Esqueça
a Piña Colada, o Cosmopolitan, o Dry Martini, o Mojito e todas as outras
bebidas estrangeiras que estão em bares Brasil afora. Sem a mesma grife dos
coquetéis gringos ou o reconhecimento internacional da boa e velha caipirinha,
os drinks tipicamente brasileiros são saborosos, fáceis de fazer e, mais
importante, não afetarão seu bolso. De quebra, ao prová-los você ainda pode
descobrir um pouquinho mais sobre a identidade brasileira – ou ao menos a
identidade dos botecos brasileiros. Mas corra antes que o rabo de galo vire
artigo hipster e se transforme no Negroni da vez.
Seu
Zé, 73 anos, por exemplo. Atrás do balcão do Bar Estrela do Fernão Dias, em
Pinheiros, São Paulo, trabalha como bartender e garçom desde 1963. Antigo no
ramo, ele explica que coquetéis como "o rabo de galo, a maria-mole e o
bombeirinho são as bebidas mais típicas dos brasileiros" desde que ele
está no ramo etílico. Com o passar do tempo, porém, Zé notou algumas
diferenças: "Antigamente, eram quase sempre homens e mais velhos os que
pediam essas bebidas, que são mais fortes. Hoje em dia, tem muitos jovens que
vêm aqui e pedem esses drinks. Depois disso, vão direto para a balada."
Ali
pertinho do Seu Zé, também em Pinheiros, trabalha o Ubiratan, 29 anos, gerente
do Luar de Pinheiros. Ele, que está na região há 10 anos, explica que, "de
uns anos para cá, a procura por bebidas mais 'gringas' aumentou, e esses
drinks, que também são nossa cultura, tiveram uma queda nas vendas. É meio
chato porque é algo nosso (do povo brasileiro), né?". "Além de tudo,
as [bebidas] brasileiras são bem mais baratas, como o kariri com mel",
lamenta. Enquanto drinks de origem estrangeira tem um preço que varia entre 20
e 30 reais, a maria-mole, o rabo de galo e o bombeirinho têm o mesmo preço nos
bares de Zé e Ubiratan: seis reais. "Geralmente, essas bebidas têm preços
bem parecidos. Em outros estabelecimentos mais caros, vocês vai achar no máximo
por 15 reais. Não passa disso", conta o gerente.
Nas
cercanias do Luar de Pinheiros e do Bar Estrela, está o Cu do Padre. Colado
atrás da igreja do Largo da Batata – daí
o nome indecoroso do estabelecimento – é frequentado por uma clientela mais
abastada (há quem diga que, por isso, seja também mais propensa ao
hipsterismo). De qualquer jeito, o Inaldo Gomes dos Santos, "Fera",
50 anos de vida e 28 de barman, fala sobre suas impressões acerca das misturas
alcoólicas. "Isso (ser barman) é uma arte. Não é só fazer a bebida.
Envolve educação, gentileza e, principalmente, a criatividade", reflete.
Por quase três décadas, o experiente profissional passou por diversos estados,
e trabalhou em locais como o Hotel Panamericano, no Rio de Janeiro. Segundo o
Fera conta, "a procura por drinks de fora realmente aumentou, mas ainda
existe um público fiel a esses coquetéis brasileiros. É legal observar
isso."
Seu
Zé, Ubiratan e Fera comentam sobre quatro bebidas típicas brasileiras: rabo de
galo, maria-mole, bombeirinho e kariri com mel
RABO
DE GALO
- "Esse é bem forte. Lembra o Negroni.
Nele, vão a cachaça, primeiro, e o vermute, depois. Alguns usam Cynar no lugar
do vermute. No Rio de Janeiro e na Bahia, chamam essa bebida de Traçado. Não
vai se confundir se estiver por lá", alerta Seu Zé. Preço médio: cinco a
15 reais.
MARIA-MOLE
- "Esse também é forte, talvez o mais
forte deles. A mulherada pede muito aqui. É a mistura de conhaque e contini, e
fica bem gostoso. Dá para colocar gelo, mas o ideal é beber no estilo 'caubói'
(sem gelo)", comenta também o Zé. Preço médio: cinco a 15 reais.
BOMBEIRINHO
-
"Todo mundo pede o bombeirinho: os jovens, os mais velhos, as mulheres, os
rapazes... É forte e bem docinho, por isso que gostam. Basta misturar uma dose
de cachaça, uma dose de groselha e colocar gelo. É bem tradicional usar limão
espremido, mas é opcional", revela Fera. Preço médio: cinco a 15 reais
KARIRI
COM MEL
-
"Esse ganhou força nos últimos anos e é bem gostoso, mas é menos pedido
ainda. E também é simples de fazer: basta usar cachaça – geralmente usam o Kariri, por isso o nome
-, um pouco de limão espremido e mel. Esse aí é mais pedido pelos mais
jovens", explica Ubiratan. Preço médio: oito a 15 reais. Fonte: El
País - São Paulo 11 AGO 2017
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