quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Transporte urbano: ônibus ecológico chinês


 Uma grande preocupação  no planejamento do transporte urbano é como aumentar a velocidade do tráfego: colocando mais ônibus nas vias  aumentará o congestionamento  e piorará a qualidade do ar, a construção do metrô é mais caro e demorado.  Bem, aqui está uma alternativa rápida, mais barata, mais verde,  para iluminar a mente um pouco: o Straddling Bus,  exibido pela primeira vez na 13ª feira High-Tech Expo Internacional de Pequim, em maio deste ano.  

Num futuro próximo, o modelo deve ser colocado em uso piloto no distrito de  Mentougou em Pequim.

O modelo foi proposto pela empresa Shenzhen Hashi Future Parking Equipment Co. Ltd,  parece um trem de metrô ou trem  superfície urbana (LTR). Tem de 4 a 4,5 m de altura com dois níveis: no andar superior, embarque para passageiros, enquanto no nível inferior é uma passagem para veículos com altura inferior a  2 m.  

Alimentado por energia elétrica e solar, o ônibus pode acelerar até 60 km/h, transportando 1200-1400 passageiros,  sem interromper o trânsito de veículos.  Também custa cerca de 75 milhões de dólares para a construção do ônibus e um trajeto de 40 km que equivale apenas 10% da construção do metrô.  O ônibus pode reduzir os engarrafamentos em 20 a 30%. Fonte: China Hush - July 31st, 2010

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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Imigração Libanesa no Brasil completa 130 anos

Os libaneses constituem um grupo entre a grande imigração dos árabes no Brasil, a própria Embaixada do Líbano no Brasil inclui o fluxo migratório dos libaneses dentro das quatro fases que identifica para a imigração árabe no país. Segunda a Embaixada, os períodos são: de 1850 a 1900, quando tem início o processo imigratório destinado a várias regiões do país; de 1900 a 1918, quando a imigração já se encontra em processo avançado e é possível falar em colônias árabes no Brasil; e de 1918 a 1950, período que associa as duas fases finais e leva os libaneses mais para a região sul do país em decorrência do notório crescimento econômico.

Oficialmente, a Imigração Libanesa no Brasil começou em 1880, quatro anos após o Imperador Dom Pedro II ter visitado o Líbano. O fluxo de libaneses aumentou em fluxo contínuo nos períodos seguintes, não eram destinados a uma região específica do Brasil, mas sim ao local que encontravam melhores condições para viver.

Hoje são 7 milhões de libaneses e descendentes que vivem no país, quase o dobro da população inteira do Líbano, que não chega a 4 milhões.

A comunidade árabe brasileira é formada principalmente por sírios e libaneses, mas há imigrantes e descendentes de quase todas as nações árabes. Os imigrantes árabes e seus descendentes somam 6,5% da população brasileira.

Libaneses são chamados de turcos no Brasil

Por causa dos passaportes otomanos. Muitos imigrantes sírios e libaneses que chegaram ao Brasil antes do fim da Primeira Guerra, quando o Império Otomano foi desmembrado tinham o passaporte ou identidade turco-otomana.

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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Globalização e Democracia

Globalização significa muito mais que internacionalização. Significa que nenhuma instituição política, social ou religiosa é capaz de controlar um sistema econômico globalizado. Portanto, minha principal ideia é que a globalização significa o fim da sociedade. A diversidade dos atores é mais importante do que o sistema.

O que restou é o mercado puro. Vivemos agora em uma não sociedade, na qual as pessoas estão interessadas em coisas sem significado. Eliminar significados tem sido a aventura da Europa nos últimos 20 anos. Por exemplo, o desenvolvimento industrial sendo eliminado para dar lugar ao mercado financeiro: dinheiro pelo dinheiro.

Na vida privada, teorias românticas do século XIX deram lugar ao erotismo, à pornografia, ao sexo sem comunicação, emoção ou intenção. Interesse e desejo são a mesma coisa. Minha pergunta é se é possível reconstruir uma vida social a partir de nenhum elemento social, pois eles despareceram ao longo do caminho.

E é possível? Há esperança para a vida em sociedade?

O único movimento político realmente forte hoje é a ecologia. Pela primeira vez na História abandonamos a velha filosofia de Descartes ou Bacon de que a cultura domina a natureza. Pela primeira vez estamos preocupados em salvar a natureza sem destruir a civilização e vice-versa. Outra força antropológica pela qual tenho grande interesse é o movimento feminista. Mulheres em geral têm uma visão de sociedade que é o contrário do modelo masculino de tensão extrema, polarização. Mulheres buscam a conciliação em vez da oposição.

No entanto, o feminismo ainda não existe como força política. O sexismo domina. Já avançamos, mas as mulheres continuam tratadas como vítimas. Ninguém as menciona como alguém que faz coisas. São mais criativas que os homens, mas, por enquanto, aparecem como vítimas, principalmente da violência doméstica. A terceira força do que seria esta nova sociedade está no indivíduo, no direito a ter direitos, como dizia Hannah Arendt.

Ninguém sabe o que democracia significa hoje, cada um tem sua definição. Para mim, democracia é ampliar o acesso de todos a serviços e bens básicos, como educação e saúde, entre outras coisas. É possível reconstruir uma sociedade baseada em termos não sociais universais, tais como a ecologia e os direitos individuais. Sou um grande defensor da ideia de universalização. É fundamental reconhecer e garantir valores universais como, por exemplo, a liberdade religiosa. Recriar formas de vida coletiva e privada baseadas em princípios universais. Se viver mais um ano, penso em escrever um livro com minhas ideias a respeito dessa nova sociedade possível.

Fonte: Globo Online – 14/11/2010 - Alain Touraine, de 85 anos, sociólogo, diretor da École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris

A Proclamação da República

Proclamação da República - Nada mais é um feriado para curtir uma praia. Banhistas passeiam na Praia do Gonzaga, em Santos, litoral paulista, na manhã desta segunda-feira (15), feriado da Proclamação da República

- Assisti tudo e tudo, dizia-me o velho Joaquim Gonçalves, uma tarde em que conversávamos na varanda de sua casa em Santa Teresa. Conheço a proclamação da República como testemunha visual. Eu era, como ainda sou, republicano. Sabia de tudo e tudo acompanhei.

- Conte-me isso.

- A história da proclamação da República ainda por aí muito embrulhada. Contam-na sem a verdade exata,
apesar de ainda haver hoje vivas muitas das figuras principais do movimento. Quer ouvir-me?

- Com todo o prazer.

- No começo do mês de novembro de 1889 sentia-se que a Monarquia estava profundamente abalada. A propaganda da República havia chegado ao seu ponto culminante. Benjamin Constant, Quintino, Deodoro, Lopes Trovão, etc., eram os homens do dia. Para não me alongar começarei da véspera do célebre dia 15, em que o trono foi posto abaixo.

Ao anoitecer de 14, corria na rua do Ouvidor a notícia da prisão de Benjamin e de Deodoro. Dizia-se que o governo, considerando esses dois militares perigosos ao regímen, mandara-os encerrar numa fortaleza. O boato era falso. Tinha-o espalhado o major Sólon, com o intuito apenas de precipitar os acontecimentos. A coletividade republicana, com o boato, ferveu nas ruas, nas redações dos jornais e nos quartéis. Os batalhões sublevaram-se. Pela madrugada os chefes da propaganda tiveram que ser acordados em suas casas, para vir à rua comandar o movimento. Ao amanhecer de 15, a coluna revolucionária, tendo Benjamin à frente, descia a rua Visconde de Itaúna em direção ao Campo de Santana. Nas proximidades do gasômetro, Deodoro, que passava de carro, uniu-se à tropa. O velho marechal voltava do quartel do 1o regimento de cavalaria, onde não mais encontrara a força para comandar. Ao dobrar a rua Visconde de Itaúna para o campo de Santana, Deodoro salta do carro e monta o cavalo do alferes Eduardo Barbosa. Era já dia claro. A frente da coluna vai entrando no campo. No ângulo da estação da estrada de ferro estão colocados batalhões dos imperiais marinheiros e da polícia da corte que o governo ali mandara estacionar, para repelir a força revoltosa. O chefe revolucionário vai passando. Quer a polícia, quer os marinheiros não sabem o que fazer. Ele interpela-os violentamente:

- Então não fazem continência?

O major Valadão, que comandava a polícia, gritou um viva ao levante. O batalhão inteiro correspondeu-o.

O Visconde de Ouro Preto, chefe do gabinete, tinha reunido no quartel do campo de Santana os generais do estado-maior do ministro da Guerra. Sabia que as forças revolucionárias marchavam para ali, e era urgente uma medida, urgentíssimo que se enviassem tropas para bater os rebeldes em caminho. Floriano Peixoto, o barão do Rio Apa, o visconde de Maracaju, todos os generais, dissuadiram-no. As forças do quartel não se podiam mover de maneira tão rápida.

E quando Deodoro se postou com os seus batalhões defronte da fachada do quartel, o visconde, nervoso, tornou a reunir os generais. Não se tomava medida alguma? Não se desajolavam aqueles homens dali? Não havia meios e forças para os pôr fora?

- Não, respondeu Floriano.

- Não, confirmou Maracaju.

- Não, foi também a resposta do barão.

Ouro Preto percebeu tudo. A revolta estava ramificada pelo quartel adentro, pelo exército inteiro. Não podia confiar numa só farda. Resistência não havia nenhuma possível.

E sentou-se para redigir o telegrama em que depôs nas mãos do Imperador, em Petrópolis, o pedido de demissão do gabinete.

Às 8 horas da manhã, Deodoro, terminando de dispor a tropa, vai colocar-se com Benjamin e com o seu estado-maior em frente ao portão central do quartel general. Quintino Bocaiúva chega, a cavalo, para unir-se às forças da revolução. Dentre a soldadesca, ao aparecer o jornalista, há brados, vivando a República. Deodoro, contrariado com os vivas, agita o braço e ordena silêncio.

Lá de dentro do quartel mandam-lhe dizer que a metralhadora que o governo ali colocara para combater a sublevação, está às suas ordens. Pouco depois o chefe do movimento conferencia com o brigadeiro Almeida Barreto, que volta a colocar-se à frente das forças do governo. Ordena ao tenente coronel Silva Telles que suba ao quartel para intimar o ministério, que lá dentro está reunido, a abandonar o seu posto. Minutos mais tarde Floriano Peixoto vem conferenciar com o marechal revolucionário.

São 9 horas da manhã. O governo lá em cima parece que se não decide a deixar o poder. Deodoro está impaciente, todos estão agitados. O velho soldado tem um gesto resoluto. Com o seu estado-maior e um piquete aproxima-se do portão, que se conserva fechado. O capitão Pedro Paulo abre as duas imensas portas de ferro. Deodoro entra a galope quartel adentro. Ao passar em frente à metralhadora que lhe tinham mandado oferecer, ordena ao oficial que a comanda:

- Tirem daqui este trambolho.

Segue em direção do 7o batalhão de infantaria, que ali está para combatê-lo, e manda a música tocar. Um capitão do 7o grita um viva ao velho marechal e a tropa inteira o aclama. Todas as forças que estão dentro do quartel vivam o chefe revolucionário. Há um ruído ensurdecedor de músicas e brados festivos.

Lá dentro, na sala em que está reunido o ministério, ouve-se tudo aquilo silenciosamente, trocando olhares. Ouro Preto acaba de verificar, com mais segurança, que não tem ninguém ao lado do governo. O próprio Floriano, com quem o ministério tanto contara, revelara-se um conspirador.

Passam-se alguns minutos dilaceradores.

No pé da escada aparece Deodoro com o seu cortejo. Os ministros esperavam-no. Ao entrar na sala, o velho soldado saúda ligeiramente com a cabeça a Maracaju:

- Adeus, primo Rufino!

A sala tinha-se enchido num segundo; militares, titulares, políticos, homens do povo e um único jornalista, o repórter da Gazeta de Notícias, rapaz que eu conhecia de vista.

Deodoro encaminha-se para o presidente do gabinete. Era um silêncio de esfriar. O chefe revolucionário, com uma eloqüência que ninguém lhe conhecia, começa a falar. Ali estava, à frente do exército, para vingar as injustiças inexplicáveis que o governo vinha fazendo ao soldado brasileiro.

- À armada também! repete Deodoro.

E continuou. Estava doente, estava de cama, mas ao saber que os seus camaradas queriam que dirigisse aquele movimento, teve forças para levantar-se do leito. Não era homem que temesse perigos, pois só temia a Deus. As afrontas que o exército, e também a armada, - acrescentou ao novo aparte de Benjamin - vinham sofrendo do governo chegavam ao seu termo. Estava ali para não mais consenti-las. Não se compreendia que homens políticos, que só cuidavam de interesses pessoais, maltratassem os soldados, os verdadeiros, os únicos defensores da pátria. Ele, que ali estava falando, crescera e se fizera, não pisando as pedras das ruas do Rio de Janeiro, mas nos campos de batalha, ao zunir das balas e ao troar dos canhões. Tinha serviços que o visconde, como simples político, nunca podia compreender e avaliar. Durante três dias e três noites, para aludir ao acaso a uma passagem da sua vida militar, combatera no Paraguai, dentro de um lodaçal, com água pelos joelhos. Eram serviços que lhe davam direito a chefiar o levante que tinham por fim acabar com as diminuições que se faziam à honra do exército.

- Está o ministério deposto, conclui. Vamos organizar outro, de acordo com as indicações que vou levar ao Imperador. Os ministros podem retirar-se.

E apontando o visconde:

- Menos o senhor e menos o ministro da Justiça, que ficarão presos, a fim de que, sejam deportados para a Europa.

E passeando pela sala, no meio do silêncio geral:

- O visconde é teimoso, mas eu sou muito mais teimoso que o visconde.

Ouro Preto ouve tudo silenciosamente, sem um gesto, numa impassibilidade de nobreza ofendida, agitando o trancelim do pincenê. E, quando Deodoro não tem mais nada que dizer, fala:

- Não é só no campo da batalha que se serve à pátria e por ela se fazem sacrifícios. Estar aqui ouvindo as suas palavras, neste momento, não é menos penoso que passar alguns dias e noites num pantanal.

E antes que o outro retruque:

- Fico ciente do que resolveu a meu respeito. É o vencedor, pode fazer o que lhe aprouver. Submeto-me à força.

Até ali não se tinha ouvido uma só palavra, a mais vaga alusão à República. O que havia era justamente o contrário, era a declaração de Deodoro de que ia levar ao Imperador as indicações para o novo ministério, que ia organizar com os seus companheiros do movimento.

- Depois disso continuou o velho Joaquim Gonçalves, Deodoro retirou-se para a sua residência. Estava seriamente doente. Tinha estado de cama nos dias anteriores e da cama se levantara para chefiar o movimento.

Ao chegar à porta de casa, ali mesmo no Campo de Santana n. 99, fraquejavam-lhe as pernas e doía-lhe o corpo. Aquilo fora uma imprudência para a sua saúde.

Para subir as escadas de sua casa teve que apoiar-se aos ombros de dois homens.

A esposa, dona Marianinha, veio recebê-lo à porta do quarto e, vendo-o naquele abatimento, alarmou-se, mandando fechar imediatamente a cancela da rua. Ali não lhe entraria ninguém para visitar o marido!

Nas rodas republicanas a decepção era horrível. O movimento tinha sido feito com o fim único de derribar o trono e, em momento nenhum, Deodoro falara em República. Sempre aquela história da deposição do ministério!

Que se devia fazer? Aproveitar o levante para dar a República como proclamada? Não seria perigoso? Não seria impossível?

As ligações de Deodoro com o Imperador eram as mais estreitas e o monarca talvez tivesse meios de dominar o velho soldado, invocando a sua antiga fidelidade.

Naquela situação de mãe de S. Pedro é que se não podia ficar. Seria o ridículo estrondoso, a vergonha irremediável.

Estavam os republicanos reunidos no campo da Aclamação n. 17, no Instituto dos Cegos, que Benjamin Constant dirigia.

Para muitos deles, o trono estava logicamente derrubado. Que importava que o chefe da insurreição não tivesse aludido à República, se a insurreição fora, um movimento de republicanos?!

Havia necessidade de tomar-se uma medida pronta e decisiva. E que medida seria essa? O manifesto da República, a única.

Mas ninguém se decidia. Os propagandistas olhavam-se, entreolhavam-se, aos grupos, cochichando. O cair da tarde ia enchendo a sala de sombras.

Benjamin levantou-se. Estava visivelmente fatigado das vigílias da noite anterior e das impressões violentas daquele dia. Levantou-se e, encaminhando-se para uma das portas, disse com um bocejo:

- Estou muito cansado, vou tomar um banho morno.

O coronel Jaime Benévolo, que estava sentado a dois passos, ergueu-se de súbito, atravessando-se-lhe à frente, tomando-lhe a passagem numa energia surpreendente:

- Não! O senhor não toma banho nenhum. Vamos, sim, redigir o manifesto da República e organizar o ministério!

Benjamin caiu em si. Realmente era preciso fazer-se alguma coisa. Era quase noite e nada ainda se tinha feito para firmar o caráter do movimento.

E veio sentar-se à mesa. Os camaradas de propaganda cercaram-no. Redigiu-se o manifesto, lavraram-se as nomeações.

Aquilo devia ser levado a Deodoro para ser assinado. Com os papéis na mão, Benjamin perguntou no meio da sala:

- Quem leva isto ao velho?

Jaime Benévolo adiantou-se:

- Eu!

E partiu. Era já noite fechada.

À porta do chefe revolucionário a luta foi tremenda. Estava fechada a cancela, ninguém a podia transpor. Eram ordens de dona Marianinha. Benévolo teve que empregar violência para chegar ao quarto do enfermo. Deodoro, numa crise de dispnéia, sofria, com a esposa ao lado, a agitar-lhe uma ventarola.

Jaime Benévolo expôs-lhe a situação. O velho soldado repeliu o manifesto e os decretos de nomeação dos ministros. Não, não! Ele não faria aquilo.

O emissário, porém, não era homem de esmorecer. Pintou impressionantemente o ridículo que ia cair sobre a cabeça dos militares e sobre toda a propaganda republicana. Embora ele, Deodoro, não tivesse falado em República, todo o mundo sabia que aquilo era um levante de republicanos. Já corria pela cidade que a República havia sido proclamada...

- Não! não! repetia o velho. O ministério já não existe; amanhã vou falar ao Imperador.

Benévolo não se dava por vencido. Amanhã, quando se soubesse que a revolta conseguira apenas derribar o ministério, e não o trono, como era o desejo de todos, ninguém levaria a sério o exército. E o ridículo maior cairia sobre ele, Deodoro, como o chefe da tropa. Ninguém conseguiria convencer o país de que o movimento não tinha sido feito para proclamar a República...

Ou por se ter convencido, ou por se ter cansado, Deodoro começou a amolecer. Benévolo insistia. Mostrava a necessidade de aproveitar-se a vitória para um feito grandioso, mostrava o glorioso papel que o velho militar teria na história do futuro. Àquela hora, no paço, o Imperador cercado dos seus estava a organizar o ministério sob a indicação de Ouro Preto.

- Mas é o Ouro Preto quem vai indicar o seu substituto? perguntou o marechal escandalizado.

- É! Já indicou o Silveira Martins!

Deodoro ergueu-se. O ministério de Silveira Martins seria a mesma coisa que o de Ouro Preto! O soldado, o verdadeiros defensor da pátria, continuaria diminuído, humilhado... Não era possível! Era um abuso! E falou, falou, falou. E quando, com um novo acesso de dispnéia, acabou de falar, Benévolo passou-lhe às mãos os papéis.

- Uma pena, pediu o velho para dentro.

Trouxeram-lhe a pena e o tinteiro. Assinou a proclamação da República e a nomeação dos primeiros ministros do novo regímen.

Nas rodas monárquicas o desnorteamento não era menor. Chamado com urgência de Petrópolis, d. Pedro II descera, para o paço cercado das figuras eminentes da monarquia.

Ouro Preto apresentou-lhe a demissão do ministério. E como o Imperador lhe pedisse a indicação do seu substituto, o visconde lembrou o nome de Silveira Martins. Ficou assentado que Silveira Martins chefiaria o novo gabinete.

Era já noite e ninguém, no paço, imaginava que o golpe daquela manhã tivesse fins republicanos. Unicamente a deposição do ministério.

A não ser a entrada e saída das grandes figuras da monarquia, nada havia de anormal nas vizinhanças do paço. Às 9 da noite entrou o conselheiro Saraiva para falar ao Imperador, e só saiu às 11. Até essa hora não se tinha podido reunir o Conselho de Estado. Só depois das 11, o Conselho se reuniu. D. Pedro nada sabia ainda do manifesto de Deodoro. O conselheiro Andrade Figueira pô-lo então a par de tudo. Acabava de saber pelo seu genro, o major-de-engenheiros Roberto Trompowsky, que os propagandistas haviam conseguido que Deodoro transformasse a revolta numa vitória da República. Estava proclamado o novo regímen.

Aquela notícia faz prolongar a reunião. O Imperador parece não acreditar na queda do trono. Em vez de Silveira Martins, resolve confiar a chefia do gabinete ao conselheiro Saraiva. São quase duas da madrugada. Saraiva, chamado com urgência, vem imediatamente. Aceita o gabinete, mas em primeiro lugar precisa saber as intenções de Deodoro. Vai escrever-lhe uma carta e, pela resposta, saberá se é verdade ou não que ele proclamou a República.

Senta-se e escreve ao chefe revolucionário, comunicando-lhe que estava encarregado de organizar o novo ministério, mas que o não queria fazer sem com ele entender-se. E conclui convidando-o a vir ao paço no dia seguinte.

O major Trompowsky, a pedido do sogro, vai levar a carta a Deodoro, no campo da Aclamação. São três da manhã. À porta do proclamador há guardas. O major consegue ser levado ao quarto do novo chefe de Estado. Deodoro lê a carta. Nada tem que responder. Já havia proclamado a República!.

- Proclamei-a sem sangue, sem desacato à família imperial, para evitar que mais tarde ela fosse feita de modo contrário.

E o velho Joaquim Gonçalves concluiu:

- Foi assim que se fez a República. Eu vi tudo. Eu sabia de tudo.

Fonte: Academia Brasileira de Letras -  (Contos da história do Brasil, 1921.)

Comentário: Não é por causa disso que falta à Nação, a coesão de valores pátrios, que existem nas demais Nações que se formaram  em guerras. A Proclamação da República  não houve luta e/ou manifestações da sociedade, apenas a oligarquia política e militar participaram. A independência do Brasil foi proclamada sem luta e também a República. Derrubaram o  Império para criar posteriormente a primeira ditadura durante a República. Essa influência  de poder entre a oligarquia civil e militar predomina  até hoje. É a democracia feudal, eu mando, eu desmando, eu faço, eu desfaço, etc.  

domingo, 14 de novembro de 2010

Revival: The Swingle Singers

Há poucos amantes da música no mundo que não tenham ouvido o nome The Swingle Singers. Desde o lançamento de seu demolidor álbum de estréia, Jazz Sébastien Bach em 1963, esse grupo "a cappella de oito vozes apresentou-se em todos os continentes e nos palcos mais famosos do mundo, mantendo por cerca de quatro décadas um nível de popularidade internacional que supera de longe os sonhos de seu fundador, o americano Ward Swingle.

Assim sendo, seu programa inclui normalmente algum tributo ao grupo original francês, com o tradicional Bach suingado. As platéias também irão divertir-se com composições e arranjos mais modernos, realçados por coreografia e iluminação fascinantes. O instigante é que, independente do repertório, o som permanece inconfundivelmente Swingle Singers. O que define este grupo único não é o pessoal, nem mesmo a escolha da música, mas o som íntimo, próximo do microfone, quase instrumental que deslumbra o mundo anos a fio.

O nome Swingle Singers tornou-se sinônimo de incrível virtuosismo, sintonia e agilidade vocal, impecável excelência e entretenimento de alto nível. No mundo da música "a cappella", o grupo sempre foi e continua sendo reverenciado por todos os que acompanharam sua trajetória. Custa-se a acreditar que tudo começou como um exercício de leitura à primeira vista, para quebrar a monotonia dos "backing vocals" dos anos sessenta.

Oito cantores de sessões de jazz baseados em Paris um dia cantaram em cima de música para cravo de Bach e descobriram nela um suingue natural. Sem alterar qualquer nota da partitura, eles utilizaram o "scatt" e o fraseado do jazz, acrescentaram uma seção rítmica e persuadiram a gravadora Phillips a fazer um registro deles como brinde natalino para a família e amigos. Eles jamais poderiam cogitar o patamar de fama a que esta gravação os elevaria. Fonte: Almanaque virtual

Vídeo: J S Bach Concerto in F Major largo 1969



sábado, 13 de novembro de 2010

Por que não reescrevem tudo?

De uns tempos para cá, não sei se me engano, começaram a proliferar normas destinadas a controlar nossa conduta individual. Falei em algumas aqui e cheguei a aventar a hipótese de que uma agência governamental, ou qualquer outra das muitas autoridades a que vivemos subordinados sem saber, venha a estabelecer normas para o uso do papel higiênico e garantir sua observação através da instalação de câmeras nos banheiros de uso público. Nos banheiros domésticos, imagino que seriam suficientes umas visitas incertas de inspetores com gazuas, para tentar flagrar os que se asseassem ilegalmente.

Não se trata somente de passatempo para burocratas entediados e sem mais o que fazer. Trata-se da convicção, que parece grassar truculentamente em toda parte, de que existe algo "certo", cientificamente certo e, portanto, todos devem comportar-se dentro do certo. Se nas ciências físicas esse negócio de "certo" já é olhado com um pé atrás, nas ciências humanas, que nunca puderam aspirar ao nível de objetividade daquelas, a existência do "certo" é muito discutível, envolve necessariamente valores, valores que permeiam toda ação do homem e não são território da ciência e da objetividade.

Agora leio aqui nos jornais que a compulsão pelo certo acaba de atingir novo limite. Desta vez, por um parecer do Conselho Nacional de Educação, que opinou que o livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, deve ser proibido nas escolas públicas, por se tratar de obra racista. Sei que, entre vocês, há leitores de Monteiro Lobato que acharam que não entenderam o que acabaram de ler. Mas é isso mesmo: não pode Caçadas de Pedrinho, porque é racista. Ou, por outra, pode, mas somente "quando o professor tiver a compreensão dos processos históricos que geram o racismo no Brasil".

Eu não vou nem falar nos milhões de brasileiros de todas as idades e todas as gerações que viveram no mundo mágico criado por um dos maiores escritores universais, um gênio naquilo que fez melhor, motivo de orgulho para todos nós, Monteiro Lobato. Nem vou dedicar tempo a entender como é que foi que todos esses milhões, lendo, despreparados, livros racistas, não vieram mais tarde a abrigar preconceitos e ideias nocivas, instilados solertemente na consciência indefesa de crianças. Monteiro Lobato, com toda a certeza, tem tantos defensores quanto leitores, não precisa de mais uma defesa.

E que diabo é "compreensão dos processos históricos que geram o racismo no Brasil"? A compreensão "certa"? Qual é a compreensão certa de um fenômeno que gera até brigas ferozes entre seus estudiosos e participantes? Estará correta a visão que vê no racismo um fenômeno causado exatamente pela diferença de raças? Terá mais razão o que vê na escravidão um fenômeno basicamente econômico e só secundariamente racial? Quem resolveu isso? Qual a posição oficial do governo? O professor que orientar a leitura de Caçadas de Pedrinho terá que saber. Deus ajude as pobres crianças, torturadas com o que era antigamente somente um livro que as transportava para a fantasia, a aventura e o encantamento inocentes.

Agora, ao que parece, o correto é a leitura tutelada, orientada. Antigamente, a literatura infantil era liberdade, escape, território autônomo em que a imaginação do jovem, ainda não embotada pela experiência, o levava a uma felicidade mais tarde irreproduzível. Agora talvez se diga "você gostou disso, por aquilo; e não gostou disso, porque não é para gostar, está errado". A boa literatura dá lições como consequência, não como objetivo. Deve-se ensinar a ler por prazer, de maneira desarmada e aberta - e não há como desconfiar dos clássicos como Lobato, os clássicos são clássicos porque são clássicos.

A literatura, como a vida, não é certinha. A ficção até que arruma os acontecimentos, lhes empresta enredos e sentidos que na vida real não têm. Mas, como a vida, a ficção mostra contradições, reflete dilemas, exibe defeitos, ilumina a existência humana. Quem entra num romance deve entrar sozinho, a viagem é individual e intransmissível. E até mesmo essa conversa de necessidade de contextualizar o livro é bem discutível. No meu tempo de menino, ninguém precisou contextualizar os livros de Tarzan para aceitar a África dele, assim como não se contextualizava Robin Hood, D"Artagnan, Jorge Amado, Érico Veríssimo ou quem lá fosse que aparecesse num romance, a contextualização era automática, vinha do bom texto.

Finalmente, em que medida os defeitos não são subjetivos, ou seja, não estão apenas na mente e na percepção de quem os aponta? Existirá um racismômetro? E, mais ainda, não haverá outras áreas sensíveis? Acho que a adoção de mais controles é decorrência lógica e questão de justiça. Temos por exemplo a antropologia ultrapassada de Euclides da Cunha, o tal que falou no "mestiço neurastênico do litoral". 

É tão presente nele essa visão antropológica superada (além de ofensiva a grupos raciais; eu mesmo sou mestiço neurastênico do litoral e as mulheres sempre me discriminaram) que o melhor seria mandar um antropólogo correto e moderno reescrever Os Sertões, para quê o velho? Esperemos também alegações de violência contra mulheres (Barba-Azul), machismo (Bolinha), ódio a uma espécie em extinção (o lobo de Chapeuzinho Vermelho), exploração de deficientes verticais (os anões de Branca de Neve), apologia da bruxaria (a Bela Adormecida) e assim por diante. 

Olhando para trás, chego a ter um arrepio, em ver como escapamos por pouco de termos as personalidades deformadas pela leitura irresponsável dos clássicos, esses repositórios de traições, assassinatos, incestos, preconceitos, guerras, adultérios e tudo mais que o planejamento científico logo eliminará. Melhor por enquanto ficar longe deles e aguardar instruções das autoridades. Fonte: Estadão - 07 de novembro de 2010- João Ubaldo Ribeiro 

 Comentário: Parece que o MEC está criando o Conselho Inquisitorial de Literatura ou será que estamos prestes a viver mais uma ditadura, sempre imposta por grupos estereotipados, patrocinada por minorias raciais, religiosas e sexuais,etc.

O mais interessante disso tudo, o denunciante é estudioso de candomblé  e uma das conselheiras é estudiosa em beleza afro.

“Há mais de um jeito de queimar um livro. E o mundo está cheio de pessoas por aí com caixa de fósforos. Cada minoria, acha que tem o direito, ou o dever, de dosar o querosene e acender o fogo. O chefe do corpo de bombeiros Capitão Beatty, em Fahrenheit 451, descreve como os livros foram queimados primeiramente pelas minorias, rasgando uma página ou duas, depois disso, quando os livros já estiverem vazios e as cabeças fechadas, a livraria fechará para sempre”. Fahrenheit 451

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

FARC felicita a eleição de Dilma

Farc afirmam em comunicado que Dilma terá papel determinante para a paz regional

RIO - As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) divulgaram um comunicado em que felicitam a presidente eleita, Dilma Rousseff, pela vitória na corrida eleitoral. Por meio do texto, publicado nesta sexta-feira pela agência Anncol, simpática à guerrilha, as Farc dizem que Dilma terá papel determinante para o estabelecimento da paz na região e na irmandade dos povos do continente. ( Leia a íntegra do comunicado )

 "Sua elevação à Presidência da República Federal, juntamente com a sua convicção pública da necessidade de uma solução política para o conflito interno na Colômbia, aumentou a nossa esperança na possibilidade de alcançar a paz através do diálogo e da justiça social", diz o comunicado.

O texto lembra que Dilma foi a primeira mulher eleita presidente do Brasil:

"Permita-nos aderir à justificada alegria do grande povo de Luís Carlos Prestes, diante do feito relevante de ter, pela primeira vez na história do Brasil, uma presidente, uma mulher ligada sempre à luta pela justiça".

Durante campanha, vice de Serra acusou PT de ligação com as Farc

Durante a campanha eleitoral, o vice de José Serra (PSDB), deputado Indio da Costa (DEM-RJ), acusou o PT de ter ligação com as Farc .

- O que a Dilma (Rousseff) tem que responder são duas questões: em primeiro lugar, se o PT tem ou não ligação com as Farc; em segundo lugar, se as Farc têm ou não ligação com o narcotráfico - questionou Indio da Costa na ocasião.

O PT reagiu e entrou com uma ação contra o PSDB e Indio da Costa por danos morais. Em meio às polêmicas sobre o assunto, Dilma se encontrou com o presidente da Colômbia , Juan Manuel Santos. Após o encontro, disse que tinha uma posição contrária ao narcotráfico:

- Não temos porque participar, a não ser a pedido da Colômbia, de qualquer atividade de pacificação e diálogo com as Farc. Fonte: Globo Online – 12/11/2010

 Farc saluda elección de Dilma a la presidencia de Brasil

ANNCOL

Para todos nuestros lectores en todo el mundo mensaje conocido por ANNCOL en el día de hoy:

Compatriota

DILMA ROUSSEFF

Presidenta electa del Brasil

Desde las montañas de Colombia, nuestro saludo cordial, bolivariano, con anhelo de Patria Grande.

Permítanos adherimos a la justificada alegría del gran pueblo de Luis Carlos Prestes, ante el hecho relevante de tener, por primera vez en la historia del Brasil, una presidenta; una mujer ligada siempre, a la lucha por la justicia.

Presidenta Dilma, para usted, nuestro aplauso y reconocimiento.

Su exaltación a la presidencia de la República Federativa, sumada a su pública convicción de la necesidad de una salida política al conflicto interno de Colombia, ha centuplicado nuestra esperanza en la posibilidad de alcanzar la paz por la vía del diálogo y la justicia social.

Estamos seguros que la nueva presidencia del Brasil jugará papel determinante en la aclimatación de la paz regional y en la hermandad de los pueblos del continente.

De usted, atentamente,

Secretariado del Estado Mayor Central de las FARC-EP

Montañas de Colombia, Noviembre 1 de 2010

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 Comentário: Agora a futura presidente decidirá se continua como Dilma ou Dilmanov. Imagina um acordo ou aceno dos PeTralhas com as FARC´s.