Nos últimos três anos, muitos economistas erraram de forma
vergonhosa em suas previsões econômicas para o Brasil. Em viradas do ano
passadas, com frequência previram taxas de crescimento altas demais. Desta vez,
os bancos de investimento optaram pela cautela. Segundo o consenso do setor, a
economia do Brasil crescerá no máximo de 2 a 2,5% em 2020. Mas alguns
economistas conhecidos avisam, cautelosos: o risco de um crescimento mais
rápido do que previsto é maior do que o de uma retração.
No curto prazo, isso é verdade – no médio prazo, no entanto,
o potencial de crescimento do Brasil permanece limitado. Há muitas indicações
de que o Brasil crescerá duas vezes mais rápido em 2020 do que em 2019. Existem
várias razões para isso: as últimas estatísticas econômicas mostram que o
consumo e os investimentos aumentaram significativamente.
Por outro lado, os gastos do governo diminuíram, afetando,
assim, a parcela com que o Estado contribui, como consumidor e investidor, para
o crescimento do PIB.
TAXA DE JUROS BAIXA
Um dos motivos pelos quais os brasileiros consomem mais e as
empresas (principalmente na indústria da construção civil) investem mais é a
baixa taxa de juros, que agora é de 4,5%. Isso torna os empréstimos e
investimentos mais baratos. Dificilmente algo mudará em 2020. A taxa de juros
permanecerá baixa.
AGÊNCIAS DE CLASSIFICAÇÃO DE RISCO
A confiança no exterior no Brasil também melhorou
significativamente da perspectiva dos investidores: os credit default swaps
(CDS) caíram para o nível mais baixo em nove anos. Isso mostra que quase nenhum
investidor teme que o Brasil deixe de honrar suas dívidas. As agências de
classificação de risco melhoraram ligeiramente as perspectivas para o Brasil.
Isso se deve principalmente à aprovação da reforma previdenciária do governo,
que aliviará o orçamento estatal.
Além disso, os outros planos de reforma do governo também
são vistos de maneira positiva pelo setor econômico: com quase uma dúzia de
planos de reforma, o governo quer limitar os gastos no setor estatal e, ao
mesmo tempo, criar espaço para investidores privados. Isso se aplica, por
exemplo, à nova lei do saneamento, às privatizações no setor de energia e às
planejadas licitações na área de infraestrutura.
O Brasil, por outro lado, dificilmente poderá esperar
impulsos positivos do comércio mundial: a China, o comprador mais importante de
produtos agrícolas brasileiros, está crescendo menos e terá que importar mais
soja dos EUA no futuro. A Argentina, o comprador mais importante de produtos
industriais no Brasil, atravessa uma profunda crise. Europa e EUA também
importam menos do Brasil. No entanto, são boas as chances de o Brasil crescer
em 2020 e também em 2021.
DÉCADA PERDIDA
Mas isso não significa que o Brasil alcançará agora um
crescimento médio mais alto do que na década perdida que chegou ao fim. Se for
adicionado o crescimento esperado para 2020 (2,25%), o Brasil terá crescido
menos de 1% ao ano na primeira década do milênio. Isso é muito pouco para
reduzir os altos níveis de pobreza e desemprego no país.
BAIXA TAXA DE POUPANÇA
E é exatamente nesse ponto que o ministro da Economia, Paulo
Guedes, e sua equipe, estão focando seu trabalho: com suas reformas
estruturais, eles querem aumentar a baixa taxa de poupança (12% do PIB) e a
taxa de investimento (12% do PIB). Elas sempre foram menor do que na maioria
das economias em desenvolvimento mundiais, mas desde 2014, as parcelas
relativas a poupança e investimentos no PIB literalmente despencaram.
As reformas de Guedes miram na direção certa, mas são
reformas difíceis, que muitas vezes só podem ser alcançadas com mudanças
constitucionais, ou seja, com apoio com uma maioria de dois terços do
Congresso. A reforma previdenciária, sobre a qual havia um amplo acordo,
precisou de dez meses para ser aprovada pelo Congresso. Em 2020, o Legislativo
só contará com real poder decisório até o meio do ano, no máximo. Porque em
outubro são realizadas eleições municipais. Elas são importantes para o governo
como eleições de meio de mandato. E os deputados vão querer evitar votações
difíceis.
Conclusão: o Brasil crescerá mais rápido nos próximos 24
meses. No entanto, para crescer de forma sustentável nos próximos dez anos após
a década perdida, para reduzir a pobreza e o desemprego, são necessárias mais
reformas estruturais, especialmente na máquina estatal. E 2020 mostrará se
governo e Congresso avançarão com a agenda de reformas. Fonte: Deutsche Welle- 02.01.2020 - Alexander Busch é
correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt
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