Imagine 30 milhões de palavras em três anos. Dez milhões de
palavras por ano. Esse é o número de palavras que uma criança rica escuta a
mais que uma criança pobre (em um estudo de Hart e Risley para os Estados
Unidos, mas que vale também para nós). É comum falar que o problema do Brasil é
a educação.
Mas o buraco é muito mais embaixo. As diferenças entre
crianças ricas e pobres já é gigantesca antes do 1º ano do ensino fundamental.
Ao longo do sistema de ensino, o abismo só aumenta.
Outro lugar-comum é dizer que falta qualidade; falta
infraestrutura; e os professores são mal pagos. Ou seja, se magicamente
melhorarmos a estrutura do sistema educacional, pronto, está tudo resolvido.
O buraco é mais embaixo. Falta demanda por educação. As famílias pobres brasileiras investem
pouco em educação. Isso significa que pais cobram pouco dos filhos, terceirizam
a educação para a escola e apoiam pouco as crianças que querem realmente
estudar. E os pais estão certos! Investir em educação significa gastar tempo e
dinheiro em algo que vai dar retorno em 20 anos ou mais. Para uma pessoa pobre,
isso é uma eternidade.
O buraco é ainda mais embaixo. Uma criança medíocre de uma
família de classe média não vai ter problemas em se inserir no mercado de
trabalho, ainda mais se for branca. Uma criança pouco acima da média e pobre (e
ainda mais se for negra) vai ter que saltar diversos obstáculos. Não vai ter
exemplos de sucesso para seguir. Vai ver os pais, tios e amigos serem
discriminados. Não vai ter mentor.
Sua família não vai ter dinheiro para curso de inglês. Ou
judô. E vai ter recebido menos informação ao longo da vida. Vai ter que superar
tudo isso na marra.
Eu entendo os pais que não se comprometem com a educação dos
filhos, ao ver que há pouca chance de eles terminarem numa situação melhor que
Sísifo, rolando pedra morro acima só para vê-la rolando morro abaixo, de volta,
eternamente.
O buraco é realmente mais embaixo. Se começarmos a fazer políticas públicas decentes para educação,
vamos ver resultados em 20 anos. Mas a maioria dos políticos não faz ou
sequer tem noção do diagnóstico correto. No governo do PT, achava-se que a
saída era universalizar ensino universitário. Nada disso. O desenho correto é
investir em primeira infância.
Mas, por mais que o modelo do PT tenha sido ruim, nada é
pior do que acontece hoje, no Brasil. Fora a perda de tempo com discussão
ideológica do Enem, agora temos um importantíssimo acordo entre o MEC e o
Ministério da Família para promover cultura de paz nas escolas.
Gastamos o tempo (caro) de dois ministérios num programa
inútil. Quase um ano de governo, e
simplesmente não temos nenhuma ação para melhorar o sistema educacional do
país. Teremos mais uma geração perdida, com todos pagando caro pelo racismo e
pelo elitismo endêmicos do sistema educacional, pela desvalorização dos
professores e pelos gastos focados nas partes erradas do sistema.
O tempo de uma autoridade pública custa caro, capital
político é finito, e um governo só tem quatro anos para tentar mudar o país.
Nos últimos anos, tivemos o programa Criança Feliz, instituído em 2016 com
apoio das Nações Unidas e que já atendeu 678 mil famílias. É muito pouco.
Deveríamos estar criando um projeto de país que investe
muito mais recursos e políticas na primeira infância. Não há perspectiva de
algo mudar com esse governo. No caso da educação, mais do que nunca, o Brasil é
o país do futuro. Fonte: Folha de São Paulo - 30.nov.2019-Rodrigo Zeidan Professor da New York University Shanghai (China) e da
Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.
Comentário: O Brasil continua perdido no tempo, pois, a
educação anda no lombo de burro. As camadas mais pobres não visualizam que a
educação é o planejamento futuro dos filhos. Eles preocupam com o trabalho que é
imediatismo e as mesadas sociais do
governo. E a política sabe como manobrar essa parte social. Negocio mesmo é
Pancadão, cultura e lazer. Só falta estudar
A letra da musica da Legião Urbana define bem esse país: Que
país é esse
Nas favelas, no Senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Dados do Inep - MEC
■Em 2018, foram registradas 27,2 milhões de matrículas no
ensino fundamental. - Inep
■O ensino médio registrou 7,7 milhões de matrículas no ano
de 2018,
■As matrículas na educação infantil 5,2 milhões de crianças
Em resumo, os professores fingem que ensinam e os alunos
fingem que aprendem.