quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Saques, incêndios e medo da falência: o impacto da convulsão social no Chile

Na sexta-feira em que a crise explodiu, dia 18 de outubro, o empresário chileno Francisco Carreño decidiu ficar em seu restaurante a noite toda, como um guardião.
"Eu estava disposto a me defender", diz ele, lembrando o dia em que dezenas de lojas e supermercados em todo o Chile foram saqueados e até queimados.
"Eu não podia simplesmente sair do meu restaurante, tinha de salvá-lo se eles tentassem destruí-lo". A sorte jogou a seu favor e seu restaurante, chamado Signore, não foi destruída pelos protestos. Mas, de qualquer forma, o efeito veio depois.

Por estar localizado no setor de Tobalaba, que nas últimas semanas tem sido um dos pontos de encontro dos protestos em Santiago, Carreño foi forçado a fechar seu restaurante por dias, acumulando uma perda de 50% em suas vendas no mês de outubro.
A situação, desde então, não mudou muito: Carreño só consegue abrir as portas em alguns dias, a depender do tamanho dos protestos.
No entanto, Carreño — que também possui um pequeno empório de produtos italianos chamado Tantano — precisa continuar pagando aluguel e salários de seus funcionários, entre outras despesas do negócio.
"Esse é um terremoto silencioso. As reduções das vendas estão destruindo a economia chilena", lamenta o empresário.

DESEMPREGO
A situação de Francisco Carreño não é isolada. Após três semanas de manifestações incessantes — que começaram depois que o governo do presidente Sebastián Piñera decidiu aumentar o preço da passagem do metrô — milhares de micro, pequenas e médias empresas chilenas foram duramente afetadas.
A paralisação do comércio, serviços e turismo foi um golpe econômico inesperado para quem não tinha reservas de dinheiro para se financiar em momentos de crise.
Diante desse cenário, o temor é de que as pessoas percam seus empregos.
"Até o momento, 70 mil empregos já foram perdidos, o que equivale a quase um ponto (percentual na taxa) de desemprego. Se o país não voltar a funcionar normalmente nos próximos 10 dias, ouso dizer que mais 500 mil empregos estão em jogo", diz Juan Pablo Swett, presidente da Asociación de Emprendedores de Latinoamérica.

FALTA DE LIQUIDEZ
Carreño, por exemplo, teve que reduzir sua equipe em 30%. "Não posso ser irresponsável e manter as pessoas se não posso dar a elas segurança a longo prazo", diz ele.
De acordo com Swett, das pouco mais de um milhão de pequenas empresas que existem atualmente no Chile, 15% hoje têm sérios problemas de liquidez devido à crise.
"A economia está completamente bloqueada. Consumo, decisões de investimento de grandes empresas e empresas estrangeiras e contratação de pessoal estão paralisados. Em termos econômicos, uma tempestade perfeita está ocorrendo no Chile", diz Swett.
Como exemplo, o presidente da Asociación de Emprendedores de Latinoamérica diz que somente na indústria do turismo, composta por 9 mil empresas que empregam aproximadamente 170 mil pessoas, as reservas caíram 51%.
"A imagem do país piorou muito, as pessoas não querem mais vir para o Chile", acrescenta.

VESTUÁRIO
Outra área que está sendo muito afetada pela convulsão social é a venda de roupas.
A empresária Heidy Valdivia tem uma loja de roupas há 15 anos no bairro Patronato, a poucos metros da Plaza Italia, o principal ponto de encontro dos protestos em Santiago.
Desde o início da crise, ela foi forçada a manter sua loja fechada e ficar "em guarda" para evitar saques. "Tivemos de nos revezar para cuidar da mercadoria porque a polícia não garante isso"..
"Tenho medo porque acho que isso vai piorar. Não tenho mais dinheiro e tenho medo de perder tudo o que foi difícil construir durante anos", acrescenta.

Heidy diz que apenas com o aluguel gasta o equivalente a US$ 1.900 (R$ 7,9 mil) por mês. Aos funcionários, paga US$ 126 (R$ 525) por semana. As duas despesas continuam, apesar de nos últimos 20 dias não ter conseguido vender quase nada.
"Quem vai se preocupar agora em comprar roupas? Ninguém", diz ele.
"Ontem pude abrir a loja por um tempo e vendi apenas três peças. Apóio as demonstrações porque acho que o Chile é muito desigual, às vezes até vou lá. Mas isso já está me influenciando bastante e estou começando a ver que afeta meu bolso também ", acrescenta.
Devido à sua localização, todo o bairro de Patronato (um dos centros de vendas de roupas mais famosos da capital do Chile) tem sido afetado por gás lacrimogêneo vindo da Plaza Italia.
Além disso, hoje suas paredes estão pichadas com parte dos slogans dos protestos, como "Chega de abuso" e "O Chile acordou". E, assim, as poucas lojas abertas estão cheias de ofertas de última hora, tentando liquidar seus produtos.
Em um espanhol obstinado, um taiwanês proprietário de uma das lojas diz: "Esses dias eu só chorei".

EMPRESAS SAQUEADAS
Pior ainda é a realidade das empresas que foram saqueadas nas últimas três semanas no Chile.
De acordo com um estudo realizado pelo Ministério da Economia chileno, existem quase 6.800 pequenas empresas que relataram roubo, saque ou incêndio de seus negócios. De acordo com Juan Pablo Swett, com os últimos eventos, esse número pode ter subido para 10 mil.
É o caso de Karina Cáceres, dona de uma farmácia de medicina natural chamada Panul, que foi completamente saqueada no dia 20.
"Foi um pesadelo. Quando soube que eles haviam levado tudo, quase desmaiei", lembra a farmacêutica, que está grávida de quatro meses. O marido dela foi ao local tentar resgatar o pouco que restava.
No total, foram roubados aproximadamente US$ 12.800 (R$ 53,5 mil), além de computadores e televisões.
Desde aquele dia, a farmacêutica acha que seus negócios podem ir à falência. O problema, ela diz, é que ainda tem dois empréstimos para continuar pagando e, estando grávida, acha muito difícil encontrar outro emprego.
"A incerteza é terrível. Estamos vivendo dia a dia, tentando vender o que nos resta... estou angustiada", diz.
"Além da farmácia, criamos uma fundação, pensando nas pessoas que nos saquearam. Vamos às comunidades ensinar as crianças a controlar suas emoções. Então, a traição dói... porque também vendíamos nossos produtos a preços populares", diz.
Karina deve continuar pagando o aluguel de US$ 2.280 (R$ 9,5 mil). No entanto, em outubro, ela recebeu  doze por cento do dinheiro que entra em um mês normal. Para a filha, não poderá pagar pela educação no próximo ano. E foi assim que, de um minuto para o outro, sua vida deu uma guinada completamente inesperada.

Os casos de Francisco Carreño, Heidy Valdivia e Karina Cáceres são apenas alguns exemplos do que muitos pequenos e médios empresários vivem no Chile após o surto social.
Os três empresários afirmam que são simpáticos à motivação das manifestações: querem uma sociedade mais igualitária e justa, com melhores aposentadorias e melhor qualidade em saúde e educação.
No entanto, eles temem que essa luta implique uma recessão econômica que acabe com os negócios deles — apesar de o governo ter anunciado na semana passada um plano de apoio a essas empresas, que inclui facilidades para pagamento de impostos e flexibilidade para renegociação de dívidas.
"Os jovens estão brigando e não têm medo de nada. Mas eu tenho. E quero que isso acabe", conclui Heidy. Fonte: BBC News Mundo- quinta-feira, 14 de novembro de 2019






Comentário:
Não existe almoço grátis. Alguém deve pagar a conta.
Se um indivíduo ou um grupo conseguem algo sem nenhum custo, alguém acaba por pagar por isso. Se parece não haver nenhum custo direto para um indivíduo isolado, há um custo social. De forma similar, alguém pode beneficiar de "graça" de uma externalidade ou de um bem público, mas alguém tem que pagar o custo de produção desses benefícios.







domingo, 17 de novembro de 2019

Acompanhe a Proclamação da República, hora a hora

Insatisfeitos com o Império, os militares planejavam para o dia 20 de novembro o golpe que proclamaria a República no Brasil.
Mas, no dia 14, começou a correr pelo Rio de Janeiro o boato de que o marechal Deodoro da Fonseca, um dos líderes do movimento, havia sido preso. Diante disso, os republicanos resolveram agir.

6h
Informados sobre a intensa movimentação que ocorria em todos os batalhões militares do Rio de Janeiro, os ministros do gabinete de governo, liderados pelo primeiro-ministro, o visconde de Ouro Preto, se reúnem para discutir formas de enfrentar os militares.
Enquanto isso, as tropas republicanas começam a mobilizar-se pela cidade. Uma grande parte do efetivo policial, vindo de Niterói, desembarca no Rio para se unir ao marechal Deodoro.
Outra parte da força fica na ponte da Armação, a espera de embarcações. O 7º e o 10º Batalhões, além do Corpo de Bombeiros, amanhecem vazios. Os soldados começam a dirigir-se ao campo de Santana, no centro da então capital federal.

7h
Uma força de fuzileiros navais sobe a rua do Ouvidor e começam a ser ouvidos pela cidade as primeiras palavras de ordem em defesa da República gritadas abertamente. Os soldados estão prontos para o confronto armado. Todos os oficiais que acompanham o grupo levam revólveres nas cinturas.

8h
É quase impossível chegar ao campo de Santana devido ao grande número de soldados que se dirige para o local com o objetivo de unir-se aos líderes republicanos.

Uma força do 10º Batalhão, fiel à Monarquia, ocupa todo o largo da Lapa para impedir a passagem de estudantes da Escola Militar, que apoiaram maciçamente a Proclamação.

8h30
O marechal Deodoro da Fonseca encontra-se com o barão de Ladário, que ocupava o cargo de ministro da Marinha, na entrada do ministério.
O barão, afirmando que tinha a obrigação de defender a Monarquia, saca duas armas com o objetivo de atacar Deodoro. Um praça do Exército que presencia a cena entra em ação e atira contra o nobre, que cai ferido.

9h
Todas as estações de polícia são fechadas na cidade. A movimentação de militares nas ruas é cada vez maior. À porta de uma taverna em uma esquina da rua são Lourenço pode ser visto o barão de Ladário, ferido, à espera de cuidados médicos.

9h30
Militares republicanos tomam a Secretaria do Império e cercam a sala onde ocorre a reunião do gabinete ministerial.
Os revolucionários dão voz de prisão aos ministros e afirmam que todos seriam liberados assim que renunciassem a seus cargos.
A situação torna-se tensa, até que Deodoro declara que nenhum dos monarquistas sofreria qualquer agressão ou retaliação, desde que concordassem em reconhecer o novo governo.

10h
Os integrantes do ministério monarquista, sem enxergar outra saída, rendem-se e concordam em anunciar a renúncia coletiva.
Deodoro encaminha-se para o campo de Santana, onde representantes das Forças Armadas o aguardavam, já festejando o sucesso do golpe e o início da República.

10h30
Deodoro entra no quartel de Santana em triunfo, abraçado, entre aclamações. O Exército dá vivas à República. Alunos da Escola Militar conseguem passar pelo largo da Lapa, pois os soldados monarquistas já não ofereciam resistência.

10h45
O marechal Deodoro é carregado em triunfo. O 2º Batalhão de Artilharia dá uma salva de 21 tiros. Está instalada a República. Fonte: Folha de São Paulo - 15.nov.2019

República extinguiu privilégio só dos Braganças

República extinguiu privilégio só dos Braganças, diz historiador Murilo de Carvalho. Historiador lembra que regime proclamado em 1889 não incluiu o povo, e democracia ficou ausente até os anos 1940
O pecado original da República, na avaliação de José Murilo de Carvalho, foi não ter incluído o povo. "A República extinguiu o privilégio dos Braganças, mas não conseguiu eliminar os privilégios sociais", afirma o historiador sobre a proclamação que completa 130 anos nesta sext a-feira (15).
"Para os propagandistas, República e democracia eram indissociáveis. Mas a democracia, isto é, a participação popular no sistema representativo, ficou ausente até a década de 1940", diz Murilo de Carvalho, 80, que é cientista político e imortal da Academia Brasileira de Letras.
Em entrevista ao jornal, o historiador reflete sobre o caráter autoritário e pouco inclusivo do início do período republicano no Brasil e afirma que, 130 anos depois, nossa república "continua sujeita à interferência 'moderadora' das Forças Armadas".

A AUSÊNCIA DE POVO, EIS O PECADO ORIGINAL DA REPÚBLICA, SEGUNDO O SENHOR. COMO E POR QUE O POVO NÃO FEZ PARTE DELA? A afirmação refere-se à origem de nossa República. Para os propagandistas, República e democracia eram indissociáveis. Mas a democracia, isto é, a participação popular no sistema representativo, ficou ausente até a década de 1940. Até essa data, tínhamos uma participação eleitoral inferior à que existiu até 1881, quando foi introduzido o voto direto. Era uma república patrícia, uma república sem democracia.

QUAL O SIGNIFICADO DE UMA REPÚBLICA SEM POVO? Na Grécia, Roma, Estados Unidos a República convivia com a escravidão e com a exclusão política das mulheres. Mas todo homem livre era cidadão ativo. A partir da Revolução Francesa, no entanto, a democracia passou a ser componente indispensável das repúblicas. No Brasil, a efetiva incorporação de povo, homens e mulheres, no sistema representativo só aconteceu após a queda do Estado Novo. A partir daí houve rápida e massiva inclusão eleitoral de povo. Nossa República não suportou a carga e desmoronou em 1964.

O FATO DE ELA TER VINDO POR UM GOLPE MILITAR E NÃO POR UMA REVOLUÇÃO MUDOU O CURSO DELA? Só Silva Jardim acreditava em revolução do tipo da Francesa e pregava o fuzilamento do conde d’Eu [marido da princesa Isabel, descendente da dinastia Orleans]. Não foi nem avisado do golpe. Ninguém mais, além dele, queria sangue. A busca do apoio dos militares do Exército foi oportunismo dos civis, sobretudo de Quintino Bocaiuva.
O problema dos políticos na primeira década da República foi livrarem-se dos militares. Floriano Peixoto garantiu o novo regime, mas era incômodo por despertar um movimento popular jacobino. A posição dominante entre os republicanos, sobretudo os paulistas, era esperar a morte do imperador e então impedir que Isabel tomasse posse. A transição viria de preferência via Constituinte, solução aceita até mesmo por monarquistas como Saraiva [José Antônio Saraiva, que chegou a ser nomeado pelo imperador para formar um gabinete na madrugada de 16 de novembro mas nunca assumiu].

A PARTIDA DA FAMÍLIA IMPERIAL FOI ANTECIPADA PARA EVITAR CONFLITOS. MAS O BRASIL É UM PAÍS VIOLENTO, SUSTENTOU SÉCULOS DE ESCRAVIDÃO E TEM SEQUELAS. QUAL O PAPEL DA VIOLÊNCIA NA NOSSA QUESTÃO REPUBLICANA? A violência está embutida em nosso DNA, independentemente de regimes políticos. Os dez primeiros anos da República foram violentos: revoltas militares, guerra federalista no Sul, Revolta da Armada e, sobretudo, o terrível massacre de Canudos.

Qual tem sido o papel dos militares na nossa República, visto que vez ou outra eles assumem papel na política? O papel variou ao longo do tempo. Após a consolidação do regime com Campos Sales até 1930, a participação foi em boa parte antioligárquica, liderada por oficiais subalternos do Exército. Depois do Estado Novo, o papel passou a ser de tutela, quando não de intervenção direta, comandada pela cúpula militar.

ANTES DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA, TIVEMOS VÁRIAS REPÚBLICAS QUE NÃO VINGARAM PELO BRASIL. O QUE LHES FALTOU? Eram manifestações locais e provinciais, todas derrotadas pelas armas. A de maior êxito foi a Farroupilha que separou o Rio Grande do Sul por dez anos e terminou por um acordo do Império com os gaúchos. A repressão mais violenta verificou-se em revoltas que envolviam segmentos populares, como a Confederação do Equador, a Cabanagem e, já na República, Canudos e Contestado.

O QUE OS BRASILEIROS DESSE FINAL DO SÉCULO 19 ENTENDIAM ENTÃO POR REPÚBLICA? Os republicanos, sobretudo os paulistas, queriam autogoverno, isto é, eleição dos governantes, e federalismo à moda norte-americana. A monarquia significava privilégio de uma família ou dinastia, marca do antigo regime. A palavra democracia, significando governo pelo povo, fazia parte da retórica, mas em nenhum momento foi ativada.

ESSE CONCEITO MUDOU DE ALGUMA FORMA ATÉ 2019? Hoje é difícil saber o que as pessoas querem dizer quando falam em República, além de um sistema de governo. O conceito confunde-se com o de democracia, como queriam os propagandistas.
Os poucos que ainda o distinguem de democracia corretamente o vinculam a certos valores como a igualdade perante a lei, a ausência de privilégios, o bom governo, o cuidado com o bem público. Nesse sentido, pode-se dizer que há hoje mais democracia do que República e talvez seja este um de nossos principais problemas.

O SENHOR CITA EM SEUS ESCRITOS A EXCLUSÃO PELO VOTO —DE 30,6 MILHÕES DE BRASILEIROS, APENAS 2,4 MILHÕES PODIAM VOTAR NA VIRADA DO SÉCULO 19 PARA 20— E, ALÉM DELE, A QUESTÃO DA ABSTENÇÃO —NAS ELEIÇÕES DE 1910, CHEGOU A 40%. QUAL A IMPORTÂNCIA DO VOTO PARA UMA REPÚBLICA? Segundo a distinção proposta, participação eleitoral tem mais a ver com democracia e menos com República. Hoje, uma não pode existir sem a outra. Democracia sem república, sem bom governo, sem igualdade civil, marcada por clientelismo, patrimonialismo, nepotismo, é frágil. Assim como República sem ampla participação não tem futuro.

DESDE 1930, SÓ CINCO ELEITOS PELO VOTO DIRETO CONSEGUIRAM CONCLUIR SEUS MANDATOS [O ATUAL PRESIDENTE ESTÁ NO PRIMEIRO ANO DE GOVERNO]; QUATRO NÃO COMPLETARAM A GESTÃO E SETE PRESIDENTES NÃO FORAM ELEITOS PELO VOTO. ESSA DEMOCRACIA É FRUTO DE FALHAS DA REPÚBLICA? É em boa parte fruto da entrada tardia e rápida do povo no sistema político, da democratização da República. A República patrícia não suportou o impacto e recorreu aos militares para conter a onda democrática, aproveitando-se do conflito ideológico que dominava o cenário internacional.

A REPÚBLICA ESTÁ EM CRISE? Quase todas as repúblicas estão. A nossa continua sujeita à interferência “moderadora” das Forças Armadas.

COMO O SENHOR ANALISA A QUESTÃO FEDERATIVA? A Federação foi uma das demandas mais fortes dos propagandistas, sobretudo dos paulistas e gaúchos. O federalismo norte-americano era o modelo, embora ele tenha assumido aqui sentido oposto.
Isto é, os federalistas norte-americanos eram os que queriam salvar a união das colônias contra as tendências separatistas afinal adotadas pelos sulistas para garantir a escravidão. O federalismo dos pais fundadores acabou preservando a União e abolindo a escravidão, embora à custa de uma sangrenta guerra civil, ao mesmo tempo em que dava ampla liberdade às unidades federadas.
Entre nós, federalismo e centralização é um debate secular. A enorme desigualdade das unidades da Federação leva a uma grande dependência do governo central que, por sua vez, coíbe iniciativas estaduais.

POR VOLTA DE 1627, FREI VICENTE DO SALVADOR ESCREVE UMA CITAÇÃO QUE VIROU CLÁSSICO SOBRE O BRASIL: “NENHUM HOMEM NESTA TERRA É REPÚBLICO, NEM ZELA OU TRATA DO BEM COMUM, SENÃO CADA UM DO BEM PARTICULAR”. O QUE NOS FEZ ASSIM? Apesar de ser lugar-comum, não é possível deixar de mencionar a gênese de nossa economia e de nossa sociedade. Não é que o passado nos condene. Mas as sociedades têm biografia, têm valores e práticas arraigadas. Se não, como entender que com tanta desigualdade não tenhamos tido qualquer revolução social? Como entender que com uma das maiores franquias eleitorais do mundo não consigamos produzir políticas redistributivas, limitando-nos ao assistencialismo distributivista?

O BRASIL DE HOJE TEM REPÚBLICOS? Nossos repúblicos podem ser contados nos dedos. Olhando pelo ângulo da preocupação com o bem coletivo, só os positivistas ortodoxos do início da República foram republicanos. Até iniciativas republicanas acabam comprometidas. Veja-se a Operação Lava Jato.
Nada mais republicano do que igualdade perante a lei. Rico e poderoso no Brasil nunca ia para a cadeia. A Lava Jato os mandou para lá. Vitória da República. Mas aí vem a denúncia de práticas arbitrárias por parte de promotores e juízes que ameaçam a validade das sentenças. Podemos voltar à estaca zero. Derrota da República.

E NOSSA REPÚBLICA, TEM SALVAÇÃO? Só por milagre de frei Vicente. Temos que avançar aos trancos e barrancos, combatendo sistematicamente as desigualdades na economia e os privilégios na sociedade. A República extinguiu o privilégio dos Braganças, mas não conseguiu eliminar os privilégios sociais.
Temos pela frente o imenso problema de incorporar ao mercado de trabalho os milhões de desempregados, subempregados e não empregáveis. Só uma combinação de República e democracia, de bom governo e inclusão, pode resolver o problema, se ainda tiver solução.

CONHEÇA 9 FIGURAS-CHAVE DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

Marechal Deodoro da Fonseca (1827-1892)
Defensor da monarquia, sempre fez questão de declarar-se amigo e súdito fiel do imperador dom Pedro 2º. Foi apenas dias antes da proclamação que Deodoro passou para o outro lado. Ao receber os republicanos Benjamin Constant e Quintino Bocaiuva em sua casa, foi convencido de que o gabinete comandado pelo visconde de Ouro Preto, ministro de d. Pedro 2º, pretendia reduzir gradativamente o poder do Exército e da Marinha. Contrariado com este fato, o marechal decidiu-se a derrubar a monarquia 

Marechal Floriano Peixoto (1839-1895)
Encarregado da segurança do então primeiro-ministro e aliado de d. Pedro 2º, o Visconde de Ouro Preto, se recusou a atirar nos rebeldes que pediam a República e respondeu ao visconde: "Sim, mas lá [no Paraguai] tínhamos em frente inimigos e aqui somos todos brasileiros!". Escolhido vice de Deodoro, assumiu a Presidência em 1891 com a renúncia do presidente

Ruy Barbosa (1849-1923)
Escalado por Deodoro para ministro da Fazenda, o intelectual tinha a missão de modernizar a economia brasileira. Renunciou ao cargo em 1891, porém, com inflação nas alturas decorrente da bolha especulativa criada com as políticas de Barbosa

Benjamin Constant (1836-1891)
Ex-militar e adepto das ideias do positivismo, foi figura importante no trabalho de aproximação dos republicanos e o marechal Deodoro 

Campos Salles (1841-1913)
Foi um dos três republicanos a conseguir se eleger deputado durante o Império. Com a proclamação, foi nomeado ministro da Justiça por Deodoro. Substituiu o Código Penal do Império pelo da República. Em 1898, é eleito o quarto presidente da República 

Quintino Bocaiuva (1836-1912)
Jornalista e político, fundou em 1870 o Partido Republicano. Ao lado de Benjamin Constant, é um dos responsáveis pela conversão do marechal Deodoro, então monarquista, em defensor da república

D. Pedro 2º (1825-1891)
Segundo e último imperador do Brasil, foi derrubado pelo golpe militar que proclamou a República em 15 de novembro de 1889. Dois dias depois, com o banimento da família real, partiu para o exílio na França, onde morreu, esquecido, aos 66 anos 

Princesa Isabel (1846-1921)
Célebre por ter assinado a Lei Áurea, que um ano e meio antes da proclamação da República aboliu a escravidão, tornou-se herdeira do trono após a morte de seus dois irmãos. Partiu para o exílio com o pai em 17 de novembro de 1889. Na França, posicionou-se contra as tentativas de monarquistas no Brasil de restaurar o regime 

Visconde de Ouro Preto (1836-1912)
Primeiro-ministro do gabinete de d. Pedro 2º, foi também ministro da Marinha e da Fazenda. Nos últimos dias da Monarquia, tomou decisões que enfraqueceriam o Exército, o que desagradou o marechal Deodoro e levou ao decisivo alinhamento com os republicanos. Fonte: Fonte: Folha de São Paulo - 15.nov.2019
 José Murilo de Carvalho, formado em sociologia e política pela UFMG, mestre e doutor ciência política pela Universidade de Stanford (EUA).  

Comentário:
Pelo jeito ainda continua válida esta frase: “Nenhum homem nesta terra é repúblico, nem zela ou trata do bem comum, senão cada um do bem particular”. Frei Vicente do Salvador

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Cronologia: La renuncia de Evo Morales

El presidente Evo Morales y el vicepresidente Álvaro García Linera anunciaron ayer su dimisión, en un episodio que parece clausurar las tres semanas de la crisis política y social más intensa y prolongada que vivió Bolivia en este siglo.
Al cabo de 21 días de conflicto, Morales y García Linera anunciaron que dimitirán. ¿Será éste el fin de la crisis?

CRONOLOGÍA DE LOS ACONTECIMIENTOS

HACE 21 DÍAS
La TREP se detiene
A las 19:40 del día de las elecciones generales, el sistema TREP se detiene cuando el conteo había alcanzado el 83,79% de los sufragios, 45,28% para Evo Morales y 38,16% para Carlos Mesa.

21 DE OCTUBRE
LA IRA SE DISPARA
El TSE anuncia resultados con el 95,63% de los votos, otorgando un 46,4% a Morales y un 37,07% a Mesa. Turbas indignadas incendian los tribunales electorales en Potosí, Sucre y Cobija.

22 DE OCTUBRE
CONVOCAN A HUELGA GENERAL
El descontento y la desconfianza colectivos crecen y los líderes cívicos, las plataformas ciudadanas y los opositores convocan a una huelga general indefinida a escala nacional.

23 DE OCTUBRE
MORALES DENUNCIA UN GOLPE
El Presidente denuncia que los cuestionamientos a los resultados electorales tienen un trasfondo “racista”, y que el paro general “es político y un golpe de Estado”.

24 DE OCTUBRE
SE EVIDENCIA EL FRAUDE
El ingeniero de sistemas Édgar Villegas divulga los resultados de una investigación realizada por un equipo de expertos y explica cómo pudo realizarse el fraude electoral.

25 DE OCTUBRE
EL TSE DA EL TRIUNFO AL MAS
El TSE declara ganaador a Morales con el 47,08% de los votos (Mesa, 36,51%), La oposición, la UE, EEUU, la OEA, Colombia y Argentina demandan una segunda vuelta.

27 DE OCTUBRE
GOBIERNO SEGURO
Morales, que el día anterior había amenazado con un cerco a las ciudades, descarta cualquier “negociación política”. Los bloqueos se intensifican.

31 DE OCTUBRE
LA OEA AUDITA
A solicitud del Gobierno, la OEA inicia una auditoría al recuento de votos, mientras que en las calles los bloqueos se refuerzan y se organizan mejor.

2 DE NOVIEMBRE
ULTIMÁTUM
Cívicos de ocho departamentos dan un ultimátum de 48 horas a Evo para que renuncie. Luis Fernando Camacho se convierte en las cara visible de la resistencia.

4 DE NOVIEMBRE
BONO LEALTAD
El Gobierno desembolsó a cada uno de los más de 36 mil efectivos de la Policía un bono de 3 mil bolivianos, para asegurar su lealtad.

8 DE NOVIEMBRE
MOTÍN POLICIAL
Una unidad policial de Cochabamba se amotina y pronto otras la imitan, mientras la resistencia las respaldan y el Gobierno minimiza la rebelión.

9 DE NOVIEMBRE
EL DESCONTROL
Los motines policiales se masifican y multiplican, los agentes del orden desfilan protegidos por la gente y las FFAA anuncian que no intervendrán.

AYER EN LA MAÑANA
ACEPTA INFORME
Luego de conocer el informe de la OEA, el Presidente “acepta” ir a nuevas elecciones con otro TSE. Nadie lo toma en cuenta.

AYER EN LA TARDE
EVO RENUNCIA
Los jefes de la Policía y de las FFAA piden a Evo Morales que renuncie y éste termina anunciando su dimisión, “para pacificar el país”, dijo al justificar su alejamiento. La Prensa‑Lun, 11/11/2019 - 06:02

La odisea de Evo para llegar a México: se le negó espacio aéreo en Bolivia, Perú y Ecuador

El canciller mexicano, Marcelo Ebrard, aseguró que el viaje de Evo Morales a México, país en el que tendrá asilo político, fue un "periplo por diferentes espacios y decisiones políticas" ya que se le negó permiso para usar espacio aéreo en Bolivia, Perú y Ecuador.
El avión de las fuerzas armadas mexicanas viajó desde México a Perú. Despegó desde Lima rumbo a Bolivia, pero ante la crisis política se le rechazó el permiso para aterrizar en el aeropuerto de Chimoré, en el trópico de Cochabamba.

La aeronave regresó a Perú y esperó autorización para ingresar a nuevamente a territorio nacional, permiso que según el Canciller fue otorgado por las Fuerzas Armadas de Bolivia. "Ayer nadie nos pudo decir quién está a cargo", explicó.
El avión tenía previsto volver a Perú con Morales para luego sobrevolar aguas internacionales y llegar a México, pero por "valoraciones políticas" se canceló el permiso para aterrizar en territorio peruano.

Ebrard tuvo que recurrir a su "plan b" y hacer negociaciones diplomáticas con Paraguay, que otorgó permiso para que el avión mexicano recargue combustible en la ciudad de Asunción.
Dijo que antes de partir a Paraguay se temió por la vida de Morales ante un "clima de tensión" porque afines al Movimiento Al Socialismo (MAS) custodiaban el aeropuerto donde abordó el avión, en Bolivia.

Dijo que el avión tuvo "un milimétrico espacio" de salida" y logró llegar a Paraguay. Ahí también se registraron contratiempos que la cancillería mexicana logro solucionar.
Sin embargo, en Bolivia impidieron que la aeronave mexicana use el espacio aéreo. Ebrard tuvo que solicitar permiso a Brasil y nuevamente a Perú.

Cerca de las 4:00 horas, la aeronave partió rumbo a México usando espacio aéreo brasilero, pero tuvieron un nuevo contratiempo.
El Gobierno ecuatoriano negó el paso de la aeronave y tuvieron que "rodear" Ecuador para llegar a aguas internacionales, por donde hace su recorrido el avión que trasporta al expresidente, que tiene previsto llegar a territorio mexicano a las 13:00 hora boliviana.

"Es como un viaje por la política latinoamericana, de cómo se toman las decisiones y los riesgos que se corren", comentó Ebrard.
Morales recurrió al asilo político en México, luego de renunciar a la Presidencia de Bolivia, ante el hallazgo de irregularidades por parte de la Organización de Estados Americanos (OEA) que dan cuenta de un fraude electoral en las las pasadas elecciones generales del 20 de octubre.
A esto se sumaron las constantes protestas ciudadanas en todo el país, un motín de la Policía y el pedido de las Fuerzas Armadas para que Morales renuncie. La Prensa‑Mar, 11/12/2019 - 10:01

Jeanine Áñez asume la Presidencia de Bolivia

La senadora de la bancada de Demócratas asumió esta tarde a las la Presiencia de Bolivia, dos días después de la renuncia de Evo Morales.
Tras la renuncia del presidente Evo Morales, del vicepresidente Álvaro García, de la presidenta del Senado, Adriana Salvatierra, del senador Rubén Medinaceli y del presidente de la Cámara de Diputados, Víctor Borda, Áñez, quedó dentro de la línea sucesora puede asumir el mandato del Estado. La Prensa‑Mar, 11/12/2019 - 18:42

domingo, 10 de novembro de 2019

Megaleilão do pré-sal arrecada menos do que o previsto

O aguardado megaleilão do pré-sal não cumpriu as expectativas do governo. Sem concorrência, o certame desta quarta-feira (06/11) acabou sendo dominado pela Petrobras, que arrematou pelo preço mínimo duas das quatro áreas oferecidas pelo governo federal. As outras não tiveram interessados. No final, a arrecadação foi de 69,9 bilhões de reais, abaixo da previsão inicial de 106,5 bilhões.

Nenhuma grande petroleira estrangeira participou ativamente da disputa, que acabou sendo dominada pela Petrobras. A estatal comprou duas áreas sem enfrentar concorrência.
Apesar de as expectativas não terem sido cumpridas, os 69,9 bilhões de reais ainda são o maior valor já arrecadado no mundo em um leilão do setor petrolífero, em  termos de bônus de assinatura fixa (o valor que as empresas se comprometem a pagar à União pela exploração dos campos).

No leilão foram ofertados os campos de Búzios, Itapu, Atapu e Sépia. Um consórcio formado pela Petrobras e pelas chinesas CNODC Brasil e CNODC Petroleum arrematou Búzios, considerado o bloco mais atraente. A Petrobras respondeu por 90% da oferta pelo campo, que chegou a 68,19 bilhões de reais. As chinesas entraram com participação de 5% cada.
A petroleira brasileira ainda arrematou sozinha Itapu, por 1,76 bilhão de reais. Os campos restantes, que tinham bônus de assinatura de mais de 36 bilhões de reais, não receberam ofertas.

Nos leilões de pré-sal, o bônus de assinatura é fixo, e a disputa entre as empresas se dá pelo critério de oferta de petróleo ao governo durante a vigência dos contratos, o chamado lucro-óleo. No caso de Búzios, a porcentagem da oferta vencedora liderada pela Petrobras foi de 23,24%, e em Itapu, de 18,15% – nos dois casos, o lance mínimo.
Segundo o jornal Estado de S. Paulo, a ausência de grandes multinacionais na disputa foi encarada com surpresa pelo mercado e pelo governo. Das 14 empresas habilitadas a participar, apenas sete apareceram.

A falta de interessados em duas áreas acabou reduzindo pela metade valores que o governo se comprometeu a dividir com estados e municípios. Dos quase 70 bilhões de reais a serem divididos, 23 bilhões ficarão com a União. Estados terão que repartir 5,3 bilhões de reais, mesmo valor que será dividido entre municípios. O Rio de Janeiro, em cujo litoral estão localizadas as reservas, ficará com 1,1 bilhão de reais.
A maior fatia, 34,2 bilhões de reais, ficará com a própria Petrobras, como parte de um ressarcimento no âmbito de uma revisão do contrato de exploração da área. Originalmente, os blocos haviam sido cedidos pela União à Petrobras em 2010, em um regime chamado como cessão onerosa.

À época, a Petrobras recebeu o direito de explorar 5 bilhões de barris nas áreas, mas ao longo do tempo, ao explorar a região, a estatal percebeu que o reservatório de petróleo era maior do que o previsto inicialmente. Foi esse volume excedente, que pode chegar a 15 bilhões de barris, que foi a leilão nesta quarta-feira.
Após a divulgação do resultado, o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o leilão gerou "frustração". "É informação negativa sem dúvida nenhuma. A nossa expectativa era que o setor privado tivesse maior interesse. Agora vamos ver com os analistas do setor por que o setor privado fugiu do leilão", disse Maia.

Segundo especialistas ouvidos pela imprensa brasileira, o preço fixado pelo governo foi considerado alto demais pelas petroleiras estrangeiras por causa do bônus adicional exigido para ressarcir a Petrobras. Como os blocos oferecidos já haviam sido explorados pela estatal brasileira, as empresas teriam ainda de pagar a ela parte do investimento já realizado.
Oficialmente, o governo tentou minimizar a ausência de grandes empresas estrangeiras e disse que os resultados ficaram dentro do esperado. "Hoje foi um dia marcante, simbólico, de muito sucesso", disse o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Segundo Albuquerque, as duas áreas que ficaram sem interessados (Sépia e Atapu) serão oferecidas novamente em 2020. Fonte: Deutsche Welle-06.11.2019

sábado, 9 de novembro de 2019

O dia em que o Muro de Berlim caiu

Em 9 de novembro de 1989, Günter Schabowski, porta-voz do governo da então Alemanha Oriental, anunciou a nova legislação sobre viagens do país numa entrevista coletiva que entrou para a história. Após um mal-entendido, o político respondeu à pergunta de um jornalista sobre quando a lei entraria em vigor com uma frase que se tornaria famosa: "Pelo que sei, ela entra... já, imediatamente".

A entrevista foi transmitida ao vivo e acompanhada tanto na Alemanha Ocidental como na Oriental. Portanto, logo em seguida, os cidadãos da República Democrática Alemã (RDA), de regime comunista, peregrinaram até a fronteira interna em Berlim. Durante três horas, os guardas de fronteira – que não haviam sido informados do novo regulamento – contiveram o afluxo humano.

Quando a "TV do Oeste" montou suas câmeras e confirmou a sensacional notícia, ficou claro que chegava ao fim a divisão da Alemanha – marcada pela construção do Muro de Berlim, em 21 de agosto de 1961.
Tarde da noite, os agentes de segurança deixaram de fazer resistência, abriram as passagens de fronteira berlinenses e deixaram as pessoas passarem do Leste para o Oeste e vice-versa, sem que fossem controlados.

INSPIRAÇÃO DE GORBACHEV
Durante meses, milhares de cidadãos da Alemanha Oriental vinham realizando passeatas e exigindo com veemência reformas políticas. As "manifestações de segunda-feira" pelas ruas de Leipzig já tinham se tornado famosas.
Os manifestantes gritavam: "Nós somos o povo!" e "Gorbil! Gorbil!", referindo-se ao secretário-geral do partido comunista russo, Mikhail Gorbatchev (1931). Desde 1985, ele vinha realizando reformas na União Soviética, numa nova política que os habitantes da RDA também desejavam para si.

Porém, por total falta de espírito reformista, o governo de Erich Honecker (1912-1994) bloqueara as mudanças, precipitando, assim, seu próprio fim.
Em 18 de outubro de 1989, Honecker fora substituído por Egon Kreuz no cargo de secretário-geral do partido e presidente do Conselho de Estado. Porém, nem isso foi capaz de conter a derrocada do governo comunista da RDA.
Em 4 de novembro, cerca de meio milhão de pessoas reuniram-se na praça Alexanderplatz, em Berlim Oriental, para protestar em prol de uma reforma do Estado.
A partir dessa poderosa manifestação, ficou claro que o novo governo não contava mais com a confiança popular. Ao mesmo tempo, tornavam-se cada vez mais fortes as exigências de que se fundissem os dois Estados da Alemanha. Cinco dias mais tarde, o Muro caiu.

ENTRE O POVO E AS POTÊNCIAS EUROPEIAS
Algumas semanas após a queda do Muro de Berlim e em meio ao clamor crescente pela reunificação, iniciou-se, às vésperas do Natal de 1989, um intenso tráfego diplomático na RDA.
A França e a Inglaterra, em especial, mostravam receio diante da perspectiva de uma Alemanha grande e economicamente forte, no centro do continente. Elas tentaram, se não impedir, pelo menos subordinar a certas condições políticas a união da República Federal da Alemanha (RFA) e da RDA.
O chanceler federal da RFA, Helmut Kohl, registrou publicamente tais temores num discurso acompanhado pelo mundo inteiro, diante das ruínas da Igreja Frauenkirche, de Dresden, em 19 de dezembro.

Naquela noite, Kohl confirmou, por um lado, a intenção de respeitar a vontade da população da RDA, qualquer que ela fosse. Por outro lado, reconheceu que uma unidade alemã só seria possível "numa casa europeia". A unidade alemã e do continente eram, portanto, dois lados de uma mesma moeda.
Dessa forma, o chefe de governo rechaçava categoricamente uma Alemanha reunificada neutra, num posicionamento que lhe valeu o aplauso frenético dos cidadãos da RDA presentes.
Ainda assim, dois dias mais tarde, o então presidente francês, François Mitterand, voou para a RDA a fim de evitar uma "anexação" desta à RFA. No início de 1990, o processo de unificação de ambos os Estados alemães foi integrado num processo internacional, o qual considerava tanto os interesses dos alemães quanto os das potências aliadas vencedoras da Segunda Guerra Mundial. Fonte: Deutsche Welle-09.11.2019

 Berlim em julho 1945

 Berlim em Janeiro 2017

domingo, 3 de novembro de 2019

Fiat Chrysler e Peugeot Citroën anunciam fusão

O grupo francês PSA, proprietário das marcas Peugeot, Citroën e Opel, e a montadora ítalo-americana Fiat Chrysler Automobiles (FCA) anunciaram nesta quinta-feira (31/10) ter acordado "por unanimidade" uma "fusão das atividades dos dois grupos" para criar uma nova entidade com sede na Holanda.
"Os acionistas dos dois grupos passariam a deter, respectivamente, 50% do capital da nova entidade e, portanto, iriam dividir igualmente os lucros dessa fusão", informaram as montadoras em comunicado conjunto.

QUARTA MAIOR MONTADORA DO MUNDO
O acordo definitivo poderá ser fechado "nas próximas semanas", especificaram as empresas em comunicado. Com 8,7 milhões de veículos vendidos por ano, a nova entidade se tornaria a quarta maior montadora do mundo, depois de Volkswagen, Renault-Nissan-Mitsubishi e Toyota.

O conselho de administração será composto por 11 membros, nomeados pela Fiat-Chrysler e pelo PSA, também conhecido como PSA Peugeot Citroën. A fusão entre os dois grupos de montadoras será feita sem o fechamento de fábricas, garantiram as duas sociedades em sua nota conjunta.
O ministro da Economia francês, Bruno Le Maire, saudou o início das negociações entre os dois grupos, mas prometeu que o Estado, acionista em 12% do PSA, vai continuar "particularmente vigilante" sobre o impacto na indústria francesa.

O CEO da FCA, John Elkann, e o diretor-executivo do PSA, Carlos Tavares, vão manter suas respectivas posições na nova entidade incorporada, que deverá alcançar sinergias anuais no valor de 3,7 bilhões de euros (16,5 bilhões de reais), informaram as empresas.
Os principais acionistas da PSA são o Dongfeng Motor Group, da China, a família Peugeot e o banco de investimentos Bpifrance. A FCA, com as marcas Jeep, Ram, Dodge, Alfa Romeo e Maserati, é controlada pela família Agnelli, fundadora da Fiat  e que concluiu sua fusão com a Chrysler em 2014.

Há muito que a FCA procura mais parceiros para dividir investimentos dispendiosos em novas tecnologias, algo absolutamente necessário numa indústria que rapidamente evolui em direção a veículos híbridos e elétricos.
Sob o comando de Sergio Marchionne, falecido em 2018, a FCA conteve esses investimentos, e a empresa agora oferece produtos antiquados como SUVs a gasolina e caminhões RAM.

VEÍCULOS ELÉTRICOS-TECNOLOGIA
Segundo o professor Ferdinand Dudenhoeffer, do Centro de Pesquisa automotiva da Universidade de Duisburg-Essen, na Alemanha, a FCA precisava rapidamente de um acordo.
"A FCA não tem tempo, está numa situação muito difícil, porque eles não têm veículos elétricos e apenas tecnologia antiga. Eles precisam urgentemente de um parceiro", disse o especialista.

Para a PSA, a fusão poderá permitir que retorne ao mercado americano graças ao Dodge e Jeep de seu parceiro, enquanto a FCA consolida suas posições na Europa, onde está perdendo força.
Dudenhoeffer apontou que Tavares seria um "dirigente forte", capaz de resolver os problemas da Fiat na Europa, ainda que à custa de "duros cortes de postos de trabalho", como no caso da Opel. Fonte: Deutsche Welle-31.10.2019