto. Como resultado, os adolescentes não conseguem controlar e regular a intensidade de suas emoções e desejos da mesma forma que os mais velhos. Isso faz com que vivam de maneira mais vigorosa, mas, ao mesmo tempo, assumam riscos maiores, como experimentar drogas.

7-O uso de drogas na adolescência é mais perigoso do que na vida adulta?
Certamente, porque o cérebro de um adolescente é mais plástico e mais sensível aos estímulos externos que vão moldá-lo. A forma que seu cérebro vai tomar na idade adulta depende muito dos estímulos que você recebeu quando criança e adolescente. O risco de desenvolver o vício também é maior para o adolescente. O motivo é o mesmo: a plasticidade cerebral nessa fase, que faz com que o jovem apreenda informações muito mais facilmente do que o adulto.

8-Por que é tão difícil quebrar o ciclo de desejo, compulsão e perda de controle que o vício traz? É difícil porque o cérebro, em consequência do uso de drogas, é modificado de maneira física. A dependência química é uma doença cerebral que muda a bioquímica, a função e a anatomia do cérebro. Ocorre da seguinte maneira: todas as drogas aumentam a concentração de dopamina no cérebro. Quando o sistema dopaminérgico é ativado vez após outra pelo consumo repetido dessas substâncias, ele sofre modificações, de forma que passa a não funcionar mais quando a pessoa não está sob efeito da droga. Com isso, o usuário procura usar mais drogas - para tentar compensar esse déficit.

9-O que faz alguém se viciar em uma droga?
Isso pode variar de pessoa para pessoa e de acordo com o tipo de droga. Mas, de modo geral, é preciso que a pessoa seja exposta à substância repetidamente. Mesmo nessas condições, nem todos os usuários se viciam. Porém cerca de 10% deles desenvolvem o vício depois de pouco tempo de uso. Nos casos em que isso ocorre, o usuário tem uma vulnerabilidade que pode ser de ordem biológica ou social. Isso significa que ele pode ter uma predisposição genética para o vício ou estar sob algum tipo de stress que ajudou a disparar o gatilho da adição. Os traumas mais potentes ocorrem na infância: abandono, repetidas negligências, abusos físicos, sexuais, convivência com pais presos ou portadores de doenças mentais. Mas é claro que nada disso resulta em vício se a pessoa não tiver acesso às drogas.

10-É possível curar o vício?
Nós não podemos curá-lo atualmente, apenas tratá-lo. Quando você tem uma infecção bacteriana, toma um antibiótico e está curado. Agora, se você tem asma ou diabetes, tem de tomar algum tipo de medicamento ao longo de sua vida. É um tratamento para sua condição, não uma cura. Hoje, existem apenas tratamentos para o vício, que combinam medicamentos e terapias comportamentais. Estamos desenvolvendo uma vacina contra o vício de cocaína e nicotina, mas são apenas pesquisas ainda.

11-É possível, depois de se reabilitar, voltar a usar drogas sem se viciar?
Há casos já identificados. Por muito tempo se disse, principalmente sobre o alcoolismo, que, se você é alcoólatra, nunca, mas nunca mesmo, poderá chegar perto de novo da droga. Em pesquisas, há evidências de que alguns alcoólatras conseguem voltar a beber um ou dois copos de vez em quando sem se viciar, mas eles são a minoria. O problema é que não sabemos quem será capaz de se ater a apenas alguns drinques e quem vai se viciar de novo, por isso recomendamos clinicamente que todos fiquem afastados da droga.

12-Está em curso no Brasil uma campanha para descriminalizar a maconha. A senhora concorda com isso?
Não concordo porque, ao descriminalizar a maconha, você estará contribuindo para que mais gente a consuma. Há quem não fume por medo da repercussão negativa que a atitude pode provocar - e descriminalizá-la significa dizer: "Se você fumar, está tudo bem".

13-Um grupo de pesquisadores brasileiros está discutindo a possibilidade de permitir o uso medicinal da maconha. Quais são os benefícios já comprovados da droga?
As pesquisas mostram que os canabinoides, inclusive o THC, têm algumas ações terapêuticas úteis. Por exemplo, diminuem a resposta à náusea, o que é muito útil para pacientes com câncer que estão enfrentando uma quimioterapia. Outra vantagem comprovada é que eles aumentam o apetite e podem ajudar a combater a anorexia que acomete pacientes com doenças como a aids, por exemplo. Além disso, podem ter benefícios analgésicos e diminuir a pressão interna do olho, o que pode evitar um glaucoma. O que nosso instituto apregoa é que você pode ter o benefício dos canabinoides sem os efeitos colaterais que resultam do fumo da maconha, como a perda de memória, por exemplo. Por isso, estamos encorajando o desenvolvimento de medicamentos que maximizem as propriedades terapêuticas da droga sem seus efeitos danosos. No mercado americano, já existem algumas pílulas, como a Marinol, que permitem isso.

14-Em suas pesquisas a senhora descobriu que o córtex orbitofrontal, a principal área do cérebro afetada por quem tem transtorno obsessivo-compulsivo, também está ligado ao vício. É essa a chave da compulsão pelas drogas?
Eu concluí que a pessoa viciada em drogas desenvolve uma obsessão e uma compulsão pela droga similares às daquela que tem transtorno obsessivo-compulsivo. O que o vício e o TOC têm em comum é que ambas as doenças afetam as mesmas áreas do cérebro, aquelas relacionadas aos hábitos e aos controles. Mas, embora o local afetado seja o mesmo e a apresentação dos sintomas se dê de forma parecida, os mecanismos que levam a essas anormalidades não são.

15-A senhora também estudou a função da dopamina em quem come compulsivamente. Que relações se podem fazer entre a obesidade e o vício em drogas?
Ambos resultam em uma busca compulsiva por uma recompensa: no caso da obesidade é a comida e no caso da adição é a droga. Nos dois, há a perda de controle. Quem é patologicamente obeso come mesmo quando não quer. Podemos dizer que algumas pessoas parecem ser viciadas em comida, embora até o momento isso não tenha sido aceito nas comunidades clínica e científica.

16-A secretária de Estado dos Estados Unidos, Hillary Clinton, disse recentemente que o povo americano tem uma demanda insaciável por drogas. A senhora acredita que essa demanda é mesmo mais intensa nos EUA do que em outros países?
O prazer oriundo das drogas é uma comodidade que você compra, como um luxo. Então há, sem dúvida, um elemento econômico nessa discussão. Também existem elementos relacionados à estrutura social e às normas. Os americanos são mais tolerantes em relação a comportamentos diferentes do que muitos outros povos. Isso resulta também em maior aceitação do uso de drogas.

17-A senhora nunca sentiu vontade de experimentar alguma droga?
Bebo de vez em quando um copo de vinho e experimentei cigarros quando era adolescente. Nunca usei cocaína, maconha nem outro tipo de droga ilícita. Amo meu cérebro e nunca pensei em estragá-lo.
Fonte:Veja - 29/03/2010

domingo, 1 de janeiro de 2017

Após consumo, a maconha fica no cabelo, nas unhas e até no tártaro do dente

Você sabia que seu cabelo pode contar se você consumiu maconha nos últimos meses? Pois é, se o fio for comprido o suficiente dá para descobrir até se você fumou a droga no ano passado.
Raspou o cabelo? Sem problemas, as unhas, pelos e até o tártaro no seu dente guardam indícios que podem confirmar o uso. A droga sai do organismo com o tempo, mas alguns resquícios ficam no corpo e exames podem encontrá-los.
"Fatores como a quantidade, o grau de pureza e o teor ativo da droga influenciam os exames, tanto quanto o peso, a gordura e as atividades hepática e renal, que aceleram a eliminação. Mas sempre há como saber se houve uso ou não", afirma Fábio Alonso, farmacêutico toxicologista e diretor do laboratório Contraprova, no Rio de Janeiro.
Os testes buscam pelo THC, princípio ativo da maconha, e pelo THC-COOH, que é o composto metabolizado, que prova que a substância foi realmente ingerida, passou pelo fígado e se transformou. Isso evita que alguém que esteve em uma festa onde pessoas fumaram maconha, mas não fez uso, seja erroneamente apontada como usuário.

ABRA A BOCA, POR FAVOR
Com a saliva é possível detectar se houve uso de maconha nas últimas horas e no máximo no dia anterior. "O teste é usado quando precisamos saber se naquele instante a pessoa está influenciada pela droga", explica Maristela Andraus, diretora do ChromaTox laboratórios, em São Paulo.
O exame é confiável e lembra um teste de gravidez: uma fita é molhada na saliva e, dependendo da cor que aparece,  é possível saber se houve consumo ou não. "Depois desta triagem, confirmamos o resultado no laboratório com equipamentos mais potentes", diz Andraus.
O teste é aplicado em momentos decisivos, como após um acidente de carro ou antes de um piloto que parece drogado pilotar um avião. E não adianta escovar os dentes ou passar enxaguante bucal, a substância psicoativa continuará na saliva.

SE EXERCITOU? O SUOR VIRA PROVA
O suor também contém substâncias que entregam o uso de maconha. "O teste determina o uso em curtíssimo prazo, se for feito em até 12 horas depois", afirma Alonso. Ele explica que o exame tem pouca aplicabilidade, já que o suor é difícil de coletar e que no Brasil ainda não existem laboratórios que analisem essa matriz.

A DROGA APARECE NO XIXI
Andraus diz que na urina é possível detectar o consumo até três dias depois do consumo, em média. O exame é bastante eficaz e preciso e é bem avaliado pelos laboratórios por ser um método não invasivo que garante uma grande quantidade de amostrar e que pode ser congelado e conservado.

OBVIAMENTE, TAMBÉM ESTÁ NO SANGUE
 O exame de sangue detecta a maconha na janela de até 15 dias, segundo Alonso. O exame é confiável e pode ser requisitado depois de um teste rápido, como o de saliva.
O farmacêutico afirma que o THC, princípio ativo da maconha, tem afinidade pelo tecido adiposo e a gordura vira um "depósito". Com o tempo, o THC se desprende e é liberado na corrente sanguínea. "É muito comum quando testamos pacientes em reabilitação que a pessoa dê positivo por até 20 dias, mesmo sem ter usado recentemente. É o corpo eliminando a substância", diz Alonso.

O CABELO É UMA LINHA DO TEMPO
Quando a maconha entra no seu corpo ela fica na corrente sanguínea e ao passar pela raiz do cabelo deixa ali depositado o THC. Conforme o fio cresce, ele leva consigo pedacinhos da substância. "Depois de uns cinco dias de ter fumado, a maconha começa a aparecer no cabelo. Avaliamos que cada um centímetro do fio equivale a um mês de vida e conseguimos saber como foi consumo no período", diz Andraus.
O último mês é o mais próximo do couro cabeludo e se o cabelo for longo é possível analisar anos. Quanto maior a concentração de THC, mais constante era o uso. Passar shampoo não muda nada, pois as substâncias estão dentro do cabelo e não na superfície. "O que pode afetar, mas não é certo, é clarear o cabelo, pois o procedimento mexe na estrutura do cabelo".
Se o cabelo tiver menos de um centímetro ou se tiver passado a máquina zero, os laboratórios testam em pelos, que funcionam da mesma forma.

UNHAS? DENTE? TÁRTARO?
Já deu para perceber que ao fumar maconha a substância não deixa o corpo tão fácil assim, mas não paramos por ai. As unhas também armazenam o THC, já que são tecidos queratinizados como os cabelos. Se a pessoa não cortar as unhas, todo o histórico de uso de maconha pode ser descoberto na unha.
"Existem muitos métodos novos sendo estudados. Confirmar o uso pelo dente ainda é novidade. Mas fui num congresso recentemente onde provavam o uso de maconha ao analisar o tártaro, uma vez que ele fica embebido na saliva e fica impregnando pelo THC", diz Andraus. Fonte: UOL, em São Paulo 04/11/2016

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Bebês nascidos viciados em drogas

Segundo o serviço público de saúde da Grã-Bretanha, o NHS, em média três bebês nascem viciados em drogas a cada dia na Inglaterra devido ao hábito das mães.
Uma instituição de caridade, a única do país, tenta manter os recém-nascidos junto com os pais durante o programa de reabilitação.
O problema se repete em todo o Reino Unido. Na Inglaterra, 1.087 bebês nascidos em 2014 e 2015 foram afetados pelo uso de drogas pelas mães.
Na Escócia, foram 987 bebês entre 2012 e 2015, enquanto no País de Gales foram 75 casos, entre drogas e bebidas alcoólicas em 2015 e neste ano.
Quase todas as drogas passam da mãe para a corrente sanguínea do feto durante a gravidez. Estas crianças já nascem viciadas e sofrendo os efeitos da abstinência - o que é conhecido como síndrome de abstinência neonatal.

BRASIL
Entre os sintomas comuns dos recém-nascidos viciados em opiáceos, como heroína e metadona, está tremor incontrolável, choro estridente e manchas na pele.
No Brasil, o Ministério da Saúde informou que nos últimos cinco anos o número médio anual de registros de "sintomas de abstinência neonatal de drogas utilizadas pela mãe" foi de 76.

REABILITAÇÃO RIGOROSA
Depois do fechamento de outras organizações, a Trevi House é o único centro deste tipo na Grã-Bretanha. Inaugurada em 1993, a instituição pode receber até dez mulheres de uma vez. Elas não tem permissão para sair do local sem supervisão.
Cada mãe segue um plano rigoroso de reabilitação que inclui sessões de terapia diárias, encontros em grupo, exames médicos e checagens dos serviços sociais.
O custo para manter uma mãe e o um bebê no centro é de 1,5 mil libras por semana (cerca de R$ 6,3 mil).
A verba para manter uma mãe e seu filho no programa frequentemente vem de acordos entre serviços que cuidam de adultos viciados em drogas e serviços sociais voltados para crianças.
Entre dezembro de 2013 e dezembro do ano passado, 65% das crianças saíram da Trevi House acompanhadas das mães, que já não estavam mais viciadas em drogas ou bebidas alcoólicas.
Porém, alguns analistas ressalvam que a rotina na instituição de caridade, com cuidados 24 horas por dia, não reflete a vida real e temem que, fora do programa, as mães sofram recaída. Fonte: Resumo - UOL Noticias - BBC-26/12/2016