quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A boa e velha corrupção

Uma pesquisa da University College, de Londres, publicada na revista "Nature Neuroscience", descobriu que o cérebro humano se habitua a mentir. O trabalho envolveu dezenas de pessoas, a quem se ofereceram opções que testavam sua honestidade. Diante de situações em que se dariam bem se mentissem, elas não falharam —mentiram e se deram bem. Ficou demonstrado que, se praticadas com regularidade, pequenas mentiras levam a uma desonestidade compulsiva, que o cérebro não vê como condenável.

Não é uma novidade para nós, no Brasil, e sem necessidade de pesquisa. E com uma variante: nossos governantes mentem, roubam e apagam as pistas, e nós é que nos habituamos a isso.

É verdade que, de tempos em tempos, o país acorda para o esculacho e se deixa seduzir por um moralista, que promete varrer a sujeira, caçar os marajás ou acabar com os 300 picaretas do Congresso. Daí Jânio Quadros (1960), Fernando Collor (1989) e Lula (2002). Eleitos esses elementos, o que acontece? A vassoura toma um porre, o caçador de marajás revela-se o marajá‑açu e o outro resolve governar justamente com os 300 picaretas, ampliados para 400.

No decorrer dos séculos, conformamo-nos com o uso do poder para fins lucrativos, por governantes em busca de vantagens particulares, como fazendas, casas de praia, canais de TV, jatinhos, viagens à Europa, joias, vinhos, festas. Era a velha corrupção, tal como praticada pelo PMDB, PSDB e que tais. Com o PT, parecíamos diante de uma nova corrupção —a do poder pelo poder, a da tomada do Estado para a execução de um projeto ideológico.

Mas os partidos políticos são formados por seres humanos. E estes, por mais ideológicos, ao descobrir que se dão bem mentindo, passam a mentir também em causa própria —rumo à boa e velha corrupção. Fonte: Folha de São Paulo - 04/01/2017  02h00 – Ruy Castro

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Será crime um branco não ter amigos negros para mostrar?

Ah, a experiência! Os colunistas são como certos cachorros de caça. A presa ainda não apareceu no horizonte. Mas os nossos caninos já estão espumando de excitação.

Exemplo: dias atrás, li uma excelente entrevista de Jonathan Franzen à "Slate". Gosto de Franzen. Conheci-o pela primeira vez em 2002, talvez 2003, em livro de ensaios que recomendo ("Como Ficar Sozinho", Companhia das Letras). Depois, provei os romances. Também recomendo, embora "As Correções" (Companhia das Letras) me pareça bem melhor que os seguintes.

Mas regresso à entrevista. E aos meus caninos. A certa altura, o entrevistador pergunta a Franzen se ele nunca pensou em escrever um romance sobre os conflitos raciais que correm pelos Estados Unidos. A pergunta é absurda: um escritor não tem que escrever sobre os temas que interessam ao entrevistador –e isso revela a decadência cultural do jornalismo contemporâneo.

Franzen escutou a pergunta, meditou e finalmente respondeu, embaraçado: "Não tenho muitos amigos negros", um eufemismo para dizer que não tem nenhum. E depois, com honestidade, concluiu: só devemos escrever sobre realidades que conhecemos bem.

Terminei essa parte da entrevista com duas perguntas a balançar no trapézio.

A primeira foi questionar se também eu tenho amigos negros. Não tenho. Existem conhecidos, colegas, amigos de amigos. Mas não tenho no portfólio um exemplar para mostrar. Razões?

Nenhuma em especial. Nunca aconteceu. O destino, nessas matérias, tem uma palavra importante. E, além disso, eu ainda respeito o significado profundo da palavra "amigo". São três ou quatro e ponto final. Por acaso, todos brancos.

Mas a segunda pergunta é mais relevante que a primeira e foi ela que despertou o meu faro: depois da confissão de Franzen, esperei pelas críticas das brigadas. Que logo surgiram, para confirmarem o meu instinto.

No inglês "The Guardian", a escritora Lindy West resumiu o estado da arte: Franzen faz parte da esmagadora maioria de americanos brancos (75%, segundo um estudo do Public Religion Research Institute) que não tem amigos de outras raças. Franzen seria, na linguagem erudita de West, um caso de "auto-segregação": um escritor que se esconde na sua bolha de privilégio e que nunca mostrou interesse em ter amigos negros.

Ponto prévio: se a cifra está correta (75% de brancos sem amigos de outras raças), é óbvio que existem dois planetas distintos nos Estados Unidos quando os negros representam 12% da população (estimativa conservadora).

A pobreza tem aqui a palavra central, admito: nas nossas vidas cotidianas, tendemos a cultivar "relações de classe". Se os brancos são mais afluentes que os negros, é normal que os brancos tenham amigos brancos.

Por outro lado, já não será tão normal viver em grandes cidades –como Nova York, Chicago ou Los Angeles– sem amigos negros que habitam a mesma classe média. Mas será que isso constitui um crime? Ou, pelo menos, uma falha de caráter?

A escritora acredita que sim. E, na sua cabeça pequena, não lhe ocorre a possibilidade singela de Franzen não ter amigos negros porque nunca os encontrou.

Para Lindy West, a raiz do desencontro está na pigmentação da pele; mas como excluir, com dogmatismo infantil, a importância das afinidades culturais, dos interesses comuns ou até dos acasos biográficos ou geográficos?

Finalmente, e em verdadeira paródia ao conceito de "amizade", Lindy West questiona por que motivo Franzen não faz um esforço para procurar amigos negros. "Amizade", para ela, é uma espécie de jardim zoológico privado onde temos o amigo negro na jaula 1; o asiático na jaula 2; o hispânico na jaula 3; o samoano na jaula 4; e, já agora, o índio na jaula 5. Parafraseando os existencialistas, a aparência precede a essência.

É um caminho. Claro que esse conceito de amizade também pode ser problemático: se a ONU tem 193 Estados membros, uma amizade verdadeiramente inclusiva deve transcender as fronteiras do país e abraçar o mundo inteiro. Ou somos cosmopolitas, ou não somos nada.

Prometo que vou fazer um esforço: amanhã começo na letra A – com um amigo afegão– e só descanso quando chegar ao Zimbábue. Fonte: Folha de São Paulo - 09/08/2016 - João Pereira Coutinho, escritor português

domingo, 1 de janeiro de 2017

Kroos relembra 7 a 1 em mensagem de Ano Novo

Toni Kroos, meio-campista do Real Madrid,  postou de forma genial com bastante humor na internet sua mensagem de Ano Novo "Feliz 2017" usando as bandeiras de Brasil e Alemanha no 1 e no 7, respectivamente. Alemão também sabe brincar.

Prefeitos e governadores fecham 2016 perto de colapso fiscal

Quase metade das 5.500 prefeituras deixará dívidas para os seus sucessores que tomam posse no próximo domingo

A última semana de 2016 termina com um cenário pouco animador para os prefeitos e governadores brasileiros.  
Quase a metade dos prefeitos (47,3%) deixará dívidas para os seus sucessores que tomam posse no próximo domingo. Os dados constam de um levantamento feito pela Confederação Nacional dos Municípios, uma entidade que congrega os prefeitos das 5.568 cidades brasileiras. O colapso fiscal nas prefeituras implicará em uma série de cortes de gastos, redução de secretarias municipais, assim como de funcionários terceirizados. Tudo isso dentro de um cenário em que a recuperação econômica não será tão rápida, após quase dois anos de recessão. O próprio presidente disse, nesta quinta-feira, que a melhora nas finanças deverá acontecer a partir do segundo semestre de 2017.

No caso dos governadores houve um jogo duplo pela parte deles. Em um primeiro momento, concordaram com todas as exigências rígidas da gestão Temer entre meados de junho e o fim de novembro para que tivesses suas dívidas negociadas. Depois tentaram e conseguiram usar de sua influência no Congresso Nacional, em dezembro, para retirar todas as contrapartidas das negociações da dívida que têm com a União. Entre elas, a obrigação de reduzir em 10% o número de comissionados, suspender concursos públicos e contratações, além de congelar os gastos públicos por dez anos em todas as 27 unidades da federação que aderissem ao programa de renegociação. Até conseguiram suspende essas medidas previstas no Regime de Recuperação Fiscal, mas Temer vetou a maior parte delas.

“A recuperação fiscal, da forma como veio ao Executivo, tornou-se mais ou menos inútil. Se não houver contrapartida, quando você entrega o dinheiro para o Estado, aquilo servirá para uma emergência, mas não para preparar o futuro”, afirmou o presidente em seu pronunciamento de fim de ano aos jornalistas.

No veto assinado pelo presidente e publicado no Diário Oficial da União de quarta-feira, Temer alegou que “houve um completo desvirtuamento do Regime, não sendo possível mais assegurar que sua finalidade maior, a retomada do equilíbrio fiscal pelos estados, seja assegurada”. Seguiu o presidente: “Não apenas a finalidade precípua do Regime foi alterada; em verdade, os dispositivos remanescentes trazem elevado risco fiscal para União”.

Com a decisão de fechar essa porta aos Estados, o Governo disse que ainda não encerrará as discussões. Prometeu que voltará a negociar com cada governador para tentar encontrar uma saída para a crise que atinge quase todas as unidades da federação.

Agora, o jogo volta praticamente à estaca zero, destacou uma fonte do Palácio do Planalto. As próximas semanas, antes do retorno do recesso legislativo serão de muita negociação para encontrar uma fórmula que agrade tanto aos Estados e, do ponto de vista fiscal, não comprometa tanto a União.


A dívida dos Estados brasileiros
União tem 591 bilhões de reais a receber
Acre
2.5
Alagoas
7.1
Amapá
1.7
Amazonas
3.1
Bahia
9.5
Ceará
5.5
Distrito Federal
3.5
Espírito Santo
5.2
Goiás
18.5
Maranhão
4
Mato Grosso
5.9
Mato Grosso do Sul
6.8
Minas Gerais
92.8
Pará
2.7
Paraíba
2.6
Paraná
16.2
Pernambuco
8
Piauí
1.8
Rio Grande do Norte
1.2
Rio Grande do Sul
54.3
Rio de Janeiro
78.4
Rondônia
2.8
Roraima
1.3
Santa Catarina
 15.1
São Paulo
 235.8
Sergipe
 2.2
Tocantins
1.5
Fonte: Banco Central do Brasil
El País - Brasília 29 Dez 2016       

Após consumo, a maconha fica no cabelo, nas unhas e até no tártaro do dente

Você sabia que seu cabelo pode contar se você consumiu maconha nos últimos meses? Pois é, se o fio for comprido o suficiente dá para descobrir até se você fumou a droga no ano passado.
Raspou o cabelo? Sem problemas, as unhas, pelos e até o tártaro no seu dente guardam indícios que podem confirmar o uso. A droga sai do organismo com o tempo, mas alguns resquícios ficam no corpo e exames podem encontrá-los.
"Fatores como a quantidade, o grau de pureza e o teor ativo da droga influenciam os exames, tanto quanto o peso, a gordura e as atividades hepática e renal, que aceleram a eliminação. Mas sempre há como saber se houve uso ou não", afirma Fábio Alonso, farmacêutico toxicologista e diretor do laboratório Contraprova, no Rio de Janeiro.
Os testes buscam pelo THC, princípio ativo da maconha, e pelo THC-COOH, que é o composto metabolizado, que prova que a substância foi realmente ingerida, passou pelo fígado e se transformou. Isso evita que alguém que esteve em uma festa onde pessoas fumaram maconha, mas não fez uso, seja erroneamente apontada como usuário.

ABRA A BOCA, POR FAVOR
Com a saliva é possível detectar se houve uso de maconha nas últimas horas e no máximo no dia anterior. "O teste é usado quando precisamos saber se naquele instante a pessoa está influenciada pela droga", explica Maristela Andraus, diretora do ChromaTox laboratórios, em São Paulo.
O exame é confiável e lembra um teste de gravidez: uma fita é molhada na saliva e, dependendo da cor que aparece,  é possível saber se houve consumo ou não. "Depois desta triagem, confirmamos o resultado no laboratório com equipamentos mais potentes", diz Andraus.
O teste é aplicado em momentos decisivos, como após um acidente de carro ou antes de um piloto que parece drogado pilotar um avião. E não adianta escovar os dentes ou passar enxaguante bucal, a substância psicoativa continuará na saliva.

SE EXERCITOU? O SUOR VIRA PROVA
O suor também contém substâncias que entregam o uso de maconha. "O teste determina o uso em curtíssimo prazo, se for feito em até 12 horas depois", afirma Alonso. Ele explica que o exame tem pouca aplicabilidade, já que o suor é difícil de coletar e que no Brasil ainda não existem laboratórios que analisem essa matriz.

A DROGA APARECE NO XIXI
Andraus diz que na urina é possível detectar o consumo até três dias depois do consumo, em média. O exame é bastante eficaz e preciso e é bem avaliado pelos laboratórios por ser um método não invasivo que garante uma grande quantidade de amostrar e que pode ser congelado e conservado.

OBVIAMENTE, TAMBÉM ESTÁ NO SANGUE
 O exame de sangue detecta a maconha na janela de até 15 dias, segundo Alonso. O exame é confiável e pode ser requisitado depois de um teste rápido, como o de saliva.
O farmacêutico afirma que o THC, princípio ativo da maconha, tem afinidade pelo tecido adiposo e a gordura vira um "depósito". Com o tempo, o THC se desprende e é liberado na corrente sanguínea. "É muito comum quando testamos pacientes em reabilitação que a pessoa dê positivo por até 20 dias, mesmo sem ter usado recentemente. É o corpo eliminando a substância", diz Alonso.

O CABELO É UMA LINHA DO TEMPO
Quando a maconha entra no seu corpo ela fica na corrente sanguínea e ao passar pela raiz do cabelo deixa ali depositado o THC. Conforme o fio cresce, ele leva consigo pedacinhos da substância. "Depois de uns cinco dias de ter fumado, a maconha começa a aparecer no cabelo. Avaliamos que cada um centímetro do fio equivale a um mês de vida e conseguimos saber como foi consumo no período", diz Andraus.
O último mês é o mais próximo do couro cabeludo e se o cabelo for longo é possível analisar anos. Quanto maior a concentração de THC, mais constante era o uso. Passar shampoo não muda nada, pois as substâncias estão dentro do cabelo e não na superfície. "O que pode afetar, mas não é certo, é clarear o cabelo, pois o procedimento mexe na estrutura do cabelo".
Se o cabelo tiver menos de um centímetro ou se tiver passado a máquina zero, os laboratórios testam em pelos, que funcionam da mesma forma.

UNHAS? DENTE? TÁRTARO?
Já deu para perceber que ao fumar maconha a substância não deixa o corpo tão fácil assim, mas não paramos por ai. As unhas também armazenam o THC, já que são tecidos queratinizados como os cabelos. Se a pessoa não cortar as unhas, todo o histórico de uso de maconha pode ser descoberto na unha.
"Existem muitos métodos novos sendo estudados. Confirmar o uso pelo dente ainda é novidade. Mas fui num congresso recentemente onde provavam o uso de maconha ao analisar o tártaro, uma vez que ele fica embebido na saliva e fica impregnando pelo THC", diz Andraus. Fonte: UOL, em São Paulo 04/11/2016

sábado, 31 de dezembro de 2016

Desemprego atinge 12,1 milhões de trabalhadores, diz IBGE

O desemprego no país foi de 11,9%, em média, no trimestre de setembro a novembro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). A taxa é a mais alta desde que o instituto começou a publicar a pesquisa, em 2012.

No período, o número de desempregados no Brasil foi de 12,1 milhões de pessoas.

São cerca de 100 mil desempregados a mais do que no trimestre de junho a agosto, mas o resultado é considerado estável pelo IBGE. Em um ano, são 3 milhões de pessoas a mais sem emprego, um aumento de 33,1%.

Na comparação com a divulgação anterior da pesquisa, com dados do trimestre de agosto a outubro deste ano, são 100 mil desempregados a mais.

Os dados foram divulgados na quinta-feira (29) e fazem parte da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, do IBGE. A pesquisa não usa só os trimestres tradicionais, mas períodos móveis (como fevereiro, março e abril; março, abril e maio etc.).

NÚMERO DE TRABALHADORES
O número de pessoas com trabalho foi de 90,2 milhões entre setembro e novembro, aumento de 0,33% em relação ao trimestre de junho a agosto, ou 300 mil a mais.
Em um ano, o total de trabalhadores caiu 2,1%, o que equivale a cerca de 1,9 milhão de pessoas.

RENDIMENTO DE R$ 2.032
O rendimento real (ajustado pela inflação) do trabalhador ficou, em média, em R$ 2.032, alta de 0,25% na comparação com o trimestre de junho a agosto (R$ 2.027), e queda de 0,44% em relação ao mesmo trimestre de 2015 (R$ 2.041).

NÚMERO DE CARTEIRAS
O número de empregados com carteira assinada ficou em 34,1 milhões, aumento de 0,29% na comparação com o trimestre de junho a agosto, ou 100 mil pessoas a mais com carteira. Em um ano, o país perdeu 1,3 milhão de carteiras, queda de 3,7%.

METODOLOGIA DA PESQUISA
Os dados fazem parte da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua. São pesquisadas 211.344 casas em cerca de 3.500 municípios.

O IBGE considera desempregado quem não tem trabalho e procurou algum nos 30 dias anteriores à semana em que os dados foram coletados. Fonte: Do UOL, em São Paulo 29/12/2016