A
procura no Google pelo desafio virtual e temas relacionados dispararam nas
últimas semanas chegando aos quase dois milhões de buscas no dia 18 de abril -
o dobro do volume de procura que teve o clássico Real Madrid e o Barcelona no
domingo, 23. Era o eco da mídia dando voz às primeiras mortes ou tentativas de
suicídio suspeitas de terem relação com o Baleia Azul, embora jovens como
Graziela já terem flertado com os desafios no ano passado.
A
forma como o jogo chegou até o Brasil e outros países latino-americanos, como o
México e a Colômbia, é tão incerta como sua origem. Os primeiros indícios da
existência do desafio foram identificados na Rússia, após o suicídio de vários
jovens que estariam participando de comunidades virtuais. A história, no
entanto, misturou-se com a lenda e foi cercada de exageros, rumores e falsas
notícias virais, que chegaram a elevar a 130 o número de adolescentes russos
mortos por causa do jogo, entre novembro de 2015 e abril de 2016. A cifra nunca
foi confirmada.
Tampouco
há um explicação oficial sobre a origem do nome, que poderia estar associada ao
hábito das baleias de encalharem nas praias em grupo. A chegada dos cetáceos à
areia ocorre geralmente por desorientação ou por terem seguido um líder doente,
mas costuma ser interpretada erroneamente como um suicídio coletivo dos
animais.
O
jogo estabelece 50 desafios por dia que culminam com o suicídio do
participante. Segundo as investigações abertas pela Delegacia de Repressão a
Crimes de Informática do Rio, é importante a figura do curador, protegido por
um perfil falso na rede social. Ele apadrinha, guia e fiscaliza o novo membro
durante o macabro jogo. Ainda, se demonstrada sua participação no jogo, o
curador pode responder por lesão corporal ou até por homicídio, segundo a
delegada do Rio Daniela Terra, que investiga o caso de Graziela e mais uma
menina que confessou ter entrado no desafio.
Entre
as provas propostas há metas como o uso de objetos cortantes para escrever
códigos, cortar os lábios ou desenhar uma baleia no antebraço usando uma gilete
como pincel. A vítima precisa enviar fotos ao curador, que provem a realização
dos objetivos. No caso das meninas, ainda são pedidos registros delas em suas
roupas íntimas mostrando as lesões. O curador pede ainda que o participante
acorde de madrugada para ouvir músicas psicodélicas, que assista a filmes de
terror selecionados por ele durante 24 horas, ou que fique nas margens de
pontes e telhados. Será ele, ainda, quem marcará a data e a forma com a qual a
vítima terminará com sua vida, às vezes se atirando de algum lugar, outras
ingerindo quantidades absurdas de remédios.
Os
desafios, em teoria, são obrigatórios –"Você tem certeza? Depois que
entrar não tem mais volta", ameaçam –, mas há quem tente sair. Graziela se
arrependeu de ter entrado no jogo algumas vezes, mas recebeu uma ameaça de um
dos curadores do grupo: "Eu sei como fazer você voltar a jogar, e as
pessoas a sua volta é que vão sofrer".
Os
curadores fazem crer que sabem tudo sobre seus apadrinhados e sua família após
terem se infiltrado nos seus computadores, uma ameaça duvidosa, mas que
funciona. A própria Graziela disse na delegacia que continuou no jogo "por
medo de represália contra seus familiares". "O que o mito da Baleia
Azul reflete, realmente, não é uma tendência de suicídio entre os adolescentes,
mas o medo de que a própria Internet possa nos espionar e nos controlar, como
um Estado autoritário. Esse medo tem sido representado recentemente -
particularmente em um episódio amplamente elogiado do seriado de ficção
científica Black Mirror [no qual os protagonistas são ameaçados por hackers de
revelarem seus segredos] ", refletia o escritor Russell Smith na sua
coluna sobre o tema no jornal canadense The Globe and Mail.
*Os
nomes da adolescente e da mãe dela foram trocados para respeitar sua
privacidade
Fonte: El
Pais - São Paulo / Rio de Janeiro 1 MAI 2017
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