Atualmente a Argentina representa 10% do
PIB latino-americano, e perdeu para o Brasil o posto de líder regional.
Além disso, o país caiu para o quinquagésimo posto do PIB per capita
mundial. Longe de aspirar um nível social “europeu” (que exibiu até o
final dos anos 80), os sociólogos afirmam que a Argentina aproxima-se
cada vez mais do padrão latino-americano de profundas divisões sociais. O
porto de Buenos Aires, o segundo em movimento nas Américas atualmente
corre o risco de ser superado pelo de Montevidéu.
Em
1910 a cidade de Buenos Aires tinha mais teatros que Paris. “Uma grande
cidade da Europa”, categorizou o presidente francês Georges Clemenceau.
Mas a melhor definição talvez seja a do brilhantemente cínico escritor
francês André Malraux, que a definiu como “a capital de um império
imaginário”.
Os economistas
argentinos não conseguem consenso sobre o momento do início da
decadência. Alguns sustentam que foi em 1930, com a quebra da
institucionalidade; outros acreditam que a culpa foi do governo do
intervencionista Juan Domingo Perón; enquanto que um terceiro grupo
afirma que foi a política econômica caótica da ditadura de 1976-83. Mas,
já em 1969 o país causava estupefação para o economista russo-americano
Simon Kuznets, que tentou enquadrar o imprevisível país: “existem três
tipos de países no mundo. Os normais, o Japão…e a Argentina!”.).
Enquanto
que em 1910 o modelo a seguir era a Grã-Bretanha e a França, nos
últimos anos políticos, empresários e de forma geral, a população,
começou a encarar o Brasil como um modelo a seguir.
O
ex-vice-ministro da Economia, Orlando Ferreres, disse que ao contrário
do Brasil, a Argentina “careceu de estratégias de longo prazo”. Segundo o
economista, por este motivo o país vive um cenário no qual até a carne –
símbolo nacional – possui uma presença cada vez maior do Brasil:
“frigoríficos argentinos são comprados por empresas brasileiras, com
respaldo do BNDES, organismo que invejamos, sem similar na Argentina”.
O
sociólogo Carlos Fara comentou que “há 50 anos o Brasil era um país
rural, sem indústrias, enquanto que a Argentina já contava com uma
classe média de segunda geração, além de prêmios Nobel. O Brasil cresce
de forma persistente e representa hoje para a Argentina o sonho daquilo
que podia ter sido e não foi”.
“Este
é um país que no segundo século de independência, destruiu tudo o que
fez no primeiro”, disse o think tank Rosendo Fraga, do Centro de Estudos
Nueva Mayoría.
O analista, e
muitos outros, tentam explicar o que aconteceu para que ocorresse este
“grande fracasso nacional”, que tornou a Argentina um dos poucos países
que passou do primeiro mundo ao terceiro em poucas décadas.
“Como
pode ser que uma nação como esta, beneficiada com invejáveis recursos
naturais e humanos, não consiga reverter este lento e melancólico
declínio em direção à insignificância?”. Esta foi a pergunta feita há
poucos anos por um dos principais estudiosos sobre o país, Nicholas
Shumway, da Universidade de Austin, Texas.
Shumway
tem a teoria de que existe um fator normalmente esquecido: “a peculiar
mentalidade divisória”. O americano considera que o país fracassou na
criação de um marco ideológico de união e consenso, caso contrário do
Brasil.
O falecido escritor Jorge
Luis Borges, costumava dizer que os argentinos eram “brilhantes
individualmente, mas coletivamente são um fracasso”. Além de
individualistas incorrigíveis, segundo Borges (e outros analistas,
ensaístas e historiadores) também padeceriam de outro problema, afirma o
sociólogo Guillermo O’Donell: “temos um enorme talento autodestrutivo,
somos o espetáculo mundial da auto-destruição”. Fonte: Estadão – Ariel
Palácios
Comentário: O ex-presidente da Costa Rica, Oscar Arias disse uma verdade: Porque a America Latina é tão atrasada?
Não
podemos esquecer que a América Latina teve universidades antes do que
os Estados Unidos criassem Harvard e William & Mary, que são as
primeiras universidades desse país. Não podemos esquecer que nesse
continente, como no mundo inteiro, pelo menos até 1750 todos os
americanos eram mais ou menos iguais: todos eram pobres.
Ao
aparecer a Revolução Industrial na Inglaterra, outros países sobem
nesse vagão: Alemanha, França, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova
Zelândia e aqui a Revolução Industrial passou pela América Latina como
um cometa, e não nos demos conta. Certamente perdemos a oportunidade.
Há
também uma diferença muito grande. Lendo a história da América Latina,
comparada com a história dos Estados Unidos, compreende-se que a América
Latina não teve um John Winthrop espanhol, nem português, que viesse
com a Bíblia em sua mão disposto a construir uma Cidade sobre uma
Colina, uma cidade que brilhasse, como foi a pretensão dos peregrinos
que chegaram aos Estados Unidos.
Vá
alguém a uma universidade latino-americana e parece, no entanto, que
estamos nos anos sessenta, setenta ou oitenta. Parece que nos esquecemos
de que em 9 de novembro de 1989 aconteceu algo de muito importante, ao
cair o Muro de Berlim, e que o mundo mudou. Temos que aceitar que este é
um mundo diferente, e nisso francamente penso que os acadêmicos, que
toda gente pensante, que todos os economistas, que todos os
historiadores, quase concordam que o século XXI é um século dos
asiáticos não dos latino-americanos. E eu, lamentavelmente, concordo com
eles. Porque enquanto nós continuamos discutindo sobre ideologias,
continuamos discutindo sobre todos os "ismos" (qual é o melhor?
capitalismo, socialismo, comunismo, liberalismo, neoliberalismo,
socialcristianismo...) os asiáticos encontraram um "ismo" muito realista
para o século XXI e o final do século XX, que é o *pragmatismo*.
Recordemos
que quando Deng Xiaoping visitou Cingapura e a Coréia do Sul, depois de
ter-se dado conta de que seus próprios vizinhos estavam enriquecendo de
uma maneira muito acelerada, regressou a Pequim e disse aos velhos
camaradas maoístas que o haviam acompanhado na Grande Marcha: "Bem, a
verdade, queridos camaradas, é que a mim não importa se o gato é branco
ou negro, só o que me interessa é que cace ratos".
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