O ex-boxeador americano Muhammad Ali, 74, morreu em um
hospital de Phoenix, nos Estados Unidos, por problemas respiratórios, nesta
sexta-feira (3). A morte foi anunciada na madrugada (de Brasília) deste sábado.
Seu porta-voz, Bob Gunnell, anunciou nesta quinta (2) que o ex‑atleta estava
hospitalizado.
De acordo o Bob Gunnell, porta-voz da família, Ali morreu de
choque séptico devido a causas naturais não especificadas. O funeral será
realizado na sexta-feira (10) em Louisville, Kentucky, disse Gunnell.
Ali foi campeão olímpico, participou da "Luta do
Século" original, venceu o combate mais famoso da história, foi o primeiro
tricampeão mundial dos pesados, dominou o boxe no período mais competitivo
entre os grandalhões dos ringues e se tornou a primeira estrela globalizada do
esporte, com duelos em países do Terceiro Mundo.
Nascido Cassius Marcellus Clay Jr. em 1942, na cidade de
Louisville, oriundo de uma família humilde, Ali descobriu o boxe na infância
por acaso. Aos 12 anos, quando roubaram sua bicicleta, procurou Joe Martin, um
policial que dava aulas em um centro de recreação, para reclamar do roubo.
Nunca mais viu a bicicleta, mas logo estava calçando as luvas de boxe.
Rapidamente ele conquistou títulos amadores que lhe abriram
caminho até a Olimpíada de Roma, em 1960. Lá, aquele jovem tagarela ganhou a
medalha de ouro entre os meio-pesados (categoria de peso imediatamente inferior
à dos pesados no amadorismo). Ao retornar aos Estados Unidos, foi acolhido como
herói, homenageado por autoridades e assinou contrato com um grupo de
milionários que o patrocinou.
Naquela época, prevalecia o racismo. Os restaurantes, hotéis
e cinemas, especialmente os do sul do país, reservavam espaços para que os
negros se acomodassem separados dos brancos.
O boxeador se adaptou facilmente ao profissionalismo, no
qual estreou ainda em 1960. Poucos meses após conquistar o título mundial dos
pesos-pesados, ao bater Sonny Liston, a quem apelidou de "O Grande Urso
Feio", em fevereiro de 64, revelou que se convertera ao islamismo, abrindo
mão do seu "nome de escravo", Cassius Clay, e passando a se chamar
Muhammad Ali. Em suas próprias palavras, era agora "O Rei do Mundo" e
"O Mais Bonito".
Três anos depois, ainda campeão, foi convocado a comparecer
ao centro de recrutamento do Exército, onde recusou o alistamento para a Guerra
do Vietnã. Ali teve a licença de pugilista cassada e foi destituído do cinturão
em 1967. Nos anos seguintes, ganhou a vida com palestras no circuito
universitário.
Após uma longa batalha jurídica, recuperou a licença de
pugilista e retornou aos ringues em 1970, contra dois rivais de categoria,
Jerry Quarry e o argentino Oscar "Ringo" Bonavena. No ano seguinte,
enfrentou na "Luta do Século" "Smokin" Joe Frazier, que
então era o dono de seu cinturão, em um choque de invictos.
Ali perdeu por pontos em 15 assaltos, mas em 1974 ganhou
nova oportunidade de lutar pelo título, desta vez contra George Foreman, na
"Rumble in the Jungle" ("Briga na Selva"), no Zaire. Ali
subiu ao ringue como o azarão. Afinal, Foreman tomara o cinturão de Frazier ao
derrubá-lo seis vezes em dois assaltos, e precisara do mesmo número de assaltos
para destruir outro algoz de Ali, Ken Norton.
Sem a agilidade e os reflexos do auge da carreira, Ali usou
a cabeça. Encostou-se nas cordas e permitiu que o rival o castigasse, assalto
após assalto, até que Foreman se cansasse. Então, no oitavo assalto, partiu
para o ataque e derrotou o rival. O combate foi transformado em livro por
Norman Mailer ("A Luta") e gerou um documentário, "Quando Éramos
Reis", ganhador do Oscar em 1996.
Ali disputou depois aquela que foi eleita pela publicação
especializada "The Ring" a melhor luta da história, a "Thrilla
in Manila", seu terceiro duelo com Frazier, nas Filipinas. "Foi o
mais próximo que cheguei da morte", falou sobre a luta, que venceu no 14º
assalto.
Em 1978, Ali perdeu o título para o novato de sete lutas
Leon Spinks, mas o recuperou no mesmo ano para se tornar o primeiro tricampeão
dos pesados. Anunciou sua aposentadoria, mas retornou contra seu ex-sparring
Larry Holmes, agora campeão, e contra Trevor Berbick. Perdeu as duas e pendurou
as luvas em definitivo.
Ele passou, então, a se dedicar a missões de cunho
humanitário e político, visitando países como Cuba, China e Rússia. Foi ao
acender a pira olímpica nos Jogos de Atlanta-96 que o mundo descobriu os
avançados sintomas do Mal de Parkinson, que reduziu drasticamente a sua
mobilidade e a sua capacidade de comunicação. Passou os últimos anos de sua
vida dependente de tratamentos e remédios, e suas aparições públicas se
tornaram cada vez mais raras. Fonte: Folha de São Paulo - 04/06/2016
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