segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Bombardeio de Dresden

Entre 13 e 15 de fevereiro de 1945, ataques aliados mataram 25 mil pessoas e destruíram a cidade à beira do rio Elba. Violência da operação é até hoje motivo de discussões.

Durante décadas, o número de mortos nos bombardeios de Dresden nas vésperas do fim da Segunda Guerra Mundial, entre 13 e 15 de fevereiro de 1945, foi motivo de intensas especulações. Alguns estimavam o número em 70 mil, enquanto os mais realistas asseguravam que ele não passava de 35 mil.

Em 2004, uma comissão interdisciplinar foi criada pelo governo da cidade para acabar com a discussão. Em 2010, ela entregou seu relatório, chegando à conclusão que os ataques tiraram a vida de 25 mil pessoas.

Em 13 de fevereiro de 1945, 245 quadrimotores Avro Lancaster da quinta frota de bombardeiros britânicos decolaram em direção à cidade à beira do rio Elba, que contava então 630 mil habitantes e abrigava um número estimado de centenas de milhares de refugiados.

Estratégica e economicamente, Dresden era irrelevante para o desenrolar da guerra, cujo desfecho já era previsível no início de 1945.

DESTRUIÇÃO EM 23 MINUTOS
Às 21h39, as sirenes antiaéreas soaram na cidade. Cerca de 3 mil bombas explosivas de alta capacidade e 650 mil bombas incendiárias choveram sobre a "Florença do Elba", como Dresden era conhecida por sua beleza arquitetônica e por seus tesouros culturais. Tudo isso em apenas 23 minutos.

O centro da cidade virou um mar de chamas. O brilho era tão intenso que pilotos britânicos relataram que, já a 320 quilômetros de distância e 6.700 metros de altitude, era possível ver Dresden em chamas. O calor atingiu temperaturas tão altas que era capaz de derreter vidro nos porões. Duas ondas de ataques britânicos e uma subsequente de bombardeiros dos EUA arrasaram cerca de 15 quilômetros quadrados da cidade.

O comandante da operação de destruição de Dresden, da qual participaram centenas de pilotos britânicos e americanos, era Arthur Harris, comandante-em-chefe da Royal Air Force (RAF) e o homem do primeiro-ministro Winston Churchill para o bombardeio da Alemanha nazista, um instrumento de guerra visando desmoralizar o inimigo.

ARTHUR "THE BUTCHER" HARRIS
"Sem hobbies, nunca leu um livro, não gostava de música, vivia para o seu trabalho." Essa foi uma das mais curtas definições do militar Harris, até hoje uma figura polêmica.

Harris era o antibritânico. A cortesia tão peculiar a seus compatriotas era coisa estranha para ele, uma pessoa rude e propensa a ofensas. Muitos o chamavam simplesmente "The Butcher", o açougueiro.

No período entre as duas grandes guerras, Harris descobriu sua paixão pelo combate aéreo. Foi comandante de esquadrão da RAF no Paquistão e no Iraque, onde voava, ele mesmo, frequentemente. Tinha preferência pelo emprego de bombas incendiárias contra os curdos e árabes, pondo em chamas suas casas cobertas de palha. Ele adorava o efeito da guerra quando visto do alto.

Assim como muitos oficiais das forças aéreas, também fora do Reino Unido, Harris acreditava na superioridade militar dos bombardeios. Já em 1943, prometeu levar a Alemanha à capitulação somente a partir do ar, sem o uso de tropas terrestres. Um ano depois, em 1944, Harris afirmava que 45 das 60 maiores cidades alemãs estavam destruídas, incluindo Colônia e Hamburgo. Era hora de dar cabo do restante, reivindicava. Isso incluia Dresden.

COOPERAÇÃO COM OS SOVIÉTICOS
Alguns historiadores veem o bombardeio de Dresden como parte de uma crescente cooperação militar entre as potências ocidentais e a União Soviética, nos estágios finais da Segunda Guerra. Desde o final de 1944, a ofensiva aliada contra a Alemanha ia a passos lentos na frente ocidental, enquanto o Exército Vermelho avançava rapidamente no leste. Diante disso, Churchill, pouco antes da Conferência de Yalta, determinou que fosse verificado se "Berlim e outras grandes cidades do leste da Alemanha não deveriam ser consideradas objetivos que valessem particularmente a pena".

Tudo isso para impressionar Moscou. Stalin estava desconfiado. Durante anos, ele havia exigido das potências ocidentais a abertura de uma segunda frente. Outra teoria diz que, como os soviéticos já haviam garantido o leste da Alemanha para si, mesmo antes da Conferência de Yalta, britânicos e americanos extravasaram sua ânsia de destruição sobre Dresden e outras cidades da região.

Mas, teorias à parte, Dresden estava nos planos de Harris. E houve avisos bem antes do 13 de fevereiro. Notícias divulgadas pelas rádios dos aliados e jornais afirmavam que cada cidade alemã poderia se tornar um alvo da linha de frente. Além disso, Dresden era ponto de junção de estradas e linhas ferroviárias, tanto no eixo leste-oeste como norte-sul. E Dresden era considerada, pelos aliados, um possível refúgio de Hitler e dos nazistas no caso de Berlim e Leipzig serem desligadas como linhas de abastecimento.

Dresden estava, portanto, no foco, e Churchill era mais do que alguém que apenas tolerava o impiedoso modo de bombardeiro de seu estrategista de aviação Harris. Pouco antes de morrer, este chegou a dizer que a destruição de Dresden "foi considerada na época uma necessidade militar por pessoas que eram muito mais importantes do que eu".

O Exército Vermelho, comandado pelo marechal Jukov, estava em fevereiro de 1945 a apenas 80 quilômetros a leste de Dresden, quando bombardeiros britânicos e americanos quiseram dar aos soviéticos um sinal de cooperação contra a Alemanha de Hitler.

"Uma barbárie como essa jamais seria feita pelo Exército soviético", disse mais tarde Jukov. E, mesmo na Inglaterra, o bombardeio de Dresden ainda é questão controversa. Em 1992, quando "Bomber Harris" ganhou uma estátua de bronze de 2,70 metros no centro de Londres, a rainha o chamou de "líder inspirador", enquanto centenas de manifestantes gritavam "genocida, genocida". Fonte: Deutsche Welle - Data 13.02.2015

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