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domingo, 28 de maio de 2023

Seca na Espanha ameaça tornar azeite de oliva item de luxo

Oliveiras sofrem com falta de água e altas temperaturas, e colheita deste ano deverá ser pior que a anterior, que já foi ruim. Essencial na dieta mediterrânea, azeite custa hoje na Europa 50% mais que há um ano.

"Senhor, mandai-nos chuva!", clamavam as vozes de uma recente procissão liderada por Sebastián Chico, bispo da cidade de Jaén, capital da província de mesmo nome, no sul da Espanha. Apesar do reforço de muitos olivicultores da região que acabaram se juntando à caminhada religiosa, o pedido lançado aos céus ainda não foi atendido.

No próprio dia da procissão, o sol fustigava os olivais. Há meses não chove na província de Jaén. Se o tão esperado milagre da água não acontecer logo, há o risco de grandes quebras de safra pelo segundo ano consecutivo. Uma catástrofe para os agricultores que é sentida também pelos consumidores: os preços do azeite, já bastante elevados, devem subir ainda mais.

"Sem água, não tem azeitona. E sem azeitona, a província sofre", preconiza o bispo Chico. "Nossa economia depende da produção de azeitonas." Com cerca de 630 mil habitantes e 66 milhões de oliveiras, Jaén é considerada a mais importante área olivícola do mundo. Aqui é produzido o azeite destinado a grande parte da Europa.

Seca na Espanha: moradores de Perelada, norte do país, carregam uma imagem de Jesus Cristo durante uma procissão pedindo chuva, em 27 de abril de 2023.Seca na Espanha: moradores de

ÁGUA PARA PESSOAS E TURISTAS, MAS NÃO PARA PLANTAS

Os meteorologistas, no entanto, não trazem boas notícias para os agricultores. A escassez de água na Espanha, que ameaça não apenas os olivicultores de Jaén, mas também grande parte da agricultura espanhola, ainda deve continuar por muito tempo. Segundo a agência meteorológica estatal Aemet, não há previsão de chuvas fortes ​​até o outono europeu, que começa em setembro. E os pesquisadores do clima alertam: a longo prazo, a Espanha deve se preparar para temperaturas mais altas e ainda menos precipitações.

O drama vivido pelos moradores de Jaén se reflete nas barragens no interior do país. Agora, em plena primavera, os reservatórios estão apenas 25% cheios. Isso é suficiente para abastecer a população e os turistas com água potável, mas não os agricultores. Embora precisem desesperadamente da água para salvar seus campos de oliveiras, eles recebem apenas um quarto da quantidade normal.

OLIVEIRAS EM RISCO

"A situação é catastrófica", diz Juan Luis Ávila, olivicultor de Jaén. "Este ano não só a colheita está em perigo, mas o futuro das plantações de oliveiras como um todo."

Nas últimas semanas, várias ondas de calor, com temperaturas de quase 40 graus, literalmente queimaram as flores brancas de muitas oliveiras. Grande parte da safra de azeitona, normalmente colhida de novembro a fevereiro, já foi perdida, um panorama que nunca foi tão ruim.

"A oliveira é capaz, sim, de suportar temperaturas muito altas, mas apenas se receber água suficiente", explica Ávila, que também é porta-voz da indústria olivícola na associação de agricultores COAG. Quando há falta de água extrema, a árvore não tem forças para formar frutos saudáveis.

A última temporada já havia sido ruim. Escassez de chuvas e fortes ondas de calor também ocorreram em 2022, o ano mais quente já registrado na Espanha. "Colhi 70% menos do que nos anos anteriores", conta Ávila, prevendo que a próxima temporada irá trazer ainda menos produção.

OUTROS PAÍSES TAMBÉM SOFREM COM A SECA

O pessimismo de Ávila é compartilhado pela maioria dos olivicultores espanhóis. Com quase 1,5 milhão de toneladas de azeite oriundos da safra 2021/22, a Espanha viu sua produção cair para apenas 680 mil toneladas em 2022/23 – menos da metade. Se as previsões sombrias para 2023/24 se concretizarem, a próxima safra poderá registrar grandes perdas novamente.

Mas não é apenas na Espanha que esta seca do século vem causando danos gigantescos às colheitas. A situação não parece estar muito melhor para os olivicultores em Portugal ou na Itália, o que coloca pressão adicional sobre os preços do azeite no mercado europeu.

Segundo estatísticas da União Europeia, quase 2,3 milhões de toneladas de azeite foram produzidas na Europa em 2021/22, caindo para pouco menos de 1,4 milhão de toneladas em 2022/23. As quebras de safra no setor oleícola europeu só não foram maiores devido à Grécia, onde até agora houve menos falta de água. A Grécia foi o único país produtor europeu que conseguiu aumentar sua produção de azeite na última safra.

FALTA DE ÁGUA ELEVA PREÇOS DE ALIMENTOS

A seca nas plantações de azeitona tem feito com que os preços do óleo subam para níveis recordes: de acordo com uma pesquisa da UE, o azeite na Europa custa hoje em média 50% a mais do que doze meses atrás. O que significa que o azeite, parte indispensável da famosa dieta mediterrânea, corre risco de se tornar um item de luxo.

"O choque do custo do azeite é uma evidência de que a seca está causando o aumento dos preços dos alimentos", escreve o El País, o maior jornal da Espanha. De acordo com os últimos dados disponíveis (de março de 2023), os preços dos alimentos no país aumentaram 16,5% em doze meses – em toda a UE, o aumento foi de até 19,2%. A crise climática poderia desencadear uma crise alimentar?

MISTURA DE AZEITE COM ÓLEO DE GIRASSOL

Na tentativa de contornar a crise, alguns fabricantes espanhóis têm usado a criatividade. Uma das soluções encontradas foi misturar o precioso azeite de oliva com óleo de girassol, que é muito mais barato, e vender o novo "produto" a preços mais baixos. O fato de se tratar de uma mistura, camuflada por um rótulo de azeitonas verdes e brilhantes, só fica claro para quem se dá ao trabalho de ler as letras miúdas. Fonte: Deutsche Welle - 08/05/2023

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Maçã desenvolvida em SC receberá royalties na Europa

Uma nova espécie de maçã desenvolvida em Santa Catarina conquistou o direito de recolher royalties nos 23 países que compõem a União Europeia. A fruta, que recebeu o nome de Monalisa, foi elaborada por meio de melhoramento genético iniciado há 31 anos por técnicos da estatal catarinense Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural).
 “A fruta é doce, crocante, suculenta e tem uma bela aparência. Ela caiu no gosto dos europeus”, afirma Renato Luis Vieira, gerente da estação experimental da Epagri em Caçador, que projeta o início do recolhimento da verba dos direitos de venda para 2022.
 “Estamos colhendo os frutos de um trabalho iniciado há muito tempo. É demorado, mas, quando vem a valorização, não tem preço”, disse. O cruzamento de plantas que deu origem à Monalisa foi desenvolvido em um ensaio experimental na primavera de 1988.

A história começou com o pesquisador Anísio Pedro Camilo, que fez doutorado em um programa de hibridações nos Estados Unidos , segundo Frederico Denardi, engenheiro‑agrônomo aposentado da Epagri. O pesquisador fez o cruzamento de uma muda de maçã gala com uma outra muda desenvolvida para ser mais resistente. “A gala é a mais produzida no Brasil hoje, mas tem inconvenientes como a dificuldade de adaptação ao clima do Sul. Também é muito suscetível a doenças”, disse.

As sementes foram pré-germinadas em câmaras climáticas e depois monitoradas em estufas. Na sequência, as mudas foram submetidas ao contato com as principais pragas que atacam os pomares. As mudas que resistiram foram selecionadas para passar por uma nova bateria de testes. Depois de atestar a resistência, os melhoristas (que fazem o melhoramento genético) partiram para aperfeiçoar a qualidade da fruta. Foram feitos testes para medir a firmeza da polpa, o nível de acidez, o teor de açúcar, a coloração, o formato, o sabor e a capacidade de conservação, entre outros fatores.

A ROTINA DE AVALIAÇÕES SE ESTENDEU POR SETE ANOS.
Em 1995, os pesquisadores atestaram o ápice da qualidade buscada e escolheram uma muda para ser a versão final do experimento. Ela recebeu um código de identificação e foi multiplicada por meio de enxerto.
A previsão é de redução do custo de produção porque é uma variedade resistente a algumas doenças que atingem a planta. “O agricultor deixa de gastar com agrotóxicos. Ela também se adapta muito bem à produção orgânica e produz efeitos na segurança alimentar e ambiental”, disse.

Os bons resultados culminaram na decisão de lançar a nova fruta para o mercado. Mudas foram fornecidas para os viveiristas interessados. A partir de convênio firmado com a Mondial Fruit Selection, empresa francesa que representa a maçã no exterior, testes foram feitos na Europa para avaliar a adaptação da fruta ao clima e a aceitação entre os produtores.
Foi na fase do lançamento que Denardi batizou a maçã de Monalisa, em razão da “universalidade e por ser um nome bonito, atraente e fácil”.

Em abril, a empresa concluiu que a Monalisa tem alto potencial de comercialização na Europa. Para realizar o cultivo, a propriedade intelectual da criação foi reconhecida.
A empresa irá liberar as mudas para os produtores licenciados que já poderão realizar o plantio. O processo do cultivo até a floração e colheita deve levar três anos, o que significa que estará nos mercados europeus a partir de 2022.
Com o início da comercialização, a Epagri começará a receber os valores pela concessão dos direitos da fruta. No Brasil, um edital será lançado para selecionar produtores que atendam as condições de cultivo.  “Agora é preciso ver se o mercado consumidor aceita a fruta”, disse Vieira. Fonte: Folha de São Paulo - 18.mai.2019 

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Consumir transgênicos é seguro, afirmam cientistas

Um relatório da Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos divulgado nesta terça-feira (17/05) revela que não foram encontradas evidências de que o consumo de alimentos geneticamente modificados possa ser prejudicial à saúde ou ao meio ambiente.
Os pesquisadores avaliaram estudos realizados durante duas décadas sobre as plantações de organismos geneticamente modificados (OGMs). Eles pediram maior atenção das agências reguladoras ao produto final das novas variedades de plantas, ao invés da forma como elas são geneticamente produzidas ou cultivadas.
"Pesquisamos a fundo o material para possibilitar um novo olhar sobre os dados das plantações transgênicas e convencionais", afirmou o presidente do comitê de pesquisa, Fred Gould, que é codiretor do Centro para Engenharia Genética e Sociedade da Universidade da Carolina do Norte.
Gould disse que a vasta quantidade de dados e opiniões sobre o controverso tema "criou um panorama confuso", e assegurou que o relatório busca uma análise imparcial.
O comitê da Academia Nacional formado por mais de 50 cientistas examinou quase novecentas pesquisas e publicações sobre as características da engenharia genética no milho, soja e algodão – que representam a grande maioria da produção comercial de OMGs.
 
RISCOS À SAÚDE HUMANA
"Ao mesmo tempo em que reconhece as dificuldades inerentes de detectar efeitos sutis ou de longo prazo para saúde ou o meio ambiente, o comitê não encontrou evidências substanciais de uma diferença nos riscos à saúde humana entre as colheitas geneticamente modificadas e as convencionais, tampouco encontramos evidências conclusivas de causa e efeito de problemas ambientais provenientes das colheitas transgênicas", afirma o relatório.
No entanto, o relatório, de 408 páginas, alerta as agências reguladoras para que submetam as novas variedades de plantas a testes de segurança, "independentemente de terem sido desenvolvidas através da engenharia genética ou de técnicas convencionais".

DOENÇAS
Os pesquisadores não identificaram uma ligação entre as plantações geneticamente modificadas e doenças como câncer e diabetes e também não detectaram "associação entre doenças ou condições crônicas de saúde e o consumo de alimentos transgênicos".
Haveria ainda evidências de que as plantações desenvolvidas geneticamente para resistir a insetos teriam trazido benefícios à saúde humana, pelo fato de reduzirem as intoxicações por inseticidas.

RESISTÊNCIAS
Ao mesmo tempo, o desenvolvimento de resistência a algumas características dos OGMs – incluindo insetos e ervas daninhas – é um "grande problema agrícola", alertam os cientistas. Eles citam lugares onde ervas daninhas desenvolveram resistência ao glifosato – herbicida ao qual a maioria dos cultivos geneticamente modificados foi desenvolvida para ser resistente. Fonte: Deutsche Welle - Data 18.05.2016