Uma pesquisa da University College, de
Londres, publicada na revista "Nature Neuroscience", descobriu que o
cérebro humano se habitua a mentir. O trabalho envolveu dezenas de pessoas, a
quem se ofereceram opções que testavam sua honestidade. Diante de situações em
que se dariam bem se mentissem, elas não falharam —mentiram e se deram bem.
Ficou demonstrado que, se praticadas com regularidade, pequenas mentiras levam
a uma desonestidade compulsiva, que o cérebro não vê como condenável.
Não é uma novidade para nós, no Brasil, e sem necessidade de
pesquisa. E com uma variante: nossos governantes mentem, roubam e apagam as
pistas, e nós é que nos habituamos a isso.
É verdade que, de tempos em tempos, o país acorda para o
esculacho e se deixa seduzir por um moralista, que promete varrer a sujeira,
caçar os marajás ou acabar com os 300 picaretas do Congresso. Daí Jânio Quadros
(1960), Fernando Collor (1989) e Lula (2002). Eleitos esses elementos, o que
acontece? A vassoura toma um porre, o caçador de marajás revela-se o marajá‑açu
e o outro resolve governar justamente com os 300 picaretas, ampliados para 400.
No decorrer dos séculos, conformamo-nos com o uso do poder
para fins lucrativos, por governantes em busca de vantagens particulares, como
fazendas, casas de praia, canais de TV, jatinhos, viagens à Europa, joias,
vinhos, festas. Era a velha corrupção, tal como praticada pelo PMDB, PSDB e que
tais. Com o PT, parecíamos diante de uma nova corrupção —a do poder pelo poder,
a da tomada do Estado para a execução de um projeto ideológico.
Mas os partidos políticos são formados por seres humanos. E
estes, por mais ideológicos, ao descobrir que se dão bem mentindo, passam a
mentir também em causa própria —rumo à boa e velha corrupção. Fonte: Folha de
São Paulo - 04/01/2017 02h00 – Ruy
Castro
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