Segundo o Centro de Estudos e Tratamento de Segurança do
Brasil (CERT.Br), em 2017, foram registrados 833 mil incidentes de algum tipo
de ameaça cibernética no país, contra 647 mil no ano anterior. Os casos mais
comuns no ano passado foram a varredura de computadores, prática conhecida como
scan (53,1% dos incidentes), seguida pelos ataques de interrupção de serviço,
denominados DdoS (26,4%) e por fraudes (7%). Fonte: Agência Brasil - 26/04/2018
domingo, 13 de maio de 2018
ETA anuncia seu fim após meio século de terrorismo na Espanha
Seis anos e meio depois de declarar que se afastaria
definitivamente do terrorismo, o grupo basco independentista ETA anunciou seu
desaparecimento como organização através de um comunicado divulgado na quinta-feira, 3 de maio, às 9h06 (horário de
Brasília). A forma que utilizou para expressar sua dissolução foi “o
desmantelamento total do conjunto de suas estruturas” e “o final de sua
trajetória e da sua atividade política”. É o último comunicado de um grupo com
59 anos de história, a derradeira organização terrorista a se extinguir na
Europa.
O comunicado foi lido em espanhol por Josu Urrutikoetxea,
mais conhecido como Josu Ternera, histórico dirigente do ETA e participante do
processo de diálogo mantido pela organização com o Governo de José Luis
Rodríguez Zapatero, em 2006. Josu Ternera está em paradeiro desconhecido, pois
é procurado pela Justiça espanhola. O texto, intitulado Declaração Final do ETA
ao Povo Basco, tem 378 palavras – uma extensão semelhante à do comunicado de
outubro de 2011 em que o grupo separatista renunciava à violência – e não faz
nenhuma alusão às vítimas da sua ação terrorista. Aliás, busca justificar sua
trajetória criminosa.
As instituições e os partidos consideram que o comunicado do
ETA corrobora a sua dissolução. Fontes do Governo regional basco avaliam que
ele “cumpre as condições exigidas”, mas denunciam suas falhas. “Falta um
reconhecimento do dano causado a todas as vítimas, e pretende justificar sua
trajetória terrorista”, disse uma dessas fontes.
Na sexta-feira, no começo da tarde, uma delegação
internacional, composta entre outros pelo advogado sul-africano Brian Currin e
pelo prefeito de Bayonne (França), Jean René Etchegaray, registrará em cartório
a dissolução da organização separatista, num ato a ser realizado em
Cambo-les-Bains, localidade basca no lado francês da fronteira. Os Governos das
regiões espanholas do País Basco e Navarra (onde também há importante presença
basca) não comparecerão. Mas estarão lá representantes dos partidos bascos, com
exceção do Partido Popular e do Partido Socialista de Euskadi.
“O ETA, organização
socialista revolucionária basca de libertação nacional, quer informar ao Povo
Basco sobre o final de sua trajetória”, diz o comunicado da organização
HISTÓRIA SANGRENTA
O grupo terrorista ETA para trás uma história sangrenta com
853 mortos, segundo o site do Ministério do Interior da Espanha, sendo a
maioria bascos; 79 sequestrados, 12 deles assassinados, e 6.389 feridos.
Desaparece ficando pendentes de esclarecimento 197 casos – 170 absolvidos, e 27
arquivados.
Nasceu em 1959, mas não foi uma organização surgida para
combater a ditadura de Francisco Franco. Sua carreira de assassinatos começou
nos estertores do franquismo, em 1968, e se prolongou por mais 43 anos. O ETA
praticou o terrorismo durante apenas sete anos da ditadura, e outros 36 entre a
transição e a democracia. Foi uma organização terrorista que, em sua pretensão
de impor um projeto totalitário no País Basco, tentou desestabilizar a
democracia espanhola e o autogoverno basco, ambos atacados com mais sanha nos
momentos mais difíceis da transição. Concretamente, entre 1979 e 1980 – anos do
referendo constitucional espanhol, da votação do Estatuto de Gernika e da
criação do primeiro Governo basco depois da Guerra Civil –, assassinou 244
pessoas, quase um terço dos seus crimes. Pouco antes, em 1977, o grupo havia se
beneficiado de uma anistia que libertou todos os seus presos (o que serviu de
pretexto ao tenente-coronel Tejero Molina para a sua tentativa de golpe de
Estado de 23 de fevereiro de 1981). Seu balanço terrorista e desestabilizador é
nítido: 93% de seus 829 assassinatos foram cometidos entre a transição e a democracia,
Só 7% durante a ditadura.
A NARRATIVA DE MAIS DE MEIO SÉCULO
O ETA desapareceu da vida pública em 20 de outubro de 2011,
quando abandonou definitivamente o terrorismo e chegaram ao fim seus
assassinatos, seus sequestros, suas extorsões e suas ameaças
A história do ETA foi um absurdo. Embora inspirado no IRA e
nos movimentos de libertação nacional – Cuba, Argélia etc. –, diferenciou-se
destes por ter realizado a maior parte da sua trajetória terrorista contra uma
Espanha que inaugurava a democracia e um País Basco que estreava o autogoverno,
sob o amparo da União Europeia. Nessas condições, estava destinado a
desaparecer sem alcançar seus objetivos, tal como aconteceu. Embora
progressivamente debilitado desde 1982, com a dissolução do ramo político-militar
do ETA, sua injustificada bitola antifranquista, a guerra suja e alguns erros
na luta antiterrorista contribuíram para que seu final fosse mais lento.
Ao Governo do PP caberá exigir o cumprimento da legalidade
aos detentos do ETA que pretendam se reinserir na sociedade, mas sem se exceder
nas condições. É o momento para que o Executivo de Mariano Rajoy cumpra o que
muitos de seus correligionários disseram no passado: que quando o ETA se
dissolvesse reveriam a política penitenciária, concebida para lutar contra o
terrorismo. Tanto o Governo basco como o Parlamento regional terão um papel supervisor.
A convivência passa, também, pelo cumprimento da legalidade sem cláusulas
abusivas.
O avanço na convivência exige, igualmente, que não se busque
apenas esclarecer os casos pendentes de vítimas do terrorismo etarra. Também é
preciso olhar para as vítimas da guerra suja, pendentes de investigação em mais
de 60% dos casos. Do mesmo modo, para efeitos jurídicos, as instituições devem
conceder a todas as vítimas, sejam do ETA, da guerra suja ou de abusos
policiais, o mesmo reconhecimento. Fonte: El País - San Sebastián / Madri 3 MAI
2018
sábado, 12 de maio de 2018
Brasil tem sociedade viciada em Estado
Uma
'sociedade viciada em Estado', com uma cultura de 'desigualdade' e
'desonestidade institucionalizada'. Para o ministro Luís Roberto Barroso, do
Supremo Tribunal Federal (STF), esses são os três principais problemas ainda
enfrentados pelo Brasil.
Em
palestra no Brasil Forum UK- evento no Reino Unido organizado por estudantes
brasileiros no sábado, 5 de maio, Barroso
elencou os principais desafios do país e avanços alcançados nos últimos 30
anos, desde que a Constituição Federal entrou em vigor.
No
rol de "desafios" a serem enfrentados, ele citou "a permanente
dependência e onipresença do Estado". Para o ministro, atualmente
"qualquer projeto no Brasil depende do Estado, de financiamento do BNDES,
da Caixa Econômica ou da ajuda do prefeito."
"Criamos
uma sociedade viciada no Estado. Temos que expandir a sociedade civil. Essa
presença excessiva do Estado gera uma cultura de compadrio e favorecimento que
está por trás do loteamento de cargos públicos", afirmou.
Após
a palestra, perguntado por jornalistas onde ele acredita que o Estado deve
"recuar", o ministro não quis responder.
O
segundo problema citado por Barroso é o que chamou de 'patrimonialismo'. De
acordo com o ministro, o Brasil herdou da colonização portuguesa uma
dificuldade em "separar o capital público do privado".
"Essa
é uma disfunção que ainda não superamos. Ainda temos, no Brasil, elites
extrativistas que conduzem o país apropriando-se do espaço público para
repartir em feudos e loteamentos."
A
confusão entre o público e privado teria gerado, conforme o ministro, uma
"cultura fisiológica de desonestidade institucionalizada". Barroso
afirmou que, embora haja uma "corrupção sistêmica", a sociedade
brasileira tem tido "a coragem" de não mais varrer para debaixo do
tapete.
"A
corrupção no Brasil não foi produto de um conjunto de falhas individuais, é uma
corrupção sistêmica e endêmica que envolve estatais, agentes públicos,
privados, membros do Executivo, do Legislativo", disse, avaliando que a
corrupção não é um "fenômeno de um partido ou governo".
'CADA
UM QUER SUA PRISÃO ESPECIAL'
Por
fim, Barroso argumentou que ainda existe no país uma "cultura histórica de
desigualdade", com setores reivindicando privilégios, como foro
privilegiado para políticos e prisão especial.
"Ainda
vivemos um país em que, talvez pelo fruto da escravidão, há a crença de que
ainda existem superiores e inferiores. Criamos cultura em que cada um quer
imunidade tributária, quer seu foro privilegiado, seu carro oficial e sua
prisão especial", exemplificou.
Entre
os "avanços", Barroso mencionou o fato de a democracia no Brasil
estar vigorando sem "rupturas". Ele disse que o impeachment da
ex-presidente Dilma Rousseff foi um "trauma", mas que não representou
uma violação da lei e da Constituição.
"Sei
que o impeachment foi um trauma, mas é preciso fazer distinção entre a dimensão
política e institucional. Do ponto de vista político, as pessoas podem ter
diferentes visões e eu mesmo tenho a minha visão crítica, que eu não posso
manifestar. Mas, do ponto de vista jurídico-institucional, seguiu-se o que
estava previsto na Constituição."
'UNIVERSIDADE
PÚBLICA NÃO DÁ RETORNO'
Durante
a palestra, Barroso defendeu aumentar as fontes de financiamento das universidades
públicas brasileiras. Para ele, essas instituições são "caras" e não
dão o retorno esperado à sociedade.
Ele
defendeu, por exemplo, que as universidades possam buscar recursos vendendo
projetos, prestando serviços à sociedade e recebendo doações de ex-alunos e
empresários.
"Outro
problema a universidade pública. Ela custa caro e dá baixo retorno. O Estado
brasileiro não tem dinheiro suficiente para bancar uma universidade pública com
a qualidade que o Brasil precisa", afirmou, destacando, porém, que não é a
favor de privatizar essas universidades.
"A
universidade tem que ser capaz de auto-sustentabilidade, prestar serviços com à
sociedade, e obter filantropia. Já há ricos suficientes no Brasil. Eles dão
dinheiro a Harvard e a Yale."
Para
o ministro, o foco do investimento público em educação deve ser o ensino
básico. "A universidade publica é muito importante, mas o Estado tem
obrigações também com o ensino básico e a universidade tem que ser capaz de
arrecadar legitimamente recursos. Não é privatização e arrecadar
dinheiro", afirmou durante a palestra.
CANDIDATURA
Barroso
também foi perguntado por jornalistas se pensa em se candidatar a algum cargo
eletivo.
"Em
nenhum momento. Sou juiz e minha ideia é servir ao país como juiz. Se eu me
seduzir por essa ideia (candidatura), desautoriza tudo o que eu faço",
respondeu. Fonte: BC Brasil em Londres-05/05/2018
Ônibus afegão
Afegãos sentados no teto de um
ônibus tradicionalmente decorado atravessam a fronteira com o Paquistão, em
Chaman – Reuters– 2001
sábado, 5 de maio de 2018
Ministério de Agricultura reprova quase 60% das amostras de azeite de oliva
A
Operação Isis, realizada pelo Ministério da Agricultura, reprovou 59,7% das
amostras de azeite de oliva comercializadas no País. Assim, 300 mil litros de
produtos irregulares foram retirados do mercado, informou o ministério, em
nota. Além disso, mais 400 mil litros de outros produtos classificados como
temperos, mas com rótulos de azeite de oliva também foram recolhidos.
A
fiscalização analisou 107 marcas de 65 empresas, divididas em dois grupos. No
primeiro, 39 empresas tiveram 108 lotes de amostras aprovados. Já no segundo
grupo, 26 empresas tiveram 160 lotes reprovados.
Para
a análise, foram solicitadas a comprovação de compra da matéria-prima e a nota
fiscal de saída do produto. O ministério constatou que muitas empresas não
apresentaram fundamentos para vender azeite de boa qualidade. A fraude mais
recorrente é a mistura do azeite de oliva com outros tipos de óleos. As
empresas com lotes reprovados por fraude foram punidas com autuação e multa com
valor mínimo de R$ 5 mil, acrescido de 400% sobre o valor da mercadoria.
A
ação teve início em janeiro e terminará em dezembro, com previsão de avaliar
mais 470 amostras do produto em todo o Brasil. Os que foram apreendidos ficam
proibidos para consumo humano, mas estão liberados para reciclagem industrial,
principalmente a fabricação de sabão. O Brasil é o segundo maior importador
mundial do azeite de oliva, atrás apenas dos Estados Unidos. Em 2017, o País
importou 60 mil toneladas do óleo.
Conforme
a coordenadora-geral de Qualidade Vegetal do Ministério da Agricultura, Fátima
Parizzi, as duas principais irregularidades na comercialização do produto são a
mistura do azeite de oliva com outros óleos e a tentativa de iludir o
consumidor pelo rótulo. "O consumidor precisa estar atento e não se deixar
enganar pelas embalagens bonitas com ilustrações de azeitona ou com referências
a Portugal e Espanha", explicou. "Outro ponto muito importante é o
preço. O consumidor deve desconfiar da unidade de 500 mililitros vendida por
menos de R$ 10."
No
rótulo, para que o produto seja considerado "azeite de oliva virgem",
ou "extravirgem", não é permitida a presença de óleos vegetais
refinados, de outros ingredientes e aromas ou sabores de qualquer natureza. No
caso de azeite de oliva refinado, o rótulo mencionará obrigatoriamente que é do
"tipo único", informa Fátima Parizzi. Fonte: Bol Noticias -
01/05/2018
quinta-feira, 3 de maio de 2018
Sombra na cortina
Uma
projeção na cortina dá a impressão de que há sempre alguém em casa. A ideia é
de uma gestora imobiliária em Tóquio para dar mais segurança a mulheres que
moram sozinhas.
As
japonesas apostam numa alternativa pouco convencional para a segurança. É o “Homem na Cortina”. Trata-se de uma
projeção que serve para dar a impressão de que há sempre alguém em casa. E não
somente isso: o companheiro da moradora
é um lutador de box aparentemente bem ativo, num treinamento contínuo. Um celular conectado a um projetor lança a sombra na cortina. O “sombra” pode
fazer exercícios de karatê, balança um bastão de baseball, se vestir, toca
violão ou usa um aspirador de pó na casa.
Quem ousaria invadir a casa e interromper o “companheiro” da moradora? A
ideia dedicada a mulheres é de uma
empresa gestora de apartamentos
em Tóquio. A capital japonesa tem 1,4
milhão de mulheres que moram sozinhas. Fonte: Deutsche
Welle – 02.05.2018
terça-feira, 1 de maio de 2018
Adam Alter: “O vício nas telas avança silencioso”
A
tecnologia digital é uma necessidade moderna. Os videogames, a televisão, o
rádio e o telégrafo, e até a letra impressa revolucionaram a sociedade por
causa de seus efeitos sobre a cultura, o conhecimento, a criatividade e as
emoções. Mas com os aplicativos é diferente, porque se apoiam em algoritmos
sedutores. O problema com esse vício, além do mais, é que não se pode remover a
substância que vicia porque todo mundo está usando essa tecnologia.
Professor
de marketing na faculdade de Administração da Universidade de Nova York, ele
explora no livro Irresistible como a tecnologia consegue roubar o tempo e a
atenção dos usuários para que eles não se afastem da tela. Defende que sejam
estabelecidos padrões para o design de aplicativos. Mas adverte que o
consumidor é que deve avaliar seriamente como gerencia seu tempo.
PERGUNTA.
PSICÓLOGOS E SOCIÓLOGOS VÊM DEBATENDO OS EFEITOS DAS TELAS HÁ ANOS. AGORA O
PROBLEMA DOMINA AS MANCHETES.
Resposta.
O movimento tomou forma em novembro, quando Sean Parker [um dos primeiros
investidores no Facebook] disse que a rede social não se preocupa com o
bem-estar dos seus usuários e que tudo o que importa é que as pessoas mantenham
os olhos colados na tela e passem o máximo de tempo possível usando o
dispositivo. Foi um grande momento, levou outras figuras do mundo tecnológico a
revelar que algo semelhante acontecia em suas empresas.
“Os
executivos do Vale do Silício mandam seus filhos para escolas sem tecnologia.
Eles sabem de tudo isso e são os mais cautelosos”
P.
MAS ESSAS EMPRESAS SÃO INDIFERENTES OU SIMPLESMENTE QUEREM TER O MELHOR
PRODUTO?
R.
Pode-se dizer que o melhor produto é aquele que você não consegue parar de
usar. Se você usa o iPhone quatro horas por dia, é porque ele é bem projetado.
Mas é muito difícil saber quais motivações estão por trás. Por isso é tão
importante que quem conhece o processo o revele, para que essas empresas levem
em consideração o consumidor.
P. A
CULPA É DO FABRICANTE OU DO DESENVOLVEDOR DO APLICATIVO?
R. A
Apple não me parece ser o problema. É verdade que permite criar aplicativos que
não conseguimos parar de usar. Mas depois que te vende o telefone, a Apple não
se importa tanto com o tempo que você passa na tela. Já Facebook, SnapChat e
Twitter se preocupam com isso a cada minuto porque é uma métrica fundamental
para seus negócios. Poderíamos pedir à Apple para regular a forma como
apresenta as informações, o que também é importante, mas os ganchos estão no
conteúdo.
P. A
PESSOA É A ÚLTIMA RESPONSÁVEL PELO USO.
R.
Existem pessoas capazes de ver que 20 minutos já bastam e então passam para
outra coisa. Mas se em 2015 se ficava uma média de três horas na frente das
telas, no ano passado já eram quatro. Portanto, houve uma mudança no conteúdo
que escapa do controle do usuário. Nem todo mundo é capaz de fazer uma análise
do que é bom ou ruim para sua vida. É nisso que as empresas focam, nos milhões
de olhos que não se importam com o uso da tecnologia.
P.
COMO SE DETECTA ESSE TIPO DE DEPENDÊNCIA?
R. O
primeiro sinal é social, quando compromete os relacionamentos. O segundo é
financeiro, se essa interação acaba custando mais dinheiro do que se pensava. A
terceira é física, porque a perda de atenção pode causar um acidente ou porque
o usuário não se exercita. E o quarto é psicológico, porque muda a maneira como
você lida com o tédio. O último parece uma bobagem, mas o telefone está
ocupando cada segundo que se tem livre. Não há problema em não se entediar, mas
do tédio surgem ideias.
“Essas empresas não estão muito preocupadas
com a inovação, exceto a própria, seu foco é tentar impedir que o usuário saia”
P.
AS TELAS SÃO UMA AMEAÇA PARA UMA SOCIEDADE ABERTA?
R.
Sim, porque reforçam o efeito de caixa de ressonância. As pessoas ficam em
plataformas onde veem suas próprias ideias e pontos de vista refletidos. Isso
te torna mais intransigente, dogmático e teimoso. O Facebook sabe que as
pessoas gostam de ver os outros compartilhando suas mesmas ideias. As
plataformas são projetadas para tentar mantê-lo conectado ao dispositivo, para
reforçar essa ressonância; não querem alterar a mensagem apresentando opiniões
diferentes.
P.
SUPÕE-SE QUE, QUANTO MAIS ABERTA, MAIS INOVADORA É UMA SOCIEDADE.
R.
Não dá para ser criativo sem ter um espaço aberto para pensar e debater. Mas
acho que essas empresas não se importam muito com inovação, exceto a sua
própria, que é focada em tentar evitar a saída do usuário e a perda de receita
com publicidade. É uma nova forma de monopólio.
P.
ESTAMOS INFELIZES COM TANTA TECNOLOGIA?
R.
Acho que estamos menos felizes como comunidade, como sociedade. Se dedicamos
menos tempo a tudo aquilo que nos torna humanos, e passamos as quatro horas que
temos livres no telefone fazendo a mesma coisa, nos tornamos homogêneos.
Precisamos dedicar esse tempo livre aos nossos hobbies, praticar esportes,
fazer caminhadas na natureza, conversar frente a frente. É vital para o
desenvolvimento das pessoas.
P.
MARC BENIOFF, CEO DA SALESFORCE, COMPARA O USO DE REDES SOCIAIS COM O USO DO
TABACO. DEVERIA SER REGULADO EM VISTA DA MANEIRA COMO VICIA?
R.
Poderiam ser criadas normas, por exemplo, para proteger os funcionários com
políticas que limitem o envio de mensagens fora do horário de trabalho. Mas é
algo que os consumidores precisam exigir, como aconteceu com a política
ambiental. Ninguém dava atenção ao descarte de lixo até que se tornou um grande
problema e os consumidores forçaram a mudança.
P.
COMO SE INTERROMPE O FLUXO DE INFORMAÇÕES QUE AS PESSOAS USAM PARA TRABALHAR OU
INTERAGIR?
R.
Não é uma batalha equilibrada. Há centenas de pessoas dedicadas ao design de
cada detalhe, de cada truque, como o botão “curtir”, que faz você se viciar nas
plataformas. Eles têm bilhões de dados que lhes permitem saber o que funciona.
É por isso que, como consumidores, devemos ser mais inteligentes e tentar mudar
nossos hábitos de uso. É difícil.
P.
ESSE VÍCIO, NO ENTANTO, NÃO MATA COMO AS DROGAS.
R.
Sim, mas a dependência química afeta uma parte muito pequena da população,
enquanto o vício nas telas é muito mais difundido e avança de maneira
silenciosa. Ser viciado em heroína não é socialmente aceito, mas em tecnologia,
sim. As pessoas esperam que você responda às mensagens imediatamente, do
elevador ou durante o jantar. As consequências disso terão maior alcance.
P.
ENTÃO É MAIS DIFÍCIL DE COMBATER?
R. A
dependência de álcool ou drogas pode ser reduzida mudando-se de ambiente. Não é
fácil, mas é uma opção. Mas se você depende da tecnologia em sua rotina diária,
não há alternativa porque nossas vidas estão cheias de telas e é muito difícil
se comunicar sem elas. Para a maioria dos adultos, as telas se tornaram um
elemento de definição da própria identidade.
P.
PARECE MAIS COM A CRISE DA OBESIDADE DO QUE COM A DO TABACO. NÃO SERIA MAIS
PRÁTICO ENSINAR COMO USAR A TECNOLOGIA?
R. A
abstinência não é realista, mas deveriam existir cursos sobre como interagir com
a tecnologia. E não só para mostrar seus riscos, mas também seus benefícios. Há
escolas sem tecnologia no Vale do Silício, onde estudam precisamente os filhos
de executivos de tecnologia. Eles sabem muito bem de tudo isso e são os mais
cautelosos. Fonte: El
País -25 ABR 2018
Comentário:
Três
bilhões de pessoas, cerca de 40% da população mundial, usam redes sociais - e
gastam em média duas horas diárias compartilhando, curtindo, tuitando e
atualizando status nessas plataformas, segundo algumas pesquisas recentes. Isso
gera cerca de meio milhão de tuítes e fotos no Snapchat compartilhados a cada
minuto. Fonte: BBC Future
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