Entre 13 e 15 de fevereiro de 1945, ataques aliados mataram
25 mil pessoas e destruíram a cidade à beira do rio Elba. Violência da operação
é até hoje motivo de discussões.
Durante décadas, o número de mortos nos bombardeios de
Dresden nas vésperas do fim da Segunda Guerra Mundial, entre
13 e 15 de fevereiro de 1945, foi motivo de intensas especulações. Alguns
estimavam o número em 70 mil, enquanto os mais realistas asseguravam que ele
não passava de 35 mil.
Em 2004, uma comissão interdisciplinar foi criada pelo
governo da cidade para acabar com a discussão. Em 2010, ela entregou seu
relatório, chegando à conclusão que os ataques tiraram a vida de 25 mil
pessoas.
Em 13 de fevereiro de 1945, 245 quadrimotores Avro Lancaster
da quinta frota de bombardeiros britânicos decolaram em direção à cidade à
beira do rio Elba, que contava então 630 mil habitantes e abrigava um número
estimado de centenas de milhares de refugiados.
Estratégica e economicamente, Dresden era irrelevante para o
desenrolar da guerra, cujo desfecho já era previsível no início de 1945.
DESTRUIÇÃO EM 23 MINUTOS
Às 21h39, as sirenes antiaéreas soaram na cidade. Cerca de 3
mil bombas explosivas de alta capacidade e 650 mil bombas incendiárias choveram
sobre a "Florença do Elba", como Dresden era conhecida por sua beleza
arquitetônica e por seus tesouros culturais. Tudo isso em apenas 23 minutos.
O centro da cidade virou um mar de chamas. O brilho era tão
intenso que pilotos britânicos relataram que, já a 320 quilômetros de distância
e 6.700 metros de altitude, era possível ver Dresden em chamas. O calor atingiu
temperaturas tão altas que era capaz de derreter vidro nos porões. Duas ondas
de ataques britânicos e uma subsequente de bombardeiros dos EUA arrasaram cerca
de 15 quilômetros quadrados da cidade.
O comandante da operação de destruição de Dresden, da qual
participaram centenas de pilotos britânicos e americanos, era Arthur Harris,
comandante-em-chefe da Royal Air Force (RAF) e o homem do primeiro-ministro
Winston Churchill para o bombardeio da Alemanha nazista, um instrumento de
guerra visando desmoralizar o inimigo.
ARTHUR "THE BUTCHER" HARRIS
"Sem hobbies, nunca leu um livro, não gostava de
música, vivia para o seu trabalho." Essa foi uma das mais curtas
definições do militar Harris, até hoje uma figura polêmica.
Harris era o antibritânico. A cortesia tão peculiar a seus
compatriotas era coisa estranha para ele, uma pessoa rude e propensa a ofensas.
Muitos o chamavam simplesmente "The Butcher", o açougueiro.
No período entre as duas grandes guerras, Harris descobriu
sua paixão pelo combate aéreo. Foi comandante de esquadrão da RAF no Paquistão e
no Iraque, onde voava, ele mesmo, frequentemente. Tinha preferência pelo
emprego de bombas incendiárias contra os curdos e árabes, pondo em chamas suas
casas cobertas de palha. Ele adorava o efeito da guerra quando visto do alto.
Assim como muitos oficiais das forças aéreas, também fora do
Reino Unido, Harris acreditava na superioridade militar dos bombardeios. Já em
1943, prometeu levar a Alemanha à capitulação somente a partir do ar, sem o uso
de tropas terrestres. Um ano depois, em 1944, Harris afirmava que 45 das 60
maiores cidades alemãs estavam destruídas, incluindo Colônia e Hamburgo. Era
hora de dar cabo do restante, reivindicava. Isso incluia Dresden.
COOPERAÇÃO COM OS SOVIÉTICOS
Alguns historiadores veem o bombardeio de Dresden como parte
de uma crescente cooperação militar entre as potências ocidentais e a União
Soviética, nos estágios finais da Segunda Guerra. Desde o final de 1944, a
ofensiva aliada contra a Alemanha ia a passos lentos na frente ocidental,
enquanto o Exército Vermelho avançava rapidamente no leste. Diante disso,
Churchill, pouco antes da Conferência de Yalta, determinou que fosse verificado
se "Berlim e outras grandes cidades do leste da Alemanha não deveriam ser
consideradas objetivos que valessem particularmente a pena".
Tudo isso para impressionar Moscou. Stalin estava
desconfiado. Durante anos, ele havia exigido das potências ocidentais a
abertura de uma segunda frente. Outra teoria diz que, como os soviéticos já
haviam garantido o leste da Alemanha para si, mesmo antes da Conferência de
Yalta, britânicos e americanos extravasaram sua ânsia de destruição sobre
Dresden e outras cidades da região.
Mas, teorias à parte, Dresden estava nos planos de Harris. E
houve avisos bem antes do 13 de fevereiro. Notícias divulgadas pelas rádios dos
aliados e jornais afirmavam que cada cidade alemã poderia se tornar um alvo da
linha de frente. Além disso, Dresden era ponto de junção de estradas e linhas
ferroviárias, tanto no eixo leste-oeste como norte-sul. E Dresden era
considerada, pelos aliados, um possível refúgio de Hitler e dos nazistas no
caso de Berlim e Leipzig serem desligadas como linhas de abastecimento.
Dresden estava, portanto, no foco, e Churchill era mais do
que alguém que apenas tolerava o impiedoso modo de bombardeiro de seu
estrategista de aviação Harris. Pouco antes de morrer, este chegou a dizer que
a destruição de Dresden "foi considerada na época uma necessidade militar
por pessoas que eram muito mais importantes do que eu".
O Exército Vermelho, comandado pelo marechal Jukov, estava
em fevereiro de 1945 a apenas 80 quilômetros a leste de Dresden, quando
bombardeiros britânicos e americanos quiseram dar aos soviéticos um sinal de
cooperação contra a Alemanha de Hitler.
"Uma barbárie como essa jamais seria feita pelo
Exército soviético", disse mais tarde Jukov. E, mesmo na Inglaterra, o
bombardeio de Dresden ainda é questão controversa. Em 1992, quando "Bomber
Harris" ganhou uma estátua de bronze de 2,70 metros no centro de Londres,
a rainha o chamou de "líder inspirador", enquanto centenas de
manifestantes gritavam "genocida, genocida". Fonte: Deutsche Welle - Data 13.02.2015
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