A Cuba que Fidel Castro deixa não é muito diferente daquela
que foi abandonada pelo ditador Fulgencio Batista na sua fuga, em dezembro de
1958. Os cubanos seguem esperando o país mais próspero, a nação mais digna, a
igualdade real entre todos os cubanos, a independência absoluta em todos os
aspectos da vida nacional que Fidel prometeu, entre outras coisas, no mais
histórico dos seus primeiros discursos, A história me absolverá, pronunciado em
seu discurso de defesa no julgamento, em 1953, pela tentativa de derrubar
Batista do poder com o ataque ao Quartel Moncada.
Basta comparar a descrição que Fidel, nesse discurso, faz da
situação econômica, política e social em Cuba para comprovar que a Cuba atual,
depois de 57 anos sob o programa social da "Revolução", é
absolutamente pior, mais caótica, mais desigual e mais pobre ética, econômica,
financeira e socialmente.
No ano de 2004, em Havana, o comandante Eloy Gutiérrez
Menoyo, e em 2010 em Porto Rico, o também comandante Huber Matos – homem
míticos que lutaram ao lado de Fidel e logo decidiram lutar contra o rumo
totalitário do castrismo – me deram, quando os questionei se eles teriam ideia
do que Fidel pensava sobre as promessas não cumpridas ao povo, quase a mesma
resposta.
"Fidel vive num mundo paralelo, no qual tudo o que
prometeu foi cumprido", disse Gutiérrez Menoyo. "Como a Rainha de
Copas de Alice no país das maravilhas, para Fidel tudo está bem, os erros são
culpa do inimigo e, a quem se opuser a seus desígnios, ele ordenará que lhe
cortem a cabeça. Dentro de sua cabeça, a sua Cuba é perfeita", respondeu
Matos.
Porém, ele deixa uma ilha convertida numa das economias mais
pobres da América, onde a repressão contra o crescente movimento opositor
aumenta todo dia, onde nem sequer se pode falar de sistemas de saúde e educação
de primeiro mundo, onde o único sonho da juventude, segundo pesquisas oficiais,
é emigrar, e onde o poder se transfere dos velhos castristas a herdeiros
claramente impopulares: o neocastrismo.
No seu famoso discurso de 1953, no qual prometeu transformar
Cuba no paraíso sobre a Terra, Fidel disse orgulhoso a aqueles que o
condenavam: "Podem me condenar, não importa, a história me
absolverá". Cuba foi o paraíso particular de Fidel, do clã Castro e de
seus mais fiéis seguidores no poder político. Se, diante disso, a história o
absolver, ficará demonstrado que, como muitos pensam, a história é uma dama
velha, indigna e hipócrita. Fonte: Deutsche Welle - Data 26.11.2016- Amir Valle
é escritor e jornalista
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