O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) divulgou uma nota na qual alerta sobre uma possível relação entre os casos de doença de Half, conhecida como “urina preta”, observados este ano no Brasil, e o consumo de peixes, mariscos e crustáceos sem o selo dos órgãos de inspeção oficiais.
De
acordo com a pasta, todos os casos notificados e em investigação estão sendo
acompanhados por epidemiologistas do Ministério da Saúde, em cooperação com os
Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária (LFDA) e o Instituto Federal de
Santa Catarina (IFSC).
A
doença de Haff apresenta como sintomas rigidez muscular frequentemente
associada ao aparecimento de urina escura, que resulta de insuficiência renal.
Ela se constitui em um tipo de rabdomiólise, nome dado para designar uma
síndrome que gera a destruição de fibras musculares esqueléticas e libera elementos
de dentro das fibras - como eletrólitos, mioglobinas e proteínas - no sangue.
O
nome foi dado em razão da descoberta da doença em um lago chamado Frisches
Haff, na região de Koningsberg em 1924. O território, à beira do Mar Báltico,
pertencia à Alemanha, mas foi incorporado à Rússia posteriormente, constituindo
um enclave entre a Polônia e a Lituânia.
A
nota do Mapa informa que os primeiros sinais e sintomas podem se manifestar nas
24 horas após o consumo de peixe cozido, lagostim e outros frutos do mar
contaminados. “A enfermidade é considerada emergente e, por ter origem
desconhecida, enquadra-se como evento de saúde pública (ESP), sendo considerada
de notificação compulsória”, diz a nota.
Ainda
segundo o ministério, os primeiros casos de doença de Half registrados no
Brasil foram em 2008, com origem em espécies de água doce como o Pacu
(Mylossoma spp), tambaqui (Colossoma macropomum) e pirapitinga (Piaractus
brachypomus), bem como em peixes de água salgada, como a arabaiana/olho-de-boi
(Seriola spp) e badejo (Mycteroperca spp).
Foram
também registrados casos em 2016 e, agora, em 2021. Diante da situação, o Mapa
está orientando a população a ficar atenta na hora de comprar pescados, de
forma geral. “Peixes, mariscos e crustáceos comercializados devem conter o selo
dos órgãos de inspeção oficiais”, alerta o ministério, ao informar que produtos
identificados pelo carimbo de inspeção na rotulagem possibilitam a
rastreabilidade de sua origem, o que os torna seguros.
A
dificuldade para a identificação do material contaminado está no fato de que a
toxina causadora não tem gosto nem cheiro específicos, o que torna mais
complexa a sua percepção. Nos relatos registrados ao longo dos anos, pessoas
acometidas da doença ingeriram diferentes tipos de peixe, como salmão, pacu-manteiga,
pirapitinga, tambaqui, e de diversas famílias como Cambaridae e Parastacidae.
“Pesquisas sobre os possíveis agentes
causadores estão sendo realizadas pelo LFDA e o IFSC, a partir das amostras
coletadas dos alimentos consumidos, bem como de material biológico dos próprios
pacientes acometidos. Por ter sido registrada em diversos biomas (rios, lagos,
mares etc) e espécies, não é possível, até o momento, determinar, com base nos
casos analisados, os ambientes e animais envolvidos”, informa a nota.
De
acordo com o Mapa, foram feitas pesquisas de amostras na busca por “moléculas
suspeitas”, especialmente de grupos onde é mais provável encontrar toxinas
causadoras da doença de Haff. No caso, “moléculas análogas que podem ser
produzidas por microalgas tóxicas”.