sexta-feira, 23 de julho de 2010

Venezuela admite presença das Farc no país, mas nega apoio

O embaixador da Venezuela na OEA (Organização dos Estados Americanos), Roy Chaderton, reconheceu nesta sexta-feira que há guerrilheiros colombianos no país, mas negou apoio aos rebeldes e afirmou que as Forças Armadas venezuelanas não apenas combatem a guerrilha, como já entregaram membros capturados à Colômbia.

"Entregamos guerrilheiros, mas isto não se registra e nem se recorda [...] Tivemos soldados de nossa guarda caídos em combate [contra os guerrilheiros]", afirmou Chaderton à Rádio Caracol.

Nesta quinta-feira, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, rompeu relações diplomáticas com a Colômbia, depois que essa apresentou provas --fotos, vídeos e coordenadas-- em reunião da OEA de que há 87 acampamentos das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e do Exército de Libertação Nacional (ELN) em cidades venezuelanas.

O governo de Álvaro Uribe acusa Chávez de ser leniente quanto à presença dos guerrilheiros.

Chaderton voltou a acusar o governo Uribe de defender um "realismo mágico midiático" e de apresentar um cenário que não tem relação com a realidade.

"Quando as Farc violam a fronteira é porque as forças de segurança da Colômbia não souberam defender seu Estado [...] Não devemos pagar por isso em termos de escândalos midiáticos", disse o embaixador, voltando a dizer que as fotos exibidas de guerrilheiros em praias e casas não provam que seja território venezuelano.

O embaixador explicou ainda o motivo de não querer, como pede a Colômbia, que organismos internacionais verifiquem as provas e chequem nos locais apontados se há efetivamente guerrilheiros. Ele afirmou que já houve duas iniciativas semelhantes no passado: em uma não encontraram nada e na outra não completaram a busca porque o acampamento estava em território colombiano.

"Quando há iniciativas que nós consideramos de má fé e que buscam favorecer os Estados Unidos, nós não entramos no jogo", disse o diplomata, voltando a acusar o governo Uribe de se submeter a vontade de Washington.

FORA EUA

Diante da resistência de Caracas com os EUA, o Brasil já articula formas de retirar o país da mediação da crise. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, Brasília quer levar a discussão para da OEA para a Unasul (União de Nações Sul-Americanas), órgão do qual os Estados Unidos não são membros.

A ideia é evitar que a participação americana desequilibre as negociações para pró-Colômbia e anti-Venezuela.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva telefonou ainda na quinta-feira para Chávez, propondo a troca. Após a conversa, Chávez anunciou que pediu ao Equador (que ocupa a Presidência da Unasul) uma reunião de emergência.

O Brasil, afirma a reportagem, acha melhor convocar a Unasul após a posse do novo presidente colombiano, Juan Manuel Santos, no próximo dia 7. Apesar de ser sucessor do popular Uribe, Santos adotou um discurso de aproximação com Caracas e, diante da crise, disse que manteria o silêncio como "sua melhor contribuição".

Em sua entrevista à rádio, Chaderton elogiou o silêncio de Santos e disse que sua reação foi reconhecida como positiva por Chávez.

Durante a campanha eleitoral colombiana, Chávez chegou a alertar que a vitória do ex-ministro de Defesa e sucessor de Uribe podia gerar uma guerra e que seria extremamente difícil restabelecer as relações bilaterais sob seu governo.

Santos, contudo, adotou um discurso de reaproximação e diálogo e chegou a minimizar as acusações de Uribe sobre os vínculos entre Chávez e as Farc. O venezuelano mudou de tom e disse que espera retomar as conversações com o país vizinho depois da posse de Santos. Ele afirmou que não irá na posse por questões de segurança.

CORTE INTERNACIONAL

Enquanto os países latino-americanos trabalham para mediar a crise, a Colômbia estuda levar a denúncia de que a Venezuela abriga guerrilheiros para a Corte Penal Internacional (CPI).

"Se conseguirmos estabelecer isso, e temos informação de que os guerrilheiros se refugiam na Venezuela e as autoridades não fazem nada, e pelo contrários os apoiam, pois então poderíamos já consolidar o que vai ser a denúncia para a Corte Penal Internacional", disse o procurador-geral da Colômbia, Guillermo Mendoza Diago.

Ele disse ter recebido das mãos do governo colombiano uma pasta em que estão documentados ao menos 60 ataques cometidos por guerrilheiros das Farc contra moradores colombianos e depois refugiados na Venezuela.

Até o momento, o governo de Uribe não se pronunciou oficialmente sobre a decisão de Chávez.

ACUSAÇÃO

Nesta quinta-feira, em sessão extraordinária da OEA, a Colômbia exibiu fotos, vídeos e testemunhos que provariam a presença de ao menos 87 acampamentos e 1.500 guerrilheiros protegidos em solo venezuelano.

O embaixador da Colômbia no órgão, Luis Alfonso Hoyos, afirmou que os acampamentos não são novos "e continuam se consolidando". "Não são [apenas] casas. São ao menos 87 estruturas completamente armadas em território venezuelano".

Em seu discurso, que também contou com fotos e imagens aéreas, Hoyos se concentrou nas informações sobre quatro localidades, que abrigariam os acampamentos nomeados Ernesto, Berta, Bolivariano e Jesus Santrich, situados 23 quilômetros para dentro do território venezuelano.  Fonte: Folha de São Paulo - 23/07/2010

Vídeo:

Feito por jornalista espanhol a procura da presença da FARC na Venezuela e os próprios militares venezuelanos entrevistados confirmam sua presença e conhecem os locais


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