Cidade tem menos de uma
biblioteca para cada 100 mil habitantes. Cidade do México tem 3,1, e Buenos
Aires, 2,7. Frequência em bibliotecas é baixa, e retirada de livros, mais baixa
ainda. Para especialista, família, escola e bibliotecas formam tripé para
melhorar hábito de leitura.Nos últimos anos, São Paulo
ganhou 12 bibliotecas, chegando a um total de 106 unidades abertas a todo tipo
de público, mas a maior e mais populosa cidade da América Latina tem menos de
uma biblioteca por 100 mil habitantes _ 0,86.
A taxa em São Paulo é menor
do que a das outras cidades mais populosas do continente, como Cidade do
México, que tem 3,1 bibliotecas para cada 100 mil habitantes, e Buenos Aires,
com taxa de 2,7.
O levantamento foi feito pelo
g1 com dados da Secretaria da Cultura da Cidade de São Paulo, do World Cities
Cultures Forum e do Sistema de Información Cultural, do México.
FECHAMENTOS E POUCOS LEITORES
Além de ter uma taxa baixa
para a população, algumas bibliotecas não estão funcionando. No caso das
municipais, 47 das 54 estão abertas.
Mesmo nas que estão com
portas abertas, o número de frequentadores está diminuindo.
No primeiro bimestre de 2023,
120.365 pessoas visitaram as bibliotecas municipais, um número menor, se
comparado aos mesmos períodos dos anos anteriores à pandemia de Covid-19,
quando registraram uma média bimestral de 227,7 mil pessoas em 2019 e de 200,6
mil pessoas em 2018.
Em 2019, a quantidade de
visitas anual foi de 1.366.036 milhão de pessoas (53 bibliotecas), e, em 2018,
1.203.581 milhão (54 bibliotecas).
Em 2021, com a capital
voltando a funcionar presencialmente aos poucos, 49 bibliotecas voltaram a
abrir, mas a frequência no ano foi de apenas 588.126 pessoas. Cerca de 700 mil
visitas a menos do que em 2019, antes da crise sanitária.
QUANTIDADE DE LIVROS
São Paulo também carece de
livros. Segundo dados da Rede Nossa São Paulo, a média é de 0,21 livro por
habitante, sendo que 61 distritos estão abaixo dessa média.
Apenas os distritos de
República, Liberdade, Pari e Santo Amaro têm mais de um livro por habitante.
Segundo dados do Instituto
Pró-Livro (IPL), apenas 17% dos paulistanos afirmam frequentar bibliotecas,
sendo que cerca de 40% disseram ter bibliotecas próximas de casa.
Para Zoara Failla,
coordenadora do Instituto Pró-Livro, existem alguns motivos que causam a
situação atual:
·
dificuldade de
acesso às bibliotecas;
·
bibliotecas que
estejam abertas;
·
que tenham um
modelo mais acolhedor para o leitor;
·
a própria
"formação do leitor" desde a infância.
O problema é agravado
quando a análise mostra que a frequência nas bibliotecas não traduz o hábito de
leitura.
LEITORES E INTERNET
Na Biblioteca Mário de
Andrade, a maior do estado e que está localizada no Centro de São Paulo, por
exemplo, a frequência de visitas em 2023 é de cerca de 12 mil pessoas por mês,
enquanto os empréstimos de livros mensais são 2,9 mil.
O g1 visitou a biblioteca e
conversou com algumas pessoas que estavam no local. A maioria diz que utiliza a
biblioteca por causa do ambiente silencioso e pelo wi-fi gratuito.
SOLUÇÃO PARA MAIS LEITORES
Segundo Zoara, coordenadora
do IPL, o crescimento do número de leitores está baseado em três pilares:
·
ações das
famílias;
·
das escolas;
·
das bibliotecas,
VEJA O QUE ELA DIZ SOBRE
ESSES PILARES
FAMÍLIA
Ao “compararmos os leitores
com os não leitores, percebemos que, quando a gente pergunta para os leitores
quem foi que despertou seu interesse, a família aparece em primeiro lugar,
considerando mãe e pai. A gente verificou que têm mais leitores entre aqueles
que ganhavam livros de presente. Mas que família é essa? Uma família leitora,
que tem livros em casa, que leva seus filhos à livraria e, infelizmente, a
gente tem aí 20% das famílias brasileiras com esse perfil. E os outros?”
ESCOLA
"Se o interesse não
despertar na família, ele deveria acontecer na escola. Infelizmente, as escolas
não estão despertando esse interesse nessa garotada. Então, quando você tem
atividade de leitura dentro de uma sala de aula, ela vira uma tarefa. Acho que
dentro de uma sala de aula já deveria ter esse despertar da curiosidade de você
ir atrás de um livro, ensinar como se encontra o livro do teu interesse. Essas
experiências, essas práticas, são poucas escolas que desenvolvem".
Segundo a pesquisa mais
recente do Instituto Pró-Livro, ao comparar a aprendizagem entre escolas que
têm e que não têm bibliotecas, os alunos que têm essa opção estão 1,5 ano à
frente na aprendizagem dos que não têm. Zoara afirma que as bibliotecas também
deveriam promover ações que chamem a comunidade do seu entorno.
BIBLIOTECAS
“A gente precisa pensar em um
modelo de biblioteca que acolhe, voltado para a comunidade e voltar para a
formação leitora, para o despertar o interesse à leitura. Eu acho importante
que a biblioteca se preocupe com essa formação dessa garotada. É importante
criar um espaço lúdico para a garotada dentro das bibliotecas, como a gente vê
nessas grandes livrarias, porque as crianças ficam fascinadas com essa
experiência de folhear um livro, de descobrir um livro, e isso fica na memória
afetiva dela." Fonte: g1 SP — São
Paulo - 23/04/2023