“Eu achava que isso poderia prejudicar profundamente a
presidenta Dilma”, afirmou Santana. “Eu raciocinava comigo: eu, que ajudei, de
certa maneira a eleição dela, não serei a pessoa que vai destruir a
Presidência. Nessa época, já iniciava um processo de impeachment. Mas ainda não
havia nada aberto. Eu sabia que isso poderia gerar um grave problema,
sinceramente, até para o próprio Brasil.”
O juiz da Lava Jato interrogou também Mônica Moura, mulher e
sócia do marqueteiro do PT. Ela soou como se houvesse combinado o enredo com o
marido. Disse que o PT ficara devendo R$ 10 milhões da campanha de 2010. Cobrou
a dívida de João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, preso em Curitiba. E foi
orientada a procurar Zwi Skornicki, representante no Brasil do estaleiro Keppel
Fels. Com atraso de três anos, o pagamento foi feito em parcelas, entre 2013 e
2014.
A exemplo do marido, Mônica também mentira em seu primeiro
depoimento. Por quê?, quis saber Sérgio Moro. “O pais estava vivendo um momento
muito grave institucionalmente, político… As coisas que estavam acontecendo em
torno da presidente Dilma. […] Para ser muito sincera: eu não quis atrapalhar
esse processo, não quis incriminá-la, […] eu achava que ia contribuir para
piorar a situação do país falando o que realmente aconteceu. E eu acabei
falando que foi o recebimento de uma campanha no exterior.”
Moro questionou Santana e Mônica sobre outros US$ 3 milhões
depositados pela Odebrecht na mesma conta mantida pelo marqueteiro na Suíça
entre 2012 e 2013. A encrenca é apurada noutro inquérito. E ambos, orientados
pelos advogados, disseram que só falarão sobre o tema quando forem marcados os
depoimentos relativos ao processo específico. O primeiro-casal da marquetagem
negocia acordos de delação premiada com a força-tarefa da Lava Jato. Mônica
disse a Moro que desejava falar também sobre os vínculos com a Odebrecht. Mas
gostaria de fazê-lo como candidata a beneficiária de compensações judiciais.
A despeito de terem silenciado sobre as verbas de má origem
recebidas da maior empreiteira do país, Santana e Mônica foram muito explícitos
ao discorrer sobre os porões das campanhas eleitorais. Falaram com tal
desembaraço sobre o caixa dois que não restou nenhuma dúvida quanto à
utilização do mecanismo em todas as campanhas eleitorais que tocaram —entre
elas a a reeleição de Lula, em 2006, e as duas disputas presidenciais vencidas
por dilma em 2010 e 2014.
“Não acha que receber esses recursos por fora significa
trapaça?”, indagou Moro a Santana. E ele: “Acho que significa, antes de tudo,
um constrangimento profundo, é um risco, é um ato ilegal. É preciso rasgar o
véu de hipocrisia que cobre as relações políticas e eleitoras no Brasil e no
mundo. Não defendo [o caixa dois], sempre relutei.”
Moro insistiu: “Não poderia dizer simplesmente ‘não recebo
dessa forma’?” Santana deslizou: “Em tese, sim. Mas quando você vive dentro de
um ambiente de disputa, de competição, ambiente profissional, mesmo quando ele
é eivado de um tipo de prática que não é a mais recomendável, você termina
tendo que ceder. Ou faz a campanha dessa forma ou não faz. Ou vem outro que vai
fazer dessa forma. E termina virando isso. Eu acho lamentável, eu me arrependo,
sempre lutei contra. Mas sempre fui vencido.”
Ao espremer Mônica, o magistrado recordou que, entre 2006 e
2014, a empresa que ela e o marido utilizam para tocar campanhas eleitorais
recebeu legalmente do PT R$ 171 milhões. Tudo sacramentado na contabilidade
enviada à Justiça Eleitoral. Com tanto dinheiro, por que diabos ainda era
necessário receber verbas por baixo da mesa? A mulher de João Santana alegou
que é justamente o alto custo do circo eleitoral que conspira contra a
contabilização da bilheteria.
“Os partidos não aceitam que todos os valores sejam
registrados”, disse Mônica a Moro. “…Os partidos não querem declarar o valor
real que recebem das empresas e as empresas não querem declarar o quanto doam.
Nós, profissionais, ficamos no meio disso. Não era uma opção minha, era uma
prática não só no PT, mas em todos os partidos.” Fonte: UOL Notícias - 22/07/2016
O que diz a presidente afastada Dilma:
''Não autorizei pagamento de caixa dois'', afirma Dilma sobre delação
de João Santana
A presidente afastada Dilma Roussef disse estar tranquila em
relação às declarações dadas pelo marqueteiro João Santana durante delação
premiada. Durante entrevista na manhã desta sexta-feira, à Rádio Jornal, Dilma
comentou o áudio divulgado da delação de João Santana e da esposa dele, Mônica
Moura, ao juiz Sérgio Moro, que afirmam ter recebido US$ 4,5 milhões de caixa
dois por terem trabalhado na campanha presidencial de Dilma em 2010.
"Isso não me preocupa. Não autorizei pagamento de caixa
dois a ninguém. Procurei sempre pagar o valor que achava que devia a ele (João
Santana). Se houve pagamento de caixa dois, não foi com meu conhecimento",
garantiu Dilma.
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