sábado, 21 de janeiro de 2017

Discurso da posse de Donald Trump

Donald Trump tomou posse nesta sexta-feira (20) como 45º presidente dos Estados Unidos. Em um discurso de pouco menos de 20 minutos, o novo presidente prometeu transferir o poder político do país de Washington para os americanos e disse que o povo não será ignorado pelo governo. Trump ainda ressaltou a necessidade de priorizar o país, e criticou os políticos tradicionais.

Leia abaixo a íntegra do discurso de posse de Trump, com comentários de Raul Juste Lores.

Juiz presidente do Supremo Roberts, presidente Carter, presidente Clinton, presidente Bush, presidente Obama, meus concidadãos americanos e povos do mundo: obrigado.

Nós, os cidadãos da América, nos unimos agora em um grande esforço nacional para reconstruir nosso país e restaurar sua promessa para toda nossa população.

Juntos, vamos determinar o rumo da América e do mundo por anos pela frente.
Vamos enfrentar desafios. Vamos encarar dificuldades. Mas daremos conta do recado.

A cada quatro anos nós nos reunimos nestes degraus para realizar a transferência de poder ordeira e pacífica, e somos gratos ao presidente Obama e à primeira-dama Michelle Obama por sua ajuda gentil nesta transição. Eles foram magníficos.

Agradecimentos ao antecessor são uma civilizada praxe.

A cerimônia de hoje, contudo, encerra um significado muito especial. Porque hoje não estamos apenas transferindo o poder de uma administração a outra, ou de um partido a outro –estamos transferindo o poder de Washington e devolvendo-o a vocês, o povo americano.

Durante tempo demais, um grupo pequeno na capital de nosso país auferiu os benefícios do governo, enquanto o povo arcou com os custos.

Antipolítico e anti-establishment, a retórica que o elegeu.
Washington prosperou –mas o povo não compartilhou sua riqueza.
A região metropolitana é das mais ricas do país, incólume à crise de 2008.
Os políticos prosperaram –mas os empregos partiram, e as fábricas foram fechadas.
O establishment se protegeu, mas não protegeu os cidadãos de nosso país.

As vitórias dos políticos não têm sido as vitórias de vocês; os triunfos deles não têm sido os seus triunfos; e, enquanto eles festejavam na capital de nossa nação, as famílias em todo nosso país que passavam por dificuldades tinham pouco o que festejar.

Isso tudo vai mudar –começando aqui mesmo, e agora mesmo, porque este é o momento de vocês: ele pertence a vocês.

Ele pertence a todos os que estão reunidos aqui hoje e todos que estão assistindo em toda a América.

Este é o dia de vocês. É a festa de vocês.
E este país, os Estados Unidos da América, é o seu país.

O que importa verdadeiramente não é qual partido controla nosso governo, mas se nosso governo é controlado pelo povo.

O dia 20 de janeiro de 2017 será recordado como o dia em que o povo tornou-se governante deste país outra vez.

Os homens e mulheres esquecidos de nosso país não serão mais esquecidos.

Todos os estão ouvindo agora.

Vocês vieram às dezenas de milhões para tornarem-se parte de um movimento histórico que o mundo nunca antes viu.
Ao centro desse movimento está uma convicção crucial: que uma nação existe para servir a seus cidadãos.
Os americanos querem ótimas escolas para seus filhos, bairros seguros para suas famílias e bons empregos para eles mesmos.

São as reivindicações justas e razoáveis de um público que está com a razão.

Mas, para uma parte grande demais de nossos cidadãos, a realidade que existe é diferente: mães e crianças presos na armadilha da pobreza nos centros pobres de nossas zonas centrais; fábricas desativadas e corroídas, espalhadas pela paisagem de nosso país como túmulos; um sistema de ensino rico em dinheiro, mas que deixa nossos estudantes jovens e belos privados de conhecimento; e criminalidade, gangues e drogas que já roubaram vidas demais e roubaram nosso país de tanto potencial não realizado.

"Inner cities", zonas centrais, virou sinônimo de áreas de maioria negra dos anos 1960 aos 2000; ele foi acusado de racismo na campanha por usar esse termo.

Essa carnificina americana para aqui e para agora mesmo.

Somos uma só nação –e a dor deles é a nossa dor. Seus sonhos são nossos sonhos; seu sucesso será nosso sucesso. Compartilhamos um só coração, um lar e um destino glorioso.

O juramento de posso que faço hoje é um juramento de lealdade a todos os americanos.
Durante muitas décadas enriquecemos a indústria estrangeira às custas da indústria americana;
Ainda que as empresas americanas tenham liderado a fuga para "o estrangeiro".

Subsidiamos os exércitos de outros países, ao mesmo tempo em que permitimos o lamentável esgotamento de nossas próprias forças armadas;

Defendemos as fronteiras de outros países, ao mesmo tempo em que nos recusamos a defender as nossas;

O orçamento de US$ 600 bilhões (R$ 1,9 bilhão) é superior aos dos outros seis maiores exércitos do mundo somados, mas sofreu cortes sob Obama.

E gastamos trilhões de dólares no exterior, enquanto a infraestrutura da América se deteriorou.

Enriquecemos outros países, enquanto a riqueza, a força e a confiança de nosso país desapareceram no horizonte.

Nacionalista, projeta a ideia de que o país "enriquece" outros países, sem interesse

Uma a uma, as fábricas fecharam suas portas e deixaram nosso território, sem sequer pensar nos milhões e milhões de trabalhadores americanos deixados para trás.

A produção industrial americana tem obtido recordes nos últimos anos, mas boa parte é montada por robôs.
A riqueza de nossa classe média foi arrancada de suas casas e então redistribuída pelo mundo inteiro.
Mas isso é o passado. E agora estamos voltados apenas para o futuro.
Nós aqui reunidos hoje estamos lançando um novo decreto a ser ouvido em todas as cidades, em todas as capitais estrangeiras e em todos os salões do poder.
Deste dia em diante, uma nova visão vai reger nossa terra.
Deste momento em diante, será a América em Primeiro Lugar.

Cada decisão sobre comércio, sobre impostos, sobre imigração, sobre política externa, será tomada para beneficiar os trabalhadores americanos e as famílias americanas.

Precisamos proteger nossas fronteiras dos estragos causados por outros países que fabricam nossos produtos, roubam de nossas empresas e destroem nossos empregos. A proteção levará a maior prosperidade e força.

Mistura protecionismo com segurança, temas fortes na campanha, mas não cita os imigrantes ilegais, nem o muro com o México.

Eu lutarei por vocês com cada respiração minha –e nunca, jamais os decepcionarei.
A América vai começar a ganhar outra vez, a ganhar como nunca antes.
Traremos nossos empregos de volta. Traremos nossas fronteiras de volta.
Traremos nossa riqueza de volta. E traremos nossos sonhos de volta.

Vamos construir novas estradas, rodovias, pontes, aeroportos, túneis e ferrovias em toda parte deste nosso país maravilhoso.

Ele prometeu investimentos de até US$ 1 trilhão (R$ 3,2 bilhões) em obras públicas.

Vamos tirar nosso povo da dependência da seguridade social e lhe dar trabalho outra vez –reconstruindo nosso país com mãos americanas e mão-de-obra americana.

Republicanos acusam há anos de muita gente não procurar emprego por receber "seguridade social".

Vamos nos pautar por duas regras simples: compre o que é americano e contrate quem é americano.

Buscaremos a amizade e a boa vontade com as nações do mundo –mas o faremos com o entendimento de que é direito de todas as nações priorizar seus próprios interesses.

Não queremos impor nosso modo de vida a ninguém, mas sim deixar que ele brilhe como exemplo para todos o seguirem.

Trump criticou duramente o intervencionismo do seu antecessor republicano George W. Bush.

Vamos reforçar alianças antigas e formar alianças novas –e unir o mundo civilizado contra o terrorismo islâmico radical, que vamos erradicar completamente da face da Terra.

Obama não usava o termo porque temia que soasse como a era das Cruzadas. Trump quis marcar a diferença.

E o alicerce fundamental de nossa política será uma lealdade total aos Estados Unidos da América, e, através de nossa lealdade a nosso país, vamos redescobrir nossa lealdade uns aos outros.

Quando você abre seu coração ao patriotismo, não há lugar para o preconceito.

A Bíblia nos diz "como é bom e agradável quando os irmãos convivem em união".

Precisamos dizer abertamente o que pensamos, debater nossas divergências com franqueza, mas sempre buscar a solidariedade.

Quando a América está unida, ela é totalmente invencível.

Não deve haver nenhum medo –estamos protegidos e sempre estaremos.

Seremos protegidos pelos grandes homens e mulheres de nossas forças armadas, por nossa polícia, e, o que é mais importante, somos protegidos por Deus.

Mescla paternalismo à proteção divina. Faz sucesso com o eleitorado mais religioso.

Finalmente, precisamos pensar grande e sonhar ainda maior.

Na América, entendemos que uma nação só vive enquanto estiver se esforçando.

Não vamos mais aceitar políticos que falam muito e fazem pouco –que reclamam constantemente, mas nunca fazem nada a respeito dos problemas.

A hora do discurso da boca para fora acabou.

Agora é chegada a hora da ação.

Não permitam que ninguém lhes diga que isso não pode ser feito. Nenhum desafio é capaz de derrotar o coração, a garra e o espírito da América.

Discurso direto, sem firulas, mas quase de auto-ajuda. O presidente escreveu vários livros motivacionais.

Não vamos fracassar. Nosso país vai vicejar e prosperar novamente.

Estamos na aurora de um novo milênio, preparados para decifrar os mistérios do espaço, para libertar a Terra do sofrimento das doenças e para atrelar as energias, indústrias e tecnologias do amanhã.

Um novo orgulho nacional vai inspirar nossas almas, animar nossas visões e sanar nossas divisões.

Tenta endereçar a polarização crescente no país.

É hora de lembrar aquelas palavras de sabedoria antiga que nossos soldados nunca esquecem: que, quer sejamos negros, morenos ou brancos, todos sangramos o mesmo sangue vermelho dos patriotas, todos desfrutamos das mesmas liberdades gloriosas e todos saudamos a mesma e grandiosa bandeira americana.

E a divisão racial –apenas 8% dos eleitores negros votaram nele; raro momento em que não se dirige apenas à sua base.

Quer uma criança nasça no alastramento urbano de Detroit ou nas planícies do Nebraska, varridas pelos ventos, ela olhará para o mesmo céu noturno, encherá seu coração com os mesmos sonhos e recebeu o sopro de vida do mesmo Criador todo-poderoso.

Assim, a todos os americanos, em cada cidade próxima ou distante, pequena ou grande, de montanha a montanha e de oceano a oceano, ouçam estas palavras:

Vocês nunca mais serão ignorados.

Sua voz, suas esperanças e seus sonhos vão definir nosso destino americano. E sua coragem, sua bondade e seu amor nos guiarão para sempre neste caminho.

Juntos, Tornaremos a América Grande Outra Vez.

Tornaremos a América Rica Outra Vez.

Faremos a América Sentir Orgulho Outra Vez.

E Tornaremos a América Segura Outra Vez.

E, Sim, Juntos, Tornaremos a América Grande Outra Vez.

O slogan de sua campanha

Obrigado, Deus Os Abençoe e Deus Abençoe a América.
Fonte: Folha de São Paulo - 20/01/2017

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A boa e velha corrupção

Uma pesquisa da University College, de Londres, publicada na revista "Nature Neuroscience", descobriu que o cérebro humano se habitua a mentir. O trabalho envolveu dezenas de pessoas, a quem se ofereceram opções que testavam sua honestidade. Diante de situações em que se dariam bem se mentissem, elas não falharam —mentiram e se deram bem. Ficou demonstrado que, se praticadas com regularidade, pequenas mentiras levam a uma desonestidade compulsiva, que o cérebro não vê como condenável.

Não é uma novidade para nós, no Brasil, e sem necessidade de pesquisa. E com uma variante: nossos governantes mentem, roubam e apagam as pistas, e nós é que nos habituamos a isso.

É verdade que, de tempos em tempos, o país acorda para o esculacho e se deixa seduzir por um moralista, que promete varrer a sujeira, caçar os marajás ou acabar com os 300 picaretas do Congresso. Daí Jânio Quadros (1960), Fernando Collor (1989) e Lula (2002). Eleitos esses elementos, o que acontece? A vassoura toma um porre, o caçador de marajás revela-se o marajá‑açu e o outro resolve governar justamente com os 300 picaretas, ampliados para 400.

No decorrer dos séculos, conformamo-nos com o uso do poder para fins lucrativos, por governantes em busca de vantagens particulares, como fazendas, casas de praia, canais de TV, jatinhos, viagens à Europa, joias, vinhos, festas. Era a velha corrupção, tal como praticada pelo PMDB, PSDB e que tais. Com o PT, parecíamos diante de uma nova corrupção —a do poder pelo poder, a da tomada do Estado para a execução de um projeto ideológico.

Mas os partidos políticos são formados por seres humanos. E estes, por mais ideológicos, ao descobrir que se dão bem mentindo, passam a mentir também em causa própria —rumo à boa e velha corrupção. Fonte: Folha de São Paulo - 04/01/2017  02h00 – Ruy Castro

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Será crime um branco não ter amigos negros para mostrar?

Ah, a experiência! Os colunistas são como certos cachorros de caça. A presa ainda não apareceu no horizonte. Mas os nossos caninos já estão espumando de excitação.

Exemplo: dias atrás, li uma excelente entrevista de Jonathan Franzen à "Slate". Gosto de Franzen. Conheci-o pela primeira vez em 2002, talvez 2003, em livro de ensaios que recomendo ("Como Ficar Sozinho", Companhia das Letras). Depois, provei os romances. Também recomendo, embora "As Correções" (Companhia das Letras) me pareça bem melhor que os seguintes.

Mas regresso à entrevista. E aos meus caninos. A certa altura, o entrevistador pergunta a Franzen se ele nunca pensou em escrever um romance sobre os conflitos raciais que correm pelos Estados Unidos. A pergunta é absurda: um escritor não tem que escrever sobre os temas que interessam ao entrevistador –e isso revela a decadência cultural do jornalismo contemporâneo.

Franzen escutou a pergunta, meditou e finalmente respondeu, embaraçado: "Não tenho muitos amigos negros", um eufemismo para dizer que não tem nenhum. E depois, com honestidade, concluiu: só devemos escrever sobre realidades que conhecemos bem.

Terminei essa parte da entrevista com duas perguntas a balançar no trapézio.

A primeira foi questionar se também eu tenho amigos negros. Não tenho. Existem conhecidos, colegas, amigos de amigos. Mas não tenho no portfólio um exemplar para mostrar. Razões?

Nenhuma em especial. Nunca aconteceu. O destino, nessas matérias, tem uma palavra importante. E, além disso, eu ainda respeito o significado profundo da palavra "amigo". São três ou quatro e ponto final. Por acaso, todos brancos.

Mas a segunda pergunta é mais relevante que a primeira e foi ela que despertou o meu faro: depois da confissão de Franzen, esperei pelas críticas das brigadas. Que logo surgiram, para confirmarem o meu instinto.

No inglês "The Guardian", a escritora Lindy West resumiu o estado da arte: Franzen faz parte da esmagadora maioria de americanos brancos (75%, segundo um estudo do Public Religion Research Institute) que não tem amigos de outras raças. Franzen seria, na linguagem erudita de West, um caso de "auto-segregação": um escritor que se esconde na sua bolha de privilégio e que nunca mostrou interesse em ter amigos negros.

Ponto prévio: se a cifra está correta (75% de brancos sem amigos de outras raças), é óbvio que existem dois planetas distintos nos Estados Unidos quando os negros representam 12% da população (estimativa conservadora).

A pobreza tem aqui a palavra central, admito: nas nossas vidas cotidianas, tendemos a cultivar "relações de classe". Se os brancos são mais afluentes que os negros, é normal que os brancos tenham amigos brancos.

Por outro lado, já não será tão normal viver em grandes cidades –como Nova York, Chicago ou Los Angeles– sem amigos negros que habitam a mesma classe média. Mas será que isso constitui um crime? Ou, pelo menos, uma falha de caráter?

A escritora acredita que sim. E, na sua cabeça pequena, não lhe ocorre a possibilidade singela de Franzen não ter amigos negros porque nunca os encontrou.

Para Lindy West, a raiz do desencontro está na pigmentação da pele; mas como excluir, com dogmatismo infantil, a importância das afinidades culturais, dos interesses comuns ou até dos acasos biográficos ou geográficos?

Finalmente, e em verdadeira paródia ao conceito de "amizade", Lindy West questiona por que motivo Franzen não faz um esforço para procurar amigos negros. "Amizade", para ela, é uma espécie de jardim zoológico privado onde temos o amigo negro na jaula 1; o asiático na jaula 2; o hispânico na jaula 3; o samoano na jaula 4; e, já agora, o índio na jaula 5. Parafraseando os existencialistas, a aparência precede a essência.

É um caminho. Claro que esse conceito de amizade também pode ser problemático: se a ONU tem 193 Estados membros, uma amizade verdadeiramente inclusiva deve transcender as fronteiras do país e abraçar o mundo inteiro. Ou somos cosmopolitas, ou não somos nada.

Prometo que vou fazer um esforço: amanhã começo na letra A – com um amigo afegão– e só descanso quando chegar ao Zimbábue. Fonte: Folha de São Paulo - 09/08/2016 - João Pereira Coutinho, escritor português

domingo, 1 de janeiro de 2017

Kroos relembra 7 a 1 em mensagem de Ano Novo

Toni Kroos, meio-campista do Real Madrid,  postou de forma genial com bastante humor na internet sua mensagem de Ano Novo "Feliz 2017" usando as bandeiras de Brasil e Alemanha no 1 e no 7, respectivamente. Alemão também sabe brincar.

Prefeitos e governadores fecham 2016 perto de colapso fiscal

Quase metade das 5.500 prefeituras deixará dívidas para os seus sucessores que tomam posse no próximo domingo

A última semana de 2016 termina com um cenário pouco animador para os prefeitos e governadores brasileiros.  
Quase a metade dos prefeitos (47,3%) deixará dívidas para os seus sucessores que tomam posse no próximo domingo. Os dados constam de um levantamento feito pela Confederação Nacional dos Municípios, uma entidade que congrega os prefeitos das 5.568 cidades brasileiras. O colapso fiscal nas prefeituras implicará em uma série de cortes de gastos, redução de secretarias municipais, assim como de funcionários terceirizados. Tudo isso dentro de um cenário em que a recuperação econômica não será tão rápida, após quase dois anos de recessão. O próprio presidente disse, nesta quinta-feira, que a melhora nas finanças deverá acontecer a partir do segundo semestre de 2017.

No caso dos governadores houve um jogo duplo pela parte deles. Em um primeiro momento, concordaram com todas as exigências rígidas da gestão Temer entre meados de junho e o fim de novembro para que tivesses suas dívidas negociadas. Depois tentaram e conseguiram usar de sua influência no Congresso Nacional, em dezembro, para retirar todas as contrapartidas das negociações da dívida que têm com a União. Entre elas, a obrigação de reduzir em 10% o número de comissionados, suspender concursos públicos e contratações, além de congelar os gastos públicos por dez anos em todas as 27 unidades da federação que aderissem ao programa de renegociação. Até conseguiram suspende essas medidas previstas no Regime de Recuperação Fiscal, mas Temer vetou a maior parte delas.

“A recuperação fiscal, da forma como veio ao Executivo, tornou-se mais ou menos inútil. Se não houver contrapartida, quando você entrega o dinheiro para o Estado, aquilo servirá para uma emergência, mas não para preparar o futuro”, afirmou o presidente em seu pronunciamento de fim de ano aos jornalistas.

No veto assinado pelo presidente e publicado no Diário Oficial da União de quarta-feira, Temer alegou que “houve um completo desvirtuamento do Regime, não sendo possível mais assegurar que sua finalidade maior, a retomada do equilíbrio fiscal pelos estados, seja assegurada”. Seguiu o presidente: “Não apenas a finalidade precípua do Regime foi alterada; em verdade, os dispositivos remanescentes trazem elevado risco fiscal para União”.

Com a decisão de fechar essa porta aos Estados, o Governo disse que ainda não encerrará as discussões. Prometeu que voltará a negociar com cada governador para tentar encontrar uma saída para a crise que atinge quase todas as unidades da federação.

Agora, o jogo volta praticamente à estaca zero, destacou uma fonte do Palácio do Planalto. As próximas semanas, antes do retorno do recesso legislativo serão de muita negociação para encontrar uma fórmula que agrade tanto aos Estados e, do ponto de vista fiscal, não comprometa tanto a União.


A dívida dos Estados brasileiros
União tem 591 bilhões de reais a receber
Acre
2.5
Alagoas
7.1
Amapá
1.7
Amazonas
3.1
Bahia
9.5
Ceará
5.5
Distrito Federal
3.5
Espírito Santo
5.2
Goiás
18.5
Maranhão
4
Mato Grosso
5.9
Mato Grosso do Sul
6.8
Minas Gerais
92.8
Pará
2.7
Paraíba
2.6
Paraná
16.2
Pernambuco
8
Piauí
1.8
Rio Grande do Norte
1.2
Rio Grande do Sul
54.3
Rio de Janeiro
78.4
Rondônia
2.8
Roraima
1.3
Santa Catarina
 15.1
São Paulo
 235.8
Sergipe
 2.2
Tocantins
1.5
Fonte: Banco Central do Brasil
El País - Brasília 29 Dez 2016       

Após consumo, a maconha fica no cabelo, nas unhas e até no tártaro do dente

Você sabia que seu cabelo pode contar se você consumiu maconha nos últimos meses? Pois é, se o fio for comprido o suficiente dá para descobrir até se você fumou a droga no ano passado.
Raspou o cabelo? Sem problemas, as unhas, pelos e até o tártaro no seu dente guardam indícios que podem confirmar o uso. A droga sai do organismo com o tempo, mas alguns resquícios ficam no corpo e exames podem encontrá-los.
"Fatores como a quantidade, o grau de pureza e o teor ativo da droga influenciam os exames, tanto quanto o peso, a gordura e as atividades hepática e renal, que aceleram a eliminação. Mas sempre há como saber se houve uso ou não", afirma Fábio Alonso, farmacêutico toxicologista e diretor do laboratório Contraprova, no Rio de Janeiro.
Os testes buscam pelo THC, princípio ativo da maconha, e pelo THC-COOH, que é o composto metabolizado, que prova que a substância foi realmente ingerida, passou pelo fígado e se transformou. Isso evita que alguém que esteve em uma festa onde pessoas fumaram maconha, mas não fez uso, seja erroneamente apontada como usuário.

ABRA A BOCA, POR FAVOR
Com a saliva é possível detectar se houve uso de maconha nas últimas horas e no máximo no dia anterior. "O teste é usado quando precisamos saber se naquele instante a pessoa está influenciada pela droga", explica Maristela Andraus, diretora do ChromaTox laboratórios, em São Paulo.
O exame é confiável e lembra um teste de gravidez: uma fita é molhada na saliva e, dependendo da cor que aparece,  é possível saber se houve consumo ou não. "Depois desta triagem, confirmamos o resultado no laboratório com equipamentos mais potentes", diz Andraus.
O teste é aplicado em momentos decisivos, como após um acidente de carro ou antes de um piloto que parece drogado pilotar um avião. E não adianta escovar os dentes ou passar enxaguante bucal, a substância psicoativa continuará na saliva.

SE EXERCITOU? O SUOR VIRA PROVA
O suor também contém substâncias que entregam o uso de maconha. "O teste determina o uso em curtíssimo prazo, se for feito em até 12 horas depois", afirma Alonso. Ele explica que o exame tem pouca aplicabilidade, já que o suor é difícil de coletar e que no Brasil ainda não existem laboratórios que analisem essa matriz.

A DROGA APARECE NO XIXI
Andraus diz que na urina é possível detectar o consumo até três dias depois do consumo, em média. O exame é bastante eficaz e preciso e é bem avaliado pelos laboratórios por ser um método não invasivo que garante uma grande quantidade de amostrar e que pode ser congelado e conservado.

OBVIAMENTE, TAMBÉM ESTÁ NO SANGUE
 O exame de sangue detecta a maconha na janela de até 15 dias, segundo Alonso. O exame é confiável e pode ser requisitado depois de um teste rápido, como o de saliva.
O farmacêutico afirma que o THC, princípio ativo da maconha, tem afinidade pelo tecido adiposo e a gordura vira um "depósito". Com o tempo, o THC se desprende e é liberado na corrente sanguínea. "É muito comum quando testamos pacientes em reabilitação que a pessoa dê positivo por até 20 dias, mesmo sem ter usado recentemente. É o corpo eliminando a substância", diz Alonso.

O CABELO É UMA LINHA DO TEMPO
Quando a maconha entra no seu corpo ela fica na corrente sanguínea e ao passar pela raiz do cabelo deixa ali depositado o THC. Conforme o fio cresce, ele leva consigo pedacinhos da substância. "Depois de uns cinco dias de ter fumado, a maconha começa a aparecer no cabelo. Avaliamos que cada um centímetro do fio equivale a um mês de vida e conseguimos saber como foi consumo no período", diz Andraus.
O último mês é o mais próximo do couro cabeludo e se o cabelo for longo é possível analisar anos. Quanto maior a concentração de THC, mais constante era o uso. Passar shampoo não muda nada, pois as substâncias estão dentro do cabelo e não na superfície. "O que pode afetar, mas não é certo, é clarear o cabelo, pois o procedimento mexe na estrutura do cabelo".
Se o cabelo tiver menos de um centímetro ou se tiver passado a máquina zero, os laboratórios testam em pelos, que funcionam da mesma forma.

UNHAS? DENTE? TÁRTARO?
Já deu para perceber que ao fumar maconha a substância não deixa o corpo tão fácil assim, mas não paramos por ai. As unhas também armazenam o THC, já que são tecidos queratinizados como os cabelos. Se a pessoa não cortar as unhas, todo o histórico de uso de maconha pode ser descoberto na unha.
"Existem muitos métodos novos sendo estudados. Confirmar o uso pelo dente ainda é novidade. Mas fui num congresso recentemente onde provavam o uso de maconha ao analisar o tártaro, uma vez que ele fica embebido na saliva e fica impregnando pelo THC", diz Andraus. Fonte: UOL, em São Paulo 04/11/2016