Água
que passarinho não bebe, marvada, caninha, pinga são apenas alguns dos inúmeros
apelidos de uma das mais tradicionais bebidas brasileiras: a cachaça. No
Brasil, essa aguardente de cana de açúcar é servida muitas vezes em doses
puras, mas foi a caipirinha que deu a ela transcendência mundial e lugar cativo
na carta de bebidas de qualquer restaurante.
Hoje
o Brasil produz cerca de 800 milhões de litros por ano. São cerca de 12.000
produtores no país, mas existem estimativas de associações regionais que elevam
esse número para quase 15.000. No entanto, devidamente registrados no
Ministério de Agricultura e Receita Federal são menos de 2.000
estabelecimentos, com 4.000 marcas.
Um
das mais bem sucedidas é, sem dúvida, a Companhia Müller de Bebidas, dona da
conhecida Cachaça 51. Sediada na região de Pirassununga, no interior de São
Paulo, a companhia é hoje a maior produtora do segmento. Lidera as vendas no
Brasil e também reina no mercado internacional em países como Espanha, Portugal
e Itália, surfando no sucesso da caipirinha.
No
ano passado, as exportações da Cachaça 51 cresceram em volume 13,8%, quase o
dobro da média nacional das suas concorrentes brasileiras, segundo dados
divulgados pelo Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac):
■No mercado espanhol, por
exemplo, a marca representou mais de 40% de toda a cachaça brasileira consumida
pelos espanhóis.
■Em Portugal, metade da
cachaça vendida no país foi da marca.
■Na versão exportação, a
bebida tem graduação alcoólica de 40% vol (no Brasil é 39%), não é adoçada e é
100% destilaria própria. A companhia já exporta para mais de 50 países e os
planos são de continuar investindo em novos mercados.
No
Brasil o consumo também é grande. A cada hora são servidos 374.000 doses de
Cachaça 51 em algum ponto do país. A companhia possui uma rede de distribuição
que abastece mais de um milhão de pontos de vendas, como bares, restaurantes,
barracas de praia e padarias.
O
êxito da marca se deve em grande parte ao seu fundador Guilherme Müller Filho.
Brasileiro de origem alemã, ele fundou a empresa em 1959 e nunca tirou os olhos
do seu produto. Enquanto o sócio cuidava da área financeira, era ele quem, no
seu fiel caminhão Ford F8, transportava em tanques de madeira a cachaça
produzida para os consumidores e empresas. A fórmula deu certo e o negócio
prosperou. A origem do nome numérico "51" sempre foi alvo de lendas
entre os apreciadores da "marvada" deixando a marca mais atraente.
A
empresa que hoje é propriedade dos filhos de Müller, Luiz Augusto e Benedito -
que travam disputas na Justiça pela herança herdada –, espera conquistar um
marco inédito neste ano.
A
Cia Müller deve atingir a maior safra da sua história, já que estima processar
630.000 toneladas de cana de açúcar em seus canaviais. A super safra vai
permitir que a destilaria envase, pela primeira vez, 100% da cachaça com cana
totalmente própria. "Com isso, a Cia Müller mantém o controle de qualidade
em todas as etapas de produção da cachaça", explica Rodrigo Carvalho, diretor
comercial de marketing, que calcula um faturamento de 766 milhões de reais da
companhia em 2017. Com a autonomia, a expectativa também é que a média de
produção de 200.000 litros de cachaça por ano seja mantida.
A
conquista, no entanto, acontece em um momento no qual o mercado de cachaça vem
padecendo uma pequena queda no Brasil. "A crise econômica tem prejudicado
de forma generalizada todas as categorias. Nos últimos anos, o mercado de
cachaça sofreu um declínio de volume de 3,5% ao ano. Mas, ao mesmo tempo, se
observa um crescimento de consumo das chamadas cachaça premium, que são
produtos mais sofisticados com maior valor agregado", ressalta Carvalho.
Visando esse segmento em ascensão, a empresa desenvolveu, há oito anos, a linha
Reserva 51, envelhecida de quatro a cinco anos em barris de carvalho e
finalizada em barris de vinho.
HERANÇA
COLONIAL
Apesar
da sofisticação atual de algumas cachaças, a bebida sempre foi popular e
acessível. Criada há cerca de 500 anos, no início da colonização portuguesa, a
cachaça é a segunda bebida mais consumida no país tropical, ficando atrás
apenas da cerveja. São várias as versões existentes sobre a origem da bebida.
Uma delas é que ela foi descoberta, por acaso, pelos escravos que trabalhavam
na moagem da cana para produzir açúcar. Eles teriam deixado armazenar o caldo
que se formava durante a primeira fervedura da cana e resolveram experimentar o
líquido. Os escravos teriam sido os primeiros a se apaixonarem pela bebida que
agradou também aos portugueses que começaram a levar a aguardente para
Portugal. Fonte: El
País - São Paulo 21 AGO 2017
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