sexta-feira, 21 de outubro de 2011

A Copa do Mundo é Nossa?

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ORGIA DE CONSTRUÇÃO DE NOVOS ESTÁDIOS


Estão em construção estádios em Cuiabá, em Manaus e em Brasília, onde nem futebol realmente profissional há. Como se ergue outro no Recife, embora a cidade tenha três estádios e seus três donos, o Sport, o Santa Cruz e o Náutico, já tenham anunciado que não cogitam a possibilidade de usar a nova arena. Natal também tenta erguer seu estádio, chamado Arena das Dunas, Sanud.


É importante frisar que, quando a Copa do Mundo foi realizada nos Estados Unidos, nem sequer um estádio foi erguido para recebê-la, assim como a França, quatro anos depois, construiu apenas um, o Stade de France, em Saint-Denis, nos arredores de Paris.


No Brasil, porém, o Maracanã foi demolido para ser feito outro, embora o lendário santuário do futebol tenha sido reformado para os Jogos Pan-Americanos de 2007.


Do mesmo modo, acontece com o Mineirão, e na São Paulo do Morumbi, do Pacaembu e da nova arena do Palmeiras, ergue-se, em Itaquera, o Fielzão, para o Corinthians.


No Rio de Janeiro, por sinal, existe o mais moderno estádio do país, o Engenhão, inaugurado no Pan e nem cogitado para receber jogos da Copa.


Porto Alegre, Curitiba, Salvador e Fortaleza também estão na festa dos estádios, seja na reforma do Beira-Rio, na ampliação da Arena da Baixada ou da reconstrução da Fonte Nova e do Castelão.


Enquanto isso os aeroportos, as estradas, a rede hospitalar, a hoteleira... Em torno da construção de arenas esportivas, por sinal, não são poucas as mentiras que se inventam para justificá-las. Não é verdade que sejam, necessariamente, polos de progresso para as regiões em que se instalam e basta olhar exatamente para a região do Engenhão para constatar.


Do mesmo modo acontece no Soweto, em Joanesburgo, que não foi beneficiado pela construção do Soccer City, um estádio desnecessário e a quatro quilômetros do histórico Ellis Park, o estádio em que Nelson Mandela quebrou de vez o preconceito dos negros com o rúgbi, esporte dos brancos, ao ir prestigiar a final da Copa do Mundo da modalidade.


É famosa a história que cerca a New Orleans Arena, inaugurada em 1999 com capacidade para receber vinte mil pessoas que só provou mesmo sua utilidade, segundo os habitantes da cidade na Louisiana, quando o furacão Katrina, em 2005, destruiu a região e o ginásio foi usado como abrigo dos que perderam tudo.


O SIGNIFICADO DE UMA COPA DO MUNDO


É preciso ter claro o significado de uma Copa do Mundo. O livro Soccernomics, escrito por Simon Kuper, colunista esportivo do Financial Times, e pelo economista Stefan Szymanski (Editora Tinta Negra, 310 pp.), mostra que a Copa do Mundo nada mais é que o anúncio, que dura trinta dias, de um país. Anúncio que corre apenas só um risco: ser um mau anúncio. O livro demonstra que sede alguma de Copa do Mundo ganha dinheiro por recebê-la, mas que a questão nem é essa. Os autores convidam os governantes a falar a verdade para seus povos e a fazer a pergunta que os verdadeiros estadistas devem fazer: quanto custa manter um país feliz por um mês? Conforme for a resposta, vale a pena pagá-lo e, de fato, quem recebe um evento como a Copa do Mundo de futebol passa trinta dias feliz e orgulhoso. Não é preciso, portanto, mentir, inventar e, muito menos, criar monstros como as licitações e orçamentos secretos.


O governo Lula obteve vitórias incontestáveis ao trazer os dois maiores eventos da humanidade, a Copa e a Olimpíada, para o Brasil. E foi ele, porque tanto Ricardo Teixeira quanto Carlos Nuzman, o presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, em governos anteriores desde Fernando Collor, tinham tentado e amargado mais que fracassos, verdadeiras humilhações.


Foi exatamente na gestão do presidente monoglota que as vitórias vieram e países como os Estados Unidos, com Barack Obama na campanha, foram derrotados.


O risco, no entanto, dos enormes triunfos se transformarem em derrotas escandalosas existe e não é pequeno. Porque se o Brasil pode perfeitamente fazer a Copa do Mundo do Brasil no Brasil (se a África do Sul fez, por que não faríamos?), não pode, nem deve, fazer a Copa do Mundo da Alemanha no Brasil.


E a orgia das construções de novos estádios, em vez de priorizar o legado às cidades, demonstra que estamos tentando dar um passo maior que nossas pernas.


No finzinho do primeiro tempo é preciso lembrar que, em artigo assinado na página 3 da Folha de S. Paulo, Teixeira garantiu que esta seria a Copa da iniciativa privada. Mas um estudo do Tribunal de Contas da União já demonstrou que nada menos do que 98,5% do que se gastará para fazer a Copa será de dinheiro público, do BNDES, da Infraero e da Caixa Econômica Federal, sem falar de incentivos e isenções fiscais, porque, como se sabe, a Fifa não pagará nem um tostão de impostos por tudo que disser respeito à Copa.


É hora do intervalo, para pensar.


Todo e qualquer país que se candidate a receber uma Copa do Mundo, do mais poderoso ao mais humilde, de quebra entrega boa parte de sua soberania.


Porque a Fifa, que se orgulha de ter mais filiados que a ONU (e tem mesmo, 208 contra 192), não brinca em serviço e tem sede pantagruélica. Basta dizer que a cerveja que patrocina a entidade, dos Estados Unidos, foi a única encontrável nos estádios da orgulhosa Alemanha, para desespero do Partido Verde local, indignado com o desrespeito à tradição, e à qualidade, da bebida alemã.


No Brasil não chegaremos a tanto, mas veremos a suspensão da lei que impede a venda de bebidas alcoólicas nos estádios, porque a mesma Budweiser vem aí.


INFLUÊNCIA DO FUTEBOL NA VIDA DAS PESSOAS


Ao tratar da importância que o esporte assumiu no mercado do entretenimento, Hilário Franco Júnior  mostra que 3% do PIB europeu vêm dele, com parcela importante do valor constituída pelo que o futebol gera. Calcula-se que o futebol gere empregos para 450 milhões de pessoas pelo mundo afora, o que permite dizer que, direta ou indiretamente, cerca de dois bilhões de almas vivem do esporte, quase 1/3 da população mundial.


Ainda segundo Franco revela, o estudo “Soccereconomics 2006”, feito pelo banco holandês ABN-AMRO, “estimou em 0,7% a taxa suplementar de crescimento no país que ganhasse o Mundial daquele ano, em função do maior consumo de bebidas, comidas, material esportivo e suvenires, mas sobretudo devido ao aumento da autoestima nacional, que leva a população a investir e consumir mais”.


Artigo completo: http://interessenacional.uol.com.br/artigos-integra.asp?cd_artigo=119


Fonte: Revista Interesse Nacional – Ano 4 - Edição 15 - Outubro a Dezembro de 2011


Comentário


A Copa na África do Sul em 2010 teve um público médio de 49.670 pessoas. Podemos utilizar como base a média da Copa na África para uma estimativa aceitável.


São 48 jogos na primeira fase, 8 nas oitavas, 4 nas quartas, 2 nas semi-finais e 2 nas partidas finais, totalizando 64 jogos na configuração atual da Copa do Mundo. Portanto, podemos estimar que o público da Copa 2014 será de aproximadamente 3.178.800.


Preço do Ingresso da Copa 2010


O Valor do Ingresso para assistir a Primeira Partida do Torneio Mundial custa entre US$ 70,00 e US$ 450,00.


Os Ingressos mais baratos para assistir as partidas intermediárias custam em média US$ 20,00.


Nas semi-finais o preço médio será em torno de US$ 100,00 e US$ 600,00 e na grande final deverá custar por volta de US$ 900,00.


Estimativa de arrecadação


Estimando o preço médio do ingresso em 200 dólares


Total de arrecadação: 636 milhões de dólares


Estimativa de gasto do Brasil em infraestrutura e estádios: 6 bilhões de dólares


Estimativa de turismo estrangeiro: 500 mil


Permanência media no país – 17 dias


Gasto médio por dia – 370 dólares


Arrecadação: 3 bilhoes de dólares


Obs: Na Copa do Mundo da África do Sul,  o país recebeu 350 mil turistas


A arrecadação de gasto de turismo pode ficar na faixa de: 2 a 3 bilhões de dólares


O que o governo vende para a população são os benefícios indiretos  a longo prazo da realização da Copa, turbinando  benefícios sociais, emprego, turismo e melhorias na infraestrutura.


Mas após a Copa vem a ressaca da realidade, abrindo as cortinas do país para violência, seqüestro, problemas na saúde  pública,  falta de perspectiva educacional para os jovens. Na realidade o governo não está preparando o país para o futuro na busca de conhecimento, do saber, aumentando a escolaridade da classe pobre, etc.


Á grosso modo, lembra o carnaval do pré-sal, distribuímos uma falsa riqueza antes de produzir.


Quem ganha com a  Copa


Na Copa da África do Sul o dinheiro usado para o Mundial pelo governo seria suficiente para construir casas para 12 milhões de sul-africanos que vivem em favelas.


Do outro lado, a Fifa arrecadou US$ 3,2 bilhões em renda com o evento, sem pagar um centavo sequer em impostos ao país sede.  


O mote do governo e da Fifa


 O slogan do governo é o mesmo da FIFA. Na Copa da África do Sul, a FIFA disse que o Mundial deve ser visto de outra maneira,  a longo prazo, todos vão ganhar.


O problema é que os governos devem ficar com os elefantes brancos, que são os estádios, ou melhor, as arenas, financiadas totalmente pelo governo federal e algumas com isenções fiscais.


Realidade do futebol no Brasil


-Preço do ingresso no campeonato Brasileiro: 3 a 45 dólares


-Arrecadação dos clubes até setembro: 36 milhões  de dólares


Manutenção de estádios atuais:


-Fica na faixa de :  16 mil a 114 mil dólares


Média de publico pagante:


-Melhores times : 23.000


-Média geral: 7.253


Quem pagará a manutenção dos novos estádios após a Copa?

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