domingo, 28 de maio de 2017

A história do Império JBS

Começa em Anápolis a história do Império JBS. A sigla reúne as iniciais do seu fundador, José Batista Sobrinho, mineiro cuja família mudou-se nos anos 1940 para a cidade, a 55 km de Goiânia e hoje com 370 mil habitantes. Ali, seu Zé Mineiro, como ficaria conhecido, abriu em 1953 seu primeiro açougue, a Casa de Carnes Mineira.

Em Anápolis nasceu o primogênito de seus seis filhos com Flora Mendonça, José Batista Júnior, que mais tarde viria a ser conhecido como Júnior Friboi. As filhas mulheres se chamam Valére, Vanessa e Vivianne.

Atraído por isenções fiscais dadas por Juscelino Kubitschek aos pioneiros de Brasília, em 1957 Zé Mineiro passou a vender carne nos canteiros de obras da futura capital. "Não tinha condição de montar abatedouro, então eu abatia [o gado] no cerrado, no mato", contou o fundador numa entrevista em 2012. Hoje ele tem 84 anos e, como a maioria dos filhos, vive em São Paulo -ou vivia, até a delação da JBS levar os Batistas a fecharem-se em copas.

Em 1969, a família mudou-se para outra cidade goiana, Formosa, onde nasceram Wesley (1971) e Joesley (1972) e onde em 1970 montou seu primeiro frigorífico, que viria a se chamar Friboi.

Em Formosa, município de 115 mil habitantes a 75 km de Brasília que hoje acolhe a soja, ainda vivem vários Batistas –tias, primos e primas de Wesley e Joesley– e amigos da família. Lá, portanto, é possível encontrar chaves para se entender a ascensão do império JBS.

Um dos raros parentes que se dispuseram a dar entrevista foi o dentista Wilson Marques, primo em primeiro grau de Wesley e Joesley (a mãe dele é irmã de Zé Mineiro).

"O que temos para falar é que é um povo honesto e trabalhador, que mal dorme de tanto trabalhar, e que está nessa situação", afirmou Wilson, vestido de branco na recepção de seu consultório no centro de Formosa.

Wilson contou ter convivido mais com o primogênito dos Batistas que com os outros irmãos. "Não tem quem goste mais do Júnior do que eu. O cara é 'pedra 90'. É bom, direito e justo." O tio Zé Mineiro, que volta à cidade para aniversários ou enterros de parentes, "deve ser o cara mais indignado com isso tudo".

E Joesley e Wesley? "Com esses eu não convivi muito."

O jeito seco de tratar os dois primos não impede Wilson de defender a atitude deles. "Para fazer o que fizeram, devem ter sofrido pressão muito forte, só não sei de quem. Tinham de deixá-los trabalhar, ganhar dinheiro e botar o país para a frente."

É uma postura semelhante à do comerciante João Neto, 58, que conviveu com os Batistas e constrói um pequeno posto de gasolina num prédio vizinho ao primeiro escritório da Friboi em Formosa, por sua vez colado à primeira casa da família na cidade.

"Pergunte na cidade se seu Zé Mineiro já deixou de pagar algum gado, se já deu tombo em alguém. Em ninguém."

João descreve a infância dos irmãos Batista como dura. "Não tiveram regalia de criança, jogar bola, tomar banho de poço –só trabalhavam." Nenhum filho concluiu o 2º grau (hoje ensino médio.

Funcionário da Friboi por 25 anos, de 1971 a 1996, Vigilato Francisco Neto, 63, começou na empresa como office boy e chegou a gerente. Tornou-se amigo da família.

Hoje dono de um açougue de Formosa, ele enriquece a narrativa sobre a formação dos filhos de Zé Mineiro. "Com 13 anos, Júnior já comprava gado em Arinos (MG) e levava em comitiva até Posse [Goiás, onde os Batistas até hoje têm fazenda]. Com 14, já dirigia caminhão gaiola."

E distingue os talentos dos três irmãos: "Júnior é o comerciante; Wesley, o do frigorífico, da parte industrial; Joesley, o da parte econômica -é um crânio nas finanças".

Júnior presidiu a Friboi até 2005 e a tornou a maior empresa frigorífica do país. Saiu para tocar seus próprios negócios.

Em 2007, já tocada por Wesley e Joesley, a Friboi mudou o nome para JBS. Sob o comando dos dois irmãos, o grupo passou a receber os bilhões do BNDES –via empréstimos e participação acionária– que lhe permitiram comprar empresas aqui e alhures e se tornar o maior produtor de carne do mundo.

O ex-funcionário Vigilato guiou a reportagem nas ruínas do primeiro frigorífico da Friboi, vendido pelos Batistas nos anos 80 e desativado pouco antes dos 90.

"Seu Zé é fantástico como patrão, como pai, como amigo. E todos os filhos puxaram a ele", diz o ex-funcionário. E a corrupção de que participaram? "Normal. Porque no Brasil só funciona assim. Existe outra forma de você crescer no Brasil?", questiona. Fonte: Folha de São Paulo - 28/05/2017


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