sábado, 9 de fevereiro de 2019

Abutres da tragédia se alvoroçam com Brumadinho

Cheiro de dor e de morte sempre atrai abutres. E na cena do crime que devastou Brumadinho não seria diferente. Uma horda de carniceiros se alvoroça diante da possibilidade de tirar uma lasquinha da tragédia das incontáveis vítimas, da agonia das famílias, da consternação de um país.

Uma marca de cosméticos produziu um “ensaio-protesto” com modelos lambuzados de lama, mas com o batom e a máscara de cílios intactos. Uma apresentadora de TV fez maquiagem, com lágrimas em formato de coração, para “expressar sua tristeza”. Um comerciante cobriu ele e a mulher com barro para vender empilhadeiras, pois “a vida segue”.

O mundo digital é um campo vasto para que possamos aprender com o erro dos outros. Em 2012, por exemplo, o furacão Sandy deixou um rastro de destruição e mortos, nos EUA. Nana Gouvêa achou bacana fazer (e postar) fotos, em poses sensuais, em pontos de uma Nova York devastada. Causou repúdio e virou piada na internet. Não serviu de lição.

Brumadinho é prova de que tem sempre oportunistas de plantão. Não faltam figuras públicas de todos os espectros políticos usando das desgraças alheias para discursar contra seus desafetos e para jogar combustível num ambiente explosivo em que faltam respostas e sobram falsas informações. E, é claro, não poderiam ficar de fora os ativistas.

Uma moça, que adora aparecer mais do que as causas pelas quais ela diz lutar, acusou a equipe de socorro de “assassinar” os animais. Ela ignora a dificuldade do salvamento dos bichos machucados, presos na lama e sem condições de resgate. Desconsidera o estresse, o cansaço, a pressão que esses profissionais enfrentam porque ainda há centenas de pessoas desaparecidas.


Verdade seja dita, situações catastróficas como a que estamos vivendo nos servem para mostrar que os animais são mesmo melhores do que muitas pessoas, as quais não passam de abutres farejadores de desgraça. Fonte: Folha de São Paulo - 31.jan.2019 

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