Gostaria de lançar um desafio aos milhares de trabalhadores
de diversas categorias em greve nesta sexta-feira (28) por todo o país. Você
sabe por que está em greve?
Respostas genéricas como "por justiça social" ou
"contra o governo golpista" serão desconsideradas. Para isso, existem
as manifestações de rua.
Embora as greves tenham inegável caráter político, até mesmo
as paralisações de 1978, que ajudaram a derrubar a ditadura militar, tratavam
inicialmente dos reajustes salariais dos trabalhadores.
Aqueles que fugirem das generalidades vão responder que
estão em greve contra as reformas da previdência e trabalhista. Daí cabe
aprofundar a pergunta: a quais pontos das reformas você é contra?
É preciso entrar no detalhe, porque não dá para negar que um
sistema previdenciário com um rombo de R$ 305 bilhões e uma lei trabalhista
criada 74 anos atrás precisam ser revistos.
A verdade é que as pessoas estão mal informadas sobre o que
vem ocorrendo no Congresso, apesar do esforço da imprensa. Isso porque os dois
principais atores desse processo —governo e sindicatos— colaboram para a
confusão.
Nos materiais de divulgação da greve geral, a CUT (Central
Única dos Trabalhadores) convoca os trabalhadores a "reagir agora ou
morrer trabalhando"—uma mentira já discutida nesse espaço.
A central diz ainda que o governo vai passar por cima da CLT
e tirar todos os direitos trabalhistas, o que também não é verdade, porque a
reforma não mexe no salário mínimo, no FGTS, no pagamento de férias remunerada
ou no décimo terceiro.
Já o presidente Michel Temer, na ansiedade de justificar sua
permanência no poder apesar das graves denúncias de corrupção contra seus
auxiliares, vai empurrando as reformas a toque de caixa do jeito que dá.
A reforma da Previdência mudou tanto que está difícil
acompanhar o que sobrou da proposta, enquanto a reforma trabalhista desperta
razoáveis suspeitas sobre o comprometimento do governo com o empresariado, que
apoiou abertamente o impeachment da ex-presidente Dilma.
Embora não mexa em direitos essenciais, a reforma
trabalhista trata de questões delicadas, com a flexibilização da jornada de
trabalho, o fim do imposto sindical e a preponderância do acordado sobre o
legislado.
Todas essas mudanças podem ser muito positivas para as
relações de trabalho e para a geração de empregos, mas, sem dúvida, deixam
margem para que prevaleça a posição dos patrões se os sindicatos forem frágeis.
Resumindo: as reformas trabalhista e da previdenciária são
muito complexas e importantes e o debate não deveria se resumir ao
"flá-flu" em que se transformou a política brasileira.
O direito à greve é garantido pela Constituição e
importantíssimo para democracia, mas também é fundamental saber o que se quer
alcançar. Por isso, repito a pergunta do início desse texto: você sabe por que
está em greve? Fonte: Folha de São Paulo - 28/04/2017
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