O Brasil forma poucos engenheiros. Mesmo assim, não faltam
profissionais da área no mercado. Para o jornalista alemão Alexander Busch,
isso é um mau sinal – e o país está perdendo a revolução digital na indústria.
No Brasil, quem tem filhos que acabaram de concluir o ensino
médio vive dias de muito estresse. Os aspirantes ao ensino superior se
perguntam: em que instituição posso estudar com a pontuação que obtive no Enem
(Exame Nacional do Ensino Médio), cujos resultados foram divulgados há poucas
semanas?
É um desgaste que espanta. Mas fico ainda mais impressionado
quando vejo o número de vagas disponíveis, a exemplo do curso de Engenharia
Mecatrônica. São 2.200 vagas no Brasil inteiro, mas há apenas uma meia dúzia de
universidades públicas que obtiveram bons resultados no teste de qualidade do
Ministério da Educação.
Frequentemente, é para entrar nessas universidades que
milhares de candidatos de todo o país concorrem. Raramente, as vagas
disponíveis passam de 50, tirando aquelas que são atribuídas segundo critérios
sociais, as chamadas cotas. Além disso, mais da metade dos alunos interrompem a
faculdade. Hoje em dia, apenas 345 estudantes de Mecatrônica concluem o curso
anualmente.
Esse número é incrivelmente baixo se considerarmos que
vivemos hoje uma revolução global na indústria que, desesperadamente, procura
exatamente esses engenheiros. A palavra-chave é Indústria 4.0, que inclui
habilidades relacionadas a automação, big data, inteligência artificial,
impressão 3D, etc.
É decisivo para o Brasil não perder a oportunidade de dar
esse salto. Há muito em jogo. O Brasil é uma das poucas grandes economias
emergentes no mundo que possui uma larga base industrial. Em comparação, Índia
e Rússia têm bases bem menores.
Há vários motivos para isso: a indústria pesada criada
durante a era Vargas; a indústria automobilística que chegou ao país há 60
anos; empresas como a Petrobras e a Embraer, que sempre realizaram pesquisas
por conta própria. Mais tarde, veio a construção das represas e a criação do
Sistema Interligado Nacional (SIN) de energia elétrica. A automação no setor
agrícola também impulsionou a industrialização do país.
Mas esse alicerce de uma indústria de transformação está
ameaçado – e não é de hoje. A desindustrialização do Brasil avança de forma
acelerada há duas décadas. De um lado,
porque o Brasil voltou a se concentrar na produção e na exportação de
matérias-primas. Por outro lado, porque a pesquisa e o desenvolvimento dependem
fortemente do Estado, há anos paralisado pela recessão e pela corrupção.
Estudos realizados pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Anísio Teixeira (Inep) mostram claramente que o Brasil está perdendo
a chance de estabelecer os fundamentos para a sua própria revolução industrial.
Dos 8 milhões de estudantes universitários brasileiros, apenas cerca de um
milhão cursa uma das disciplinas científicas, como matemática, informática,
ciências naturais e tecnologia.
Isso equivale a mais ou menos 13% de todos os estudantes do
país. Se supusermos que, no campo das ciências naturais, a relação entre cursos
privados e públicos é de oito para dois, chegamos à conclusão de que apenas
2,5% dos estudantes universitários brasileiros frequentam cursos nessa área.
Em comparação, o número absoluto de estudantes em relação à
população do país é semelhante no Brasil e na Alemanha. Mas, no país europeu,
um terço dos quase três milhões de estudantes segue carreiras de exatas.
Acrescenta-se a isso mais um milhão de estudantes em escolas técnicas
(comparáveis ao Senai no Brasil).
Mas erra quem pensa que as empresas brasileiras estão
desesperadas por não encontrarem engenheiros suficientes, como acontece nos
Estados Unidos ou na Europa.
INDÚSTRIA BRASILEIRA ESTÁ TÃO ATRASADA
Não faltam especialistas em robótica e mecatrônica no
Brasil, segundo explicou Claudio Raupp, presidente da HP Brasil, em entrevista
recente ao jornal Folha de S. Paulo. Segundo Raupp, a indústria brasileira está
tão atrasada que a demanda por esses especialistas ainda nem existe. "O
risco [que o Brasil enfrenta] é que nossos melhores engenheiros se mudem para o
exterior porque não há necessidade deles aqui", avalia. Fonte: Deutsche
Welle - Data 15.02.2018
Comentário:
Nos EUA formam-se em média 70.000 engenheiros por ano.
Grande parte dos engenheiros nos EUA
estão em pesquisa e desenvolvimento. O ex-presidente dos EUA, Obama, disse num discurso sobre educação , que a engenharia
deve focar em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia.
No Brasil temos apenas 1.000 empresas que faturam acima de 1
bilhão de reais.
Somando o PIB dos Estados Americanos Texas e Califórnia é
50% superior ao da Brasil. No Brasil 99%
das empresas são micros e pequenas empresas. O restante é 60 mil empresas. Dessas
80% não fazem investimento em pesquisa e inovação.
No Brasil forma-se 30.000 engenheiros por ano. Nos EUA
preocupa-se manter a qualidade do ensino e nível adequado de salário. O salário
do recém-formado nos EUA é de 70 mil dólares. No Brasil não existe nenhuma
entidade ou a própria Universidade não sabem por aonde andam os engenheiros.
Transcrevo a definição de engenheiro do Journal Enginnering
Education.
“A formação do
engenheiro deverá incutir no estudante a
compreensão do mundo que solicita, necessita e usará para os aperfeiçoamentos
proporcionados pela engenharia. O estudante deverá saber que um trabalho de
engenharia não ficará completo, nem
mesmo poderá começar ou terminar com sucesso, e que o engenheiro não estará
desempenhando seu papel, se a solução deixar de satisfazer o ambiente não
técnico e se este ela não se ajustar perfeitamente. É necessária uma vasta
formação cultural não para deleite pessoal, mas sim como condição essencial
para que o profissional venha a ser de fato competente”.
Na essência a definição significa que o engenheiro deverá
ter uma base sólida de engenharia e a busca de inovação.
Na realidade as faculdades estão entregando diplomas e não
se preocupando com a formação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário