Nós os praticamos pensando que é o mais recomendável para nosso corpo
e, na verdade, não trazem nenhum benefício (alguns são até mesmo
contraproducentes)
A saúde é o que importa. É uma
afirmação tão frequente como certa, e os dados (e os fatos) assim o confirmam:
■49% dos
brasileiros elegem a saúde como uma prioridade para os governantes, segundo a
Confederação Nacional da Indústria (CNI), e
■70%
acreditam que são saudáveis (segundo Índice para uma Vida Melhor, da
Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, OCDE).
A mensagem de que o estilo de vida é fundamental para nos manter
saudáveis se difundiu e, por isso, incorporamos à nossa rotina hábitos aparentemente
saudáveis. Entretanto, alguns não nos trazem tanto benefício como esperamos (o
que não significa que sejam prejudiciais). Esses são alguns dos falsos
talismãs:
1. SUBSTITUIR O JANTAR POR FRUTA ENGORDA MAIS
Perder peso é um clássico na lista de propósitos saudáveis, e não é de
se estranhar, porque quase metade da população tem sobrepeso, segundo uma
pesquisa do Ministério da Saúde brasileiro. A fruta nos dá água, hidratos de
carbono, fibra, vitaminas e minerais, mas “como os hidratos de carbono são uma
fonte de energia, é melhor consumi-los quando iremos nos manter ativos”,
explica a endocrinologista Iris de Luna, do Hospital Universitário Quirón Salud
Madrid, na Espanha. O metabolismo mantém certos ritmos ao longo do dia
(cronobiologia), e de noite, o fígado é mais eficiente no armazenamento de
açúcares no formato de glicogênio. Quando os depósitos de glicogênio estão
cheios, o excesso de açúcares se transforma em triglicérides. A fruta contém
frutose (um açúcar de absorção rápida), e se não for utilizado na hora, é
armazenado e pode favorecer o aumento de triglicérides. Essa é a razão pela
qual “em um plano de emagrecimento, não é recomendável substituir o jantar por
fruta”, diz a doutora. Sua recomendação: consumir a fruta como café da manhã,
no meio da manhã e como lanche.
2. SUPRIMIR O GLÚTEN DA DIETA
PODE CAUSAR PROBLEMAS
Seja por motivos de saúde ou por moda, o certo é que os antiglúten
crescem cada vez mais. Nos Estados Unidos, um terço da população tirou essa
proteína de sua alimentação e o exemplo também vale para o Brasil, a julgar
pela quantidade de produtos sem glúten nas prateleiras dos supermercados (e nos
cardápios dos restaurantes). Camilo Silva, especialista em Endocrinologia e
Nutrição da Clínica Universidade de Navarra, ressalta que não se deve fazer
nenhuma modificação dietética por conta própria e sem o diagnóstico de um
médico. “Pode derivar em uma dieta menos saudável, com um aumento na ingestão
de carnes e queijos magros, mas também pode complicar a dieta em pessoas com
doenças, como a diabetes”, alerta. Além das consequências que pode ter sobre a
ingestão de fibras e de certas vitaminas e ferro, “é preciso levar em conta que
a dieta antiglúten pode encarecer a cesta de compras em 1.400 euros (4.770
reais) por ano por pessoa”, estima.
3. SUBSTITUIR O LEITE DE VACA
POR OUTROS TIPOS IRÁ PRIVÁ-LO DE MUITAS VITAMINAS
Os alérgicos e intolerantes à lactose são um coletivo cada vez mais
numeroso e o leite de vaca é, para muitos, outra das ameaças à saúde. O
endocrinologista da Clínica Universidade de Navarra alerta que deixar de tomar
leite “pode limitar desnecessariamente a ingestão de cálcio e de vitaminas A,
D, E e B”. Desmente que os preparados lácteos ou outros tipos de leite (como
leite de soja, por exemplo) sejam nutricionalmente equivalentes ao leite de
vaca e frisa: “A substituição do leite como produto de riqueza nutricional não
é fácil”.
Ao contrário da opinião
generalizada de que é mais saudável consumir produtos lácteos desnatados, um
estudo publicado no Scandinavian Journal of Primary Health Care conclui que o
consumo de lácteos ricos em gordura se correlaciona com um risco menor de
desenvolver obesidade. Na opinião do nutricionista Walter Willett, da Escola de
Saúde Pública de Harvard (EUA), uma explicação para essa descoberta é que os
produtos integrais saciam mais e, além disso, os ácidos graxos dos lácteos têm
um efeito adicional na regulação do peso.
4. TOMAR APENAS LEITE DESNATADO
FARÁ VOCÊ BELISCAR ENTRE AS REFEIÇÕES
Ao contrário da opinião generalizada de que é mais saudável consumir
produtos lácteos desnatados, um estudo publicado no Scandinavian Journal of
Primary Health Care conclui que o consumo de lácteos ricos em gordura se
correlaciona com um risco menor de desenvolver obesidade. Na opinião do
nutricionista Walter Willett, da Escola de Saúde Pública de Harvard (EUA), uma
explicação para essa descoberta é que os produtos integrais saciam mais e, além
disso, os ácidos graxos dos lácteos têm um efeito adicional na regulação do
peso.
5. LAVAR AS MÃOS COM SABÃO
ANTIBACTERIANO AUMENTA O RISCO DE ALERGIAS
Uma boa lavagem de mãos com água e sabão é a forma mais eficaz de
limpar e liminar germes. Mas a preocupação com o risco de contrair infecções
favoreceu a demanda crescente por sabões antimicrobianos, uma medida que além
de não ser útil, pode aumentar o risco de doenças alérgicas, adverte a
Universidade de Harvard (EUA), além de favorecer o desenvolvimento de bactérias
resistentes aos antibióticos.
6. UTILIZAR MÁSCARAS DE PAPEL CONTRA A POLUIÇÃO NÃO SERVE PARA NADA
Diante da poluição, nos proteger com uma máscara de papel é uma medida
ineficaz porque “apesar de não deixarem passar as partículas grandes, as
menores (0,1 micra) chegam facilmente até o fim do aparelho respiratório (e
inclusive na corrente sanguínea) e causam problemas”, esclarece Carmen Diego,
coordenadora da Área de Meio Ambiente da Sociedade Espanhola de Pneumologia e
Cirurgia Torácica (Separ). E para nos proteger dos gases poluentes, “não há
máscara que funcione”, acrescenta a pneumologista. Há outras máscaras mais
sofisticadas, com filtros, que “são melhores que as de papel, mas também não
evitam que respiremos ar poluído”, insiste Carmen Diego.
7. USAR HASTES FLEXÍVEIS NOS OUVIDOS PODE MACHUCAR O TÍMPANO
É verdade que não é bonita a visão de sujeira saindo pelos ouvidos,
mas daí a transformar hastes flexíveis e sprays em indispensáveis para a
higiene diária há um abismo. Ana Machado, otorrinolaringologista do Hospital
Universitário Quirón Madrid, destaca que “o ouvido tem seus próprios mecanismos
de limpeza fisiológicos. O cerúmen é uma substância que protege das infecções
no ouvido devido a suas funções bactericidas”. Se o cerúmen se acumula e forma
um tampão, “é preciso ir ao especialista para que o retire mediante o
procedimento mais conveniente”. Nem tente fazer isso em casa. Um relatório da
Oxford University Hospitals (Reino Unido) alerta que as hastes podem alterar a
mencionada autolimpeza e machucar o tímpano.
8. LAVAR OS PRATOS DAS CRIANÇAS NA LAVA-LOUÇAS ELIMINA BACTÉRIAS
NECESSÁRIAS
Na cozinha encontramos outro erro clássico. A lava-louças lava a
temperaturas de até 65 graus centígrados, impossíveis de suportar ao lavar à
mão, mas esse excesso de higiene pode não ser tão bom para os pequenos. Um
estudo sueco publicado na revista Pediatrics conclui que as crianças de
famílias que lavam à mão os pratos têm menos eczemas que os que usam a máquina
(23% a 38%) e apenas 1,7% das crianças onde os pratos são limpos à base de
bucha têm asma, um problema do qual padecem 7,3% das crianças de lares em que a
louça é lavada em máquina. A razão, segundo esses pesquisadores, é que a
lavagem à mão não é tão eficiente e deixa restos de micróbios que tornam mais
difícil desenvolver alergias. Fonte: El País - 17 JAN 2017
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