O nível de corrupção de uma
sociedade influência a honestidade de seus cidadãos, concluiu um estudo
publicado pela revista científica Nature na quinta-feira (10/03). Os
pesquisadores afirmam que, quanto mais propenso for o ambiente para violação
das normas, menos honestos tendem a ser os indivíduos.
Os pesquisadores Simon Gäechter,
da Universidade de Nottingham, e Jonathan Schulz, da Universidade Yale,
analisaram como a violação de normas no contexto social, como no caso da
corrupção, evasão fiscal ou fraude política, pode influenciar a honestidade
intrínseca do indivíduo.
"Pessoas que vivem em
sociedades mais corruptas têm mais probabilidades de ser desonestas que as que
habitam em sociedades onde se desaprova a violação das normas", diz o
estudo.
Para mostrar essa relação, os
pesquisadores elaboraram uma lista de 159 países e classificaram a saúde de
suas instituições com bases nas categorias corrupção, evasão fiscal e fraude
política, a partir de dados de 2003.
Em seguida, realizaram uma
experiência com 2.568 jovens de 23 países, como China, Alemanha e Colômbia. No
experimento, eles tiveram a possibilidade de mentir em benefício próprio sem
que ninguém soubesse disso.
Os voluntários, cada um em uma
cabine, tinham que jogar um dado duas vezes e dizer qual o primeiro número que
havia saído. Eles recebiam mais dinheiro quanto maior o número (a exceção era o
"seis", pelo qual não ganhavam nada).
Se todos fossem honestos, todos
os números teriam a mesma probabilidade de sair. Se não o fossem, os
pesquisadores poderiam descobrir ao calcularem a distorção.
"Não podemos dizer, a nível
individual, se os voluntários foram ou não honestos, mas, num determinado grupo
de pessoas, podemos tirar conclusões por meio das leis da estatística",
explicou Gäechter, professor de Psicologia da Tomada de Decisões.
Percepção do que é aceitável: O
experimento mostrou que cidadãos de países com níveis de corrupção mais elevado
tendiam a dizer que tinham tirado número mais altos, recebendo assim mais
dinheiro, ou seja, eram mais desonestos do que os de sociedades menos
corruptas.
"As pessoas limitam o seu
nível de honestidade de acordo com o que é percebido como aceitável na
sociedade ao seu redor", diz Gäechter.
Os pesquisadores constataram
também que em todo o mundo as pessoas tendem a tirar um pouco de vantagem a seu
favor. O experimento revelou que muitos, em vez de dizer o primeiro número,
diziam o maior número das duas jogadas.
Segundo Gäechter, o estudo confirma a teoria psicológica de que
indivíduos que vivem numa sociedade onde todas as regras são quebradas, mais propensos de pensar que está tudo bem
ser um pouco desonesto.
Os pesquisadores garantem ainda
que as instituições frágeis, que permitem a corrupção e outras violações, não
só têm efeitos econômicos negativos para as sociedades, mas também na
honestidade intrínseca dos cidadãos. Fonte: Deutsche Welle - 10.03.2016
Comentário:
Corrupção é sinal de Estado
fraco, má governança, políticas públicas mal feitas e uma elite política e
econômica mal selecionada. Reformas institucionais, políticas e econômicas são
necessárias para garantir um aumento sustentável da integridade da esfera
pública. Mas uma mudança tão radical precisa de um apoio social que dure, que
não seja incentivado por um entusiasmo efêmero como uma ação "heroica"
de algum juiz. Alberto Vannucci, professor da Universidade de Pisa, um dos
maiores estudiosos da Operação "Mãos Limpas" na Itália
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