"Finie la guerre?" – "Acabou-se a
guerra?" O carro dos negociadores alemães que, vindo da Bélgica,
atravessou a fronteira da França em 6 de novembro de 1918 espalhou o júbilo
entre os soldados franceses. Os exércitos ainda se confrontavam, mas a guerra
que já durava mais de quatro anos parecia estar se aproximando do fim.
Pouco mais tarde, na madrugada de 11 de novembro, o líder da
delegação alemã, Matthias Erzberger e
sua contraparte francesa, o marechal Ferdinand Foch, preencheriam plenamente os
anseios de milhões de europeus.
Num vagão de trem no bosque de Compiègne, cerca de 90
quilômetros a nordeste de Paris, os dois colocaram sua firma no recém-negociado
armistício entre a Alemanha e os Aliados: os alemães capitulavam. No ano
seguinte, em 28 de junho, no famoso Salão dos Espelhos do Palácio de Versalhes,
ambos os lados assinariam oficialmente o acordo de paz.
AJUDA DO OUTRO LADO DO ATLÂNTICO
Até meados de 1918, as tropas alemãs haviam avançado no
front ocidental, ganhando muito terreno. No entanto, entre março e julho, o
contingente se reduziu de 5,1 milhões para 4,2 milhões de militares. O Império
Alemão conseguiu fechar suas lacunas até o verão, mas só remobilizando soldados
feridos e de novo recuperados. Além disso, os primeiros recrutas nascidos no
ano de 1900 iam chegando pouco a pouco.
Contudo, os alemães se viam agora diante de um inimigo
totalmente novo: os americanos. Depois que o presidente Woodrow Wilson
declarara guerra à Alemanha, em 2 abril de 1917, seus soldados avançavam pelo
Oceano Atlântico. No início do outono de 1918, desembarcavam diariamente 10 mil
deles.
O historiador John Keegan concorda que os jovens americanos
eram inexperientes no combate. "Decisivo, porém, foi o efeito que sua
chegada teve sobre o adversário: profundamente deprimente."
No fim das contas, as bem equipadas unidades dos Estados
Unidos é que decidiriam a guerra a favor dos Aliados. Os supremos comandantes
das tropas alemãs se viram logo forçados a aceitar que não era mais possível
vencer o conflito, que só um armistício evitaria o colapso total no front
alemão.
MORTE EM ESCALA INDUSTRIAL
Até chegar à trégua de 11 de novembro, a Europa atravessara
quatro anos de uma pavorosa carnificina e destruição jamais vista. Em sua
viagem pela Bélgica e França, Erzberger registrou um quadro de desolação:
"Nenhuma casa mais de pé, uma ruína se sucedia à outra. À luz da lua, os
destroços se erguiam no ar, fantasmagóricos; nenhum ser vivo se mostrava."
O cronista e político do Partido Alemão do Centro traçou o
balanço de uma guerra de letalidade sem precedentes. O avanço tecnológico e a
industrialização haviam criado um arsenal que suplantava tudo o que já existira
em termos de quantidade e qualidade: tanques aparentemente indestrutíveis,
embarcações que manobravam debaixo d'água, artilharia de alcance gigantesco, gases
mortais.
Em 1916, os alemães haviam colocado em ação o canhão
ferroviário "Langer Max": lançados através de um tubo de 35 metros de
comprimento, seus projéteis de 300 quilos atravessavam distâncias de até 48
quilômetros. Com essa arma, Paris foi alvejada em 23 de março de 1918. Algumas
granadas atingiram a igreja de Saint Gervais durante um culto, matando 88
pessoas e ferindo cerca de 100.
Historiógrafos militares estimam que, durante a Primeira
Guerra Mundial, se lançaram 850 milhões de granadas de artilharia. Ao todo, as
nações envolvidas convocaram quase 56 milhões de recrutas. A matança se deu em
escala industrial, com cerca de 11 milhões de soldados tombando sob a chuva de
projéteis de canhões e o fogo de metralhadoras – uma média de 6 mil combatentes
mortos por dia de conflito.
A esses se juntaram 21 milhões de feridos, soldados que
perderam membros ou parte deles, que ficaram paralíticos ou acamados, foram
submetidos a amputações, terminaram cegos ou surdos.
HORRORES DO FRONT
As vivências no front eram, inevitavelmente, aterrorizantes.
"É horrível quando estilhaços de granadas penetram nos tecidos
moles", recordava-se o soldado alemão Karl Bainier, nascido em 1898.
"Nossos dois comandantes também foram atingidos em cheio durante a noite.
Um perdeu o tórax inteiro; o outro, o tronco todo. O do tronco morreu na hora.
O outro ainda gritou."
Assim, não é de espantar que sobretudo os soldados
desejassem o fim da guerra. Em maio de 1918, o comandante-chefe príncipe
Rupprecht da Baviera observava não ser "nem um pouco fora do comum"
que até 20 de cada 100 soldados se ausentassem sem permissão. Se fossem
apanhados, em geral eram punidos com dois a quatro meses de prisão, "mas é
exatamente isso o que alguns querem, pois assim escapam de uma ou outra batalha".
Nos meses seguintes, o front do lado das Potências Centrais
– Alemanha e Áustria-Hungria – ficaria cada vez mais desfalcado. Muitos
soldados se recusariam a lutar, outros partiriam para casa por conta própria.
SOLO FÉRTIL PARA A PRÓXIMA GUERRA
Enquanto as alas alemãs rareavam progressivamente, o comando
supremo se eximia de qualquer responsabilidade. Em 19 de setembro de 1918, o
general Erich Ludendorff escreveu: "Pedi à Sua Majestade para colocar no
governo também aqueles círculos a que principalmente devemos a situação em que
estamos. Portanto agora veremos esses senhores assumirem os ministérios. Agora
eles que tratem a paz que tiver de ser tratada. Eles que tomem a sopa que
prepararam para nós."
Esses senhores" eram, para Ludendorff, as bancadas do
Parlamento que, já em meados de 1917, haviam pleiteado um acordo de paz:
social-democratas, liberais de esquerda e o católico Partido Alemão do Centro.
Essa acusação de uma suposta traição pela pátria exausta da guerra foi também
adotada pelo mais alto militar do Império Alemão, o marechal de campo Paul von
Hindenburg.
"O Exército alemão foi apunhalado pelas costas",
afirmou, supostamente citando o general inglês Frederick Maurice. Embora este
tenha sempre negado com veemência haver dito tal frase, assim nascia a
"lenda da punhalada", segundo a qual a Alemanha teria perdido a
guerra devido à "traição" interna. Essa lenda contribuiu
significativamente para o futuro fracasso da República de Weimar.
De início, porém, o 11 de novembro trouxe o fim da guerra
que milhões de europeus tanto ansiavam. No entanto, isso não significou
automaticamente o fim do sofrimento: privação, vicissitude e luto seguiram
pesando sobre o povo, agravados pela sensação de ter lutado e sofrido em vão.
"A falta de sentido, ao chegar a seu ponto mais alto, é
raiva, raiva e raiva e continua não fazendo sentido", resumiu o escritor
austro-húngaro Walter Serner a cólera de seus compatriotas. Esse sentimento
tóxico tomou conta dos alemães e seria o solo fértil para a ascensão de um
ex-soldado do front chamado Adolf Hitler. Fonte: Deutsche Welle - Data
06.11.2018
Comentário:
Resumo cronológico
Conflito opôs as Potências Centrais (os impérios Alemão,
Austro-Húngaro e Otomano) à Entente (liderada por Rússia, Reino Unido e França)
Principais datas
■28.jun.1914 O
herdeiro do Império Austro-Húngaro, Francisco Ferdinando, é morto por um
nacionalista sérvio em Sarajevo; um mês depois, a Áustria-Hungria declara
guerra à Sérvia, dando início ao conflito
■21.fev.1916 Começa a Batalha de Verdun, na França, a mais
longa (dura até dezembro) e uma das mais violentas, com mais de 1 milhão de
mortos
■7.abr.1917 Os
Estados Unidos entram no conflito e declaram guerra à Alemanha, desequilibrando
a disputa a favor da Entente
■11.nov.1918 A Alemanha aceita um armistício com os
adversários, interrompendo o conflito
■28.jun.1919 O Tratado de Versalhes, acordo de paz
definitivo, é assinado
Personagens
■Vladimir Lenin Liderou em novembro de 1917 a Revolução
comunista na Rússia, fazendo o país deixar a guerra
■Adolf Hitler Sua participação na guerra como cabo do
Exército acabaria influenciando a criação do nazismo
■Guilherme 2º Após assumir como imperador, impôs uma
política agressiva na Alemanha, que levou à guerra, mas durante o conflito
cedeu a maior parte do poder aos militares
■G. Clemenceau O primeiro-ministro francês foi um dos
principais defensores de uma ação militar contra a Alemanha e um dos
idealizadores do Tratado de Versalhes
Classificação de estatísticas de vítimas
Estimativas de número de baixas para a Primeira Guerra
Mundial variam muito As estatísticas de baixas militares listadas aqui incluem
mortes relacionadas a combate, bem como mortes de militares causadas por
acidentes, doenças e mortes enquanto prisioneiros de guerra. A maioria das
vítimas durante a Primeira Guerra Mundial deve-se à fome e às doenças
relacionadas com a guerra.
População
(milhões)
|
Mortes-militares
|
Mortes-Civis
|
Total de
mortes
|
Mortes em
% da população
|
Militares
feridos
|
|
Allies of World
War I
|
806.0
|
5,711,696
|
3,674,757
|
9,386,453
|
1.19%
|
12,809,280
|
Central Powers
|
143.1
|
4,010,241
|
3,143,000
|
7,153,241
|
5%
|
8,419,533
|
Allies World War I - França, Rússia e Grã-Bretanha entraram
na Primeira Guerra Mundial em 1914, como resultado da Tríplice Entente. Os
demais países uniram-se aos aliados ao longo da guerra.
Central Powers – designação atribuída à coligação formada entre
a Alemanha e a Áustria-Hungria à qual se juntariam o Império Otomano e a
Bulgária. O nome encontra-se relacionado com a posição central ocupada pela
Alemanha e Áustria-Hungria no continente europeu.
Fonte:
REPERES – module 1-0 - explanatory notes – World War I casualties – EN
Author
& © : Nadège Mougel, CVCE, 2011, 2011, English translation: Julie Gratz,
Centre européen Robert Schuman
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