Foi durante a noite do dia 19 julho de 1944 que um submarino alemão afundou o navio militar brasileiro, Vital de Oliveira, a cerca de 65 quilômetros da costa de Macaé, no estado do Rio de Janeiro.
A explosão causada pelos
torpedos rachou a popa do navio, colapsando a estrutura da embarcação em menos
de três minutos.
Junto com os destroços, mais
de 270 tripulantes foram jogados ao mar. Desses, 99 não conseguiram se salvar.
Pertencente ao Primeiro
Escalão da Força Expedicionária Brasileira, o Vital de Oliveira era responsável
pelo transporte de tropas e cargas durante a Segunda Guerra Mundial. E foi uma
das muitas embarcações vítimas de ataques nazistas durante o período.
Somente 80 anos depois do
naufrágio, o casco do navio foi encontrado no fundo do oceano – mais
especificamente a 55 metros de profundidade. A divulgação da descoberta
aconteceu no final de janeiro deste ano
e foi confirmada oficialmente pela Marinha do Brasil.
NAVIOS BRASILEIROS NA MIRA DA
ALEMANHA NAZISTA
Contabilizando o Vital de
Oliveira, a Alemanha nazista foi responsável pelo ataque a outras 30 embarcações
brasileiras – mercantis e militares – entre os anos de 1942 e 1944. O que
causou a morte de pelo menos mil pessoas.
O naufrágio do Vital de
Oliveira fora o último sucesso alemão no litoral brasileiro durante a guerra.
Já a primeira investida nazista contra o país acontecera na costa do Nordeste,
em 1942, quando apenas um submarino alemão, o U-507, afundou seis navios
brasileiros, matando mais de 600 pessoas. Especialistas afirmam que esse ataque
‘empurrou' de vez o Brasil para o centro do confronto. Dias depois, o ditador brasileiro Getúlio Vargas anunciou
um "estado de beligerância", praticamente declarando guerra contra o
Eixo.
Mapa de navios naufragados durante a Segunda Guerra no Atlântico Sul.
SUBMARINOS ALEMÃES NA COSTA DO BRASIL
Documentos oficiais dão conta
que dezenas de submarinos alemães operaram na costa do Brasil durante a guerra,
com aval de Karl Dönitz, um dos principais comandantes da Kriegsmarine (marinha
de guerra alemã). Entre eles, estava o submarino U-861, comandado pelo capitão
Jürgen Oestern, responsável por afundar o Vital de Oliveira.
"O submarino U-861 foi
fabricado em 1943, então era um equipamento relativamente novo quando torpedeou
e abateu o Vital de Oliveira. Logo depois, ele foi enviado ao Oceano Índico
para auxiliar os japoneses contra a campanha ofensiva norte-americana",
explicou à DW Fernando Loureiro, especialista em história militar.
De acordo com ele, os alemães
tinham como missão cortar as linhas de suprimento entre o Brasil e os países
aliados.
"Os submarinos da
Alemanha possuíam a melhor tecnologia da época, quase imperceptíveis pelos
radares. Durante um tempo, a estratégia funcionou, tendo êxito em estrangular a
linha de suprimento que saía do Brasil em direção aos países aliados. Mas
precisamos levar em consideração que o litoral brasileiro é imenso",
acrescenta Loureiro.
OBJETIVOS
A relevância dos submarinos
para os nazistas na guerra também foi destacada pelo historiador e professor da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Francisco Carlos.
"Na Primeira Guerra
Mundial, a Alemanha utilizou os submarinos apenas na Europa e no norte da
África. Já na Segunda Guerra, esses equipamentos foram fundamentais para o
esforço nazista no continente americano. Eles tinham a missão de cobrir grande
parte da costa brasileira, com destaque para Belém, Natal, Recife, Salvador,
Rio de Janeiro e Santos”, disse.
Francisco Carlos ressalta
ainda que Hitler ordenara um número ainda maior de submarinos em águas
brasileiras para um ‘tremendo ataque'. A ordem do ‘führer' aparece em
documentos oficias da Kriegsmarine.
A possibilidade de um ataque
ainda mais sangrento também é mencionada no livro Operação Brasil, do escritor
Durval Lourenço Pereira. Segundo o autor, os portos das principais cidades do
país seriam torpedeados pelos alemães em represália à aproximação brasileira
com os Estados Unidos, a partir de 1942.
Como justificativa ao plano,
a Kriegsmarine afirma que o Brasil "colocou não apenas as forças
econômicas do país, mas também seu território à disposição do inimigo, de onde
parte ataques contra o Eixo”.
À DW, Durval Lourenço Pereira
afirma que uma ofensiva mais incisiva foi abortada mais tarde por Hitler, já
que um ataque poderia afetar a relação da Alemanha com os outros países da
América Latina. Para os submarinos, o alto comando nazista manteve apenas a
ordem de patrulhamento e abate de navios brasileiros tentando chegar aos
Estados Unidos.
"Caso o plano fosse
posto em prática, poderíamos ter presenciado uma Pearl Harbor brasileiro, com
centenas de navios afundados e portos destruídos. Felizmente, os ataques não
aconteceram”, finaliza Durval. Fonte: DW
- 28/02/202528 de fevereiro de 2025