O
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) absolveu nesta sexta-feira (9), por 4 votos a
3, a ex-presidente Dilma Rousseff e o presidente Michel Temer da acusação de
abuso de poder político e econômico na campanha de 2014.
A
maioria dos ministros considerou que não houve lesão ao equilíbrio da disputa
e, com isso, livrou Temer da perda do atual mandato e Dilma da inegibilidade
por 8 anos. O voto que desempatou o julgamento foi o do ministro Gilmar Mendes,
presidente do TSE, o último a se manifestar.
A
ação julgada pelo TSE foi apresentada pelo PSDB após a eleição de 2014 e
apontava mais de 20 infrações supostamente cometidas pela coligação “Com a
Força do Povo”, encabeçada por PT e PMDB.
A
principal era a suspeita de que empreiteiras fizeram doações oficiais com o
pagamento de propina por contratos obtidos na Petrobras, além de desvio de
dinheiro pago a gráficas pela não prestação dos serviços contratados.
RELEMBRE:
AS PRINCIPAIS FASES DO JULGAMENTO
Além
da perda do mandato e da inegibilidade de Dilma e Temer, o PSDB reivindicava na
ação que os candidatos derrotados Aécio Neves e Aloysio Nunes fossem empossados
presidente e vice.
O
julgamento da chapa, que começou em abril deste ano, foi retomado nesta semana
com os votos do relator, Herman Benjamin, e dos demais ministros da Corte.
Também se manifestaram os advogados das partes (defesa e acusação) e o
Ministério Público Eleitoral.
VOTO
A VOTO
Como
votaram os ministros do TSE:
CONTRA
A CASSAÇÃO
|
A
FAVOR DA CASSAÇÃO
|
Napoleão
Nunes Maia
|
Herman
Benjamin (relator)
|
Admar
Gonzaga
|
Luiz
Fux
|
Tarcísio
Vieira
|
Rosa
Weber
|
Gilmar
Mendes
|
VOTO
DO RELATOR
Condutor
do processo e relator do caso, o ministro Herman Benjamin apontou sete fatos
que, sob sua análise, demonstram o abuso de poder na campanha:
■A coligação foi
abastecida com recursos de propina acumulada ao longo do tempo doada por
empreiteiras em troca de contratos na Petrobras;
■Os marqueteiros João
Santana e Mônica Moura receberam pagamentos do estaleiro Keppel Fels por
contrato para construção de navios-sonda;
■A empresa Sete Brasil
repassou propina para o PT, que usou os recursos para abastecer a campanha de
2014;
■A
Odebrecht disponibilizou para a campanha R$ 150 milhões, acumulados desde 2009
numa conta mantida a pedido dos ex-ministros Antonio Palocci e Guido Mantega;
■A coligação comprou, por
cerca de R$ 25 milhões, apoio de quatro partidos para aumentar o tempo de TV na
propaganda eleitoral;
■Pagamentos da Odebrecht
para o casal de marqueteiros em conta na Suíça e em espécie de forma não
declarada;
■ Pagamento de R$ 56
milhões a três gráficas que não teriam comprovado a prestação de todos os
serviços contratados, indicando desvio de parte do dinheiro.
Benjamin
desconsiderou em seu voto outras cinco infrações que não estavam no pedido inicial
do PSDB, mas que, para ele, foram comprovadas ao longo da apuração.
TAIS
IRREGULARIDADES INCLUÍAM:
■repasses da cervejaria
Petrópolis à campanha a pedido da Odebrecht, chamado “caixa 3”;
■propina na campanha
oriundo de desvios nas obras da Usina Angra 3;
■propina na campanha a
partir de desvios na Usina Belo Monte direcionada ao PMDB;
■pagamento via caixa 2 a
Mônica Moura e João Santana pelo empresário Eike Batista, a pedido de Mantega;
■ pagamento da Gráfica
Atitude pela Setal.
Durante
o voto, que durou quase 14 horas ao longo de quatro dias, o ministro insistiu
que limitou a investigação às suspeitas levantadas pelo PSDB na ação inicial,
inclusive ao tomar depoimentos de executivos da Odebrecht que fizeram delação
premiada. Argumentou ainda que, como juiz eleitoral, tinha poderes para ir
além, mas não usou dessa prerrogativa.
VOTO
DE DESEMPATE
O
placar favorável a Temer e Dilma só foi confirmado no voto do presidente do
TSE, Gilmar Mendes, a quem coube desempatar o julgamento.
No
voto, o ministro disse que cassação de mandato só deve ocorrer em “situações
inequívocas” e que o tribunal não existe para resolver crise política,
argumentando em favor da “estabilidade”.
“Não se substitui um presidente da República a
toda hora. A Constituição valoriza a soberania popular, a despeito dos valores
das nossas decisões. Mas é muito relevante. A cassação de mandato deve ocorrer
em situações inequívocas”, afirmou.
O
ministro disse que os fatos apurados no processo poderiam contaminar disputas
realizadas desde 2006, que elegeram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e
depois deram a Dilma seu primeiro mandato.
O
ministro disse querer o combate à corrupção, mas defendeu para isso uma reforma
no sistema político.
Quanto
às acusações, Gilmar Mendes considerou que o processo extrapolou o que havia
inicialmente na ação do PSDB, com a inclusão de depoimentos de executivos da
Odebrecht.
A
AÇÃO JULGADA
A
sentença do TSE põe fim à novela política que se transformou a ação apresentada
pelo PSDB, em 2014, que pedia a cassação do mandato de Dilma e de Temer.
O
processo foi protocolado dois meses depois de os senadores tucanos Aécio Neves
(MG) e Aloysio Nunes (SP) terem sido derrotados na eleição.
Principal
partido da oposição ao governo Dilma, o PSDB se tornou o principal aliado de Temer,
ao lado do PMDB.
Os
tucanos, que há três anos pediram a cassação da chapa, comandam atualmente os
ministérios das Relações Exteriores (Aloysio Nunes), das Cidades (Bruno
Araújo), da Secretaria de Governo (Antonio Imbassahy) e dos Direitos Humanos
(Luislinda Valois).
NÚMEROS
DO PROCESSO
Primeira
ação julgada pelo TSE para analisar a cassação de um presidente da República, o
processo acumulou mais de 8,5 mil páginas.
Da
apresentação das ações, em 2014, até o sentença final se passaram quase dois
anos e meio.
Nesse
período, o tribunal eleitoral ouviu 62 testemunhas em cinco estados e no
Distrito Federal e realizou duas acareações para tentar esclarecer contradições
em fatos relatados por delatores.
REMEMORE
O JULGAMENTO
A
análise da ação que pedia a cassação do mandato de Temer e a inelegibilidade de
Dilma teve início em 4 de abril. Na ocasião, o julgamento foi adiado, logo no
primeiro dia de atividades.
Para
atender a solicitações do Ministério Público e dos advogados das partes, os
ministros do TSE decidiram reabrir a etapa de coleta de provas, ouvir novas
testemunhas e dar prazo adicional para as defesas entregarem as alegações
finais (documento com as últimas manifestações sobre o caso).
O
julgamento foi retomado na última terça (6), depois de um intervalo de dois
meses – período em que terminaram os mandatos de dois integrantes do tribunal
(Henrique Neves e Luciana Lóssio), substituídos por magistrados indicados pelo
presidente Michel Temer (Admar Gonzaga e Tarcisio Vieira), conforme determina a
Constituição.
A
análise da ação foi encerrada nesta sexta, em uma sessão na qual o relator
concluiu a leitura de uma versão resumida de seu voto de 1.080 páginas.
Após
a leitura, os outros seis ministros do tribunal apresentaram os votos e, então,
o presidente do TSE, Gilmar Mendes, proclamou o resultado, absolvendo a
ex-presidente e o atual presidente da República. Fonte: G1, Brasília-09/06/2017
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