Promotores federais norte-americanos indiciaram nesta terça
(12) quase 50 pessoas por pagarem ou receberem milhões de dólares em propina
para que candidatos fossem aceitos em algumas das melhores universidades do
país.
Entre os acusados estão atrizes de Hollywood, como Felicity
Huffman ("Desperate Housewives") e Lori Loughlin ("Full House"),
além de empresários e técnicos esportivos de prestigiosas instituições de
ensino como Yale e Stanford.
O esquema, que segundo o advogado Andrew E. Lelling é o
maior escândalo de admissão em faculdades já analisado pelo Departamento de
Justiça dos Estados Unidos, movimentou US$ 25 milhões (cerca de R$ 95 milhões)
em suborno.
William "Rick" Singer, 58, administrou o esquema
de extorsão por meio da empresa Edge College & Career Network, afirmaram
promotores federais de Boston.
A acusação sustenta que Singer arranjava esquemas para que
candidatos falsos fizessem as provas de admissão das faculdades no lugar dos
filhos dos seus clientes ricos. Sua empresa também subornou treinadores para
que aceitassem estudantes sem competência atlética.
Os pais pagaram dezenas de milhares de dólares pelos
serviços de Singer. O dinheiro era mascarado como contribuição de caridade.
"O que fazemos é ajudar as famílias mais ricas dos
Estados Unidos a colocarem seus filhos na escola. Minhas famílias querem uma
garantia", resumiu Singer aos promotores.
Um acusado que colabora com a Justiça e coordenou o esquema
contou que ofereceu à atriz Felicity
Huffman que mediasse a correção das respostas do exame de admissão de
sua filha. Huffman é acusada de pagar US$ 15 mil pelo teste modificado de sua
filha mais velha e por ter iniciado o mesmo processo para sua filha mais nova,
apesar de ter abandonado a ideia.
Ela é casada com o ator William H. Macy ("Fargo",
"Boogie Nights: Prazer Sem Limites "), que não foi indiciado.
Huffman foi detida pela polícia e, horas mais tarde,
liberada após pagar fiança de US$ 250
mil (R$ 953 mil).
Já Lori Loughlin e seu marido, o estilista Mossimo
Giannulli, também acusado, teriam acordado o pagamento de US$ 500 mil para que
suas filhas fossem incluídas na equipe de remo da Universidade do Sul da
Califórnia, apesar de não serem remadoras. As duas filhas do casal foram
aceitas na instituição.
O casal também foi detido pela polícia. Giannulli, cuja
fiança chegou a um milhão de dólares (R$ 3,8 milhões), já foi liberado.
A testemunha contou como, com a ajuda de outras pessoas,
conseguia corrigir o resultado dos exames de admissão dos filhos de seus
clientes.
De acordo com o jornal The New York Times, Singer,
administrador do esquema, declarou-se culpado e está colaborando com a
investigação. Ele foi acusado de extorsão, lavagem de dinheiro e obstrução da
justiça.
O esquema começou em 2011 e, além de Stanford (Palo Alto, na
Califórnia) e Yale (New Haven, Connecticut), ajudou estudantes a serem aceitas
pela Universidade do Texas (Austin), Georgetown (Washington DC), Universidade
do Sul da Califórnia e Universidade da Califórnia, ambas em Los Angeles.
Parte do esquema era aconselhar os pais a mentirem para os
administradores dos testes que seus filhos tinham deficiências de aprendizado,
o que lhes dava tempo prolongado para realizar os exames.
Quem aplicava os testes nesses centros recebia subornos para
permitir que os clientes de Singer trapaceassem, muitas vezes fazendo com que
as respostas erradas de um aluno fossem corrigidas após a conclusão do exame ou
fazendo outra pessoa realizar a prova.
Os pais eram aconselhados a escolher um dos dois centros de
testes em que a empresa de Singer disse ter controle: um em Houston, no Texas,
e o outro em West Hollywood, Califórnia.
"As vítimas reais neste caso são os estudantes que
trabalham duro", disse o advogado Lelling, que foram preteridos por
"estudantes muito menos qualificados e suas famílias que simplesmente
compraram a sua entrada" nas universidades.
Em muitos casos, os estudantes não estavam cientes de que
seus pais estavam envolvidos na fraude, disseram os promotores. Fonte: Folha de
São Paulo - 12.mar.2019
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