domingo, 14 de abril de 2024

'Fazendas de cliques' no Vietnã

O fotógrafo britânico Jack Latham passou um mês na capital do Vietnã, Hanói, fotografando as famosas "click farms" ("fazendas de cliques", em tradução livre).

'PARECEM STARTUPS DO VALE DO SILÍCIO'

Em entrevista à CNN, Latham contou que visitou cinco fazendas de cliques no total. Enquanto algumas delas tinham uma configuração tradicional, com diversos de celulares operados manualmente, outras já funcionavam com um método mais moderno chamado "box farm".

Nele, vários telefones — sem baterias ou telas — ficam conectados entre si e também a uma interface de computador.

Todas pareciam startups do Vale do Silício. Havia uma enorme quantidade de hardware, paredes inteiras de telefones. Jack Latham à CNN

TikTok é a plataforma mais popular nas fazendas de cliques que o fotógrafo visitou. Segundo ele, os trabalhadores desses locais geralmente eram responsáveis por tarefas em plataformas específicas, como comentar em massa em contas do Facebook ou ver vídeos em sequência no YouTube.

Trabalhadores com quem Latham conversou anunciavam seus serviços online por menos de um centavo por clique, visualização ou interação, ainda de acordo com a CNN.

As imagens da viagem pelas fazendas de cliques do Vietnã aparecem no novo livro de Latham, "Beggar's Honey" ("O Mel do Miserável", em tradução livre). Em 134 páginas, o fotógrafo retrata uma mistura de telefones, redes de fios e computadores com frames do tipo de conteúdo que viu sendo impulsionado nesses locais.

Fazendas de cliques em todo o mundo também são usadas para espalhar desinformação. Ao jornal português Público, Latham reforçou que seu projeto busca retratar as máquinas usadas para espalhar desinformação.

As fábricas de cliques não são a causa do problema. O problema começa quando as pessoas se apoiam nas redes sociais para consumir informação. As fábricas de cliques nascem dessa premissa. As pessoas querem consumir informação de forma rápida e em formato de entretenimento. Jack Latham ao P3

Ele ainda afirmou que locais como esses "nunca tinham sido fotografados ou filmados profissionalmente até então". "Inicialmente, foi um pouco assustador, porque, obviamente, elas operam numa área cinzenta da lei. Depois das duas primeiras visitas, comecei a me sentir mais confortável", disse.

COMO FUNCIONA UMA FAZENDA DE CLIQUES?

Driblando o algoritmo. Basicamente, as fazendas de cliques vendem serviços de curtidas e comentários para empresas e pessoas físicas interessadas em aumentar sua influência e engajamento na internet, com o intuito de manipular algoritmos.

Esse conceito já é conhecido há algum tempo no sudeste asiático. Uma rápida pesquisa no Google gera uma série de imagens de pessoas manejando ao mesmo tempo incontáveis smartphones dispostos em prateleiras.

Também é possível controlar os dispositivos por meio de um computador. Inúmeros smartphones ficam conectados à internet 24 horas por dia e sete dias por semana e vão gerando curtidas e compartilhamentos aleatórios nas páginas e perfis das empresas e pessoas contratantes do serviço.

A prática tem a finalidade de reunir mão de obra barata para driblar os termos de uso das redes sociais, que proíbem a utilização de robôs para automatizar e alavancar o alcance das publicações.

A ilegalidade das fazendas de cliques, porém, não é regra no mundo todo. Especialistas acreditam que as fazendas de likes funcionem, principalmente, na China e na Rússia. Fonte: UOL Tilt  - 01/04/2024

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