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sábado, 15 de junho de 2019

Por que a produtividade do trabalhador brasileiro é tão baixa?

Um trabalhador brasileiro produz, em média, somente um quarto do que produz um trabalhador americano.
De um ponto de vista meramente contábil, essa diferença de produtividade pode ser explicada por três fatores:
1) nossos trabalhadores são menos educados e menos qualificados (isto é, possuem um menor "capital humano");
2) esses trabalhadores têm a seu dispor menos máquinas, equipamentos, estruturas e infraestrutura (isto é, possuem menos "capital físico"); e
3) a ineficiência da economia é tal que trabalhadores com mesmo capital humano e físico que trabalhadores em países avançados produzem menos que estes últimos (isto é, a eficiência produtiva –a "produtividade total dos fatores", no jargão dos economistas– é baixa).

DEFICIÊNCIAS DE CAPITAL HUMANO E INEFICIÊNCIA PRODUTIVA
A importância relativa de cada um desses fatores varia de país para país. No caso brasileiro, deficiências de capital humano e ineficiência produtiva são dominantes, com peso maior para essa última. Somos pouco produtivos principalmente porque nossa mão de obra é pouco educada (e a qualidade da educação é sofrível) e nossa economia sofre de altíssima ineficiência.

BAIXA EFICIÊNCIA
Baixa eficiência está associada a fatores institucionais e excesso de distorções, como má regulação e burocracia, barreiras comerciais e à adoção de tecnologias estrangeiras, estrutura tributária distorciva e trabalhosa e intervenções discricionárias do governo nos mercados e preços.

Esses fatores, em nosso caso, fazem com que o ambiente de negócios brasileiro esteja entre os piores do mundo e impedem firmas de adotar melhores práticas de negócios e melhores tecnologias. Permitem ainda a sobrevivência de firmas pouco produtivas, como aquelas no mercado informal ou outras protegidas por barreiras comerciais ou beneficiadas por créditos subsidiados.

Adicionalmente, esses fatores institucionais e regulatórios impedem o crescimento de firmas potencialmente eficientes e incentivam a especialização em setores nos quais somos pouco competitivos ou não temos ainda know-how adequado.

O resultado final é uma concentração muito grande de trabalhadores em firmas pouco eficientes e em setores com baixo dinamismo.

BARREIRAS COMERCIAIS.
Tomemos como exemplo o impacto de barreiras comerciais. Seja porque a indústria pôde comprar melhores insumos e tecnologias, seja porque a competição em setores praticamente monopolizados aumentou, o fato é que o período em que a eficiência e a produtividade do trabalho na manufatura cresceram mais rapidamente em nosso passado recente foi aquele que se seguiu à liberalização comercial de 1988/90.
Em vários subsetores a produtividade do trabalho mais que dobrou em dez anos. Entretanto, no lugar de nos livrarmos dos muitos impedimentos ao comércio exterior que ainda restaram, nos últimos anos regredimos ao reintroduzir maiores barreiras tarifárias e não tarifárias.

Má regulação e burocracia são também fatores que afetam negativamente nossa eficiência, basta comparar com o resto do mundo o custo e o tempo de embarcar um contêiner nos portos brasileiros, pensar nas filas de caminhões aguardando embarque de soja nesses mesmos portos e no tempo (e etapas) para obter uma licença ambiental.
Ou considerar ainda o longo tempo necessário para abrir uma firma, para conseguir uma licença de construção, na demora em resolver qualquer questão legal ou no número de empregados necessários em uma empresa para lidar com tributos e regulamentos.
Dessa forma, horas e mais horas de trabalho são utilizadas em tarefas que pouco adicionam ao produto final, contribuindo para a redução geral da produtividade da economia brasileira.

BAIXA QUALIFICAÇÃO DA MÃO DE OBRA
Some-se a isso a baixa qualificação de nossa mão de obra, que faz não só que se produza de forma menos eficiente uma dada tarefa como impossibilita que muitas tarefas, métodos e mesmo produtos possam ser levados a cabo devido à escassez de mão de obra especializada.
Em outras palavras, um trabalhador pouco educado ou especializado produz menos que outro mais qualificado, mas este último pode trabalhar em setores de ponta que aquele outro, com pouca educação, não consegue.
Esse último ponto é especialmente importante, porque economias modernas estão se transformando em economias de serviço, mas sem mão de obra adequada não poderemos nos especializar nos serviços mais sofisticados e tecnologicamente avançados.

OCUPAÇÕES POUCO PRODUTIVAS
Ao contrário, continuaremos a ter uma grande concentração em ocupações pouco produtivas, como empregadas domésticas, camelôs.
Considere, por exemplo, o fato de que, do valor agregado final de um iPad, menos de 10% vêm da manufatura do produto. Os outros 90% vêm de serviços como design, softwares, marketing, branding. O Brasil já possui uma montadora de iPads –uma etapa mecânica que não exige trabalho qualificado–, mas os serviços mais elaborados são todos feitos no exterior.
Considere também o fato de que tanto na Coreia do Sul quanto no Brasil 65% da mão de obra está no setor de serviços, mas a diferença de produtividade e de subsetores em que se concentra a produção (sofisticados lá, atrasados aqui) são gritantes e isso se deve em grande medida às diferenças educacionais.

ENSINO IGNORADO
Durante séculos o Brasil basicamente ignorou educação e a formação adequada de mão de obra. Embora o quadro hoje seja outro, a média de escolaridade do brasileiro ainda é baixa, e a qualidade da educação, sofrível.
O ensino médio brasileiro é, na falta de melhor termo, uma tragédia. É pensado de forma elitista, como uma passagem para o ensino superior, em um país onde a grande maioria da população não ingressa na faculdade.
A falta de adequação do ensino médio com a realidade do jovem faz com que este o abandone antes de terminá-lo e aqueles que terminam pouco aprendem de útil para sua vida profissional futura.

A expansão do ensino técnico é um alento, mas o ensino médio na forma atual e a baixa qualidade em geral de nossa educação ainda são entraves à qualificação adequada do trabalhador brasileiro.
No caso brasileiro, adicione-se ainda uma legislação trabalhista que estimula a rotatividade e consequentemente não incentiva as empresas a investir no treinamento de seus trabalhadores.
Assim, com alta ineficiência econômica, baixa qualificação e educação de má qualidade, não é surpresa que a produtividade do trabalhador brasileiro seja baixa.
E, se são observados avanços tímidos na educação (expansão do ensino técnico, por exemplo), nota-se por outro lado um retrocesso na eficiência econômica, devido à adoção de políticas industriais discricionárias e de barreiras comerciais, à intervenção desastrada e contínua do governo em mercados ou ao aumento da complexidade de nosso sistema tributário.

É difícil saber qual será o efeito final, mas dificilmente veremos no futuro próximo aumentos significativos da produtividade do trabalho no Brasil, de forma que a distância em relação aos países desenvolvidos continuará grande. Fonte: Folha de São Paulo - 25/01/2015 -Pedro Cavalcanti Ferreira é professor da Fundação Getúlio Vargas

domingo, 7 de abril de 2019

Fraude de admissão em universidades dos EUA

Promotores federais norte-americanos indiciaram nesta terça (12) quase 50 pessoas por pagarem ou receberem milhões de dólares em propina para que candidatos fossem aceitos em algumas das melhores universidades do país.
Entre os acusados estão atrizes de Hollywood, como Felicity Huffman ("Desperate Housewives") e Lori Loughlin ("Full House"), além de empresários e técnicos esportivos de prestigiosas instituições de ensino como Yale e Stanford.

O esquema, que segundo o advogado Andrew E. Lelling é o maior escândalo de admissão em faculdades já analisado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, movimentou US$ 25 milhões (cerca de R$ 95 milhões) em suborno.
William "Rick" Singer, 58, administrou o esquema de extorsão por meio da empresa Edge College & Career Network, afirmaram promotores federais de Boston.

A acusação sustenta que Singer arranjava esquemas para que candidatos falsos fizessem as provas de admissão das faculdades no lugar dos filhos dos seus clientes ricos. Sua empresa também subornou treinadores para que aceitassem estudantes sem competência atlética.
Os pais pagaram dezenas de milhares de dólares pelos serviços de Singer. O dinheiro era mascarado como contribuição de caridade.

"O que fazemos é ajudar as famílias mais ricas dos Estados Unidos a colocarem seus filhos na escola. Minhas famílias querem uma garantia", resumiu Singer aos promotores.
Um acusado que colabora com a Justiça e coordenou o esquema contou que ofereceu à atriz Felicity  Huffman que mediasse a correção das respostas do exame de admissão de sua filha. Huffman é acusada de pagar US$ 15 mil pelo teste modificado de sua filha mais velha e por ter iniciado o mesmo processo para sua filha mais nova, apesar de ter abandonado a ideia.
Ela é casada com o ator William H. Macy ("Fargo", "Boogie Nights: Prazer Sem Limites "), que não foi indiciado.
Huffman foi detida pela polícia e, horas mais tarde, liberada após  pagar fiança de US$ 250 mil (R$ 953 mil).

Já Lori Loughlin e seu marido, o estilista Mossimo Giannulli, também acusado, teriam acordado o pagamento de US$ 500 mil para que suas filhas fossem incluídas na equipe de remo da Universidade do Sul da Califórnia, apesar de não serem remadoras. As duas filhas do casal foram aceitas na instituição.
O casal também foi detido pela polícia. Giannulli, cuja fiança chegou a um milhão de dólares (R$ 3,8 milhões), já foi liberado. 

A testemunha contou como, com a ajuda de outras pessoas, conseguia corrigir o resultado dos exames de admissão dos filhos de seus clientes.
De acordo com o jornal The New York Times, Singer, administrador do esquema, declarou-se culpado e está colaborando com a investigação. Ele foi acusado de extorsão, lavagem de dinheiro e obstrução da justiça.

O esquema começou em 2011 e, além de Stanford (Palo Alto, na Califórnia) e Yale (New Haven, Connecticut), ajudou estudantes a serem aceitas pela Universidade do Texas (Austin), Georgetown (Washington DC), Universidade do Sul da Califórnia e Universidade da Califórnia, ambas em Los Angeles.
Parte do esquema era aconselhar os pais a mentirem para os administradores dos testes que seus filhos tinham deficiências de aprendizado, o que lhes dava tempo prolongado para realizar os exames.

Quem aplicava os testes nesses centros recebia subornos para permitir que os clientes de Singer trapaceassem, muitas vezes fazendo com que as respostas erradas de um aluno fossem corrigidas após a conclusão do exame ou fazendo outra pessoa realizar a prova.

Os pais eram aconselhados a escolher um dos dois centros de testes em que a empresa de Singer disse ter controle: um em Houston, no Texas, e o outro em West Hollywood, Califórnia.
"As vítimas reais neste caso são os estudantes que trabalham duro", disse o advogado Lelling, que foram preteridos por "estudantes muito menos qualificados e suas famílias que simplesmente compraram a sua entrada" nas universidades.
Em muitos casos, os estudantes não estavam cientes de que seus pais estavam envolvidos na fraude, disseram os promotores. Fonte: Folha de São Paulo - 12.mar.2019  

domingo, 10 de fevereiro de 2019

As livrarias estão desaparecendo do Brasil

O mercado editorial brasileiro encolheu mais de 20% em uma década, com perdas que somam R$ 1,4 bilhão. Até gigantes do setor estão sucumbindo. Mas o que de fato está afetando o negócio do livro no país?
Em outubro de 2016, a editora Martins Fontes decidiu interromper o fornecimento de livros para um de seus principais revendedores, a Livraria Cultura. Tratava-se de um movimento ousado, dado o peso dessa rede no mercado. Porém, o risco assumido pela empresa, motivado por uma dívida de 500 mil reais, acabou por salvá-la de um colapso que assombra o setor editorial brasileiro. Hoje, o passivo da Cultura com apenas uma editora, a Companhia das Letras, alcança os 18 milhões de reais.

Grandes redes do setor livreiro, Cultura e Saraiva entraram em recuperação judicial em dezembro do ano passado e fecharam dezenas das megalojas espalhadas em capitais de todo o Brasil. O impacto sobre as editoras é profundo, principalmente porque o mercado opera, há duas décadas, no modelo de consignação. Ou seja, as livrarias só repassam às editoras o pagamento pelos livros fornecidos após a revenda ao público – com prazos de até um ano.

A derrocada dessas empresas gerou surpresa entre o público, mas parece ter sido pavimentada ao longo dos últimos anos, confirmando a impressão de que as livrarias estão desaparecendo das ruas e centros comerciais do país. Evandro Martins Fontes, sócio da editora e livraria que leva o nome da família, além de criticar o modelo de expansão adotado pelas duas redes, aponta uma conivência das grandes editoras, que não reagiram ao acúmulo crescente de dívidas das quais eram credoras.

"Essas redes optaram pelo modelo das megalojas, que envolvem altos custos de operação, inclusive os aluguéis. A Cultura só tinha uma loja em São Paulo, que era referência, mas começou a expandir em 2014. Já era um momento delicado, pois a venda digital se expandia. Com a crise, elas sofreram um forte baque, e esse modelo se tornou ainda mais insustentável. Elas foram vítimas da ganância”, diz o empresário.

"O negócio do livro sempre foi de margens pequenas, mas todos pudemos crescer aos poucos, honrando nossos compromissos. Por ser uma empresa de capital aberto, a Saraiva tinha que divulgar os balanços financeiros. Houve um ano em que o faturamento anual deles ultrapassou 1 bilhão de reais, mas o lucro foi de apenas 3 milhões. Eu faturo muito menos e tenho margem de lucro igual ou maior”, explica.

Embora seja possível apontar eventuais escolhas equivocadas nas estratégias adotadas pelas empresas que abriram pedidos de recuperação judicial no fim do ano passado, o negócio do livro já vem sentindo, há alguns anos, os efeitos de mudanças tecnológicas que afetam diversas atividades econômicas. Mesmo que os e-books e dispositivos para leitura digital ainda não tenham força expressiva no Brasil, o tempo dedicado à leitura passou a dividir espaço com a oferta interminável de conteúdo nas redes sociais e plataformas de streaming.

Além disso, novos canais de venda se abriram na internet. Com isso, editoras passaram a ter a opção de vender diretamente para seus clientes, empresas estrangeiras passaram a atuar no mercado nacional sem o custo de lojas físicas – caso da Amazon – e plataformas que não se dedicam exclusivamente à venda de livros passaram a competir com as livrarias.

Se as mudanças foram sentidas pelas principais empresas do setor, o resultado sobre as menores foi devastador. Em condições mais desfavoráveis de negociação, devido ao menor volume de vendas, fechar as portas virou a única saída. Com a possibilidade de encontrar o melhor preço na internet, a livraria do bairro deixou de ser a opção natural para comprar livros.

Dessa forma, a concentração de mercado se aprofundou nos últimos anos, a ponto de Saraiva e Cultura responderem, juntas, por 40% do mercado varejista. Desde 2012, o número de lojas no Brasil caiu de 3.481 para 2.500. É um número bem abaixo da recomendação da Unesco, 20 mil, pela taxa de uma para 100 mil habitantes.

FIDELIDADE PARA RESISTIR À CRISE
Cenário habitual em obras de Machado de Assis, a mítica Rua do Ouvidor, no Centro do Rio de Janeiro, mantém uma tradição de abrigar livrarias históricas desde o século 19, como a Garnier, Universal e José Olympio. Hoje, além de uma megaloja da Saraiva, está ali a Folha Seca, uma sobrevivente do processo de desaparecimento das lojas de rua.

O site da livraria está permanentemente em manutenção. Para comprar livros, ligados a temas afro-brasileiros, samba e futebol, somente in loco. Seus clientes sabem que os preços são mais altos do que nas grandes livrarias, mas fazem questão de prestigiar o lugar que é ponto de encontro de artistas e escritores. Entre eles, Luiz Antonio Simas, vencedor do Prêmio Jabuti em 2016.

"Eu prefiro não comprar em megalivrarias, não compro livros pela internet e sou cliente de uma pequena/imensa livraria de rua. É o que está ao meu alcance fazer como um sujeito que preza os livros, as amizades, as esquinas”, escreveu no Jornal do Brasil. "Fica minha sugestão simples: escolham as suas livrarias de rua e sejam, na medida do possível, fiéis a este amor cotidiano e necessário.”
A comemoração dos 21 anos de funcionamento, no último dia 20 de janeiro, ajuda a explicar como a Folha Seca conseguiu chegar até aqui. Fãs da livraria se amontoavam na rua em torno de um piano de cauda, encomendado para a festa.

Entre um copo de cerveja e outro, compravam livros. Não se trata de uma exceção pela data comemorativa. Rodas de samba acontecem com regularidade ali.
Mesmo em dias de semana, é comum encontrar Rodrigo Ferrari, dono do espaço, confraternizando com clientes na Toca do Baiacú, bar vizinho à Folha Seca. Ele acredita que esse atendimento, impensável nas grandes livrarias, possibilitou a sobrevivência do estabelecimento.

"Se for pelo preço, a gente sabe que ninguém vai vir comprar aqui, porque é só você fazer uma pesquisa de dois minutos na internet. Nós fomos criando identidade e estabelecemos outros laços que não são os comerciais, embora sejamos um comércio".

Foi na mesma Rua do Ouvidor que a Livraria Travessa teve sua primeira loja. Gradualmente, filiais foram abertas em outros bairros da cidade e, neste ano, será a vez de São Paulo e Lisboa receberem a livraria. Fundador da empresa, Rui Campos rejeita a ideia de um "plano de expansão”. Em sua visão, foi justamente o crescimento desenfreado que levou suas concorrentes à situação desfavorável que vivem hoje.

"Ao mergulharmos na crise sem precedentes que o Brasil enfrentou nos últimos anos, as nossas principais redes revelaram as estratégias equivocadas em que se envolveram. Encontrando financiamento fácil característico dos anos Dilma, usaram e abusaram de busca desenfreada por aumento de faturamento visando ‘abertura de capital', sem nenhuma preocupação com margens e resultados”, diz.


"Conduziram uma abertura acelerada de megalojas, enxugamento de quadros com a demissão dos livreiros históricos e um forte investimento em livros eletrônicos e em e-readers para leitura de e-books que não performaram nem perto do que se apregoava. Sendo as livrarias criadoras de demanda, nunca essa demanda será totalmente atendida por outras livrarias. Muito irá se perder com consequências ruins para nossas editoras e para o mercado livreiro”, avalia. Fonte: Deutsche Welle – 31.01.2019

sábado, 8 de dezembro de 2018

Fim do ensino primário: O modelo de diferenciação do sistema de ensino alemão

Fim do ensino primário é um momento decisivo para o futuro das crianças na Alemanha. Aos dez anos de idade, alunos são distribuídos em diferentes tipos de escolas. Modelo divide especialistas.
   
Dez anos de idade é muito cedo para decidir o futuro profissional de uma criança? No sistema educacional alemão, essa avaliação começa já no fim do ensino primário (Grundschule). Os alunos são distribuídos em três diferentes tipos de escolas no ensino secundário, dependendo do desempenho escolar, da recomendação de professores e, muitas vezes, também da opção dos pais.

Para ingressar no Gymnasium, o aluno tem que ter boas notas. Trata-se de uma formação de oito ou nove anos de duração, que é considerada o caminho natural para quem estará apto a entrar na universidade. Após concluir os estudos, os alunos fazem uma espécie de exame vestibular (Abitur), que só pode ser prestado uma única vez. A nota obtida servirá para o resto da vida em qualquer tentativa de ingressar na universidade. Os estudantes fazem provas específicas de acordo com a área que pretendem seguir: humanas, exatas ou biológicas.

As outras duas opções para os alunos aos dez anos de idade são as escolas que garantem uma formação para profissões técnicas. Na Hauptschule, os alunos adquirem uma formação básica de cinco a seis anos, que irá prepará-los para ingressar numa instituição de ensino profissionalizante.

A Realschulecostuma durar seis anos e combina uma orientação tanto profissional quanto científica. Pode ser definida como algo entre a Hauptschule e o Gymnasium. Se seguir na Realschule até o décimo ano, o aluno obtém um certificado (Mittlere Reife) que lhe possibilita ingressar numa instituição de ensino profissionalizante ou seguir para o Gymnasium e fazer o Abitur.

Esses dois modelos mostram o vínculo do sistema educacional alemão com o mercado de trabalho e a valorização do ensino técnico. Alguns estados federativos oferecem também as Gesamtschulen, que integram os três tipos de formação, sob o argumento que ao fim do ensino primário é muito cedo para dividir as crianças de acordo com o desempenho escolar.

O sistema não é completamente engessado. Dependendo do desempenho do aluno nos dois primeiros anos do ensino secundário, é possível conseguir uma transferência para um outro tipo de escola. Mais tarde, quando o estudante já ingressou na formação profissional, ainda há chances de entrar na universidade. É preciso passar por um curso preparatório de dois anos para o ensino superior.

Esse modelo escolar divide especialistas. Enquanto alguns defendem que a diferenciação entre os alunos causa frustração e acentua desigualdades sociais, outros argumentam que os diferentes modelos permitem justamente que a criança não se frustre caso não consiga atingir um nível mais exigente. Fonte:Deutsche Welle-07.12.2018

O valor social da formação técnica na Alemanha




Para jovens alemães, diploma acadêmico não é o único caminho que leva a um bom salário e ao reconhecimento da família e da sociedade. De curta duração, cursos técnicos garantem rápida entrada no mercado de trabalho.

Quando vi o orçamento de um pintor para renovar as paredes do meu apartamento, entendi por que quem vive na Alemanha valoriza a cultura do faça você mesmo.

Serviços gerais – despidos da ideia do "bico" – custam caro, e quem os faz recebe um salário suficiente para manter um bom padrão de vida. É por isso que ao terminar o equivalente ao Ensino Médio muitos optam por fazer um curso técnico, em vez de obter um diploma acadêmico.

Ingressar no mercado de trabalho sem frequentar a universidade, após uma formação de mecânico, motorista de ônibus, cabeleireiro ou pintor, garante dinheiro suficiente para cobrir as despesas, ir de vez em quando a um restaurante e viajar durante as férias.

O curso técnico, em alemão Ausbildung, oferece formação teórica e prática e exige que o aluno faça um estágio remunerado na área de estudo. Há vários tipos de formação técnica, que variam de um a três anos de duração. As áreas de especialidade vão de hotelaria a jardinagem, de design à química, de vendedor a produtor de cerveja, entre muitas outras.

Para estrangeiros, é preciso escolher um curso relacionado à uma profissão para a qual haja demanda na Alemanha. A lista com as profissões requeridas está no disponível na internet (ausbilding.de). Em 2017, entre as profissões com maior demanda estavam a de técnico em instalações, enfermeiro e cuidador de idosos.

A formação técnica é muito valorizada, especialmente pelo setor industrial. E formar-se como um profissional técnico não impede ninguém de depois entrar na universidade.

Em determinadas profissões, pessoas com diploma acadêmico acabam fazendo uma formação técnica para garantir a muitas vezes difícil entrada no mercado de trabalho.  Fonte: Deutsche Welle-25.05.2018



Comentário:
O Brasil é um dos países com o maior número de pessoas sem diploma do ensino médio: mais da metade dos adultos (52%) com idade entre 25 e 64 anos não atingiram esse nível de formação, segundo o estudo Um Olhar sobre a Educação, divulgado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Fonte: BBC Brasil – 11.09.2018