Começa
em Anápolis a história do Império JBS. A sigla reúne as iniciais do seu
fundador, José Batista Sobrinho, mineiro cuja família mudou-se nos anos 1940
para a cidade, a 55 km de Goiânia e hoje com 370 mil habitantes. Ali, seu Zé
Mineiro, como ficaria conhecido, abriu em 1953 seu primeiro açougue, a Casa de
Carnes Mineira.
Em
Anápolis nasceu o primogênito de seus seis filhos com Flora Mendonça, José
Batista Júnior, que mais tarde viria a ser conhecido como Júnior Friboi. As
filhas mulheres se chamam Valére, Vanessa e Vivianne.
Atraído
por isenções fiscais dadas por Juscelino Kubitschek aos pioneiros de Brasília,
em 1957 Zé Mineiro passou a vender carne nos canteiros de obras da futura
capital. "Não tinha condição de montar abatedouro, então eu abatia [o
gado] no cerrado, no mato", contou o fundador numa entrevista em 2012.
Hoje ele tem 84 anos e, como a maioria dos filhos, vive em São Paulo -ou vivia,
até a delação da JBS levar os Batistas a fecharem-se em copas.
Em
1969, a família mudou-se para outra cidade goiana, Formosa, onde nasceram
Wesley (1971) e Joesley (1972) e onde em 1970 montou seu primeiro frigorífico,
que viria a se chamar Friboi.
Em
Formosa, município de 115 mil habitantes a 75 km de Brasília que hoje acolhe a
soja, ainda vivem vários Batistas –tias, primos e primas de Wesley e Joesley– e
amigos da família. Lá, portanto, é possível encontrar chaves para se entender a
ascensão do império JBS.
Um
dos raros parentes que se dispuseram a dar entrevista foi o dentista Wilson
Marques, primo em primeiro grau de Wesley e Joesley (a mãe dele é irmã de Zé
Mineiro).
"O
que temos para falar é que é um povo honesto e trabalhador, que mal dorme de
tanto trabalhar, e que está nessa situação", afirmou Wilson, vestido de
branco na recepção de seu consultório no centro de Formosa.
Wilson
contou ter convivido mais com o primogênito dos Batistas que com os outros
irmãos. "Não tem quem goste mais do Júnior do que eu. O cara é 'pedra 90'.
É bom, direito e justo." O tio Zé Mineiro, que volta à cidade para
aniversários ou enterros de parentes, "deve ser o cara mais indignado com
isso tudo".
E
Joesley e Wesley? "Com esses eu não convivi muito."
O
jeito seco de tratar os dois primos não impede Wilson de defender a atitude
deles. "Para fazer o que fizeram, devem ter sofrido pressão muito forte,
só não sei de quem. Tinham de deixá-los trabalhar, ganhar dinheiro e botar o
país para a frente."
É
uma postura semelhante à do comerciante João Neto, 58, que conviveu com os
Batistas e constrói um pequeno posto de gasolina num prédio vizinho ao primeiro
escritório da Friboi em Formosa, por sua vez colado à primeira casa da família
na cidade.
"Pergunte
na cidade se seu Zé Mineiro já deixou de pagar algum gado, se já deu tombo em
alguém. Em ninguém."
João
descreve a infância dos irmãos Batista como dura. "Não tiveram regalia de
criança, jogar bola, tomar banho de poço –só trabalhavam." Nenhum filho
concluiu o 2º grau (hoje ensino médio.
Funcionário
da Friboi por 25 anos, de 1971 a 1996, Vigilato Francisco Neto, 63, começou na
empresa como office boy e chegou a gerente. Tornou-se amigo da família.
Hoje
dono de um açougue de Formosa, ele enriquece a narrativa sobre a formação dos
filhos de Zé Mineiro. "Com 13 anos, Júnior já comprava gado em Arinos (MG)
e levava em comitiva até Posse [Goiás, onde os Batistas até hoje têm fazenda].
Com 14, já dirigia caminhão gaiola."
E
distingue os talentos dos três irmãos: "Júnior é o comerciante; Wesley, o
do frigorífico, da parte industrial; Joesley, o da parte econômica -é um crânio
nas finanças".
Júnior
presidiu a Friboi até 2005 e a tornou a maior empresa frigorífica do país. Saiu
para tocar seus próprios negócios.
Em
2007, já tocada por Wesley e Joesley, a Friboi mudou o nome para JBS. Sob o
comando dos dois irmãos, o grupo passou a receber os bilhões do BNDES –via
empréstimos e participação acionária– que lhe permitiram comprar empresas aqui
e alhures e se tornar o maior produtor de carne do mundo.
O
ex-funcionário Vigilato guiou a reportagem nas ruínas do primeiro frigorífico
da Friboi, vendido pelos Batistas nos anos 80 e desativado pouco antes dos 90.
"Seu
Zé é fantástico como patrão, como pai, como amigo. E todos os filhos puxaram a
ele", diz o ex-funcionário. E a corrupção de que participaram?
"Normal. Porque no Brasil só funciona assim. Existe outra forma de você
crescer no Brasil?", questiona. Fonte: Folha de São Paulo - 28/05/2017
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