Geofísico americano teve dificuldades para alertar Chile e países
vizinhos sobre terremoto
“O governo demorou muito
para reagir. Quando se produz uma crise, o tempo de resposta é muito importante
e, neste caso, foi demasiadamente longo. Não sei se por falta de informação ou
por erro de análise, mas o certo é que, a princípio, tentaram nos fazer
acreditar que nada tinha acontecido” assegura Antonio Cobelo, vice-reitor de
ordenação acadêmica da Universidade Antonio de Nebrija e doutor em Ciências da
Informação. Afundamento do petroleiro “Prestige” na Espanha
Victor Sardiña e a tsunami disputaram corrida no sábado:
enquanto as ondas corriam o Pacífico do Chile ao Japão, o geofísico alertava
todos os países do caminho. O cientista do Instituto de Estudos Oceânicos e
Atmosféricos dos EUA estranhou a dificuldade para se comunicar com várias
nações, inclusive o Chile. O americano, que falou ao GLOBO de Honolulu, no
Havaí, garante: apesar dos prejuízos provocados pelo mar, o estrago poderia ser
muito maior.
O terremoto no Chile foi às 3h34m. A que horas o senhor entrou em
contato com a Marinha local?
VICTOR SARDIÑA: Mandamos o primeiro alerta sobre o terremoto 11
minutos depois. É necessário um certo tempo para que o sismo seja detectado por
uma das quatro estações que temos na costa chilena, assim como para determinar
a localização do epicentro. Ficamos espantados com a magnitude do terremoto - a
primeira medida que tivemos era de 8,5 graus na escala Richter. Como o
potencial para que uma tsunami fosse gerada era muito grande, tentamos
imediatamente falar também com o Peru, que poderia ser atingido pelas ondas
entre três e seis horas depois.
Como foi o contato com estes países?
SARDIÑA: Houve problemas de comunicação. Um colega meu, que também
estava de plantão, tentou falar com a Marinha chilena, mas não conseguiam
entendê-lo. Como falo espanhol, peguei o telefone para perguntar se eles
receberam o alerta que havíamos mandado sobre a tsunami. Repeti esta mensagem
umas duas ou três vezes, porque a ligação era transferida. Pedi enfaticamente
para me avisarem caso tivessem qualquer confirmação de tsunami, o que eles
fizeram algum tempo depois.
E com o Peru?
SARDIÑA: Certamente eles receberam nossa mensagem, mas ninguém
atendeu as ligações. Talvez por ainda ser muito cedo, não conseguimos contato
telefônico com muitos países das Américas do Sul e Central. Mas todos receberam
o alerta.
Houve demora do Chile para confirmar a tsunami?
SARDIÑA: A verdade é que, em determinadas regiões, a população
teria um tempo mínimo para reagir. Talcahuano (um dos principais portos do
Chile, a 20 quilômetros de Concepción) foi atingida por uma
onda de 2,3 metros às 6h53m. Na prática, a população
teria apenas cinco minutos para se proteger. Já a Ilha de Juan Fernández teria
mais tempo para tomar providências. Não sei se a Marinha chilena pensou que as
primeiras ondas não fossem uma tsunami. Foi um comportamento incomum, porque
trata-se de um país com grande histórico de atividades sísmicas e que tem
ótimos profissionais.
Este foi o sexto maior terremoto já registrado. O senhor esperava
que viesse acompanhado de ondas maiores?
SARDIÑA: Se pensarmos na magnitude do terremoto e em sua
proximidade da costa, não seria absurdo ter uma onda de dez metros. Mas não
podemos nos prender à ideia de que, para haver destruição, é preciso ter ondas
gigantes como as vistas nas tsunamis de 2004. Talcahuano foi devastada com
ondas de menos de 2,5 metros. E a
massa d'água movida pelo sismo chegou, menos de 22 horas depois, ao Japão. É,
portanto, uma força considerável.
Japão e Havaí prepararam-se bastante para as ondas, mas a tsunami
mal foi vista em seus litorais...
SARDIÑA: No Havaí, as ondas tiveram um metro de altura. No Japão,
um pouco menos. É o suficiente para provocar prejuízos nos portos e nas zonas
costeiras. Ainda é muito difícil estimar o tamanho que terão as ondas, mas nosso
trabalho é alertar para qualquer evento com potencial para causar um estrago.
Que lição o Chile pode tirar deste terremoto?
SARDIÑA: Talvez o centro de monitoramento possa rever alguns
procedimentos para nos responder mais rapidamente. O importante é que tivemos
sorte: a tsunami poderia ser muito maior.
Fonte:Globo Online - 02/03/2010
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