Sem crescimento nunca voltaremos ao equilíbrio
Não
creio que haja algum cidadão razoavelmente informado no Brasil que não tenha a
consciência do lamentável estado em que se encontram as nossas finanças e as
consequentes tensões sociais que se vêm acumulando.
Desde
a grave crise mundial de 1979/80, não conseguimos reengrenar nosso crescimento.
Em apenas dois momentos —um no governo Sarney (1985-1990) e outro no Itamar
Franco (1992-1994)— crescemos mais do que o mundo: no primeiro, 4,2% contra
4,0%, em média; e, no segundo, 5,0% contra 2,7%.
Sarney
nunca contou com o apoio do núcleo do partido que o havia admitido no jogo
eleitoral oportunista, que, ao final, acabou elegendo Tancredo Neves. Teve um
momento de glória com o Plano Cruzado, mas terminou com uma taxa de inflação de
1.621% em 1990.
O
pior foi que autorizou um estúpido “default” que atrasou uma década a
negociação da dívida externa. Itamar fez um superávit primário de 5% do PIB e
apoiou o então ilustre futuro ministro da Fazenda, Pedro Malan, a fechar o
acordo da dívida externa.
No
mais, as coisas andaram muito mal em matéria de crescimento, apesar de reformas
e melhorias institucionais que começaram com o governo Collor (1990-1992).
Vimos o crescimento do nosso PIB reduzir-se a menos 1,2%, enquanto o mundo
crescia a 2,8%.
O
PIB brasileiro no segundo trimestre de 2018 foi de R$ 1,693 trilhão. O valor
ficou praticamente estagnado entre abril e junho de 2018, um crescimento de
0,2% em comparação com o trimestre anterior -
A construção caiu 0,8% no segundo trimestre, ante os primeiros três
meses do ano - O desempenho da despesa
de consumo das famílias caiu 0,1% na comparação com o trimestre anterior - Já as despesas de consumo do Governo
avançaram 0,5% no período, em relação ao trimestre anterior - Na ótica da produção, a indústria teve recuo
de 0,6% no período de abril a junho, se comparado com os primeiros meses do ano
- A agropecuária se manteve estável e
não apresentou nem queda nem avanço no segundo trimestre, se comparado com o
período de janeiro a março de 2018 - Os
serviços avançaram 0,3% no segundo trimestre, na relação com o período de
janeiro a março -
Na
octaetéride fernandista (1995-2002) assistimos à execução do Plano Real, uma
pequena joia em matéria de controle da inflação, iniciado por Itamar. Produziu
avanços notáveis e uma tragédia: o instituto da reeleição. Após nos levar ao
FMI duas vezes, terminou com um crescimento médio do PIB de 2,4% contra 3,5% do
mundo.
O
último surto de crescimento (ajudado pela melhoria das relações de troca) foi
com Lula (2003-2010), mas, mesmo assim, crescemos em média 4,1%, praticamente
igual ao mundial (4,2%), ou seja, ficamos parados.
Com
Dilma, o caldo entornou de vez: crescemos 0,4%, em média, contra 3,6% do mundo!
A partir de 2012, tivemos o pior quinquênio do século em matéria de
crescimento. Do segundo trimestre de 2014 ao quarto trimestre de 2016, nosso
PIB per capita caiu mais de 9%.
Seu
governo deixou um rastro de “esqueletos”: 7.400 obras paradas pelo “festival”
dos PACs e uma aventura no setor elétrico (MP 579) que ainda vai consumir mais
de R$ 100 bilhões dos brasileiros.
Para
encurtar a melodia. Entre 1980 e 2017, o PIB per capita do Brasil (em paridade
de poder de compra de 2010) cresceu 30,6% (0,7% ao ano), enquanto o PIB per
capita mundial cresceu 69,2% (1,4% ao ano).
Sem
crescimento nunca voltaremos ao equilíbrio. Com o triste menu que, parece, será
servido nesta eleição, há sérias dúvidas se vamos recuperá-lo. Fonte: Folha de São Paulo - 3.out.2018- Antonio Delfim Netto, economista, ex-ministro da Fazenda (1967-1974).
Comentário: PIB comparativo: Brasil, Coreia e China
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