sábado, 6 de março de 2010

Tsunami: Falha de comunicação

Geofísico americano teve dificuldades para alertar Chile e países vizinhos sobre terremoto

“O governo demorou muito para reagir. Quando se produz uma crise, o tempo de resposta é muito importante e, neste caso, foi demasiadamente longo. Não sei se por falta de informação ou por erro de análise, mas o certo é que, a princípio, tentaram nos fazer acreditar que nada tinha acontecido” assegura Antonio Cobelo, vice-reitor de ordenação acadêmica da Universidade Antonio de Nebrija e doutor em Ciências da Informação. Afundamento do  petroleiro “Prestige” na Espanha
 Victor Sardiña e a tsunami disputaram corrida no sábado: enquanto as ondas corriam o Pacífico do Chile ao Japão, o geofísico alertava todos os países do caminho. O cientista do Instituto de Estudos Oceânicos e Atmosféricos dos EUA estranhou a dificuldade para se comunicar com várias nações, inclusive o Chile. O americano, que falou ao GLOBO de Honolulu, no Havaí, garante: apesar dos prejuízos provocados pelo mar, o estrago poderia ser muito maior.
O terremoto no Chile foi às 3h34m. A que horas o senhor entrou em contato com a Marinha local?
VICTOR SARDIÑA: Mandamos o primeiro alerta sobre o terremoto 11 minutos depois. É necessário um certo tempo para que o sismo seja detectado por uma das quatro estações que temos na costa chilena, assim como para determinar a localização do epicentro. Ficamos espantados com a magnitude do terremoto - a primeira medida que tivemos era de 8,5 graus na escala Richter. Como o potencial para que uma tsunami fosse gerada era muito grande, tentamos imediatamente falar também com o Peru, que poderia ser atingido pelas ondas entre três e seis horas depois.
Como foi o contato com estes países?
SARDIÑA: Houve problemas de comunicação. Um colega meu, que também estava de plantão, tentou falar com a Marinha chilena, mas não conseguiam entendê-lo. Como falo espanhol, peguei o telefone para perguntar se eles receberam o alerta que havíamos mandado sobre a tsunami. Repeti esta mensagem umas duas ou três vezes, porque a ligação era transferida. Pedi enfaticamente para me avisarem caso tivessem qualquer confirmação de tsunami, o que eles fizeram algum tempo depois.
E com o Peru?
SARDIÑA: Certamente eles receberam nossa mensagem, mas ninguém atendeu as ligações. Talvez por ainda ser muito cedo, não conseguimos contato telefônico com muitos países das Américas do Sul e Central. Mas todos receberam o alerta.
Houve demora do Chile para confirmar a tsunami?
SARDIÑA: A verdade é que, em determinadas regiões, a população teria um tempo mínimo para reagir. Talcahuano (um dos principais portos do Chile, a 20 quilômetros de Concepción) foi atingida por uma onda de 2,3 metros às 6h53m. Na prática, a população teria apenas cinco minutos para se proteger. Já a Ilha de Juan Fernández teria mais tempo para tomar providências. Não sei se a Marinha chilena pensou que as primeiras ondas não fossem uma tsunami. Foi um comportamento incomum, porque trata-se de um país com grande histórico de atividades sísmicas e que tem ótimos profissionais.
Este foi o sexto maior terremoto já registrado. O senhor esperava que viesse acompanhado de ondas maiores?
SARDIÑA: Se pensarmos na magnitude do terremoto e em sua proximidade da costa, não seria absurdo ter uma onda de dez metros. Mas não podemos nos prender à ideia de que, para haver destruição, é preciso ter ondas gigantes como as vistas nas tsunamis de 2004. Talcahuano foi devastada com ondas de menos de 2,5 metros. E a massa d'água movida pelo sismo chegou, menos de 22 horas depois, ao Japão. É, portanto, uma força considerável.
Japão e Havaí prepararam-se bastante para as ondas, mas a tsunami mal foi vista em seus litorais...
SARDIÑA: No Havaí, as ondas tiveram um metro de altura. No Japão, um pouco menos. É o suficiente para provocar prejuízos nos portos e nas zonas costeiras. Ainda é muito difícil estimar o tamanho que terão as ondas, mas nosso trabalho é alertar para qualquer evento com potencial para causar um estrago.
Que lição o Chile pode tirar deste terremoto?
SARDIÑA: Talvez o centro de monitoramento possa rever alguns procedimentos para nos responder mais rapidamente. O importante é que tivemos sorte: a tsunami poderia ser muito maior.
Fonte:Globo Online - 02/03/2010

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