A saída da Ford do mercado de caminhões vai gerar um efeito
em cascata ainda difícil de mensurar.
Distribuidores e fornecedores da fábrica de São Bernardo
(SP) vão quebrar nos próximos meses, porque as demais empresas do setor não
terão condições de substituir a demanda que vinha da montadora americana.
Isso vai engrossar a fila de desempregados na região do ABC
paulista, que já foi o maior polo automotivo do Brasil, gerando um problema
social grave. Apenas na própria Ford serão cerca de 3 mil demissões (o
sindicato fala em 2,8 mil).
A fim das atividades da fábrica deve impactar uma cadeia com
24 mil trabalhadores, estimam o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e o Dieese
(Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).
Começa agora uma complexa negociação com os sindicatos, mas
a Ford não pretende remanejar praticamente nenhum funcionário. As unidades de
Taubaté (SP) e Camaçari (BA) estão com o quadro completo —a fábrica na Bahia
seria, inclusive, distante demais para propiciar um rearranjo desse tipo.
O anúncio do fim das atividades da Ford em São Bernardo (SP)
pegou todos de surpresa. Ao contrário da General Motors, a montadora americana
não ameaçou, nem tentou negociar benesses tributárias com os governos estadual
ou federal.
Fatores de mercado foram determinantes para o fechamento da
fábrica. Em primeiro lugar, pesou a crise no mercado de caminhões, que subiu
impulsionado por incentivos do governo nos anos petistas, mas depois caiu
abruptamente. Houve alguma recuperação recente, mas, na média, o setor continua
com 70% de capacidade ociosa.
Um segundo aspecto importante é a situação da própria Ford.
Como as demais montadoras, a empresa vem perdendo dinheiro no Brasil. De 2013 a
2018, a Ford América do Sul acumula um prejuízo de US$ 4,5 bilhões.
Soma-se a isso o fato de que a Ford não produz caminhões em
nenhum outro lugar do mundo. Logo custos de engenharia e desenvolvimento de
novos produtos não são diluídos. O comando da Ford até tentou
evitar o fechamento da fábrica durante os últimos dois anos. Houve, inclusive,
negociações para vender a fábrica ou fechar algum tipo de parceria, mas não
prosperaram.Fonte: Folha de São Paulo - 20.fev.2019
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