Cheiro de dor e de morte sempre atrai abutres. E na cena do
crime que devastou Brumadinho não seria diferente. Uma horda de carniceiros se
alvoroça diante da possibilidade de tirar uma lasquinha da tragédia das
incontáveis vítimas, da agonia das famílias, da consternação de um país.
Uma marca de cosméticos produziu um “ensaio-protesto” com
modelos lambuzados de lama, mas com o batom e a máscara de cílios intactos. Uma
apresentadora de TV fez maquiagem, com lágrimas em formato de coração, para
“expressar sua tristeza”. Um comerciante cobriu ele e a mulher com barro para
vender empilhadeiras, pois “a vida segue”.
O mundo digital é um campo vasto para que possamos aprender
com o erro dos outros. Em 2012, por exemplo, o furacão Sandy deixou um rastro
de destruição e mortos, nos EUA. Nana Gouvêa achou bacana fazer (e postar)
fotos, em poses sensuais, em pontos de uma Nova York devastada. Causou repúdio
e virou piada na internet. Não serviu de lição.
Brumadinho é prova de que tem sempre oportunistas de
plantão. Não faltam figuras públicas de todos os espectros políticos usando das
desgraças alheias para discursar contra seus desafetos e para jogar combustível
num ambiente explosivo em que faltam respostas e sobram falsas informações. E,
é claro, não poderiam ficar de fora os ativistas.
Uma moça, que adora aparecer mais do que as causas pelas
quais ela diz lutar, acusou a equipe de socorro de “assassinar” os animais. Ela
ignora a dificuldade do salvamento dos bichos machucados, presos na lama e sem
condições de resgate. Desconsidera o estresse, o cansaço, a pressão que esses
profissionais enfrentam porque ainda há centenas de pessoas desaparecidas.
Verdade seja dita, situações catastróficas como a que
estamos vivendo nos servem para mostrar que os animais são mesmo melhores do
que muitas pessoas, as quais não passam de abutres farejadores de desgraça.
Fonte: Folha de São Paulo - 31.jan.2019
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