Ops, terremoto pelos lados da Globo. Teve de afastar o
jornalista William Waack de suas funções por suspeita de atitude racista.
No final de 2016, Waack estava nos Estados Unidos para
cobrir as eleições presidenciais. Antes de transmitir notícias ao vivo, uma
buzina dispara com barulho muito estridente, e ele, com sorriso de censura, sem
perceber que já estava sendo gravado, fez comentários, aparentemente, racistas.
Um vídeo, não muito audível, mostrando a cena, viralizou agora nas redes
sociais.
Waack disse que não se lembra do episódio, mas, mesmo assim,
pede desculpas a quem tenha se sentido ultrajado pela situação. Os colegas de
profissão, que o conhecem bem, saíram em sua defesa, destacando sua
experiência, seu profissionalismo e o respeito que sempre mereceu no meio em
que atua. A Globo não cedeu e, por ora, ele fica de gancho.
RUBENS RICUPERO E A ANTENA PARABÓLICA
Bem, a história se repete. Waack não foi o único e, com
certeza, não será o último a ter uma conversa pessoal gravada sem perceber. Nos
últimos anos, vários exemplos de gravações, intencionais ou não, passaram
rasteira em gente de alto coturno. Talvez o caso mais emblemático tenha sido o
do ex-ministro Rubens Ricupero.
Enquanto ele aguardava o momento de ser entrevistado,
conversava de maneira desguarnecida com o jornalista Carlos Monforte. Nenhum
deles se deu conta de que já estavam com o microfone ligado, e toda a conversa
foi transmitida por uma antena parabólica. Falou o que não poderia falar em
público, e o então presidente Itamar Franco não teve outra alternativa a não ser
entregar a ele o bilhete azul. Por mais bem preparado e respeitado que fosse,
não houve jeito: perdeu o cargo.
GRAVAÇÕES QUE ABALARAM O RUMO DA HISTÓRIA RECENTE DO BRASIL
Algumas das gravações que abalaram o rumo da história
recente do Brasil foram as que filmaram as propinas pagas nos Correios e a de
um importante assessor do governo acertando comissões indevidas no saguão de um
aeroporto. Essas ocorrências foram o estopim para a abertura do julgamento do
mensalão, que botou empresários e políticos atrás das grades.
Em tempos mais próximos, outro tsunami caiu sobre o país. O
ex-senador Delcídio do Amaral vacilou e caiu numa arapuca armada por Bernardo
Cerveró, filho do ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró.
Nessa conversa, Bernardo combinava com o senador uma forma de viabilizar a fuga
do pai.
Delcídio perdeu as funções no Senado e foi preso. Até hoje,
vive às voltas com a Justiça, negociando colaboração premiada, uma situação
inimaginável por alguém que chegou a ser um dos políticos mais influentes do
país. É quase certo que esse acontecimento prejudique definitivamente sua
carreira política.
Tudo isso sem falar no mais importante de todos os casos de
gravação, a do presidente Michel Temer, que teve de se defender com unhas e
dentes para não perder o cargo. Se não fosse sua habilidade política, já
estaria fora do Palácio do Planalto. As acusações que recebeu fizeram estrago
tão grande que mexeu com os destinos da história brasileira.
CUIDADO COM OS JULGAMENTOS PRECIPITADOS
Não é a primeira vez que falo aqui sobre as consequências de
gravações casuais ou intencionais que prejudicam a vida de muita gente graúda.
Todas as vezes que toco no assunto, alguém comenta que "foi
bem-feito", que "esse pessoal tem que se ferrar mesmo", e outras
opiniões mais ou menos do mesmo calibre. Também acho que essa turma que
ultrapassa a linha amarela da lei ou do respeito à dignidade humana deve ser
penalizada.
Ocorre, entretanto, que há assuntos que são sigilosos, pois
tratam de segredos corporativos, de planos pessoais que não podem ser
revelados. Por isso, não custa nada alertar que os microfones estão espalhados
por todos os cantos, e um comentário indevido agora poderá ser usado daqui a
muitos anos. Pior, como se estivesse acontecendo no momento em que for
mostrado.
Como esse caso do William Waack. Faz quase um ano que a
gravação foi feita, mas só agora foi veiculada. E dá a impressão de que o fato
acaba de acontecer. Embora muita gente já o tenha condenado, independentemente
dos desdobramentos do episódio, a verdade é que precisamos tomar cuidado com os
julgamentos precipitados, pois não há nada mais terrível para a reputação de
uma pessoa, um de seus bens mais preciosos, que sofrer uma injustiça.
Por que trato desse assunto? Por um motivo simples: a comunicação
não está apenas no que falamos ou ouvimos, mas também e, principalmente às
vezes, no que deixamos de falar ou evitarmos ouvir.
Dicas
§ Cuidado,
pois os microfones estão espalhados por todos os cantos
§ Se
tiver dúvida sobre a privacidade de um local, prefira não falar
§ Nem
tudo o que uma pessoa fala em sua intimidade é exatamente o que ela pensa
§ Sêneca
dizia: seu amigo tem um amigo, e o amigo do seu amigo tem outro amigo, portanto
seja discreto
Fonte: UOL Economia -
Reinaldo Polito -10/11/2017
Comentário: Antigamente dizia; Cuidado! As paredes têm
ouvidos. Hoje, cuidado com smartphone, com as redes sociais. As redes sociais
parecem com o Ministério da Verdade de George Orwell, "1984", um
órgão oficial dizendo o que é verdade.
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