O
presidente Michel Temer tinha a caneta para escolher quem quisesse para suceder
seu algoz, Rodrigo Janot, na Procuradoria Geral da República, que o denunciou
por corrupção passiva. Quebrou o acordo não escrito, que vigora desde 2003, de
indicar o primeiro da lista tríplice – três nomes mais votados em eleição da
Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR). Mas, indicou a
segunda, Raquel Dodge, prestigiando a categoria e o anseio da sociedade de ter
alguém perfilado na missão de combater a corrupção. Temia-se que ele indicasse
alguém de fora da lista da ANPR, que trouxesse letargia à investigação e
beneficiasse investigados como o próprio presidente. Temer poderia fazê-lo, mas
não o fez.
Só
esse fato já é motivo para o Ministério Público soltar rojões, avalia o juiz
Ali Mazloum. “É alguém da lista, a despeito de o presidente não estar obrigado
a escolher um nome de lá”, afirma.
Rodrigo
Janot, que deve deixar o cargo em setembro, ganhou papel de liderança de uma
das mais ambiciosas operações de combate à corrupção do Brasil, a Lava Jato,
que denunciou pela primeira vez na história do país um presidente da República
em atividade. Mas sua atuação, por vezes considerada “midiática” colocou a
Procuradoria em rota de colisão com o poder Legislativo e até mesmo com alguns
ministros do Supremo Tribunal Federal, em especial, Gilmar Mendes.
Ela
é mestre em direito pela Universidade Harvard. Desde 2008, ela cuidava de
processos no Superior Tribunal de Justiça (STJ) como o do ex-governador José
Roberto Arruda, que foi preso na Operação Caixa de Pandora que teve
participação dela.
A
ex-corregedora de Justiça e ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça Eliana
Calmon conhece bem a nova procuradora e por isso, avalia que a escolha de Dodge
foi mais do que acertada. “Ela é um bálsamo para o momento atual do Ministério
Público, tenho certeza que fará uma gestão muito equilibrada”, afirma ela, que
torcia por um perfil “menos político e mais técnico” para este novo ciclo da
procuradoria. Calmon não esconde que temia a indicação de Nicolao Dino,
primeiro na lista tríplice escolhida pelos).
Fabrício
Medeiros, professor de Direito Constitucional do Centro Universitário de
Brasília, vai na mesma linha. “A nova procuradora é ferrenha defensora de
combate à corrupção, com muito equilíbrio”, elogia. Assim, o nome de Dodge
chega num momento em que não há margem para erros. “[A indicação] precisava
atender à necessidade única e histórica de se investigar a fundo o que existe,
mas com a responsabilidade que o cargo demanda, para não deturpar os fatos ou
investir contra as instituições”, completa Medeiros.
Outro
jurista que elogia Dodge é José Paulo Sepúlveda Pertence, ex-procurador-geral
da República e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, que presidiu a banca do
ingresso de Dodge no Ministério Público. Pertence diz que a nova procuradora é
uma “mente brilhante”. “Não acompanho hoje seu desempenho pormenorizado, mas
espero que ela mantenha sua trajetória com a firmeza e o equilíbrio que o cargo
condiz”, afirma. Para ele, Janot teve um papel “seguro” na chefia do MPF, e
“comandou a instituição durante uma fase difícil do país”.
Mas
o jurista, que atualmente defende investigados na Operação Lava Jato, faz
menção ao que chama de “excessos evidentes, ainda que de certo modo
inevitáveis” na atuação da procuradoria-geral com relação à condução do
escândalo de corrupção da Petrobras. Segundo ele, isto seria provocado pela
influência das “alas mais jovens” do MP. “Todo o poder novo corre o risco de
cometer certos abusos e se deixar levar por certos entusiasmos”, afirma.
André
Bezerra, juiz de direito e membro da Associação de Juízes para a Democracia
afirma que “a atuação do chefe do MPF reflete a atuação da base”. “Eu espero
que, com base nisso, o próximo procurador-geral mantenha esse alinhamento”, diz
o magistrado, crítico de alguns dos métodos usados pela Lava Jato com o aval de
Janot, como as prisões preventivas por tempo indeterminado e os afastamentos de
parlamentares de seu mandato. Fonte: El País - São Paulo 29 JUN 2017
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