terça-feira, 18 de abril de 2017

Corrupção: Somos todos coniventes

O Poder Público é tão distante da realidade dos brasileiros que perdemos a noção para que servem os mandatos

A corrupção da qual acusamos os políticos é um câncer que corrói toda a sociedade brasileira, sem distinção, por mais que teimemos em, individualmente, rechaçar essa acusação. É sempre mais fácil lidarmos com algo que encontra-se no horizonte, como possibilidade, que admitirmos nossa participação efetiva em algo que condenamos. Por isso, aceitamos que existe uma grossa corrupção “lá” em Brasília, mas nos ofendemos quando alguém ilumina-a em nosso cotidiano.

Reprovamos o comportamento dos políticos, que se enriquecem com negociatas sem temer qualquer punição, pois sabem eles, sabemos todos, que o direito no Brasil ainda se baseia em três premissas clássicas, que compõem o catálogo da sabedoria popular: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, “para os amigos, tudo, para os inimigos, os rigores da lei”, “a cadeia serve apenas para os três pês: preto, pobre, prostituta”. A legislação é costurada de tal maneira confusa e contraditória que pode ser usada contra ou a favor, dependendo do poder que emana da pessoa julgada. Nesse sentido, a mão da justiça quase nunca alcança os ricos... Mas os pobres são tratados aos pontapés...

O exercício da corrupção está de tal maneira arraigada na cultura brasileira que muitas vezes nem percebemos que repetimos em nosso dia a dia hábitos e práticas que censuramos nas esferas da administração pública. O Brasil é o segundo país do mundo em sonegação fiscal, só perdendo nesta categoria para a Rússia. Estima-se que os brasileiros sonegam cerca de 28% do total da arrecadação de impostos, o que representa 13% do PIB. Quantos profissionais liberais que conhecemos que recebem “por fora” para prestar um serviço, ou seja, não emitem recibo, com a nossa conivência? Quantos de nós declaram ao Fisco exatamente o que recebemos como pagamento?

E quantas vezes já deixamos “uma cerveja” para o policial rodoviário “quebrar o galho” e não nos multar nas estradas? Quantas vezes demos “um cafezinho” para ser melhor tratados num ambiente social? Quantas vezes aumentamos o valor da gorjeta em restaurantes para que o garçom nos sirva com mais eficiência? Quantas vezes usamos de nossa influência para resolver algum problema burocrático em algum órgão público? Quantas vezes burlamos a legislação? Quantas vezes, enfim, usamos o tal “jeitinho brasileiro” para resolver nossos problemas?

Enquanto não admitirmos que a prática da corrupção impregna nosso cotidiano e que somos coniventes com ela, não conseguiremos dar o passo seguinte que é o de elegermos políticos comprometidos com uma plataforma de alcance coletivo e não políticos cujos interesses limitam-se a projetos de manutenção de poder, sejam eles particulares ou partidários. E temos que pensar em resolver isso logo, antes que, seja tarde demais. Fonte: El Pais - 27 Mai 2014

Comentário: A política é  o reflexo da sociedade. O Brasil quer crescer sem valores. Tudo é permitido. A corrupção faz parte do cotidiano da sociedade. O lema é levar vantagem.

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