sexta-feira, 12 de maio de 2017

O que é Baleia Azul

A procura no Google pelo desafio virtual e temas relacionados dispararam nas últimas semanas chegando aos quase dois milhões de buscas no dia 18 de abril - o dobro do volume de procura que teve o clássico Real Madrid e o Barcelona no domingo, 23. Era o eco da mídia dando voz às primeiras mortes ou tentativas de suicídio suspeitas de terem relação com o Baleia Azul, embora jovens como Graziela já terem flertado com os desafios no ano passado.

A forma como o jogo chegou até o Brasil e outros países latino-americanos, como o México e a Colômbia, é tão incerta como sua origem. Os primeiros indícios da existência do desafio foram identificados na Rússia, após o suicídio de vários jovens que estariam participando de comunidades virtuais. A história, no entanto, misturou-se com a lenda e foi cercada de exageros, rumores e falsas notícias virais, que chegaram a elevar a 130 o número de adolescentes russos mortos por causa do jogo, entre novembro de 2015 e abril de 2016. A cifra nunca foi confirmada.

Tampouco há um explicação oficial sobre a origem do nome, que poderia estar associada ao hábito das baleias de encalharem nas praias em grupo. A chegada dos cetáceos à areia ocorre geralmente por desorientação ou por terem seguido um líder doente, mas costuma ser interpretada erroneamente como um suicídio coletivo dos animais.

O jogo estabelece 50 desafios por dia que culminam com o suicídio do participante. Segundo as investigações abertas pela Delegacia de Repressão a Crimes de Informática do Rio, é importante a figura do curador, protegido por um perfil falso na rede social. Ele apadrinha, guia e fiscaliza o novo membro durante o macabro jogo. Ainda, se demonstrada sua participação no jogo, o curador pode responder por lesão corporal ou até por homicídio, segundo a delegada do Rio Daniela Terra, que investiga o caso de Graziela e mais uma menina que confessou ter entrado no desafio.

Entre as provas propostas há metas como o uso de objetos cortantes para escrever códigos, cortar os lábios ou desenhar uma baleia no antebraço usando uma gilete como pincel. A vítima precisa enviar fotos ao curador, que provem a realização dos objetivos. No caso das meninas, ainda são pedidos registros delas em suas roupas íntimas mostrando as lesões. O curador pede ainda que o participante acorde de madrugada para ouvir músicas psicodélicas, que assista a filmes de terror selecionados por ele durante 24 horas, ou que fique nas margens de pontes e telhados. Será ele, ainda, quem marcará a data e a forma com a qual a vítima terminará com sua vida, às vezes se atirando de algum lugar, outras ingerindo quantidades absurdas de remédios.

Os desafios, em teoria, são obrigatórios –"Você tem certeza? Depois que entrar não tem mais volta", ameaçam –, mas há quem tente sair. Graziela se arrependeu de ter entrado no jogo algumas vezes, mas recebeu uma ameaça de um dos curadores do grupo: "Eu sei como fazer você voltar a jogar, e as pessoas a sua volta é que vão sofrer".

Os curadores fazem crer que sabem tudo sobre seus apadrinhados e sua família após terem se infiltrado nos seus computadores, uma ameaça duvidosa, mas que funciona. A própria Graziela disse na delegacia que continuou no jogo "por medo de represália contra seus familiares". "O que o mito da Baleia Azul reflete, realmente, não é uma tendência de suicídio entre os adolescentes, mas o medo de que a própria Internet possa nos espionar e nos controlar, como um Estado autoritário. Esse medo tem sido representado recentemente - particularmente em um episódio amplamente elogiado do seriado de ficção científica Black Mirror [no qual os protagonistas são ameaçados por hackers de revelarem seus segredos] ", refletia o escritor Russell Smith na sua coluna sobre o tema no jornal canadense The Globe and Mail.
*Os nomes da adolescente e da mãe dela foram trocados para respeitar sua privacidade
Fonte: El Pais - São Paulo / Rio de Janeiro 1 MAI 2017

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